Joel F. de Souza
ROTEIRO: 1. Introdução. 2. Conceitos: 2.1. De "organizar"; 2.2. De "pensamento". 3. Método. 4. Instruções Gerais.
1-
INTRODUÇÃO
-
Agradeço-lhes o convite pela oportunidade que tenho de lhes falar, passando um
pouco da minha experiência em salas de aulas e palestras já realizadas em
auditórios.
- Entendi, no pedido do Diretor do Ensino, que
algumas vezes o Expositor começa falando do assunto da aula e dele vai se
desviando gradativa/te, dispersando-o, pulverizando-o, trazendo, evidentemente,
problemas para o entendimento da sua aula.
COMO O EXPOSITOR CONSEGUE REALIZAR ISSO? COMO É QUE ELE CONSEGUE DESORGONIZAR O
SEU PENSAMENTO?
R= São vários os motivos, mas citarei um por ser ele o mais freqüente: o Expositor envereda por exemplos que, por não serem os mais análogos ao tema, necessitam de outros para clarificá-los e, assim, o tempo vai se esvaindo e ele não consegue mais retornar ao ponto que abrira para a explicação.
Essa é uma falha comum e precisamos estar muito atentos para que ela não ocorra, senão a aula ficará prejudicada porque o seu assunto não foi fechado e, conseqüentemente, o Programa Curricular ficará atrasado. MAS POR QUE ELE FAZ ISSO? QUAIS SÃO OS MOTIVOS QUE O LEVAM A AGIR DESSA FORMA, PREJUDICANDO-SE, PREJUDICANDO AOS ALUNOS E AO PROGRAMA DO CENTRO ESPÍRITA? É o q pretendemos lhes mostrar neste rápido encontro.
- Dividi esta minha exposição em dois tempos: no
1º) Expor-lhes-ei as minhas teses sobre “COMO ORGANIZAR O PENSATº NUMA SALA DE AULA” e, no
2º) Colocar-me-ei à disposição para as dúvidas surgidas.
- Não tenho a pretensão de lhes ensinar como dar uma aula, visto que são meus colegas – além de serem Expositores antigos – e, tenho certeza, sabem como fazê-la, mas apenas lembrar-lhes de como o pensamento se organiza, de forma que, uma vez organizado, o Expositor não mais se desvie dele, desorganizando-o e perdendo o fio da meada do seu tema, da sua questão central (QC). A nossa QC, portanto, será a realização do “como”, deste “COMO” ORGANIZAR O PENSAMENTO NUMA SALA DE AULA – já não digo mais numa sala de aula, mas em qualquer outro lugar fora dela. Espero que creiam em mim.
-
Assim sendo, comecemos.
2- CONCEITOS
A-
“ORGANIZAR”
-
Comecei falando em QC, então, O QUE É
UMA QC?
R= Ela
é aquilo do qual vamos falar o tempo todo e, por isso mesmo, é necessário
descobri-la. Essa é a maior descoberta do Expo: descobrir de que problema ou QC
ele está tratando.
Nem sempre a QC/problema aparece de maneira clara e evidente, pois nem sempre o autor a enuncia explicitamente, mas sem dúvida ela está presente, ou no título, ou no 1º§ do texto (escrito ou oral), ou em seu desenvolvimento, ou ainda, mais raramente, ao seu final, tal como ocorre num romance policial onde só ao seu final ficamos sabendo quem é o assassino.
Assim sendo, precisamos logo, imediatamente, identificar a QC, uma vez que todo o texto gravitará em torno dela e, uma vez descoberta, ficará mais fácil para o Aluno-ouvinte entender do que se está falando e, por isso mesmo, não perder o fio do pensamento do Expositor.
A 1ª Regra, portanto, de “como”
organizar o pensamento é esta: reconhecer a QC. E
PQ ELA SE CHAMA “CENTRAL”?
