Sérgio Biagi Gregório SUMÁRIO: 1.
Introdução. 2. Conceito. 3. Origem Histórica das Virtudes Cardeais. 4. Sabedoria
ou Prudência (1ª Virtude Cardeal). 5. Fortaleza ou Coragem (2ª Virtude Cardeal).
6. Temperança (3ª Virtude Cardeal). 7. Justiça (4ª Virtude Cardeal). 8. A
Contribuição do Espiritismo. 9. A Paciência, um Exemplo. 10. Conclusão. 11.
Bibliografia Consultada. 1. INTRODUÇÃO Presentemente, há um esquecimento da palavra virtude. Diz-se
que ela sobrevive apenas nos dicionários. E o que dizer das virtudes cardeais?
Elas também estão esquecidas? Como reavivá-las? Quais são essas virtudes, ditas
cardeais? Por que o termo cardeal? O que ele quer dizer? 2. CONCEITO Virtude é uma disposição estável em ordem a praticar o
bem; revela mais do que uma simples potencialidade ou uma aptidão para uma
determinada ação boa: trata-se de uma verdadeira inclinação. Os seus
significados específicos podem ser reduzidos a três: 1º capacidade ou potência
em geral; 2º capacidade ou potência do ser humano; 3º capacidade ou potência
moral ser humano. (Abbagnano, 1970) Cardeal. A palavra cardeal vem de gonzo (dobradiça). São
as virtudes fundamentais nas quais todas as outras se apoiam. São as virtudes
básicas para toda e qualquer ação do ser humano. As virtudes cardeais são
quatro, a saber: prudência (sabedoria), fortaleza (coragem), temperança e
justiça. 3. ORIGEM HISTÓRICA DAS VIRTUDES CARDEAIS Platão, no seu livro República, ao reportar sobre as
qualidades da cidade, descreveu as quatro virtudes que uma cidade devia possuir.
Para ele, as virtudes fundamentais eram: Sabedoria, Fortaleza, Temperança e
Coragem. Posteriormente, convencionou-se chamar essas virtudes de cardeais, ou
seja, fundamentais, em que tudo o mais devia girar. Observação: Platão
desenvolveu primeiramente as virtudes na cidade; somente depois é que as
vinculou à conduta humana, pois achava que a conduta citadina ou pessoal não
tinha diferença alguma. Na cidade boa e reta, cada qual deve participar da felicidade
conforme a sua natureza. Daí, o princípio estabelecido por Platão para reger a
cidade: cada qual deve cuidar de agir conforme a sua natureza, ou seja, para
aquilo pelo qual nasceu, promovendo a unidade da cidade. Em suas lucubrações,
caberia ao filósofo, a tarefa de cuidar do governo da cidade. Achava que os
filósofos, por serem sábios, teriam mais condições de encaminhar todas as
atividades para o bem comum. 4. SABEDORIA OU PRUDÊNCIA (1ª VIRTUDE CARDEAL) Para Sócrates, a cidade é sábia, pois é dotada de certa
ciência, ciência esta que pode escolher o que é melhor, ocasionando a boa
deliberação. Participar dessa ciência, a única dentre todas as ciências que deve
chamar sabedoria. A sabedoria é saber escolher, o deliberar bem, tendo em vista
o todo. A sabedoria faz o guardião (no caso o rei-filósofo) a escolher o que é
melhor para a cidade. É também saber se comportar consigo mesmo e junto aos
demais seres humanos. (Reis, 2009, cap. I) A prudência, assim, refere-se à conduta racional do ser
humano, ou seja, à capacidade de bem dirigir os eventos, tanto pessoais quanto
públicos. Não é um conhecimento elevado, uma sapiência livresca, mas o
conhecimento das atividades humanas e da melhor maneira de conduzi-las. Prudência (sabedoria) é aquela virtude que permite ao
entendimento reflexionar sobre os meios conduzentes a um fim racional. Há
uma prudência (sapiência) para conduzir a si mesmo e aos outros. A prudência
exige: reflexão, capacidade atencional, para examinar os juízos e as ideias, e
acuidade, para descobrir os meios mais hábeis. Sabedoria é uma compreensão superior do mundo e da
vida, acumulada através da experiência e da meditação. O trabalho do filósofo é
uma ação voltada para a busca do saber. Ironizado e desprezado, vivendo em meio
à humildade, à pobreza e à castidade, segue a vocação que o destino lhe traçou. Para Platão, a phronesis (sabedoria), mesmo quando
dirige a ação, o faz elevando-se acima de si mesma, isto é, na medida em que é
um conhecimento transcendente adquirido na contemplação da Idéia do Bem. 5. FORTALEZA OU CORAGEM (2ª VIRTUDE CARDEAL) A cidade será corajosa ou covarde. Ela tem potência capaz de
preservar a opinião reta e legitima. Sócrates compara a coragem à preservação da
opinião reta. A opinião reta pode sofrer o abalo das vicissitudes: sofrimento,
prazeres, apetites etc. Em linhas gerais, Platão define-a como "a opinião reta e
conforme à lei sobre o que se deve e sobre o que não se deve temer" (Rep.
