VICTOR LEONARDO DA SILVA CHAVES
Médico e Licenciado em Filosofia
ANÁLISE FILOSÓFICA
DO ESPIRITISMO
2ª. Edição
Rio de Janeiro
Editado pelo Autor
2007
C. P. 18528
Rio de Janeiro – RJ
20770-970
BRASIL
PREFÁCIO
Este livro não é uma obra espírita; está baseada em uma monografia que seria apresentada por conclusão do Curso de Bacharel em Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, segundo semestre de 1997 e na “Apostilha do Curso Básico de Filosofia Espírita” [Biblioteca Nacional, registro nº 232 718, Lv. 410, F.379, em 21/06/01], ministrado em nossos encontros das tardes de sábado sobre a Filosofia Espírita. É uma análise das características filosóficas do Espiritismo.
Essa doutrina é muito divulgada no Brasil, existindo mais de milhão de pessoas que se dizem espíritas, mais aquelas que, declarando-se católicas, frequentam associações espíritas e mais as que praticam formas sincréticas de Espiritismo com cultos afro-brasileiros. Seus conceitos já fazem parte do, ou, pelo menos, influenciam bastante o ideário da cultura do povo brasileiro.
Nosso objetivo é mostrar com essa análise as características filosóficas do Espiritismo, pois achamos que as diversas facções do Movimento Espírita Brasileiro vêm se afastando dessa filosofia, através de sincretismos com cultos afro-brasileiros, doutrinas orientais e com as psicologias profundas. Não temos a pretensão de ser imparcial. Por mais que o sujeito se esforce por não ser faccioso, ele, inevitavelmente, vê o objeto conforme sua visão de mundo (Weltanschauung).
Desejamos também que esse trabalho possa servir de base a especulações mais profundas a serem feitas por companheiros desses encontros, pelos estudiosos de nossa cultura ou por pessoas interessadas em filosofia religiosa.
Com as críticas e sugestões que recebemos, modificamos todos os capítulos e acrescentamos mais nove. Destinamos essa nova obra aos companheiros desses encontros de sábado, às pessoas interessadas na Cultura Brasileira e em Filosofia de uma maneira geral.
Críticas, sugestões, análises, dúvidas ou comentários poderão ser enviados para nosso endereço eletrônico widukind@widukind.net.
Ficamos contente com a boa recepção, atestada pelos elogios, críticas e sugestões. Particularmente agrademos o Prof Sérgio Antinarelli pelo grande apoio que nos deu.
Como consequência de e em sequência a essa obra, escrevi o livro “Contribuições do Espiritismo à Medicina”. Como ele se destina a nossa página eletrônica, deixamos de citar as Referências Bibliográficas, Dados sobre o Autor e ouros dados, que já se encontram nesta obra presente, a fim de economizar “bytes”.
Essa edição não recebeu revisões gramatical, ortográfica e de digitação.
VICTOR LEONARDO DA SILVA CHAVES
Rio de Janeiro, 2012.
FOREWORD
This book is not a spiritist work; it is based on a monograph that would be
submitted by completing the Course of Bachelor of Philosophy , Institute of
Philosophy and Humanities at the State University of Rio de Janeiro , the
second half of 1997 and in the ” Hand-outs Course Basic Spiritist Philosophy
” (National Library , registration No. 232,718 , Lv . 410 , F.379 on
21/06/01), taught in our meetings on Saturday afternoons on the Spiritist
Philosophy. It is a philosophical analysis of the characteristics of
Spiritism.
This doctrine is very wellknown in Brazil , there are over a million people who call themselves spiritists, plus those that declare themselves Catholic , attending spiritist associations and the more they practice syncretic ways of Spiritism with african – Brazilian cults . Its concepts are already part of, or at least greatly influence the ideology of the culture of the Brazilian people.
Our goal with this analysis is to show the philosophical characteristics of Spiritism, because of we think the many factions of the Brazilian Spiritist Movement have been coming away from this philosophy through syncretism with African-Brazilian cults, Eastern doctrines and the depth psychologies.We do not want to say that we are impartial. As much as the people strive not to be factious, he inevitably can see the object as its worldview (Weltanschauung).
We hope that this work can also be as a basis for more profound speculations to be made by partners of those meetings, the students of our culture or people interested in religious philosophy.
Critics and suggestions which we received, we changed all the chapters and
added more nine. We devote this new work to our partners, who are with us on
Saturdays and also to people interested in Brazilian Culture and Philosophy
in general.
Critics, suggestions, reviews , questions or comments can be sent to our
e-mail widukind@widukind.net
We were pleased with the good reception , attested by the praise, critics suggestions . In particular we thank to Prof. Sergio Antinarelli the great support he gave to us.
As a consequence of this and in the following work , we wrote the book “Contibuições do Espiritismo à Medicina (Contributions to Medicine of Spiritism). As he intended to our webpage, we fail to cite references, data on the author and gold data, which are already presented on this work, in order to save “bytes”.
This issue has not gotten grammar, spelling and typing revisions.
Victor Leonardo da Silva Chaves
Rio de Janeiro 2012
Victor Leonardo da Silva Chaves
Rio de Janeiro 2012
Agradecemos:
a Deus pela tarefa que nos confiou;
aos Mestres Espirituais pela ajuda e proteção constantes que nos dispensaram;
à historiadora, Professora Sylvia F. Damazio, autora do livro “Da elite ao Povo, Advento e Expansão do Espiritismo no Rio de Janeiro”, pelas sugestões apresentadas;
ao Professor Sérgio Antinarelli pelas críticas e sugestões apresentadas à primeira edição;
à médica (neurocirurgiã) Noya Rocha da Silva Chaves, companheira de profissão e de vida, pelas alegrias e ensinamentos que nos proporcionou nessa encarnação.
CAPÍTULO I
1. BREVE HISTÓRIA DO ESPIRITISMO NO MUNDO E NO BRASIL.
1.1. O Espiritismo no mundo.
1.1.1. A crença na possibilidade de comunicação entre vivos e mortos [espíritos dos ancestrais] e na reencarnação é muito antiga. Ela é encontrada em todas as partes do mundo e em todos os tempos, excetuando algumas religiões modernas e a ciência materialista.
1.1.2. Durante o Século XIX, alguns fenômenos estranhos eram considerados como efeitos magnéticos ou elétricos. Eles consistiam de barulhos, batidas em mobílias e paredes, ou movimento de coisas como quadros, lustres, etc..
1.1.3. Em 1848 (1), no vilarejo Hydesville, próximo à cidade americana de Rochester, Condado de Monroe,Estado de Nova Iorque, esses fenômenos ocorriam na residência da família Fox. As pessoas que os presenciaram acharam que eram produzidos por espíritos de um morto. A imprensa divulgou esse fato pelo mundo e na França essas experiências foram repetidas, onde o professor Hippolyte Leon Denizard Rivaildecidiu reunir as perguntas feitas aos espíritos e suas respostas a fim de estudá-las. Concluiu que elas formavam uma doutrina. Editou-as em livro em forma de perguntas e respostas. Denominou essa obra de “O Livro dos Espíritos” e o publicou em Paris, em 18 de abril de 1857. Ele chamou a doutrina ensinada pelos espíritos de “espiritismo” e de “espíritas” ou “espiritistas” seus profitentes. A partir dessa data, o professor Rivail apresentou ao mundo esses ensinamentos, usando sempre o pseudônimo de Allan Kardec. Publicou mais ainda quatro livros que formaram com o primeiro o pentateuco kardequiano. Além desses, publicou a “Revue Spirite” de 1858 a 1869 e o livro “O Que é o Espiritismo”. Depois de sua morte, seu editor publicou um volume intitulado “Obras Póstumas”. Há uma outra obra, intitulada “Obsessão”, atribuída a Kardec. Além dessas, há no Espiritismo outras de autores considerados por algumas pessoas como sendo discípulos dele (Gabriel Delane, Leon Denis, Camille Flamarion, Bozzano, etc.). Há também um vasto repertório de obras consideradas como mediúnicas de Ivone do Amaral Pereira, Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco. Nesses comentários utilizaremos o conteúdo de O Livro dos Espíritos e, às vezes, recorrendo a outras obras do Pentateuco Kardequiano. Consideramos imprudente basear qualquer comentário em obras publicadas após a morte do autor, uma vez que não podemos afirmar se era aquele conteúdo que desejaria publicar. Também não nos baseamos em obras de pessoas consideradas como “discípulos”, pois julgamos que fica difícil separar o que é do mestre e o que é deles. O mesmo aplicamos às obras mediúnicas. Em relação ao conteúdo dos vários números da “Revue Spirite”, opinamos que em caso de dúvida aceitamos o ensinamento dos livros do Pentateuco, pois esses têm um caráter mais permanente que a revista.