R= Porque, como um centro da circunferência, todos os conceitos
partirão dela como raios; e, como é o centro da circunferência, todos os
argumentos convergirão para ela. E, NA
PRÁT, O QUE É A QC?
R= Ela é a tese, é o q se põe como primeiro. E COMO VOU RECONHECER A TESE?
R= Ela será a oração principal (OP), ela será o que afirma ou
que nega algo ou uma idéia. E OS
ARGUMENTOS QUE A SUSTENTAM?
R= Eles falarão sempre dela e estarão distribuídos nas orações
subordinadas (OS) – e será preciso identificá-las. E PORQUE TAIS ORAÇÕES SE CHAMAM “SUBORDINADAS”?
R= Porque elas, isoladas, não fazem sentido algum, não formando,
isoladamente, uma oração, um sentido do pensamento, logo, se subordinam a
algo, à OP. E O DE QUE ELAS NECESSITAM
PARA FORMAR UMA ORAÇÃO, UM PENSAMENTO ORGANIZADO, COM SENTIDO?
R= Necessitam estar ligadas à OP que é a QC. E COMO LIGAR AS “OS” À “OP”?
R= Respondendo às seguintes questões: O QUE É ISTO? QUAL É O PORQUÊ/MOTIVO DISTO? COMO ISTO OCORREU? QUEM FEZ? POR QUE FEZ? COM QUEM FEZ? PARA QUE FEZ? DE ONDE VEIO ISTO? PARA ONDE VAI ISTO? Etc....
Como estão vendo, o
pensamento começa a se organizar pela Gramática. E
PORQUE PELA GRAMÁTICA?
R= Porque é a Gramática que contém as regras do pensamento
explicitado por escrito ou verbalmente; é a Gramática que vai enformar o
pensamento; é a Gramática que vai guiar o pensamento. Em outras palavras,
organizá-lo, fazendo surgir, a partir desta descoberta, a necessidade de a
conhecermos. Todo Expositor deve ter uma – boa – e estudá-la,
porquanto o pensamento pensa mediante a lógica das normas gramaticais. E
PORQUE ESTAS NORMAS SÃO “LÓGICAS”?
R= Porque elas expressam a realidade, visto que a linguagem só fala do que é real, do que existe. Ora, se a Lógica estuda as relações entre a realidade que existe e é pensada em sua expressão verbal ou escrita, então a Lógica será o estudo entre os termos gramaticais que formam a linguagem.
Não há apelação:
sem Gramática não há como se organizar o pensamento numa sala de aula. E
PORQUE A GRAMÁTICA É IMPORTANTE PARA O EXPOSITOR E OS ALUNOS?
R= Porque todos pensamos gramaticalmente, logo, a Gramática é o elemento comum entre o pensamento do Expositor e os pensamentos dos Alunos, interligando-os porque ela paira acima dos nossos pensamentos como uma regra geral do entendimento, como um gênero. Perguntem-se: SERIA POSSÍVEL QUALQUER ENTENDIMENTO SEM A GRAMÁTICA?
A nossa dificuldade em darmos uma aula organizada, ou seja, em escrevermos ou falarmos daquilo que pensamos, reside, exatamente, no desconhecimento das regras gramaticais organizadoras do pensamento. Eis a 2ª Regra de “COMO ORGANIZAR O PENSAMENTO NUMA SALA DE AULA”.
Falemos agora sobre conceitos:
A-
O CONCEITO DE “ORGANIZAR”
- O QUE É UM CONCEITO?
R= É a idéia/noção que formamos, em nosso entendimento, acerca
de qualquer coisa. No caso que nos interessa, é a idéia que formamos da QC. E
COMO SE FORMA UM CONCEITO?
R= Ele se forma pela reunião das características da coisa mesma, seja esta coisa um objeto real, seja um pensamento abstrato como, P. Ex., o ponto matemático, que tem tanta consistência em nosso entendimento quanto qualquer coisa sólida, real, como esta mesa.
