Sergio Biagi Gregório
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é refletirmos sobre o modo como vemos as coisas. Observamos o fato ou a sua interpretação? É possível lançarmos um outro olhar sobre os objetos que vemos todos os dias? Como? Há alguma fórmula mágica?
2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Filosofia, ao longo de sua história, está sempre nos convidando a pensarmos pela nossa própria cabeça. Desde o seu começo, o espanto e o mirandum são as atitudes fundamentais da reflexão filosófica.
O Sol aparece e desaparece todo o dia. Isso não é nenhuma novidade. De repente, contudo, ficamos estupefatos com esse fenômeno da natureza. Tomamos consciência desse espetáculo como se nunca o tivéssemos visto antes, embora esse processo se repete diariamente. Em vez do Sol, poderíamos citar a Lua, os outros planetas e o Universo como um todo.
O espanto projeta o ser humano no mistério da vida e do Universo. Com isso, ele vai penetrando no mundo extrafísico, também conhecido como mundo parapsicológico, mundo esotérico, mundo das ciências proibidas etc.
O Espiritismo ensina-nos que o sobrenatural não existe. Os que assim pensam é porque ainda não conseguiram absorver todo o conhecimento acerca das leis naturais. No milagre, por exemplo, não há uma derrogação das leis naturais, mas uma conjugação dos fluidos ainda por nós desconhecida.
À guisa de exemplo, observemos o comportamento dos nossos olhos durante a leitura: temos a impressão de que os olhos deslizam sobre o papel. Há evidências empíricas, no entanto, que contrariam tal afirmação. Segundo esses experimentadores, auxiliados pela tecnologia, pela máquina, os olhos não se movem suavemente, mas aos saltos. Os saltos são tão rápidos, que se tornam imperceptíveis à nossa observação.
3. PERCEPÇÃO
3.1. PERCEPÇÃO SENSORIAL E EXTRA-SENSORIAL
A percepção é uma atividade do espírito que organiza os dados sensoriais pelo qual conhecemos a "presença atual de um objeto exterior".
As informações nos chegam através das percepções sensoriais e das extra-sensoriais. Passam, primeiramente, pelo corpo físico; depois, pelo corpo perispiritual, e, por último, chegam ao Espírito propriamente dito. O senso crítico está localizado no Espírito, que faz a seleção de tudo o que lhe chega, enviando de volta, como crítica conceituada.
3.2. DISTORÇÃO PERCEPTIVA
Um dos grandes problemas da percepção é a distorção perceptiva, ou seja, vemos as pessoas de uma forma bem diferente das que elas são, ou daquela como estas nos são objetivamente apresentadas.
Entre tais distorções, citamos:
estereotipagem - É o processo de usar uma impressão padronizada de um grupo de pessoas para influenciar a nossa percepção de um indivíduo em particular. Estigma.
efeito halo - Consiste em deixar que uma característica de um indivíduo ou grupo encubra todas as demais características daquele indivíduo ou grupo.
expectativas - Consiste em "vermos" e "ouvirmos" o que esperamos ver e ouvir e não o que realmente está acontecendo. (Bowditch, 1992, p. 62 a 76)
3.3. ILUSÃO E AUTO-ILUSÃO
Usa-se geralmente o termo "ilusão" para significar um erro ou engano dos sentidos e do juízo. Freud (1948) chama ilusão a toda a crença que é principalmente motivada pelo desejo e que renuncia a ser confirmada pelo real. Piéron (1951) define a ilusão como "uma falsa aparência tomada por uma percepção exata". (Thines, 1984)
A auto-ilusão, por sua vez, age tanto na mente do indivíduo como no consciente coletivo do grupo. Às vezes, para pertencer a um grupo, concordamos com as normas preestabelecidas. Questionar o seu comportamento pode ser interpretado como um desafio ao modo do grupo proceder.
Na auto-ilusão, não temos consciência das conseqüências de nossos atos.
4. SUBSÍDIOS FILOSÓFICOS
4.1. VISÃO DE MUNDO
A planta não tem visão de mundo. Ela não se relaciona; simplesmente fica parada onde foi plantada.O animal, pelo fato de se locomover, tem uma visão de mundo mais abrangente. Mesmo assim, há grande distância entre a sua visão e a do homem. O ser humano, além de se locomover, pode pensar, racionar, o que lhe dá uma dimensão muito mais ampla do que a do animal. Os conhecimentos adquiridos ajudam a aumentá-la. Sendo virtuoso, pode estendê-la ao infinito, pois pode penetrar nos estados de consciência dos Espíritos superiores.