1.2. O Espiritismo no Brasil (2).
1.2.1. No final dos anos 50 do Século XIX, franceses residentes no Rio de Janeiro tomaram conhecimento da obra de Kardec. Juntamente com o Marquês de Maricá, formaram um grupo de estudo. Em 1860, Casimir Lieutaud publicou no Rio de Janeiro o livro “Les Temps Sont Arrivés”.
1.2.2. Em 17 de dezembro de 1865, precisamente às 20h e 30 min, foi fundada a primeira instituição espírita no Brasil, por iniciativa do jornalista Olímpio Telles de Menezes. Houve adesões importantes.
1.2.3. A Doutrina Espírita tomou no Brasil uma feição religiosa. Muitas vezes, atinge o misticismo sincrético com cultos afro-brasileiros, com seitas esotéricas ou com doutrinas orientais. Podemos identificar, algures, verdadeiros orientações docetistas, marianistas, prescrições dietéticas, coisas que são estranhas à codificação Kardequiana.
1.2.4. O Espiritismo declinou muito na França e se expandiu bastante, com feição religiosa, no Brasil. Ironicamente, com essa sua feição religiosa, foi reintroduzido na França, a partir dos anos de 70 de Século XX, por uma brasileira lá radicada, Cláudia Bonmartin. À Suécia, foi levada pela brasileira Maria Aparecida Bergson. Aos Estados Unidos, chegou através de vários imigrantes brasileiros e está mais concentrado na cidade de Nova Iorque e no estado da Florida. Valéria Sampaio Motta o levou para a Austrália. Janet Duncan, inglesa que viveu vinte anos no Brasil, o reintroduziu na Inglaterra. Maria Cristina Xavier Latine e Tânia Regina Schuenk Koch o introduziram na Noruega. Edgard Mota o introduziu na Escócia. Através do Esperanto,penetrou nos países do Leste europeu ainda sob a vigência do comunismo. Na Polônia o responsável é o esperantista Prezemek Grzybowski. Na ex-Tchecoeslováquia, o esperantista Vlado Skadecek. Também através desse idioma penetrou no movimento espiritualista “Oomoto” do Japão.
CAPÍTULO II
2. VIDA E OBRA DE ALLAN KARDEC.
2.1. Breve Biografia (3).
2.1.1. Hippolyte Leon Denizard Rivail (Allan Kardec) nasceu às 19h do dia 3 de outubro de 1804, na cidade deLyon, França. Seu pai era Jean-Baptiste Antoine Rivail, importante juiz nessa cidade, e sua mãe, Jeanne Louise Duhamel. Realizou seus estudos primários em sua cidade natal. Aos dez anos de idade, é enviado àYverdun, cidade suíça do cantão de Vaud, para estudar no educandário de Johanns Heinrich Pestallozzi. Devido a seu bom aproveitamento escolar, aos quatorze anos, foi designado submestre, ensinando a seus próprios colegas (1817/1818).
2.1.2. Não é conhecida a época em que deixou Yverdun, mas é certo que, em 1823, já residia à Rue Haya nº 117, em Paris. Na capital francesa tornou-se professor e publicou livros didáticos sobre gramática, matemática e outros assuntos escolares. Em 1832, casou-se com Amelie Gabrielle Boudet, não havendo filhos desse matrimônio.
2.1.3. Em 1854, é informado pelo amigo Fortier sobre fenômenos de mesas que respondiam a perguntas que lhe eram formuladas através de movimentos giratórios. Em 1855, observa uma dessas experiências. Curioso, procurou verificar a veracidade dessas respostas. Entre muitas discordâncias e suspeitas de embuste, havia certas respostas inteligentes que não poderiam ser fruto de coincidência ou fraude. Selecionou essas informações e concluiu que, após passá-las pelo crivo da razão, poderiam ser consideradas como reveladas por inteligências que se apresentavam como espíritos de pessoas que já haviam morrido.
2.1.4. Em 31 de março de 1869, Rivail falece de um ataque de apoplexia. Adotou o pseudônimo de Allan Kardec para não influir a nova doutrina com o seu prestígio de professor e mostrar que ela não era fruto de sua lavra, mas sim dos espíritos que a revelaram. Essa é a razão da impropriedade de chamarmos de kardecismoessa doutrina, a fim de diferenciá-la de sincretismos que surgiram no Brasil, também conhecidos vulgarmente com o mesmo nome de espiritismo.
2.2. Obras Espíritas de Allan Kardec.
2.2.1. Pentateuco kardequiano:
O Livro dos Espíritos; 18/ABR/1857; Paris; abreviado LE.
O Livro do Médiuns; 15/JAN/ 1861; Paris; abreviado LM.
O Evangelho Segundo o Espiritismo; abril de 1864; Paris; abreviado EE.
O Céu e o Inferno; 01/AGO/1865; Paris; abreviado CI.
A Gênese; 06/ JAN/1868; Paris; abreviado GE.
2.2.2.Obras Complementares:
O que é o espiritismo; julho de 1859; Paris; abreviado QE.
Revista Espírita; de 1858 a 1869; Paris; abreviado RE.
Obras Póstumas; julho de 1890; Paris; abreviado OP.
Obsessão; (também publicada postumamente) não dispomos da data e local da primeira publicação em francês; a tradução em português foi publicada em janeiro de 1968 pela Casa Editora O Clarim, Matão, São Paulo; OB.
2.3. Citações:
2.3.1. Para obras não espíritas, seguiremos as normas da (Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
2.3.2. Para as obras do pentateuco kardequiano, seguiremos o modo de fazer citação dos livros bíblicos. Usaremos no texto apenas as abreviaturas desses livros, seguidas da identificação do trecho.
2.3.2.1.O Livro dos Espíritos está constituído por quatro partes e essas divididas em capítulos. Toda obra, porém, está constituída por 1018 perguntas numeradas com suas respostas. Por isso, adotaremos a abreviatura LE seguida do número da pergunta, mesmo que a citação se refira à resposta ou a algum comentário a alguma delas. Ex.: LE 628, refere-se à pergunta nº 628 ou à sua resposta.
2.3.2.2. O Livro dos Médiuns está dividido em duas partes e essas, em capítulos. Mas todo o livro está com trechos numerados de 1 a 349. As citações serão feitas com a abreviatura LM, seguida do número do trecho. . Alguns trechos têm várias perguntas numeradas.Esses trechos serão citados como anteriormente mais o número da pergunta. O Capítulo XXX da parte 2 traz um esboço de regulamento, sendo preciso fazer alguma citação dele usaremos a sigla LM, seguida do número XXX e o trecho regulamentar. O Capítulo XXXI contém XXXIV trechos, sendo preciso citá-los, usaremos a sigla LM, seguida do número XXXI e do trecho. O Capítulo XXXII é um pequeno vocabulário, sendo preciso citá-lo, usarmos a sigla LM, seguido no número XXXII mais o verbete.
2.3.2.3. O Evangelho Segundo o Espiritismo está dividido em Capítulos e estes, internamente em itens. A citação será feita pela abreviatura EE, seguida do número do capítulo, dois pontos e o número do item. Ex.: EE 3:8, capítulo 3, item 8.
2.3.2.4. O Céu e Inferno está dividido em duas partes. A primeira tem seus capítulos numerados em itens. Sua citação será feita enunciando as siglas CI, o número da parte, seguido de dois pontos e o número do capítulo, e a seguir outro ponto seguido pelo número do item. Ex CI 1:5.4 [primeira parte, capítulo cinco, item 4]. A segunda parte não tem os capítulos divididos em itens. Enunciaremos a sigla CI, seguida do número da parte, dois pontos, o número do capítulo e o número da página. Ex.: CI 2:4.236 [segunda parte, capítulo 4, página 236].
2.3.2.5. A Gênese está dividida em capítulos e estes em trechos. Citaremos o capítulo e o trecho. Exemplo: GE 14:20 [A Gênese, Capítulo XIV, item 20].
2.3.2.6. Para as obras complementares, citamos apenas a página da obra citada nas Referências Bibliográficas.
CAPÍTULO III
3. RESUMO DA DOUTRINA ESPÍRITA.
3.1. Intróito.
3.1.1. O LE foi primeiro codificado. Está dividido em quatro partes. A primeira intitula-se “Das causas primárias” e está desdobrada no GE. A Segunda, “Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos” e está desenvolvida no LM. A terceira, “Das leis morais” e ampliada no EE. A Quarta, “Das esperanças e consolações”, no CI. Para um estudo breve resumiremos apenas o conteúdo do LE.
3.2. Parte Primeira.
3.2.1. É predominantemente uma exposição da posição antropológica e filosófica do Espiritismo. Há também menção a outros pontos de vista filosóficos que mencionaremos à medida que se fizer necessário na obra. Ela fala de Deus, do Universo, da Criação e do Princípio Vital.