- É importante que o Expositor comece logo dizendo o que a coisa/QC é, visto que ela será o centro do tema da sua aula e, para isso, ele vai precisar reunir as características da coisa para ir formando, característica a característica, a sua imagem no seu e no pensamento dos Alunos para que eles também possam ter a idéia precisa dessa coisa/QC que vai ser explicada pelo Expositor, vê-la com os olhos do entendimento, a fim de que seja logo desfeito o problema do “porquê” e do “para quê” de toda e qualquer aula.
Dizer, portanto, o que a coisa
é, é o mesmo que dar a sua definição. E
O QUE SIGNIFICA “DEFINIÇÃO”?
R= Esta palavra, composta pela preposição “de” + “finição”, vem do Latim “definitio, -onis”, que sig “determinação a partir do que é finito” porque este “de” é uma preposição de origem que significa “a partir de”, e “finitio, -onis” significa “finito, limitado, determinado” – e toda e qualquer coisa/idéia/QC é finita –, e a definição só estará completa quando todas as características da coisa estiveram reunidas nela e forem enunciadas.
Definir uma coisa, portanto, será enunciar todas as características/qualidades da QC, todos os seus caracteres/sinais próprios, particulares dela e que a distinguem de todas as outras demais coisas, tornando-a uma coisa particular-individual.
Pode parecer fácil, mas não
é, esta reunião de características a que se resume a QC/coisa da qual vamos
falar. Ora, DEFINIR A COISA NÃO SERIA O
MESMO QUE FALAR DELA O TEMPO TODO EM QUE DURA A AULA? Então não podemos
perder de vista o que a coisa é, um instante sequer. O
QUE PODEMOS EXTRAIR DO QUE ACABOU DE SER DITO?
R= Que se o Expositor perder de vista a definição da coisa/QC, então o seu pensamento poderá se desorganizar. Esta é a 3ª Regra de “COMO ORGANIZAR O PENSATº NUMA SALA DE AULA”.
O conceito/idéia/QC se torna, assim, o eixo vertical da nossa aula que, como o próprio termo “eixo” está indicando, deverá girar em torno dele, desde o seu começo, meio e fim, encadeados logicamente. Qualquer variação deverá ser feita em torno desse eixo – de preferência uma analogia que, como o próprio termo “analogia” está a indicar, terá com ele alguns pontos comuns de contato. Mas cuidado! Que não seja uma variação que o afaste muito dele, senão os Alunos, que estão ouvindo o assunto pela primeira vez, poderão não acompanhar o Expositor que já conhece aquela analogia, pois o aprendizado passa pelas fases de “familiarização”, “compreensão” e “ser capaz”, e se o primeiro contato com o texto a ser estudado por nós é muito difícil, imagine então como não o será para os nossos Alunos.
O próprio conceito de “organizar” já nos aponta para o fato de que o pensamento que vai conduzir a aula deve ser orgânico, i e, todas as suas partes devem se correlacionar, e nada, absolutamente nada, deve alterar essa comunicação entre as partes, exatamente como ocorre com o organismo de um ser vivo, onde o todo, o organismo, é formado pelas suas partes particulares que se correlacionam. Neste sentido, a aula, que é a exposição do pensamento da idéia/QC, deve ter vida, e vida orgânica, organizada. Toda aula, portanto, deverá operar como um sistema [= conjunto ordenado dos conhecimentos acerca de qualquer coisa que vai ser enunciada (ênfase neste “ordenado”)]. E como num sistema onde tudo se encaixa, não havendo nenhuma peça solta, nenhum pensamento deve estar isolado, i e, nenhum pensamento pode estar sem contato com a QC da aula. Se não fizer isto o Expositor dispersará o seu pensamento.
Lembre-se de que qualquer parte/pensamento, distinto do todo/contexto, não faz nenhum sentido. É necessário encaixá-lo no tema pois ele o auxiliará no seu desenvolvimento, na explicitação da QC.
