Mente Humana

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito de Mente. 3. Histórico. 4. Mente versus Cérebro: 4.1. O Cérebro; 4.2. Mente; 4.3. Relação Mente-Cérebro; 4.4. Estados Mentais. 5. Usina Mental: 5.1. Associação de Idéias; 5.2. Reflexão de Idéias; 5.3. A Imaginação. 6. Atitude Mental: 6.1. O Reino de Deus está Dentro de Ti; 6.2. Perdão como Lei Científica do Equilíbrio Mental; 6.3. Complexo de Inferioridade; 6.4. Esforço e Vontade. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é refletirmos sobre os nossos sentimentos de amor e de ódio, de piedade e de inveja, de alegria e de tristeza etc., no sentido de tomarmos consciência de nossos estados mentais e, com isso, melhorarmos o nosso relacionamento em sociedade.

2. CONCEITO DE MENTE

Embora a Psicologia tenha sido tradicionalmente definida como a ciência que lida com as atividades mentais, não existe uma definição da mente aceite por todos. Uma mão-cheia de auscultações de opiniões de vários psicólogos dará como resultado o mesmo número de diferentes definições. Apesar disso, um grande número — a maioria — associará a mente aos processos de percepção, pensamento, recordação e comportamento inteligente. (Chaplin, 1981)

3. HISTÓRICO

A mente (mind em inglês), no processo histórico, pode ser analisada em termos da relação entre o Espírito e a Matéria. Assim, temos a mente como matéria, a mente como imaterial, o imaterialismo e a teoria neutra.

A mente como matéria. A principal argumentação do Materialismo é que nada existe além da matéria e das suas propriedades. Tales de Mileto, há 2500 anos, falava-nos das quatro substâncias em que tudo se originava: a água, o ar, o fogo e a terra. Anaxágoras definiu o Nous (Mind) como "a mais pura e refinada de todas as coisas" que ocupa lugar no espaço.

A mente como imaterial. Platão foi o primeiro a defender explicitamente a doutrina de que a mente é inteiramente não material — sem as definições das propriedades da matéria como tamanho, forma ou impenetrabilidade. Platão usou a palavra psyche (traduzida como "alma")

O imaterialismo. Alguns filósofos adotaram a doutrina do imaterialismo, chamada assim por Berkeley, um dos clássicos empiristas britânicos, em que na sua visão tudo o que existe é mental. Adota o modelo da Mente divina e a multiplicidade de mentes finitas em que inclui todos os homens. O idealismo de Kant e de Hegel são classificados como um tipo de imaterialismo.

Teorias neutras. Há um outro tipo de abordagem em que nem a visão material nem a visão mental é realmente fundamental. Cada uma é um aspecto da realidade que não é nem mental nem física mas neutra entre ambas. Há muitas variantes de tal visão. Entre tais pensadores estão Hume, Spinoza, William James etc. (Enciclopédia Britânica)

4. MENTE VERSUS CÉREBRO

4.1. O CÉREBRO

O cérebro é apenas uma parte do sistema nervoso central – embora seja a mais complexa. Consiste de uma massa de tecidos nervosos que ocupa a maior parte do crânio e que desempenha, entre outras funções, a do raciocínio e a da linguagem. Tem a forma de um ovóide com a porção mais alargada voltada para trás. Pesa em média 1.100 gramas. O lado esquerdo do cérebro comanda o lado direito do corpo e o lado direito do cérebro comanda o lado esquerdo do corpo. O lado esquerdo do cérebro é lógico enquanto o lado direito é intuitivo.

O cérebro, de acordo com o Espírito André Luiz, em No Mundo Maior, pode ser descrito como um castelo de três andares. O 1.º andar – subconsciente – é a "residência de nossos impulsos automáticos", simbolizando o sumário vivo dos serviços realizados. O 2.º andar – consciente – é o "domínio das conquistas atuais", onde se erguem e se consolidam as qualidades nobres que estamos edificando. O 3.º andar – superconsciente – é a "casa das noções superiores", indicando as eminências de que nos cumpre atingir. Para que nossa mente prossiga na direção do alto, é indispensável o equilíbrio destas três zonas de nosso cérebro. (Xavier, 1977, p. 47)

4.2. MENTE

Enquanto a Psicologia movimentar apenas os materiais da ciência humana não conseguirá penetrar no âmago da mente humana — as causas —, permanecendo, assim, na superfície dos efeitos. De acordo com o Espírito Emmanuel, somente o Espiritismo poderá lhe oferecer os meios necessários para esse aprofundamento e compreensão da dimensão espiritual do homem.