3.2.2. Deus é uno e único, impessoal, infinito, criador, imaterial, onipotente, onipresente, onisciente, imutável, providente, justo e bom.
3.2.3. O Universo e tudo que nele há são uma criação constante de Deus. Enquanto que em alguma parte do Universo surge a criação, em outra essa atinge seu ápice e em outra está em seu declínio. Não há um momento de pralaya e outro de mavantara universais, como algumas doutrinas orientais pregam. Há uma constante transformação, lembrando a Lei de Lavoisier. Tudo no Universo evolui, objetivando a perfeição. Nada fica perdido eternamente.
3.2.4. Princípio Universal ou Fluido Universal. É um fluido, imperceptível a nossos sentidos físicos, que preenche todo o espaço universal. Está entremeado entre todo a matéria e é o responsável pela manutenção da vida [LE de 60 a 75 e GE 10:16-19 e GE XIV].
3.3. Parte Segunda.
3.1.1. Predominantemente, expõe a antropologia filosófica da doutrina, embora faça referências a outros temas.
3.3.2. No Universo só há um Ser Criador que é Deus; os outros seres são criaturas. O Ser criado por excelência é o Espírito, primeiramente em sua forma rudimentar como princípio inteligente, reencarnando em formas inferiores ao Ser Humano. Ao evoluir e tornar-se Espírito, reencarna em corpo físico humano [LE 79 e LE 607].
3.3.3. Entre o mundo de Espíritos encarnados [que chamaremos de mundo encarnado ou terreno para simplificar] e o mundo de espíritos desencarnados [mundo desencarnado ou espiritual, simplificando], há um intercâmbio constante e natural [item 6.2.2., LE 84 e LE 85]. Para a Doutrina tudo é natural, nada podendo ser classificado como sobrenatural.
3.3.4. A encarnação do Espírito na matéria não é abrupta. Inicia-se no momento da fecundação e completa-se na primeira inspiração que a criança faz logo após o parto [LE 344 e LM 284:51 Nota].
3.3.5. O espírito encarnado pode ficar parcialmente emancipado da matéria durante o sono, o sonambulismo, o êxtase, a letargia, etc.. Nesse momento freqüentará o ambiente espiritual a que estiver sintonizado pelas suas vibrações emocionais e intelectuais. O Espírito é o que ele pensa e o que ele sente. Quem sente e pensa em rancor, inveja, ciúme, luxúria, etc., freqüentará ambientes onde essas paixões são constantes. Aquele que sente e pensa em amor, perdão, compaixão, etc., irá para lugares com esse nível vibratório.
3.3.6. O espírito desencarnado viverá no mundo espiritual em ambiente compatível com sua faixa vibratória, realizando tarefas condizentes com ela. Os bons estarão se aperfeiçoando e ajudando ao próximo encarnado ou desencarnado. Os maus estarão envolvidos em suas paixões prejudicando a si, aos outros desencarnados e aos encarnados que estejam em sua faixa vibratória.
3.4. Terceira parte.
3.4.1. São expostas doze leis morais, a saber: lei divina ou natural, lei da adoração, lei do trabalho, lei da reprodução, lei da conservação, lei da destruição, lei da sociedade, lei do progresso, lei da igualdade, lei da liberdade, lei de justiça, amor e caridade e lei da perfeição moral. É um texto predominantemente sobre a ética espírita, mas fala também de partes específicas da Filosofia Espírita, como os pontos de vista econômicos, sociais, educacionais, políticos, ecológicos, jurídicos, gnoseológicos, soteriológicos e epistemológicos.
3.5. Quarta parte.
3.5.1. O título geral é Das esperanças e consolações, tendo dois capítulos. O primeiro tem o título Das penas e gozos terrenos e o segundo, Das penas e gozos futuros. O livro continua com a apresentação da ética espírita e expõe pontos de vistas soteriológicos.
3.6. Observação. No item VI da Introdução do LE há uma excelente exposição, feita por Kardec, de princípios fundamentais do Espiritismo.
CAPÍTULO IV
4. ESPIRITISMO COMO FILOSOFIA CRISTÃ
4.1. Intróito.
4.1.1. Para introduzir o leitor à Filosofia Cristã Espírita, exporemos brevemente a origem e o conceito de filosofia e as outras filosofias cristãs que precederam o Espiritismo. Evitaremos propositadamente pontos polêmicos.
4.1.2. Desde tempos remotos, o Ser humano sempre tentou explicar os fenômenos da Natureza através de causas não naturais. Usava seus parcos conhecimentos aliados ao pensamento mágico. Disso decorreu a criação de mitos para a explicação de fenômenos naturais como chuva, trovão, terremoto, vento, etc.
4.1.3. Por volta do Século V antes de Cristo, a Grécia tinha várias colônias na Ásia Menor [atual território da Turquia]. Nessas cidades, havia pessoas de várias culturas, como gregos, judeus, babilônicos, egípcios, medas, persas. Os pensadores gregos, que aí viviam, notaram que para um mesmo fenômeno havia várias explicações conforme a cultura. Eles concluíram que as explicações desses fenômenos naturais tinham que se basear em elementos “naturais”. Esse raciocínio levou-os a abandonar os mitos e entender a realidade através de causas da natureza. Deveria haver um princípio primitivo [“arché”] originando todas as coisas. O primeiro pensador foi Tales, da cidade de Mileto, que atribuía à água a causa de tudo. Apareceram outros que apontaram o fogo, a terra e o ar como causa. Empédocles e Aristóteles adotaram esses quatro elementos juntos. Houve outros que idealizaram um “arché” teórico como as “homeomerias”, o “apeíron” e o átomo.
4.1.4. Durante a Idade Média, o Cristianismo, que recebera uma influência religiosa do Judaísmo, precisou adaptar-se à Filosofia Grega para se firmar no mundo greco-romano. Santo Agostino desenvolveu a Patrística, a partir do Neoplatonismo e São Tomas de Aquino, a Escolástica, a partir de Aristóteles. Alguns filósofos de orientação materialista não aceitam essas duas doutrinas como filosofia, pois acham que, uma vez que elas têm influência religiosa, não explicam a realidade somente por causas naturais. Essa “explicação da realidade” é uma visão de mundo [cosmovisão ou “Weltanschauung”]. Como visão de mundo, é plausível a aceitação da idéia de um Deus criador. Por isso, elas são admitidas pela maioria, que não é materialista, como filosofia.
4.2. Espiritismo como a Terceira Filosofia Cristã.
4.2.1. O Espiritismo seria a terceira filosofia cristã. Ele teria sido revelado a fim de dar uma nova visão de mundo à humanidade que se prepararia para ingressar na fase de regeneração. Normalmente, o Livro dos Espíritos é apontado como o de conteúdo filosófico na codificação feita por Kardec. Seu título completo é: “Filosofia Espiritualista O LIVRO DOS ESPÍRITOS”. Na realidade, toda obra “kardequiana” apresenta seus aspectos filosóficos. A primeira parte desse livro, que é estendida no livro “A Gênese”, apresenta a Metafísica, a Teodicéia, a Antropologia Filosófica e a Cosmologia sob o ponto de vista espírita. A segunda parte, aprofundada no “Livros dos Médiuns”, expõe novamente a Antropologia Filosófica e a Cosmologia. A terceira parte, pormenorizada no “Evangelho Segundo o Espiritismo”, fornece noções da posição filosófica do Espiritismo sobre Ética, Teoria do Conhecimento, Filosofia Espírita da Educação, Filosofia do Direito, Filosofia Econômica, Filosofia Social, Filosofia da História. A quarta parte, que fala das penas e gozos futuros, estando desenvolvida no “Céu e Inferno”, aborda características da Teodicéia espírita. A Codificação Kardequiana possui um vasto conteúdo filosófico que pode muito bem ser aproveitado por essa humanidade sem fé e esperança. No final do preâmbulo do QE, Kardec afirma: “O ESPIRITSMO É, AO MESMO TEMPO, UMA CIÊNCIA DE OBSERVAÇÃO E UMA DOUTRINA FILOSÓFICA. (…). COMO FILOSOFIA, COMPREENDE TODAS AS CONSEQÜÊNCIAS MORAIS QUE DIMANAM DESSAS MESMAS RELÇÕES (p. 50, 41ª. Ed.). No Cap. II da 1ª. Pt de OP (Manifestações dos Espíritos), há o item em negrito “Caráter e conseqüências religiosas das manifestações dos Espíritos. Kardec não afirma que a Doutrina é uma religião, tendo, apenas, “caráter” e “conseqüências religiosas”. Isso é uma prova que ele reconhece o Espiritismo como uma filosofia religiosa. No item 3 desse capítulo, afirma: “Todas as religiões têm por base a existência de Deus e por fim o futuro do homem depois da morte” e no item 4, “Tendo instintivamente a intuição de uma potência superior (…)” . O Espiritismo não é uma filosofia como são a Grega, a Moderna e a contemporânea. Como as medievais (Patrística e Escolástica) ele admite a vida após a morte uma potência superior.