E toda aula deve, ao seu final, resolver, esclarecer aquela QC à qual o Expositor se propôs no seu início (não entrarei no ítem “motivação” da apresentação da QC porque não é o objetivo destas instruções).
- Agora, já com a posse de
todos estes conhecimentos, perguntemo-nos: COMO,
PORTANTO, ORGANIZAR UMA AULA PARA QUE O PENSAMENTO NÃO SE DESORGANIZE?
R= Listarei aqui algumas informações úteis que poderão lhes ajudar:
1) Estudar bem o assunto. E O Q É “ESTUDAR BEM O
ASSUNTO”?
R= É estudá-lo de tal maneira que, conhecendo-o, não paire nenhuma dúvida sobre ele, visto que, na maioria das vezes, uma aula ou uma palestra é uma verdadeira descoberta para o Expositor que antes, como os Alunos, a desconhecia, pois ninguém nasce sabendo. Se o Expositor conhecer bem o assunto de que vai tratar, então ele se sentirá seguro, confiante e, digo sem medo de errar, que ele dará uma boa aula (claro, há o aspecto didático, mas, de uma maneira geral, a Didática vai se subordinar ao conhecimento, porque este é primeiro);
2) Planejar o desenvolvitº da sua aula, definindo, logo de início, a QC, i e, o de quê a aula irá tratar. Faça um Roteiro e mostre-o aos Alunos, preparando-os para o que virá a seguir;
3) Só fale do que souber; o que não souber não deve ser falado, pois o Aluno percebe quando o Expositor nada sabe sobre um dado aspecto da QC. E quando um Aluno lhe perguntar o que você não sabe, responda-lhe francamente: “Não sei, mas vou pesquisar e, na próxima aula, trar-lhe-ei a resposta”. Nada supera a verdade;
4) Pesquise, a pesquisa enriquece o tema, enchendo-o de exemplificações. De uma maneira geral percebo que os Expositores não pesquisam, ficando presos ou à apostila ou ao livro-texto, acreditando que eles dão e darão conta de toda a QC. Lembrem-se de que uma apostila é boa para quem a fez, mas para quem a lê/estuda ela se reduz,tendo em vista de que ela é o resumo daquela bibliografia que vem seu final e que o Expositor deve lê-la toda, pois é ela a origem da apostila, logo, é nela que o tema está expandido;
A pesquisa envolve um certo custo de tempo e dinheiro. Mas se você quer, realmente, ser um Expositor da Doutrina Espírita (DE), então você terá que comprar, pelo menos, um livro por mês, começando a fazer a sua biblioteca particular, porquanto nem sempre você terá tempo disponível para freqüentar uma.
Lembre-se sempre de que a DE está interligada a todas as regiões do saber, tais como: Filosofia, Matemática, Astronomia, Geologia, História, Geografia, Biologia, Física, Química, Zoologia, Botânica, Religião, etc..
(*) Deixo aqui a minha sugestão para que o CEI ouça os seus Expositores acerca dos livros que eles crêem ser necessários às suas aulas e os adquira. É claro que essa nova biblioteca será privativa dos Expositores e de mais ninguém.
5) Lembre-se de q a finalidade do desenvolvimento retórico da aula é convencer o ouvinte com argumentos, aquelas boas OS. E esse objetivo tem que ser atingido. Não perca de vista, portanto, o objetivo da aula;
6) Fale bem, fale alto, fale claro e compassadamente, utilizando corretamente a Gramática – todo Expositor deve ter, também, um léxico para lhe tirar as dúvidas. Não confie na sua memória e nem nos seus “achismos”, consulte sempre um dicionário;
7) Evite usar gírias e brincar em demasia – tais recursos, em excesso, desorganizam o pensamento, baixam o nível da aula e, em conseqüência, o assunto tratado também será rebaixado, não lhe dando os Alunos a importância que ele merece e, o que é pior, desmerecendo a DE;
8) Tenha sempre, como bem sabido, os conceitos básicos da DE, tal como os Espíritos Superiores nô-los passaram, como os conceitos de: Deus, Alma, Espírito, Matéria, Anjo, Escala Espírita, Perispírito, Fluido Universal, Fluido Vital, relação Espírito-Matéria, Leis Morais (saiba o que significa Moral); Livre-Arbítrio; consciência (saiba o q é consciência); etc..