IV, 430 b). Como virtude que constitui a firmeza de propósitos, a coragem é
considerada a principal das virtudes. Ele diz que o prazer, o sofrimento, o temor e os apetites
funcionam como "detergentes que são terríveis para tirar a cor" (Rep. IV,
430 a-b) Platão compara essa força ao guerreiro, que tem a força capaz
de preservar a opinião reta e legitima, apesar das asperezas das contradições.
Firmeza (coragem) é a capacidade de enfrentar obstáculos. A
paciência, subordinada à fortaleza, é a capacidade constante de enfrentar as
adversidades. 6. TEMPERANÇA (3ª VIRTUDE CARDEAL) Temperança, segundo Sócrates, é uma ordenação e ainda um
poder sobre certos prazeres. Nesse caso, a temperança refere-se à contenção dos
prazeres sensitivos dentro dos limites estabelecidos pela razão. A moderação
é a temperança no comer; a sobriedade é a temperança no beber; a
castidade é a temperança no prazer sexual. 7. JUSTIÇA (4ª VIRTUDE CARDEAL) No estabelecimento da cidade, Platão disse que "cada um deve
ocupar-se de uma função na cidade, aquela para a qual a sua natureza é mais apta
por nascimento" (Rep., V, 433 c). isto equivaleria também à justiça, pois
implica "executar a tarefa própria e não fazer a dos outros". (Rep., IV,
433 a) Pode-se dizer, também, que a justiça consiste na atribuição,
na equidade, no considerar e respeitar o direito e o valor que são devidos a
alguém, ou alguma coisa. Em se tratando das virtudes cardeais, a justiça é
considerada a principal delas, pois se não houver justiça, a temperança, a
coragem e a prudência podem encaminhar para os seus contrários, que são os
vícios. 8. A CONTRIBUIÇÃO DO ESPIRITISMO Compulsando O Evangelho Segundo o Espiritismo e O
Livro dos Espíritos encontraremos subsídios valiosos para uma melhor
compreensão das virtudes cardeais e das que lhe são subordinadas, tais como a
paciência, a obediência e a resignação. Os Espíritos de luz, com conhecimentos
muito mais apurados que os nossos podem, pela mediunidade, transmitir-nos
informações mais relevantes sobre a caridade, a amizade e o perdão. 9. A PACIÊNCIA, UM EXEMPLO "A dor é uma bênção que Deus envia a seus eleitos; não vos
aflijais, pois, quando sofrerdes; antes, bendizei de Deus onipotente que, pela
dor, neste mundo, vos marcou para a glória no céu. Sede pacientes. A paciência
também é uma caridade e deveis praticar a lei de caridade ensinada pelo Cristo,
enviado de Deus. A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a mais
fácil de todas. Outra há, porém, muito mais penosa e, conseguintemente, muito
mais meritória: a de perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho
para serem instrumentos do nosso sofrer e para nos porem à prova a
paciência. A vida é difícil, bem o sei. Compõe-se de mil nadas, que são
outras tantas picadas de alfinetes, mas que acabam por ferir. Se, porém,
atentarmos nos deveres que nos são impostos, nas consolações e compensações que,
por outro lado, recebemos, havemos de reconhecer que são as bênçãos muito mais
numerosas do que as dores. O fardo parece menos pesado, quando se olha para o
alto, do que quando se curva para a terra a fronte. Coragem, amigos! Tendes no Cristo o vosso modelo. Mais sofreu
ele do que qualquer de vós e nada tinha de que se penitenciar, ao passo que vós
tendes de expiar o vosso passado e de vos fortalecer para o futuro. Sede, pois,
pacientes, sede cristãos. Essa palavra resume tudo". - Um Espírito amigo.
(Havre,1862.) (Kardec, cap. IX, item 7) 10. CONCLUSÃO Hoje, as virtudes cardeais estão esquecidas e têm apenas um
valor fiduciário. Este esquecimento é a origem de muitas desordens, tanto na
vida pública como na vida privada. Reflitamos sobre elas e solidifiquemos o seu
sentido original, que era o da reta razão e o do crescimento espiritual do ser
humano. 11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ABBAGNANO, N.
Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970. KARDEC, A. O
Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984. REIS, Maria Dulce.
Psicologia, Ética e Política: a Tripartição da Psykhé na República de
Platão. São Paulo, Loyola, 2009. São Paulo, maio de 2010.
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