Marxismo e Espiritismo

Sérgio Biagi Gregório

SUMARIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações Iniciais. 4. Ponto de Partida: 4.1. Dialética de Hegel; 4.2. Dialética Materialista; 4.3. Dialética Materialista Histórica. 5. Marx e o Comunismo: 5.1. Quem foi Marx?; 5.2. A Perspectiva da Dialética Materialista; 5.3. O Problema da Mais-Valia; 6. Marxismo e Espiritismo: 6.1. Marxismo e o Espírito; 6.2. Marx e Kardec; 6.3. Desmando intelectual. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é comparar as proposições de Marx e seu materialismo histórico com os princípios doutrinários desenvolvidos por Allan Kardec em suas obras básicas.

2. CONCEITO

O marxismo, tal como foi elaborado por Marx e Engels, é uma concepção dialético-materialista da natureza e da história, portadora de um projeto ético-político de transformação da sociedade capitalista dos tempos modernos.

Deste núcleo central, derivam três correntes filosóficas: a) marxismo-leninismo, doutrina oficial do partido comunista soviético; b) marxismo humanista, inspirado sobretudo nos Manuscritos Parisienses de 1844 ; c) marxismo histórico-científico, que se apoia exclusivamente na dialética materialista da história. (Enciclopédia Verbo de Sociedade e Estado)

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

As teses expostas por Karl Marx e Friedrich Engels servem para muitas interpretações: não é fácil separar o que pertence exclusivamente a Marx (marxeano) dos elementos introduzidos pelos interpretes e continuadores (marxistas). Além disso, a teoria marxista sofreu críticas acerbas, tanto da filosofia como da religião organizada. Quanto à religião, afirmara que esta é o ópio do povo, principalmente pelas promessas de uma vida no além. Daí o ódio gratuito que obteve dos religiosos de um modo geral.

Tencionamos seguir a recomendação de Humberto Mariotti, em Parapsicologia e Materialismo Histórico, ou seja, fazer uma crítica serena e isenta de qualquer preconceito.

4. PONTO DE PARTIDA

4.1. DIALÉTICA DE HEGEL

O ponto de partida para a compreensão deste tema é a dialética de Hegel. Hegel (1770-1831) foi um filósofo idealista. Ele aprimorou a dialética de Sócrates e de Platão. Em suas análises filosóficas, acentuava que a evolução do pensamento se dava em função de uma tese (afirmação), antítese (negação da tese) e síntese (negação da negação). A síntese, uma vez alcançada, servia como uma nova tese para mais outra etapa da ascensão do pensamento. Façamos uma analogia com a planta: semente, botão, fruto e novamente semente. O ser como exemplo: o ser (tese) é indeterminado, absoluto, pura potencialidade. Mas é um conceito vazio de realidade e, por isso, identifica-se ao não-ser (antítese). Necessita sair dessa contradição e se atualiza no devir (síntese).

4.2. DIALÉTICA MATERIALISTA

Feuerbach (1775-1833), discípulo de Hegel, em suas lucubrações filosóficas, inverte o processo do pensamento estabelecido por Hegel. Em vez de a dialética partir do espírito, ela parte a matéria. Nesse caso, a matéria torna o elemento principal e o espírito secundário, um epifenômeno, para usarmos a terminologia filosófica.

4.3. DIALÉTICA MATERIALISTA HISTÓRICA

Marx e Engels juntam as duas formulações anteriores e acrescentam os dados históricos, criando o termo materialismo dialético histórico. Há luta dos contrários, mas isso se dá no âmbito da história. Observando as ocorrências históricas, Marx percebeu a luta de classes é que domina o mundo. Na Antigüidade, os escravos lutavam contra os senhores; na Idade Média, os vassalos lutavam contra os senhores feudais; em sua época, observando a Revolução Francesa, presumia que o proletariado deveria lutar contra os empresários. Daí, sua tese: "A superação do capitalismo está no próprio germe do capitalismo".

5. MARX E O COMUNISMO

5.1. QUEM FOI MARX?

Karl Marx (1818-1883) foi um economista e sociólogo alemão que se associou a Friedrich Engels para escrever sobre Economia e Política. Em 1845, publicou A Miséria da Filosofia. Em 1848, publica, juntamente com Engels, O Manifesto Comunista. Em 1859, publica a Critica da Política Econômica, que contém a essência das teorias econômicas, posteriormente desenvolvidas em seu livro famoso O Capital, cujo primeiro volume surgiu em 1867.