4.2.2. Os cristãos tradicionais afirmam que o Espiritismo não é uma doutrina cristã por não aceitar o trinitarismoe o pecado original. Devemos lembrar que ambos são estranhos tanto à Filosofia Grega como ao Judaísmo, doutrinas que fundamentaram o Cristianismo.
4.2.2.1. O trinitarismo foi introduzido na Grécia durante a fase helenística pelo filósofo neoplatônico Amônio Sacas, que vivera quinze anos na Índia, de onde trouxe esse conceito. No início da Era Cristã, havia duas correntes opostas: a liderada pelo bispo Arius [arianismo], que admitia Deus único e uno; e a dos neoplatônicos [trinitarismo], que admitia também Deus único, porém, trino. Quando Constantino resolveu adotar o Cristianismo como a religião oficial de seu império, visando ao fim político de evitar sua fragmentação, provocou o Concílio de Nicéia, em 325, com a intenção de resolver essa querela, mas com a recomendação de satisfazer a posição neoplatônica, pois muitos de seus nobres esposavam essa doutrina. Por isso, afirmamos que, para ser cristão, não há obrigatoriedade de ser trinitarista. Em toda obra de Kardec, há constante referência ao Cristianismo e recomendações para segui-lo. Somente a existência de um livro [Evangelho Segundo o Espiritismo] que procura interpretar e seguir as parábolas e as boas novas, é uma prova de sua fidelidade aos ensinamentos de Cristo. O que não aceitamos é que os outros grupos cristãos julguem como autênticas apenas suas interpretações.
4.2.2.2. O pecado original foi introduzido por Santo Agostinho [Filosofia Patrística] ao interpretar a lenda da expulsão de Adão e Eva do paraíso. Se lermos o texto bíblico com atenção, esse casal foi expulso por ter comido o fruto da árvore da sabedoria e para evitar que comecem o da árvore da vida. Esse trecho das Escrituras não faz nenhuma menção conúbio carnal. Somente após a expulsão, Adão “conhece” [ter relações sexuais] a Eva e essa concebe Abel e Caim. O conceito de pecado original não é ensinamento dado por Cristo, mas sim um enxerto posterior. Portanto, para ser bom cristão não é necessária a crença no pecado original.
4.2.3. Um terceiro motivo, que alegam para não aceitarem o Espiritismo como uma doutrina cristã, é o fato de ele não aceitar a salvação pela graça, mas somente pelas obras [mérito]. A salvação pela graça tem duas origens.
4.2.3.1. Jesus foi crucificado na véspera da Páscoa dos judeus. Esse evento religioso comemorava a libertação final dos judeus do jugo egípcio. Pela graça, Deus teria enviado a última praga que convenceria o Faraó a os libertar. Foi a morte geral dos primogênitos. Para preservar os judeus, o Senhor ordenou a Moisés que sacrificasse um cordeiro e, com seu sangue, pintasse uma faixa no umbral da casa de cada um deles, de modo que o espírito enviado os reconhecesse. Os cristãos primitivos, por analogia, compararam o sangue resultante dos ferimentos da crucificação e consideraram simbolicamente Jesus como o Cordeiro Pascal. Esse sacrifício de sangue, além da identificação com um ritual judaico, agradaria aos pagãos que ainda usavam sacrifícios de sangue – a propiciação: um indivíduo paga pelo pecado praticado por outros.
4.2.3.2. A outra origem decorre da interpretação das Epístolas do Apóstolo Paulo. Ele pregava o Cristianismo nas diásporas espalhadas pelo mundo helênico. Convertia também os pagãos [gentios]. Nessas primeiras comunidades cristãs, surgiram várias dissensões, pois cada grupo cultural queria praticar o cristianismo, conservando seus ritos. Para dirimir essas colisões doutrinárias, o apóstolo enfatizava que a fé em Cristo era mais importante que as obras, entendendo por “obras” esses ritos indesejáveis que desuniam os cristãos. Não se referia a prática do bem [Caridade – 1A. Coríntios 13] e a reforma interior – “metanóia”.
4.3. A salvação [soteria ou soteriologia] espírita pelas obras.
4.3.1. O Espiritismo afirma que a “salvação” decorre de evolução espiritual através do aprimoramento intelectual e moral [vide itens 7.2.9. e 6.2.3.]. Isso constitui apenas “obras”. É o mérito que é o responsável pela salvação [Mateus 16:27 “(...) e então dará a cada um segundo duas obras”].
4.4. Espiritismo como filosofia de conseqüência religiosa. Kardec afirma em várias passagens que a Doutrina é uma Filosofia (e também uma ciência) de conseqüências religiosas, embora não tivesse intenção de fundar mais uma religião. No nosso entender, o Espiritismo seria uma terceira Filosofia Cristã, seguindo a Patrística e a Escolástica. Ele veio para todos os cristãos e demais povos que venham aceitá-lo.
Citações:
EE 26:10.: “A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente.”
EE 28:9.: “Santa é a missão que desempenham (os médiuns, observação nossa), visto ter por fim rasgar os horizontes da vida eterna.”; “Aquele que, médium, compreende a gravidade do mandato de que se acha investido, religiosamente o desempenha.”
CI 1ª.Pt C.11 n° 4 (p. ): “Espiritismo veio mostrar o fim exclusivamente moral, consolador e religioso das relações de além-túmulo.”
OP: p. 35 “Deus, alma, sobrevivência e individualidade da alma após a morte do corpo, penas o recompensas futuras constituem os princípios fundamentais de todas as religiões. O Espiritismo junta às provas morais desses princípios as provas materiais dos fatos e da experimentação e corta cerce os sofismas do materialismo.”; p. 41-44 “Caráter e conseqüências religiosas das manifestações dos Espíritos.”; p. 260 “O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai ter às bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma e a vida futura.”; p. 261 “O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural (…). Respeita todas as convicções sinceras e faz questão da reciprocidade. “Respeita todas as convicções sinceras e faz questão da reciprocidade. (…). Coerente com seus princípios, o Espiritismo não se impõe a quem quer que seja; quer ser aceito livremente e por efeito de convicção. Expõe suas doutrinas e acolhe os que voluntariamente o procuram. Não cuida de afastar pessoa alguma das suas convicções religiosas; não se dirige aos que possuem uma fé e a quem essa fé basta; dirige-se aos que, insatisfeitos com o que se lhes dá, pedem alguma coisa melhor.
QE p. 50 “O ESPIRITISMO É, AO MESMO TEMPO, UMA CIÊNCIA DE OBSERVAÇÃO E UMA DOUTRINA FILOSÓFICA. COMO CIÊNCIA PRÁTICA ELE CONSISTE NAS RELAÇÕES QUE SE ESTABELECEM ENTRE NÓS E OS ESPÍRITOS; COMO FILOSOFIA, COMPREENDE TODAS AS CONSEQÜÊNCIAS MORAIS QUE DIMANAM DESSAS MESMAS RELAÇÕES. Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.”
OB. 310 e 311 “No sentido filosófico o Espiritismo é uma religião (…). Por que, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião?Porque não há uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e porque, na opinião geral, a palavra religião é inseparável de culto; desperta uma idéia de forma que o espiritismo não tem. (…). Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião (…). eis porque simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral.
4.5. O Espiritismo é uma doutrina cristã porque adota os ensinamentos de Cristo, escoimados das impurezas que veio recebendo com o tempo. Reconhece o Cristo como tendo trazido a Segunda Revelação. A primeira conseqüência da Filosofia Espírita é de caráter religioso: LE CONCLUSÃO “O primeiro e mais geral consiste em desenvolver o sentimento religioso (…)”.
Citações:
LE 222 “O essencial está em que o ensino dos Espíritos é eminentemente cristão (…); apóia-se (…) na moral do Cristo (…).”
LE 625: “Jesus é o tipo mais perfeito de guia”.
LE 626: “Comparando as revelações de Jesus com a de outros profetas, considera a desse como a que revelou de modo mais completo a lei divina”.
LE 627: “Compara o ensino de Jesus com o dos Espíritos e conclui que ele precisou usar alegorias e parábolas. Os Espíritos, por o fazerem em época mais adiantada, já não precisam dessas figuras de retórica. Seu ensino é claro e sem equívoco”.
LE 668 Nota § 2º “Vindo iluminar o mundo com sua divina luz, o Cristianismo não se propôs destruir uma coisa que está na natureza. Orientou, porém, a adoração para Aquele a quem é devida”.