4.2. A INFLUÊNCIA DOS OUTROS EM NOSSA OPINIÃO
Na Grécia antiga, a opinião da maioria equiparava-se à verdade. O júri encarregado de julgar Sócrates era movido por evidente preconceito. Todos haviam sido influenciados pela caricatura que Aristófanes havia feito de Sócrates e achavam que o filósofo exercera alguma influência nos acontecimentos desastrosos que haviam assolado a cidade, cujos dias de esplendor, naquele final de século, haviam chegado ao fim. Quantas não são as vezes que somos influenciados por um político ardiloso, por um jornal tendencioso, por um líder populista?
4.3. O PRECONCEITO
Preconceito é a fixação de um juízo anterior à análise objetiva da realidade, atingindo, desfavoravelmente, pessoas, idéias, instituições ou objetos. Entre os preconceitos mais censuráveis se encontram os que concernem à raça e à religião. Os preconceitos são característicos dos indivíduos de mentalidade estreita, incapazes de uma análise serena e desapaixonada da realidade.
O preconceito impede-nos de ver os outros como eles realmente são.
4.4. ALGUNS PENSAMENTOS AO REDOR DO TEMA
Diderot: "O olho do filósofo e o olho do soberano vêem de maneira bem diversa".
Octave: "Veja só, neste mundo há uma coisa impressionante: o fato de que toda gente tem sempre as suas razões".
Paulo: "Agora, vemos como em espelho, obscuramente; então veremos face a face; agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido".
William James: "Minha experiência é aquilo ao que concordo em dar atenção. Só os itens que eu noto formam a minha mente". Mas, ele acrescenta: "Sem interesse seletivo, a experiência é um caos completo".
R. D. Lang: "O alcance do que pensamos e fazemos é limitado por aquilo que deixamos de notar. E porque, deixamos de notar isso, é que deixamos de notar que pouco podemos fazer para mudar até notarmos como o fato de não notar modela nossos pensamentos e nossas ações".
5. EXEMPLIFICANDO ESTE ESTUDO
5.1. HÁBITOS DE CONSUMO
Há o consumo que vemos e a destruição que não vemos. Comprar isto em vez daquilo tem enorme impacto sobre o planeta. Presentemente, há indícios de um aquecimento global, da erosão do solo, da diminuição das áreas florestais e das pastagens que se transformam em desertos. Tudo isso para atender aos nossos hábitos de consumo. Em vista disso, já adquirimos o hábito de consumir os produtos que podem ser recicláveis?
5.2. O OUTRO
Cada pessoa tem a responsabilidade de ser caminho para os outros. É injusto excluir os outros do caminho. Pergunta-se: estamos criando condições de potencializar o nosso próximo? Predispomo-nos a ouvi-lo com atenção? E se for um homem iletrado? Temos para com ele o respeito de um ser humano?
A responsabilidade não diz respeito somente ao ser humano, mas também em relação ao meio ambiente. Hoje, são muitas as empresas que se preocupam com o que produzem, com o tipo de lixo que estão descartando, com as condições de trabalho de seus funcionários etc.
5.3. A TRAIÇÃO DE JUDAS ISCARIOTES
Judas Iscariotes foi o discípulo que traiu Jesus, influenciado pelas trevas do pré-julgamento. Observe que ele, embora amoroso, quase sempre tomava a dianteira de Jesus na maioria dos empreendimentos. Foi assim que organizou a primeira bolsa de fundos da comunhão apostólica. Mas a sua crítica contumaz contra tudo e a respeito de todos, obrigaram-no a insular-se. Os próprios companheiros andavam arredios. Ninguém lhe aprovava as acusações impulsivas e as lamentações sem propósito. Apenas o Cristo não perdia a paciência. Gastava longas horas, encorajando-o e esclarecendo-o afetuosamente...
Certa feita disse ao Mestre: Senhor, por que motivos sofro tão pesadas humilhações? Noto que os próprios companheiros se afastam, cautelosos, de mim...
Jesus, aproveitando-se de um gesto impulsivo do discípulo, ao pegar água no fundo do poço, pois a sua mão veio cheia de lama, disse-lhe:
"Neste poço singelo, Judas, tens a lição que desejas. Quando quiseres água pura, retira-a com cuidado e reconhecimento. Não há necessidade de alvoroçar a lama do fundo ou das margens. Quando tiveres sede de ternura e de amor, faze o mesmo com teus amigos. Recebe-lhes a cooperação afetuosa sem cogitar do mal, a fim de que não percas o bem supremo" (Xavier, 1978, cap. 44).
6. CONCLUSÃO
A nossa visão de mundo pode ser sempre melhorada. Basta apenas aguçarmos a nossa percepção, que é, em última análise, a correta interpretação dos fatos apresentados aos nossos olhos.
7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BOWDITCH, J. L. e BUONO, A. F. Elementos de Comportamento Organizacional. São Paulo, Pioneira, 1992.
THINES, G., LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa: Edições 70, 1984.
XAVIER, F. C. Luz Acima, pelo Espírito Irmão X. 4. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1978.
São Paulo, 11/07/2007
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