9) Por um estranho motivo que ainda não pude identificar, os Expositores da DE, paradoxalmente, não conhecem totalmente o Livro dos Espíritos (LE) e nem toda a Codificação. Se muito, leram-na apenas uma vez, quando tal leitura é para ser feita durante toda a vida.
Assim sendo, por um insuficiente conhecimento doutrinário, o Expositor nem sempre consegue encaixar um tema filosófico, religioso ou científico nos fundamentos da DE, ou seja, correlacioná-lo com o LE. A falta de um sólido conhecimento do LE também ajuda a desorganizar o pensamento numa sala de aula espírita;
10) Leia e, depois, estude a Bíblia, você irá se admirar do que ela contém. De uma maneira quase que geral, posso afirmar que os Expositores não a conhecem porque a consideram um livro superado. Pois saibam que não é, saibam que os Espíritos não a desqualificam, antes afirmam que toda a DE está nela sob uma outra forma, a forma figurada que conduz a uma má interpretação: Comunicação espiritual; Obsessão; Mediunidade; Leis Morais; exemplos de fé; Perispírito; Reencarnação; Md espiritual; Materialização; Psicofonia; Visões/Clarividência; Curas; Aparições; etc..
Se as suas aulas forem sobre a Bíblia, sirva-se então de um bom Dicionário da Bíblia, ele o auxiliará fortemente e lhe dará maior segurança. A falta de compreensão dos conceitos nela exarados também desorganizam o pensamento;
11) Também considero importante saber porque a DE é uma filosofia e porque ela é uma Filosofia Espiritualista. É preciso conhecer bem os neologismos “espírita” e “Espiritismo” para diferenciá-los do Espiritualismo tradicional. Voltem e releiam a INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA;
12) É preciso saber quais são os problemas que a DE levanta, discute e apresenta soluções; e, também, a lógica dessas soluções, os seus “porquês”, os seus motivo, a sua razões;
13) O Expositor deve buscar conhecer qual era o cenário histórico e intelectual do mundo europeu quando a DE surgiu em 1857, combatendo o Positivismo-materialista-naturalista. Lembrem-se: AK era um positivista, portanto, era um seguidor do filósofo AUGUSTE COMTE – e a DE é uma doutrina positivista-espiritualista, uma vez q os fenômenos medianímicos podem ser, todos, observados e experimentados. E deles, dedutivamente, retira-se uma lei, a Lei das Comunicações Espirituais com os defuntos, que é o inédito que a DE trouxe ao mundo;
14) Busque conhecer a relação existente entre os fenômenos das mesas-rotantes com o Magnetismo e o Espiritismo;
15) Busque fazer Cursos e assistir palestras espíritas, sempre levando papel e caneta para anotar tudo o que lhe chamar a atenção, senão esquecerá o que viu porque a memória é fraca por não ser bem treinada. Se um Curso é bom, então faça-o.
Não pense nunca que você já sabe tudo. Você se surpreenderá ao descobrir que sabe muito pouco, mas muito pouco mesmo;
16) Lembre-se: conhecimento é sedimentação de conhecimento, é leitura, é reflexão. Sabe mais quem leu mais, quem viu a mesma idéia sob diversas perspectivas. Não ler os “clássicos” ajuda a não ter o pensamento organizado, porque os pensadores clássicos escrevem organizadamente e, por isso, servem-nos como modelos de clareza;
17) Após feita a sua aula em casa, leia-a, releia-a e torne a relê-la. A cada leitura você irá corrigindo-a aqui e ali, aperfeiçoando-a até dominar, completa e perfeitamente, os conceitos emitidos em torno daquela QC/tema da aula;
18) Evite dar opiniões porque a opinião não é o campo da verdade, é o campo do que pode e do que não pode ser. Será a sua opinião contra as verdades da DE, elaborada pelos Espíritos Superiores, logo, por Espíritos que se encontram muito acima dos Espíritos Sábios. Portanto, não emita conceitos duvidosos sem, antes, conhecê-los bem. A opinião, por não ser algo verdadeiro, dispersa, desorganizando, o pensamento.