LE 830 “(…) desde que mais desenvolvido e, sobretudo, mais esclarecido pelas luzes do Cristianismo (…).”
LE 933 Nota “Essa consolação ele encontra no sentimento cristão, que lhe dá esperança de melhor futuro (…).”
LE CONCLUSÃO VIII “O Espiritismo não traz moral diferente da de Jesus (p.489)”. “Jesus veio mostrar aos homens o caminho do verdadeiro bem. Por que, tendo enviado para fazer lembrar sua lei que estava esquecida, não havia Deus (…)”.
LM 28.3. “São os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos.”
EE Int. I: Informa que estudar-se-ão as matérias contidas nos evangelhos. Só a existência do EE, é indício da intenção cristã.
EE 1.9. “O Cristo foi o iniciador da mais pura, da mais sublime moral, (…), que há de transformar a Terra (…)”[p. 58].
EE 5:5: “No Cristianismo encontram-se todas as verdades (…)”.
EE 15:10 “O espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo a salvação para todos (…)”.
EE 17:4. “(…) que caracteriza o verdadeiro espírita, como cristão verdadeiro,pois um é o mesmo que o outro.”
EE 18:16 “Pelas suas obras é que se conhece o Cristão”. “Conserva-a tal como Cristo vo-la entregou (…)”.
EE 28: 50 [p.433] “O espiritismo é uma opinião, uma crença; fosse (…) até uma religião (…).”
CI 10:18 [1a. Pt] “Não há dúvida de que Jesus é o mensageiro divino enviado aos homens para ensinar-lhes a verdade, e, por ela, o caminho da salvação (…) a palavra sobreviveu-lhe porque era divina (…) a santa palavra de Jesus”.
CI 10:19 [1a. Pt] “Sim! Cristo é bem o messias divino”.
GE 1:20. – 23. “O Espiritismo é a terceira revelação. A primeira foi trazida por Moisés e a segunda por Cristo”.
GE: 1525. “Os espíritas, cuja doutrina é a do Cristo de acordo com o progresso das luzes (…)”.
GE 1:30: “O Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo (…), é conseqüência direta de sua doutrina”.
GE 1:56: “A moral que os espíritos ensinam é a do Cristo, pela razão de que não há outra melhor”.
GE 15:25 “Os espíritas, cuja doutrina é a do Cristo (…)”.
GE 17:40: “O Espiritismo realiza (…) (cap I, nº 30) todas as condições do Consolador que Jesus prometeu; (…) nada suprime do Evangelho: antes o completa e elucida”. “A doutrina de Moisés ficou restrita ao povo judeu; a de Jesus, mais completa, se espalhou por toda a terra(…)”.
GE 17:43-46: “Segundo advento do Cristo”, com esse título o autor afirma que O Espiritismo representa esse segundo advento, pois introduz novamente os ensinamentos cristãos esquecidos e, por isso, não mais praticados. Ele apareceu para forçar a volta dessa prática.
OP, 1a. Pt, § 2, n.9, p. 35: Deus, alma, sobrevivência e individualidade da alma após a morte do corpo, penas e recompensas futuras constituem os princípios fundamentais de todas as religiões. O Espiritismo junta às provas morais desses princípios materiais dos fatos e da experimentação r corta cerce os sofismas do materialismo. Em presença dos fatos, cessa toda razão de ser da incredulidade. É assim que o Espiritismo restitui a fé aos que a tenham perdido e dissipa as dívidas dos incrédulos.”.
OP, 2a. Pt, p. 299: “O Espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na Terra. Ele (…) restaurará a religião do Cristo (…)”.
OP 2a. Pt p.308 “(…) o Espiritismo qual é, mostrando a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. (…) é a única tradição verdadeira cristã (…).”
CAPÍTULO V
5. TEODICÉIA ESPÍRITA
5.1. A teodicéia [ou teologia] espírita está descrita na Parte Primeira do LE e em GE 2. A palavra teologiasignifica “estudo de Deus”: sua concepção(Deus criador, emanante, identificado com fenômenos naturais [panteísmo], etc.). seus atributos (onipotência, onisciência, onipresença, etc.). Apareceu primeiramente na metafísica de Aristóteles. Após a Idade Média, os intelectuais foram acometidos de uma aversão patológica à religião. Leibnitz criou o neologismo teodicéia (justiça de Deus [estudo]), a fim de tratar dos mesmos assuntos da teologia. O Espiritismo tem uma concepção própria de Deus, portanto, podemos que ele tem uma teoria teológica ou teodiceica.
5.2. Conceito de Deus. O Capítulo I vai da LE 1 à LE 16. É apresentado o conceito de Deus único, uno [não trino], supremo, criador (e não emanante), impessoal (portanto, sem aspectos antropomórficos e antropopáticos), justo, eterno, imutável, providente, interveniente, transcendente, onipotente, onipresente e onisciente. Deus está sempre criando [LE 21 “(...) é que Deus (...) nunca esteve inativo”; LE 41“Deus renova os mundos, como renova os seres vivos.”; LE 78 “(...)Deus há sempre de ter criado ininterruptamente.”; LE 80 “A criação dos Espíritos é permanente (...)? É permanente (...) Deus jamais deixou de criar.”]. Deus não se mostra, mas se revela por suas obras [GE 2:4 “(...) lançando um olhar em torno de si, sobre a obra da natureza, a harmonia que presidem a essas obras (...)”; GE 2:7 “A existência de Deus é, pois, uma realidade comprovada não só pela revelação, como pela evidência dos fatos”]. O Espírito reencarnante na Terra não tem capacidade de sondar a natureza íntima de Deus [GE 2:8 “Para compreende-lo, ainda nos falta o sentido próprio, que só se adquire por meio da completa depuração do Espírito” ]. Deus criador: LM 74:II “Tudo é criado, exceto Deus”.
5.3. Deus, Espírito e Matéria: Trindade Universal. No Capítulo II (LE 17 à LE 36) é afirmado que o Espírito reencarnante na Terra não tem condições de conhecer todos os mistérios do Universo. Esse conhecimento será gradativo e acumulativo [LE 17 “Não, Deus não permite que ao homem tudo seja revelado nesse mundo.”;LE 18 “O véu se levanta a seus olhos, à medida que ele se depura; mas para compreender certas coisas , são-lhe precisas faculdades que ainda não possui.”]. Essa teoria do conhecimento será desenvolvida no Capítulo VIII desse livro. Espírito e matéria são estados diferentes daquilo que foi criado por Deus; o primeiro mais tênue que o outro [LE 22 “(...) porque falais senão do que conheceis. Mas a matéria existe em estados que ignoreis”;LE 22 A “A matéria é o laço que prende o espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação”]. A Doutrina entende por Espírito duas coisas semelhantes. A primeira é denominada princípio inteligente do Universo [LE 23 “Que é Espírito? O princípio inteligente”] e não possuiindividuação [LE 25 A “Entendemos aqui por espírito o princípio da inteligência, abstração feita das individualidades que por esse nome se designam”]. A segunda aparece quando ocorre a individuação desse princípio e passa a constituir o Espírito propriamente dito [LE 25 A (idem); LE 76 Nota “A palavra Espírito é empregada aqui para designar as individualidades dos seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente do Universo.”; LE 79 “Os Espíritos são a individualização do princípio inteligente (...)”; LE 607 “(...) o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período de humanização (...)”]. ATrindade Universal não é composta por três hipóstases, mas sim por três elementos: um Criador que é Deus e os outros dois criados, Espírito [no sentido de princípio inteligente] e matéria [LE 27 “Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem tudo que existe, a trindade universal”]. Notemos que nessa citação a palavra espírito está escrita com letra minúscula. De acordo com aquilo acima citado [LE 25 A e LE 76 Nota], podemos afirmar que espírito, nessa citação, significa princípio inteligente. Em LE 25, é afirmado que é necessário a união da matéria com o princípio inteligente, pois esse a intelectualiza [“(...) a união do Espírito e da matéria é necessária para intelectualizar a matéria”]. Se Deus é criador e pai de todas as coisas, ele pode ser identificado com a hipóstase Pai da Santíssima Trindade; o princípio inteligente que intelectualiza a matéria, com a hipóstase Espírito Santo; a matéria, com a hipóstase Filho. O texto não chama esses três elementos da trindade universal [com letra minúscula no original] de hipóstases, mas há uma semelhança que permite uma identificação. O termo “princípio” nesse texto tem o sentido de base, de fundamento. Lamentavelmente, já ouvimos de um palestrante do Movimento Espírita Brasileiro, julgar que se refere a “começo” e afirmar o Espírito tem um “começo” muito rudimentar. Além de não entender a acepção com que o autor usa a palavra “princípio”, não percebeu que a palavra “espírito” é empregada em dois sentidos bem distintos.