5.2. A PERSPECTIVA DA DIALÉTICA MATERIALISTA

Na perspectiva da dialética materialista, a matéria é eterna, essencialmente dinâmica, em permanente movimento ascensorial. Num determinado momento do seu curso evolutivo, aparece a vida; num determinado momento da evolução da vida, surge o homem, cujo cérebro produz o pensamento como reflexo dos movimentos anteriores. Aplicada à história, a dialética materialista significa que a evolução da sociedade é determinada, em última instância, pelo modo de produção dos meios de subsistência. Com base nessa observação histórica, Marx e Engels sustentam que "a história de toda a sociedade até os nossos dias é a história da luta de classes". (Manifesto do Partido Comunista)

5.3. O PROBLEMA DA MAIS-VALIA

Em se tratando de economia, Marx raciocina com os conceitos de valor de uso e valor de troca e chega à mais-valia, o estopim da transformação por ele requerida. Para Marx e Engels, o empresário pagava (valor de troca) menos do que o trabalhador produzia (valor de uso). Com isso, ia acumulando os excedentes, que por direito pertenciam ao trabalhador. A isso deu o nome de mais-valia, germe da própria derrocada do capitalismo, para se transformar em comunismo.

Ele achava que o proletariado não deveria esperar passivamente esse grande dia, mas lutar para que isso acontecesse o mais rápido possível. Daí criar o termo ditadura do proletariado, fase transitória (denominado de socialismo cientifico), até atingir o comunismo, uma sociedade sem classes, sem Estado e com a maior igualdade na distribuição dos bens.

6. MARXISMO E ESPIRITISMO

6.1. MARXISMO E O ESPÍRITO

O marxismo, como gerador de um sentimento materialista, vem sendo criticado pelos teóricos religiosos. Quanto a nós, seria conveniente descortinar novos horizontes de análise. Marx, como sabemos, era um cientista, e como tal, baseava-se na comprovação dos fatos. Os fatos materiais, aqueles que se podem apalpar, oferecem vasto campo à comprovação. Quanto aos dados do Espírito, a religião da época não lhe fornecia provas convincentes. Marx desconfiava das promessas da felicidade em outro mundo, na vida futura. Concentra-se assim apenas na matéria, no concreto. Não o faz por ódio, capricho, por querer contrariar a religião, mas por causa de sua sina de cientista. Ao Espiritismo cabe-lhe fornecer a dimensão do Espírito, entendido como Espírito, perispírito e corpo físico. (Mariotti, 1983 cap. II)

6.2. MARX E KARDEC

Marx libertou o homem da exploração econômica. Deu-lhe uma nova dimensão do ser quanto à sua função material na sociedade. Contudo, faltou-lhe a dimensão metafísica, da vida além-túmulo que o Espiritismo lhe pode oferecer facilmente. Com Marx, o ser humano morre para nunca mais nascer. A realidade do Espírito, contudo, explicada por Allan Kardec, é outra. Ele é imortal e pode retornar à terra quantas vezes forem necessárias para dar prosseguimento à sua evolução rumo à perfeição ensinada pelo mestre Jesus. (Mariotti, 1983, cap. III)

6.3. DESMANDO INTELECTUAL

Marx pode ter se inserido no mundo como um cientista. Não precisava ser radical ao ponto de negar a existência do Espírito, do sentimento religioso, inerente em todo o ser humano. O Espírito Emmanuel alerta-nos para os desmandos intelectuais, quando nos deixamos envolver demasiadamente pela demanda científica da sociedade. A vida é muito mais do que a ciência, do que a filosofia e do que a própria religião. O ser vivente é uma alma que aspira a uma íntima relação com o seu Criador, através dos ensinamentos trazidos por Jesus Cristo, nosso Mestre e Salvador.

7. CONCLUSÃO

O Espiritismo é um farol que ilumina tudo quanto toca. Saibamos nos desprender dos bens materiais, deixando o nosso interior livre dos diversos vícios que possam tisnar a boa recepção dessa luz espiritual.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

MARIOTTI, Humberto. Parapsicologia e Materialismo Histórico. Tradução de J. L. Ovando. São Paulo: Edicel, 1983.

POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986.

São Paulo, junho de 2008.

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