Uma vez achei um “furo” na DE e falei com o meu Mentor sobre isso. Então ele me respondeu: “a DE não tem ‘furo’, é perfeita”. Dias mais tarde verifiquei, abatendo o meu “ego”, que o erro era meu – por efeito de uma má leitura – e que o velho e bom Mentor tinha razão, novamente;
19) Seja humilde, a humildade fica bem em qualquer lugar. Ouça o que os Alunos têm a lhe perguntar. Aprendemos muito com eles;
20) O lazer do Expositor espírita é pesquisar, é encontrar as “pontes” as “passagens” que interconectam a teoria espírita com a realidade. Encontrar tais conexões nos ajuda a manter o pensamento organizado;
21) Não basta ler e reler sem compreender. É preciso compreender, senão nada fará sentido. Ao compreender, o Expositor deverá ser capaz de reproduzir o texto com as suas próprias palavras, fazendo a sua releitura.
Este é o segredo: compreender. Se o Expositor não for capaz de fazer a interpretação do texto, então o seu pensamento se desorganizará;
22) Menos ANDRÉ LUIZ, menos EMMANUEL, menos JOANNA DE ÂNGELIS – eu disse “menos”, não disse “eliminar” – e mais ALLAN KARDEC, muito mais ALLAN KARDEC, pois os Espíritos Superiores e todos os demais espíritos da Escala Espírita vêm aprender na Codificação.
Ainda não sabemos direito quem era, em seu estatuto espiritual, o ínclito Prof. HIPOLYTE LÉON DÉNIZARD RIVAIL. Sua inteligência era respeitada por PAULO DE TARDO, FÉNELON, SWEDENBORG, TOMÁS DE AQUINO, AGOSTINHO, SÓCRATES, JOÃO EVANGELISTA, SÃO LUÍS, entre outros Espíritos Superiores que elaboraram a DE;
23) Anotem toda e qualquer intuição que lhes chegar: na rua; no trabalho; na condução; em casa. São instruções dos seus Mentores que irão auxiliá-lo na organização do seu pensamento, corrigindo conceitos mal formados;
24) Jamais creia que os Alunos não terão a compreensão para qualquer tema; tudo depende de como você o apresentará. Alguns Alunos nos são superiores em conhecimento e em espiritualidade;
25) Dê a sua aula para você mesmo. COMO FAZER ISTO?
R= Imagine-se, por um lado, como um Aluno de 4 anos q nada sabe
sobre o assunto a ser dado e, a partir disto, agora imagine-se, por outro lado,
como sendo você mesmo, adulto, o Expositor do tema e pergunte-se: COMO
EU, ALUNO, GOSTARIA QUE EU MESMO, EXPOSITOR, EXPLICASSE, PARA MIM MESMO, ESSE
ASSUNTO?
26) Preste atenção ao que lhe é perguntado e só responda
ao que lhe for perguntado, sem se estender, porque isso consome o tempo e
dispersa o pensamento do Aluno e o seu também. Seja breve nas respostas. Quando
o Expositor conhece o tema ele sabe ser sucinto. E COMO ENTENDER BEM UMA PERGUNTA?
R= Encontrando o núcleo da sua QC. E COMO ENCONTRAR TAL NÚCLEO?
R= Normalmente ele é o primeiro substantivo ou pronome da OP da pergunta do Aluno – e o verbo ao qual ele se liga nos dirá qual é a ação/intenção deste núcleo, i e, que função ele está desempenhando;
24) Finalmente, criem entre si Grupos de Estudo acerca de um
determinado tema problemático e desenvolvam-no. Sem estudo, a inteligência,
que é uma faculdade como todas as outras e também precisa ser
desenvolvida, se atrofiará, conforme disse-me o Mentor.