5.4. Deus Criador. No Capítulo III [da LE 17 à LE 36], é explicada a criação dos mundos e dos seres vivos. O Universo foi criado pela vontade de Deus [LE 38 “Como Deus criou o Universo? (...) pela sua vontade.”. Essa criação é constante e renovada [LE 21; LE 41; LE 78; LE 80; vide citações acima].
5.5. Deus Providente. Providência e intervenção de Deus. Esse tema é tratado em GE 2:20-30. [GE 2:20 “A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a ação providencial”]. Não temos condição de compreender a natureza íntima de Deus; apenas O conhecemos pelo efeito de Seus atos [GE 2:28“Compreendemos o efeito (...). Do efeito remontamos à causa e julgamos sua grandeza pelo efeito. Escapa-nos, porém, sua essência íntima (...)”; LE 536 “Tudo tem sua razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus”; LE 687 “(...) Deus isso provê e mantém sempre o equilíbrio”]. A concepção dialética da natureza, tanto na forma idealista de Hegel, como na materialista de Marx, não se coaduna com a o conceito de Providência e Intervenção divinas [item 14.1.]. O Capítulo IX da 2a. Parte do LE trata “da intervenção dos espíritos no mundo corpóreo”, havendo dois subtítulos onde são explicadas a “influência dos Espíritos nos acontecimento da vida” e a “ação dos Espíritos nos fenômenos da natureza”. Na LE 536 B, é dito que “Deus não exerce ação direta sobre a matéria”. Comparando essas afirmações, concluímos que Deus provê tudo que há e que ocorre no Universo através de Espíritos superiores.
5.6. Transcendência e visão de Deus. Deus é onipresente. Está presente em todos os lugares ao mesmo tempo e permanentemente. Mas Ele não é as coisas sentidas, não é imanente como a concepção panteístaafirma. Ele é transcendente. Ele transcende os limites físicos [“GE 2:28 “Escapa-nos, porém, sua essência íntima; GE 2:29 “(...) um centro de ação, um foco principal a irradiar incessantemente, inundando o Universo com seus eflúvios, como o Sol com sua luz.” (...) percorra constantemente regiões do espaço sem fim.”; GE2:36 “Nenhum homem (...) pode ver Deus com os olhos da carne”; GE 2:37 “A linguagem humana é impotente para dizê-lo (...)”].
5.7. Princípio vital.
5.7.1. Como diremos no item 7.1.1., o Ser criado para a Doutrina é o Princípio Inteligente que, em sua forma final de evolução tornar-se Espírito [LE 79 “Os Espíritos são individualização do princípio inteligente(...)”; LE 607 A “(...) o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida(...).(...) o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito.”]. Todo esse estudo está desenvolvido na Parte Segunda do LE com o título geral de “Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos” e constituído por onze capítulos.
5.7.2. É comum haver confusão entre o conceito de Princípio Inteligente e o de Princípio Vital. Ambos têm em comum o fato de serem princípios não materiais no sentido ordinário da palavra “matéria”. São formas de energia.
5.7.3. A pergunta LE 62 indaga qual é a causa da animalização da matéria e a resposta afirma que é sua união com o princípio vital. A palavra animalização causa dúvida, pois algumas pessoas pensam que ela tem relação com a palavra animal, na tradução em português. Na realidade, ela se refere ao termo latino anima que tinha vários significados entres os quais sopro, aragem, respiração, exalação, alma. Portanto, animalização da matéria significa fornecimento de movimento, vida. Bestia em latim corresponde ao termo português animal.
5.7.4. O Princípio Inteligente, que se individualiza depois em Espírito, animaliza a matéria no sentido ontológico.Princípio Inteligente e Espírito são estados do Ente [entidade]. Já o Princípio Vital animaliza a matéria no sentido fisiológico.
5.7.5. Princípio Vital é uma forma de energia, de força, não é Ente. Kardec usa também os termos Fluido Vital, Fluido Cósmico, Princípio Universal [LE 27] e Fluido Universal [LE 27] para designá-lo. O perispírito é uma condensação do Fluido Cósmico [GE 14:7]. O Princípio Vital corresponde ao que as teorias vitalistas chamam de força vital ou energia vital.
5.7.6. Ectoplasma. Após Kardec, algumas pessoas interessadas nos fenômenos mediúnicos, verificaram que alguns médiuns em estado de transe exalavam uma “substância energética” ou “energia substanciosa” que permitia aos Espíritos tornarem-se visíveis ou com ela plasmarem objetos energéticos visíveis e apalpáveis pelos encarnados. O Médico francês Charles Richet, em 1903, examinando esses fenômenos na Vila Carmem, em Argel, denominou-a de “ectoplasma”, tomando esse termo emprestado da Biologia. A literatura apócrifa apresenta muitas opiniões sobre o tema, sempre mescladas com ideologias esotéricas e com idéias pseudocientíficas.
5.7.7. No comentário introdutório à LE 60, Kardec distingue seres inorgânicos de orgânicos. Os inorgânicos são os que carecem de vitalidade, de movimentos próprios, sendo simples agregação de matéria [minerais, água, ar, etc.]. Os seres orgânicos [plantas, animais e Ser humano] são animados pelo princípio vital que é o princípio universal unido à matéria [LE 27 “(...) trindade universal. Mas, ao elemento material se tem de juntar o fluido universal, que desempenha papel de intermediário entre Espírito e matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer sua ação sobre ela. Embora, (...) seja lícito classificá-lo como elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais.”; LE 27A “Esse fluido será o que designamos pelo nome de eletricidade? Dissemos que ele é suscetível de inúmeras modificações. O que chamais de fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente”].
5.7.8. Só há vida, quando este princípio anima a matéria inerte, independentemente de essa matéria estar ou não ligada ao Princípio Inteligente [ou Espírito] [LE 63 “O princípio vital (...) é efeito, ou causa? Uma e outra coisa. A vida é um efeito de um agente sobre a matéria. Esse agente, sem a matéria não é vida, do mesmo modo que a matéria não pode viver sem esse agente Ele dá vida a todos os seres que o absorvem e assimilam”; LE 70 Comentário “Que é feito da matéria e do princípio vital dos seres orgânicos, quando estes morrem? A matéria inerte se decompõe e vai formar novos organismos. O princípio vital volta à massa de onde saiu”; LE 136 “A alma independe do princípio vital? O corpo não é mais que um envoltório (...)”; LE 136 A “A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de vida orgânica”; LE 140: “Ele (o Espírito) imprime movimento aos órgãos, servindo-se do fluido intermediário (...)”; LE 140 A Nota “A alma atua por intermédio dos órgãos e os órgãos são animados pelo fluido vital”; LE 146A: “Que se deve pensar da opinião dos que situam a alma num centro vital? (...) esses a confundem com o fluido ou princípio vital”].
5.7.9. Julgamos que, devido à idéia de princípio vital, podemos considerar a Doutrina como vitalista. Ver item 7.9.
5.8. Soteria ou soteriologia espírita.
5.8.1. Em teodicéia e em teologia, chamamos se “soteria” ou “soteriologia” [do grego “soter”, salvador] o estudo das condições de “religação” do profano ao Sagrado, o que na linguagem mais chã é dito “salvação da alma”.
5.8.2. No Cristianismo tradicional eram aceitos dois critérios: a graça [pela fé] e o mérito [pelas obras ou omissões]. A primeira prega que basta ter fé para que os “pecados” fiquem automaticamente perdoados, não havendo necessidade de expiação e reparação das conseqüências más das ações ou omissões. O mérito era o resultado de boas obras ou da omissão de más, com a expiação e reparação do que de mal tivesse ocorrido. Disso, resulta atitudes sacrificiais como penitências, mortificações, flagelações, peregrinações, abstinências e confissões.
5.8.3. A Reforma Protestante, tanto na sua modalidade luterana, quanto na calvinista, eliminou o mérito. A salvação só ocorre pela graça. Os apologéticos dessas doutrinas alegam que a graça é obtida não pelo mérito, mas pela fé no Cristo, não havendo necessidade de expiação e reparação das conseqüências más dos “pecados” cometidos no passado. Em teodicéia, assim como em teologia, há pensadores que não consideram a fé como obra, pois é assunto muito abstrato e subjetivo, não podendo ser mensurado.Não é adequado a esta obra discutir essa polêmica.