O Espírito André Luiz, em No Mundo Maior, amplia-nos o conceito de mente, dizendo-nos: "A mente é a orientadora desse universo microscópio (o cérebro), em que bilhões de corpúsculos e energias multiformes se consagram a seu serviço. Dela emanam as correntes da vontade, determinando vasta rede de estímulos, reagindo ante as exigências da paisagem externa, ou atendendo às sugestões das zonas interiores. Colocada entre o objetivo e o subjetivo, é obrigada pela Divina Lei a aprender, verificar, escolher, repelir, aceitar, recolher, guardar, enriquecer-se, iluminar-se, progredir sempre. Do plano objetivo, recebe-lhe os atritos e as influências da luta direta; da esfera subjetiva, absorve-lhe a inspiração, mais ou menos intensa, das inteligências desencarnadas ou encarnadas que lhe são afins, e os resultados das criações mentais que lhe são peculiares. Ainda que permaneça aparentemente estacionária, a mente prossegue o seu caminho, sem recuos, sob a indefectível atuação das forças visíveis ou das invisíveis". (Xavier, 1977, p. 55 e 56)

No âmbito da Doutrina Espírita, o cérebro é o centro das ondulações da mente. Ele funciona como um intermediário das oscilações da vontade, da perseverança, das emoções e das inspirações. Há, contudo, uma dificuldade, ou seja, de achar a fronteira em que termina o cérebro material e entra o espírito.

4.3. RELAÇÃO MENTE-CÉREBRO

A glândula pineal ou epífise, um minúsculo cone de células nervosas situado acima da raiz do cérebro, é o elemento de ligação com o mundo espiritual. De acordo com André Luiz em Missionários da Luz, no exercício mediúnico de qualquer modalidade, a epífise desempenha o papel mais importante. Através de suas forças equilibradas, a mente humana intensifica o poder de emissão e de recepção de raios peculiares à nossa esfera. É nela, na epífise, que reside o sentido novo dos homens; entretanto, na grande maioria deles, a potência divina dorme embrionária. (Xavier, 1970, cap. 2)

4.4. ESTADOS MENTAIS

Os estados mentais, a curto prazo, nada mais são do que os diversos tipos de humor pelos quais passamos num mesmo dia. Se nos observarmos com atenção, distinguiremos os momentos de tristeza e de alegria, de receio e de coragem, de dor e de prazer, de queda e de júbilo.

5. USINA MENTAL

5.1. ASSOCIAÇÃO DE IDÉIAS

O fenômeno de associação de idéias é inerente à mente humana. Dado um estímulo atual (imagem ou idéia ) há evocação de uma imagem ou idéia anterior. Por exemplo: à palavra perfume, podemos associar flor, jardim, felicidade etc.

O encadeamento de idéias não é um ato automático. Ele depende de um estado subjetivo, como por exemplo, da vivacidade do espírito, do estoque de conhecimentos adquiridos, e da qualidade de memória de cada um de nós.

O Espírito André Luiz diz-nos que "Emitindo uma idéia, passamos a refletir as que se lhe assemelham, idéia essa que para logo se corporifica, com intensidade correspondente à nossa insistência em sustentá-la, mantendo-nos, assim, espontaneamente em comunicação com todos os que nos esposem o modo de sentir". (Xavier, 1977, p. 48)

5.2. REFLEXÃO DE IDÉIAS

O fenômeno de reflexão de idéias caracteriza-se pela volta da mente sobre o conteúdo de uma mesma idéia. É por isso que o fluxo energético de nosso pensamento acaba levando-nos para os caminhos que desejamos percorrer. De tanto refletir sobre o mesmo teor de idéias ou imagens, forma uma espécie de campo mental que nos leva para a concretização de nosso desejos. Muitas vezes parece que não alcançamos o que desejamos. É preciso ver se a demora não é um auxílio de Deus, que ou está nos preparando para o efeito ou está nos livrando de um mal maior.

Talvez não percebamos de pronto, mas cada um se dá por aquilo que se troca. Se estivermos nos trocando por bagatelas, elas virão ao nosso encontro. Se estivermos nos trocando por questões superiores do espírito, elas virão ao nosso encontro. É a filosofia encontrada na frase" "A semeadura é livre, mas a colheita obrigatória"

5.3. A IMAGINAÇÃO

Damos o nome de imaginação à faculdade de se representar ou de combinar imagens de objetos ausentes, reais ou possíveis. Pela imaginação, podemos, não só evocar coisas anteriormente percebidas, como também inventar ou criar, em nosso espírito, coisas que, na realidade, não existem.

