Sérgio Biagi Gregório
1) Virtude – do latim vir, virtus. A noção
exprime em primeiro lugar o poder e mais geralmente a força de vontade.
Não existe virtude fraca. A virtude designa igualmente e por extensão, a eficácia
ou aptidão real para agir que pertence propriamente ao sujeito: a virtude
de um medicamento, por exemplo. Para Platão e Aristóteles, existe, aliás, uma
virtude de cada coisa quando esta realiza sua natureza de maneira excelente:
virtude do cavalo, que é de correr bem, virtude do homem, sobretudo, que é de
desabrochar suas faculdades sob a égide da razão. A virtude moral é uma disposição adquirida ou inata
habitual para realizar o bem, segundo Aristóteles. O mesmo autor acrescenta que,
inimiga do excesso prejudicial, ela se situa no meio-termo. (Durozoi, 1993) &&&&&& 2) Mitologia. A virtude, filha da verdade, era mais do
que uma deusa alegórica. Os Romanos levantaram-lhe um templo. Tinham igualmente
erigido um à Honra, sendo necessário passar por uma para chegar ao outro, idéia
pela qual pretendiam fazer compreender que a Honra não residia senão nas ações
virtuosas. A virtude era representada por uma figura de mulher simples e
modesta, vestida de branco, e cuja atitude impunha o respeito. Sentava-se sobre
bloco de pedra de forma cúbica, usava uma coroa de louro, ou então empunhava um
pique ou um cetro. Era por vezes figurada com asas abertas, a fim de significar
que, pelos seus esforços generosos, se elevava acima da vulgaridade. A virtude
encontra-se ligada à lenda de Hércules e à de Plutão. (Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira) &&&&&& 3) Entendido de modo geral como disposição habitual e
firme para o bem agir, a virtude apresenta obviamente algo de grande
importância, tanto para os indivíduos como para a convivência social. Atualização do tema: será humanizante a unificação e
estabilização que a virtude inegavelmente aporta, pelo menos a nível de
comportamentos? Por outras palavras, a virtude personaliza ou "robotiza"? E não
custa compreender a razão desta dúvida, tendo em conta a generalizada
identificação de virtude com bons hábitos. Ora, a palavra hábito sugere
inevitavelmente automatismo, estereotipia, rotina. (Polis) &&&&&& 4) Debaixo do pensamento romano a virtude perdeu todo o
encanto e graça que comportava a sua acepção grega (Arete). A virtude é
uma disposição estável em ordem a operar no bem; revela mais que uma simples
potencialidade ou uma aptidão para uma determinada ação boa: trata-se de uma
verdadeira inclinação. Esta inclinação pode ser muito mais intencional e
voluntária do que natural e sensível: um homem pode agir voluntariamente em uma
direção oposta a que impulsionam os seus sentidos. Esta é a razão de que, apesar
de sua estabilidade e de seu próprio vigor, a virtude seja com freqüência de
caráter conflitivo: é uma luta, uma vitória sobre os atrativos de sinal
contrário; a consciência do conflito virtual, de uma oposição interna e externa,
da mesma tentação, não é um mal. É um aviso. As virtudes teologais são disposições para crer em Deus (fé),
esperar Nele (esperança) e obedecê-Lo por amor (caridade). As virtudes cardeais
são os eixos de todas as atividades humanas orientadas para o bem: a
prudência regula as atividades da inteligência; a justiça, as da
vontade; a fortaleza, as do poder de ação; a temperança, as do
desejo. A teoria da conexão entre as virtudes afirma que todo ato moralmente bom
é fruto de uma convergência de virtudes porque este deve ser sempre prudente,
justo, decidido e temperado. (Chevalier, 1976) &&&&&& 5) Virtudes são todos os hábitos constantes que levam o
homem para o bem, quer como indivíduo, quer como espécie, quer pessoalmente,
quer coletivamente. É esse o conceito de virtude (de vir, homem). É a
potência racional que inclina o homem à prática de operações honestas, tendentes
para o bem. Pode-se, assim, falar de virtudes morais e virtudes intelectuais. As
que tendem para o bem honesto são morais, as que tendem para a verdade são
intelectuais. Caridade é uma virtude moral. A sabedoria e a ciência virtude
intelectual. A caridade é a mãe de todas a virtudes. Ela é a raiz de todas as
virtudes, porque ela é a bondade suprema para consigo mesmo, para com os outros,
para com o Ser Infinito. (Santos, 1965) &&&&&& 6) A virtude é tudo aquilo que faz com que cada coisa
seja o que ela é. Transfere-se ao homem. Este caráter está expresso, segundo
Aristóteles, pelo justo meio; é-se virtuoso quando permanecemos entre o mais e o
menos, na devida proporção ou na moderação prudente. A virtude se refere às
atividades humanas e não somente às morais. Santo Agostinho diz que a virtude é uma "boa qualidade da
mente, por meio da qual vivemos retamente". A virtude é, como diriam os
escolásticos, e em especial São Tomás, um hábito do bem, ao contrário do hábito
para o mal ou vício. Como gênero próximo, mostra-se que a virtude é um hábito;
como diferença específica, que é um bom hábito. A concepção moderna da virtude se afasta essencialmente das
bases estabelecidas na Antiguidade e na Idade Média. Em seu significado mais
geralmente aceito continua sendo definida como a disposição ou hábito de agir de
acordo com a intenção moral, disposição moral, que não se conserva sem luta
contra os obstáculos que se opõem a tal modo de agir, e por isso a virtude é
concebida, também, como o ânimo, a coragem de agir bem ou, segundo Kant dizia,
como a fortaleza moral no cumprimento do dever. (Pequeno Dicionário Filosófico) Bibliografia Consultada CHEVALIER, Jean
(dir.). Diccionario de las Religions. Tradução espanhola por José Miguel
Yurrita. Bilbao, Spain: Mensajero, 1976. DUROZOI, G. e ROUSSEL,
A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP:
Papirus, 1993 GRANDE ENCICLOPÉDIA
PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d.
p.] PEQUENO DICIONÁRIO
FILOSÓFICO. São Paulo: Hemus, 1977. POLIS - ENCICLOPÉDIA
VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986. SANTOS, M. F. dos.
Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese,
1965.
São Paulo, novembro de 2004
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