5.8.3. O Espiritismo considera como critério de soteria apenas o mérito – o mérito das boas obras e o da omissão das más. A fé sem boas obras é inócua. Ela ajuda a suportar as dificuldades da vida, mas por si só não “salva”. O Espírito, mesmo tendo fé inabalável, deverá estar arrependido de seus maus atos ou das omissões de boas obras, expiar as conseqüências de seus efeitos e repará-los. Para a Doutrina, a “salvação” consiste do arrependimento de todo mal que tenha feito, com a expiação de seus efeitos e a devida reparação. A doutria sotériológica do Espiritismo está no EE 15 Fora da Caridade Não Há Salvação, entendendo-se por “caridade” o “ágape” dos gregos. Exclui graça, fé, ascese, gnose, rituais, abstinências, ordenações de vestuário e alimentos, interdições, assitencialismos, esmolas. Somente o esforço para vencer as paixões caranais: EE 10:8. “(…) o sacrifício mais agradável ao Senhor é o que o homem faça do seu próprio ressentimento (…) precisa o homem haver perdoado e reparado o agravo que tenha feito a alguns de seus irmãos”; EE17:4.:“Recohece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.” Complementa EE 11 Amar o próximo como a si mesmo, EE16 Não se Pode servir a Deus e a Mamom; EE 10 Bem Aventurados os que São misericordiosos; EE 13 Não saiba a Vossa mão Esquerda o que Dê a Vossa Mão Direita; EE 27:7. Eficácia da prece; LE 886-889 Caridade e Amor ao Próximo;
5.9. Misticismo. Há diferentes maneiras de relacionamento entre o profano e o Sagrado. O Judaísmo e as religiões derivadas dele, como o Cristianismo e o Islamismo, procuram fazer essa relação de maneira mais racional, sem a ajuda do pensamento mágico. As demais religiões usam o pensamento mágico para tal. Não queremos afirmar que as três acima referidas não tenham alguma forma de misticismo, mas ele não é sua base. Só a concepção de um Deus único, sem identificação com os fenômenos naturais, esse dualismo entre Criador e criatura, mostra uma predominância da razão. Kardec repudia abertamente o misticismo.
5.10. Conceito de religião. EE 8:10. (p.158) e GE 2:19 (p.60); “O objetivo da religião é conduzir a Deus o homem (grifo nosso). (….). (…) toda religião que não torna melhor o homem, não alcança seu objetivo (grifo nosso). (…). Nula é a crença na eficácia dos sinais exteriores (…). Semelhantes religiões fazem supersticiosos, hipócritas, fanáticos; não, porém, homens de bem. Em LE 793 diz que a civilização completa é a que faz mais homens de bem (LE 930, LE 789) Vide item 11.10.4.. O movimento Espírita Brasileiro (MEB) abandonou o aspecto filosófico da Doutrina e descambou para um confessionalismo místico, multifacetado, com várias correntes. A liderada pela Federação Espírita Brasileira (FEB) logo a princípio adotou as estapafúrdias idéias de Jean Baptiste Roustaing, adotando seu docetismo e, conseqüentemente, os conceitos gnósticos de “iluminação interior”, o que invalida a Missão de Cristo e de Kardec. Muitos “espíritas” se julgam reencarnação dos cátaros, como afirma Hermínio Correia de Miranda. Adotou também as idéias de Leon Denis que faz apologia do paganismo celta. Na década de 30, do Século passado o místico, Edgar Armond tornou-se espírita e introduziu muitas idéias místicas no MEB, como o vegetarianismo. Francisco Cândido Xavier (Chico Xavier), recebendo essa influência, coloca apologia desse hábito alimentar nos seus livros “A Caminho da Luz” e “O Consolador”, o que logo é abonado pela FEB. Hoje, prega-se e pratica-se o vegetarianismo no MEB, contrariando o codificado por Kardec LE 722, LE 723, LE 724, e há defensores fanáticos do docetismo. As várias sociedades que seguem um Espírito identificado como Ramatis, cujas obras ditas psicografadas pelos místicos Hercílio Maes e América Paoliello Marques, afirmam que se destinam a fazer a fusão entre a Filosofia Ocidental e a Oriental. Isso contraria Kardec. Esse afirma que só há três revelações: a de Moisés, a de Cristo e o Espiritismo. Não cita as Filosofias Ocidentais como revelações e todos nós sabemos que elas estão cheias de conceitos pagãos. Na índia adoram-se vacas, macacos e ratos. A doutrina de Ramatis é suspeita ou de ser animismo dos médiuns ou embuste. A Legião da Boa Vontade (LBV) explora o Apocalipse, fazendo verdadeira lavagem cerebral em seus prosélitos, além de terem surgido acusações graves feitas pela Rede Globo contra seu presidente Paiva Neto. A organização que leva o nome de Frei Luís pratica misticismo e prodígios. A Aliança da Fraternidade (Rio de janeiro) também sincretiza a Doutrina com cultos orientais. Em Kardec não encontramos nenhuma referência a “passes” e “água fluidificada”. O primeiro é influência da Umbanda e a segunda da Eucaristia católica. A FEB criou um método de ensino chamado “Estudo sistematizado da Doutrina Espírita”, conhecido pela sigla “ESDE”. Ele adota técnicas pedagógicas como dramatizações, reflexão, cochicho, sensibilizações. Os espíritas se apegam a essas técnicas não como recurso pedagógicos, mas como ritual. Adotaram a idolatria. São considerados “santos” personalidades como Gandhi agente do MI-5 e que insuflou os indianos que viviam na África do Sul contra os Boers, alegando que eles precisavam agradar a Inglaterra. Mentem, dizendo que ele conseguiu pacificamente a independência da Índia com seu movimento de desobediência civil, enquanto todos sabem que a esse país som se viu livre do tacão inglês porque enviou carne para canhão para lutar na Europa no V Exército Americano sob o comando do Gen Mac-Clarc. Einstein é outro santo, mas eles não mencionam o modo como ele tratava suas duas esposas. Divaldo Pereira Franco copia algumas idéias superficiais de Jung, que qualquer estudante de Psiquiatria conhece sobejamente, misturas com alguns conceitos exaustivamente apresentados em livros de auto-ajuda e atribui a um Espírito chamado Joana de Ângelis e dá o nome de “série psicológica” aos livros que ele escreve com esses ingredientes. Chico Xavier é outro santo. O que ele psicografou é inquestionável, mesmo livros ridículos como “Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”.
Citações:
EE 21:10. (316): “Repeli sem condescendência todos esses Espíritos que se apresentam como conselheiros exclusivos, pregando a separação e o insulamento.”; “É incontestável que, submetendo ao crivo da razão e da lógica todos os dados e todas as comunicações dos Espíritos, fácil se torna rejeitar a absurdidade e o erro”;“Em geral, desconfiai das comunicações que trazem um caráter de misticismo e de singularidade, ou que prescrevem cerimônias e atos extravagantes.” Em geral, desconfiai das comunicações que trazem um caráter de misticismo e de singularidade, ou que prescrevem cerimônias e atos extravagantes.
OP p. 210 (A Vida Futura): “Por muito sólida que seja a crença na imortalidade, o homem não se preocupa com a sua alma, senão de um ponto de vista místico.(…). Hoje, porém, sob o reinado do livre exame, eles querem conduzir-se por si mesmos, ver com seus próprios olhos e compreender. Aquelas vagas noções da vida futura já não estão à altura das novas idéias e já não correspondem às necessidades que o progresso criou.”
OP p. 221 (Questões e problemas: expiações coletivas): “Essencialmente positivo em suas crenças, ele repele todo misticismo, desde que não se estenda esta denominação, como o fazem os que em nada crêem, à crença em Deus, na alma e na vida futura.”
CAPÍTULO VI
6. COSMOLOGIA ESPÍRITA
6.1. Intróito.
6.1.1. Os conceitos cosmológicos da Doutrina estão expostos no Cap. III da Parte Primeira do LE, no Cap. III do EE, algumas citações no CI e na GE do Cap. V ao Cap. XII.
6.2. Criação.
6.2.1. O Universo foi criado pela vontade de Deus [LE 38 “Como Deus criou o Universo? (...) pela sua vontade”]. A criação é permanente [LE 21 “(...) é que Deus nunca esteve inativo”; LE 41 “(...) Deus renova os mundos como renova os seres vivos; LE 78 (...) “Deus há de sempre ter criado ininterruptamente.”; LE 80 (...) “Deus jamais deixou de criar”. CI 8:n14 “(...) Deus nunca esteve inativo (...)”]. Comentário: se Deus está sempre criando, não é admissível na Doutrina a concepção de um repouso universal [pralaya] como ocorre em teorias orientais. O que acontece é um movimento oscilatório: enquanto em uma parte do Universo, a vida está começando, em outra, está em seu ápice e , em mais outra, no término. Portanto, o Universo é um constante borbulhagemo. Se o Universo foi criado pela vontade de Deus, o Espiritismo encerra um princípio “voluntarista”, o que o torna incompatível com o “indeterminismo” e com qualquer forma de “dialética”, quer materialista, quer idealista.