A imaginação tem um valor considerável em todas as formas de atividade humana. Sua influência se faz sentir, imperiosamente, em todas as ações do homem, mesmo naquelas, na aparência, desprovidas de contribuição imaginativa, como o trabalho manual ou as ocupações comerciais e industriais.

Na arte e na literatura, seu valor é imenso, pois é ela que cria a ficção, concebe o ideal, e dá vida; na ciência, ajuda nas hipóteses.

6. ATITUDE MENTAL

6.1. O REINO DE DEUS ESTÁ DENTRO DE TI

Nosso impulso instintivo é culpar os outros pelos nossos fracassos. Porém, se tomarmos a iniciativa de nos culparmos primeiro, muito ganharemos com isso. Nesse sentido, quando dizemos que o reino de Deus está dentro de nós, queremos dizer que o exterior reflete o interior, pois só podemos expressar aquilo que carregamos conosco. Convém, assim, não subestimarmos as nossas capacidades, porque operando conforme a Lei Divina, o êxito tornar-se-á uma evidência matemática. É que atraímos para nós o que está dentro de nós, aquilo que estivermos arquitetando em nossa mente.

6.2. PERDÃO COMO LEI CIENTÍFICA DO EQUILÍBRIO MENTAL

Os que não perdoam guardam o rancor dentro de seus corações. Nesse estado de espírito, ofendido e ofensor ficam ligados pelos pensamentos sombrios: ódio, vingança, malquerença etc. Quando, porém, predispomo-nos não só a perdoar como também a esquecer, libertamo-nos do nosso ofensor, e abrimos caminho para os horizontes mais vastos da transcendência de nosso espírito imortal.

Jesus disse que deveríamos perdoar não sete, mas setenta vezes sete vezes. Com esta frase ele quis dizer que o exercício do perdão não tem limites, ou seja, sempre que o motivo da injúria ou da ofensa nos visitar a mente, devemos enviar ao ofensor vibrações de paz e harmonia como um contra fluxo aos pensamentos sombrios. O exemplo de Gandhi é muito sugestivo: indagado sobre o perdão, dissera que nunca havia perdoado, porque nunca recebera ofensa de quem quer que seja.

6.3. COMPLEXO DE INFERIORIDADE

Um complexo é um sentimento arraigado em nosso subconsciente. De tanto as expectativas darem resultados contrários, acabamos pensando que a próxima tentativa também vai dar errado. A repetição das respostas negativas cria em nosso subconsciente o complexo de inferioridade. O complexo de inferioridade é um complexo que existe em quatro quintos da população. Não podemos estar livre dele, mas podemos administrá-lo sob o influxo de nossa energia mental: enaltecer nossa alto estima, nossos valores, nossas responsabilidades etc. (Custer, 1962)

6.4. ESFORÇO E VONTADE

Esforço - do it. sforzo é o modo de atividade de um ser consciente que procura ultrapassar uma resistência quer exterior, quer interior. Em Filosofia, fala-se do esforço do pensamento, único instrumento que dispõe o filósofo em sua atividade intelectual com o fim de vencer os obstáculos, as razões das coisas, para alcançar o pleno esclarecimento, que é o saber.

O esforço pertence essencialmente ao ser consciente. Num sentido amplo, o esforço fundamenta-se na realização plena do bem. O bem, por sua vez, é a atualização das virtualidades do ser. Nesse sentido, a coragem de não nos desviarmos do nosso próprio caminho na vida, adquire valor transcendental. É que toda a nossa energia interior alocada na concretização de nossa vocação produz frutos sazonados, tanto para nós como para aqueles que convivem conosco.

7. CONCLUSÃO

Estejamos constantemente enviando à nossa mente pensamentos de paz, de serenidade e de tranqüilidade. No tempo oportuno, eles nos servirão de anteparo aos influxos das idéias menos edificantes.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CHAPLIN, J. P. Dicionário de Psicologia. Lisboa, Dom Quixote, 1981.
CUSTER, D. La Mente en las Relaciones Humanas. Mexico, Editorial Continental, 1962.
Encyclopaedia Britannica
XAVIER, F. C. Mecanismos da Mediunidade, pelo Espírito André Luiz. 8. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.
XAVIER, F. C. Missionários da Luz, pelo Espírito André Luiz. 8. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1970.
XAVIER, F. C. No Mundo Maior, pelo Espírito André Luiz. 7. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.

São Paulo, junho de 2000

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