B-
O CONCEITO DE “PENSAMENTO”
- Já aprendemos o que é “organizar”
e agora nos falta aprender o que é “pensamento”.
Então perguntemos logo: O QUE É O
PENSAMENTO? QUE COISA É ESSA, O PENSAMENTO?
R= Digamos, antes de o definir, que o substantivo “pensamento”
está ligado ao verbo “pensar” e
vice-versa. E POR QUE AMBOS ESTÃO
LIGADOS?
R= Porque ambos são substantivos, pois quando digo “o
pensar”, estou usando o verbo pensar em sua modalidade participial. Ora,
quem pensa exerce a ação verbal de pensar e quem pensa alguma coisa pensa
pensamentos. Isto posto, podemos dizer que se entende por “pensamento”
aquilo que se tem “em mente”
quando se reflete com o propósito de se conhecer algo, entender algo. O
pensamento, portanto, é o que temos em nossa mente. E
O Q É A MENTE?
R= Esta palavra vem do substantivo latino “mens, -tis” que significa “a mente; o espírito; a inteligência; o intelecto; o entendimento depois dele ter entendido ou compreendido algo, ao contrário da própria faculdade de entender (tudo isto por estar a mente em oposição ao corpo)”.
Resumindo: a mente é
um órgão abstrato equivalente ao espírito, à inteligência, e pela qual
entendemos o que dentro dela se encontra (o que nos leva a crer q a mente
pensante pode ser ativa ou passiva). E O
QUE É O PENSAMENTO?
R= É o que se encontra no interior da mente sob a forma de idéia, de conceito, de representação. Entendemos por pensamento, portanto, o que está contido na mente e para o qual está apontando o ato intelectual de pensar de um sujeito que pensa. Logo, quem pensa é o sujeito, é a mente, é o espírito.
O ato de pensar não se confunde com o pensamento, porque o pensamento é a “coisa” pensada, a qual pode ser uma imagem, um objeto, um conceito, uma entidade abstrata como a “diferença”, etc., enquanto que o ato de pensar, ou o pensar, é uma faculdade. Pois bem, os pensamentos se sucedem, encadeando os fenômenos sob a Lei de Causa e Efeito, procurando, sempre, reproduzi-los logicamente mediante uma linguagem.
Disto deduzimos que: pensar e
falar são a mesma coisa, pois só podemos falar do que pensamos, e do que não
se pode pensar também não se pode falar.
QUAL É O PROBLEMA AQUI?
R= É que o ato de pensar, por ser um ato imaterial, puramentete
espiritual, escapa à linguagem porque a linguagem
é o instrumento de que dispomos para falar só das coisas materiais. JÁ
PERCEBERAM QUE PARA FALAR DO MUNDO ESPIRITUAL OS ESPÍRITOS SEMPRE EMPREGAM
ANALOGIAS E METÁFORAS DO MUNDO FÍSICO?
Ora, se o pensamento não se
subordina ao tempo (e nem ao espaço), surge aqui uma dificuldade: COMO
CONGELÁ-LO NUMA LINGUAGEM? COMO ORGANIZAR NO TEMPO O QUE ESTÁ ORGANIZADO FORA
DO TEMPO?
R= Por aquilo que o pensamento tem como objeto: as coisas, digo, as idéias das coisas (idéia é, sempre, idéia de alguma coisa – o termo “idéia” é um substantivo que pede um complemento nominal, logo, idéia só pode ser idéia de algo). Agora sim, posso congelar e organizar o pensamento numa linguagem igual à dele pois, mesmo estando fora do tempo, ele pensa idéias, e pensar e falar são a mesma coisa, pois quando falo falo de algo.
O pensamento é sempre reflexivo, i e, o pensamento é o pensamento do pensamento, e os Expositores não têm o hábito da “reflexão”, da introspecção. A falta da reflexão, quando se vai tratar de temas delicados, também desorganiza o pensamento.
3-
O MÉTODO
Ente o método dedutivo e o indutivo, use, preferencialmente, o método dedutivo por ser o mais intuitivo. Ele lhe permitirá organizar o pensamento a partir de um princípio universalmente conhecido e, daí em diante, sempre ligado a ele, o Expositor poderá fazer, com segurança, as suas deduções. Se todas as deduções (eu disse “todas”) estiverem amarradas nele, sua aula será uma aula considerada lógica e você não correrá o risco de se equivocar por falta de clareza.
Procure sempre fazer deduções do tipo:
Todos os homens são mortais
SÓCRATES é homem
SÓCRATES é mortal.
QUAL É O SEGREDO DA DEDUÇÃO SER INTUITIVA?
R= É q os conceitos deduzidos já se encontravam contidos na premissa maior, como, P. Ex., 9-1=8 (o 8 já estava contido no 9, senão, DE ONDE APARECERIA O 8?). E se a premissa maior é um postulado (o que não necessita de demonstração porque é evidente por si mesmo), então as deduções serão todas lógicas e verdadeiras.
Conclusão: só há um
modo de não se desorganizar o pensamento, é colocá-lo nos trilhos da razão,
da lógica, da linguagem, obedecendo, sempre, à lei da causalidade. Certamente,
fazendo isto, o Expositor não se desorganizará. Mas isto requer esforço, que
é o estudo, e perseverança, que é a garantia do sucesso.
4-
INSTRUÇÕES GERAIS
- Aparência: bem barbeado; roupas limpas; cabelo penteado; sapatos limpos. Nenhum Aluno respeita um Expositor com má aparência, pois o Aluno julga que ele, Aluno, merece uma coisa melhor. Um Expositor, assim, dispersa, desorganizando, os pensamentos dos Alunos;
- Dicção: não grite – o grito prejudica o pensamento porque causa medo e o medo é paralisante; dimensione a sua voz de tal maneira que o Aluno que estiver sentado na última fileira o ouça. Se ele não o ouvir o pensamento dele se dispersará;
- Fale pronunciando todas as letras de cada palavra. Quando se fala rápido demais, esteja certo, os Alunos não conseguem digerir o que foi dito porque não entenderam as palavras, muito menos os seus significados/conceitos que, ao final, é só o que interessa a todos;
- Não fale sozinho,
pergunte sempre, no desenvolvimento da aula, se os Alunos estão entendendo. PARA
QUE PERGUNTAR?
R= Para que os seus pensamentosnão se dispersem.
- Cobrem dos Alunos as anotações do que pensaram durante a aula. Peça-lhes, sempre, uma redação, em uma página, da aula dada. Será um bom termômetro para o trabalho do Expositor, para ele saber se o seu pensamento foi claro, organizado, e, o que é melhor, ele ir se corrigindo ao mesmo tempo em que os Alunos irão treinando a boa redação, i e, colocando numa linguagem escrita os seus pensamentos de forma organizada;
- Elogie em público e critique em particular. Jamais inverta esta ordem;
- Combine com o seu Mentor o melhor dia, a melhor hora, o melhor local e o tempo necessário de estudo – e não falhe –, obtendo, assim, a respeitabilidade dele. Seja perseverante nos estudos. Ele comparecerá. Seu Mentor ajudar-lhe-á a organizar o seu pensamento.
- É só.
Desculpem-me se os assustei com tanta Gramática e tanta filosofia, mas não há outro jeito: o pensamento só será organizado numa sala de aula – ou fora dela – se o colocarmos nos trilhos da Gramática e da ordem das razões.
Que DEUS, Nosso-Pai, nos abençoe a todos.
Graças a DEUS.
São Paulo, 27 Abr 02.
JOEL F. DE SOUZA
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