6.2.2. Existe um mundo espírita e um mundo corpóreo [LE 84 “Os Espíritos constituem um mundo à parte, fora daquele que vivemos? Sim, o mundo dos Espíritos, ou das inteligências incorpóreas”; LE 85 “Qual dos dois, o mundo espírita ou o mundo corpóreo, é o principal, na ordem das coisas? O mundo espírita, que preexiste e sobrevive a tudo.”] que interagem entre si [LE 86 “Ocupam os Espíritos uma região determinada e circunscrita no espaço?” Estão por toda a parte. Povoam infinitamente os espaços infinitos. (...). Nem todos, porém, vão a toda parte, por isso que há regiões interditadas aos menos adiantados.”]. Para a Ciência oficial o que está fora da matéria, isto é, do mundo corpóreo, é sobrenatural. O Espiritismo admite esses dois mundos. Portanto o que está fora da matéria não é sobrenatural para ele. Para a Ciência o Espiritismo seria uma doutrina “sobrenatural”, mas por seus próprios parâmetros é “naturalista”. Isso é uma posição difícil de ser entendida, pois ele seria “naturalista sem ser materialista”, decorrente de sua concepção de Natureza. A concepção, que crê em um Ser Criador, que é Deus, e em um Ser criado, que é a Criatura, é dualista. Para o Espiritismo, Deus é criador. Tudo o mais que há no Universo é Criatura. Sob o ponto de vista cosmológico, essa Doutrina é dualista. Vide item 19.4..
6.2.3. Perfeição. O destino de tudo que é criado é atingir a perfeição [LE 115 “(...) chegar progressivamente à perfeição”; LE 132 “Deus lhe impõe a reencarnação com o fim de chegara perfeição”; LE 171 “Todos os Espíritos tendem à perfeição (...)”; LE 177 “Para chegar à perfeição e à suprema felicidade, destino final de todos os homens (...)”; LE 196 “(...) têm que passar todos os seres do mundo espírita para alcançarem a perfeição? (...) Sim, é exatamente isso. (...) atingem a finalidade para que tendem”; LE 222 “(...) ninguém escapa da lei do progresso (...)”; LE 333 “Cedo ou tarde, o Espírito sente a necessidade de progredir. Todos têm de se elevar; esse o destino de todos”; LE 619 “(...) forçoso é que o progresso se efetue”; LE 692 “Sendo a perfeição a meta para que tende a Natureza, favorecer essa perfeição é corresponder às vistas de Deus”; LE 776 Nota “(...) o homem não foi destinado a viver perpetuamente no estado de natureza (...)”; LE 778 “(...) o homem tem que progredir incessantemente (...)”; LE 783 NOTA “O homem não pode conservar-se indefinidamente na ignorância, porque tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinou”; LE 787 A“Deus a ninguém deserda.”; LE 804 “O que um não faz, fá-lo outro. Assim é que cada qual tem seu papel útil a desempenhar.”; LE 993 “(...) todo Espírito tem que progredir incessantemente.”; LE 1006 “(...) Deus não criou seres tendo por destino permanecerem votados perpetuamente para o mal.”; LE 1007 “Há-os de arrependimento muito tardio; porém pretender-se que nunca melhorarão fora negar a lei do progresso (...)”; LE 1009 “Interrogai o vosso bom-senso, a vossa razão e perguntai-lhes se uma condenação perpétua, motivada por alguns momentos de erro, não seria a negação da bondade de Deus.”; LM 223 nº 20 “(...) os conhecimentos adquiridos jamais os perde o Espírito, que tem de chegar à perfeição em todas as coisas”; EE 6:4 “Mostra o objetivo do sofrimento (...) que garante a felicidade nas existências futuras”; EE 6:6 “Nada fica perdido no reino de nosso Pai (...)”. Tal condição da Terra, quando (...) se houver tornado um mundo ditoso (...)”; EE 7:10 “ele não deixa ao abandono aqueles filhos que se acham perdidos, porquanto sabe, que cedo ou tarde os olhos se abrirão.”; EE 26:7 “Deus quer que a luz chegue a todos; não quer que o mais pobre fique dela privado (...)”; EE 27:21“Assim, o Espírito culpado e infeliz pode sempre salvar-se a si mesmo(...)”;CI 1.3.n.9“Deus (...) concede ao Espírito tantas encarnações quantas necessárias para atingir seu objetivo – a perfeição”. (...) “Cada existência é assim um passo avante no caminho do progresso”; CI 8:n.14 “As almas ou Espíritos são criados simples e ignorantes (...), porém, aptos para adquirir o que lhes falta. O trabalho é o meio de aquisição, e o fim – que é a perfeição – é para todos o mesmo”. GE 1:30 “Sabe que a alma progride incessantemente (...)”.] O Espiritismo é uma doutrina essencialmente otimista. Não há condenação eterna, nada no Universo fica perdido. [citado também nos itens 7.9. e 9.13.]. O título “Progressão dos Espíritos” do Cap. I da 2ª. Parte do LE [da LE 114 à LE 127] e todo o EE 17 [Sede Perfeitos] explanam perfeitamente a destinação à perfeição de tudo que há no Universo. OP p. 37 “O objetivo final de todos os Espíritos consiste em alcançar a perfeição de que é suscetível a criatura.” Ver citações nos itens 7.10., 9.13., 10.3. e 19.5.. Nota: a resposta a pergunta LE 392 afirma “Não pode o homem, nem deve saber tudo”, o que aparentemente contradiz o que foi dito. Mas como veremos na teoria do Conhecimento (Cap. VIII), o conhecimento é gradativo e acumulativo, portanto a resposta se refere a uma fase da evolução do Espírito, mas não seu destino final. A resposta está explicando a causa do esquecimento do passado, portanto, está restrita ao contexto da pergunta.
6.3. Categorias de mundos.
6.3.1. Mundos transitórios: são mundos que já foram habitados por espíritos que reencarnavam em mundos físicos. Atualmente eles são estéreis servindo apenas de repouso temporários para espíritos errantes [de LE 234 a LE 236 E].
6.3.2. Mundos destinados à reencarnação de Espíritos no plano físico. Todo o Cap. III do EE expõe cinco categorias de mundos destinados a esse fim [LE 172 – LE 188]:
Mundo primitivo. Os espíritos reencarnantes não fazem distinção entre mal e bem, estando destinados às primeiras reencarnações da alma humana [EE 3:17]. São mundos inferiores ao nível da Terra. Sua humanidade não distingue a justiça da injustiça e não possuem indústrias ou invenções, passando a maior parte do tempo na coleta de alimentos [EE 3:8]. Seus habitantes estariam na fase de hominídeos e nos primeiros estágios do Paleolítico, segundo nossa interpretação.
Mundo de expiações e provas (abreviadamente mundo expiatório). A quantidade de Espíritos reencarnados com propensão para o mal predomina sobre àquela com propensão para o bem. Sua humanidade já faz distinção entre justiça e injustiça. A individuação humana inicia-se e acentua-se gradativamente até chegar ao clímax. Em EE 3:19, é afirmado que a Terra está na fase final desse período, preparando-se para passar à categoria de mundo de regeneração. Os Espíritos, em que a inclinação para o mal predomine sobre aquela para o bem, deverão ser enviados a um mundo que ainda esteja na etapa de mundo de expiações e provas (EE 3:14.15). Segundo nossa opinião, essa fase iniciar-se-ia no fim do Paleolítico ou no início do Neolítico e terminaria na era das conquistas espaciais, da energia atômica,da engenharia genética e das comunicações via satélites.
Mundo de regeneração. A quantidade de Espíritos reencarnados com propensão para o mal equivale à daqueles com propensão para o bem. A humanidade começa a abrandar sua individuação. É uma categoria de transição entre mundo de expiação e mundo feliz (EE 3:16.17). “Ainda não existe felicidade perfeita, mas a aurora da felicidade” (EE 3:17).
Mundo feliz. A propensão para o bem dos Espíritos reencarnados predomina sobre à daqueles com propensão para o mal (EE 3:4).
Mundo celestial. Só existe o bem. O mal já foi banido (EE 3:4). Após as reencarnações nessa categoria, o espírito evolui sem precisar reencarnar no mundo físico (LE 111, LE 113). O Espiritismo é uma doutrina evolucionista. Contudo, não devemos confundi-lo com o evolucionismo materialista. É um evolucionismo espiritualista.
6.4. Categoria da Terra. A Terra é um mundo de expiações [onde o mal predomina sobre o bem], estando em sua última fase, devendo ser promovida a um mundo de regeneração [onde o mal é igual ao bem].LE 55 “Sim e o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição”; LE 129 “Os anjos hão percorrido todos os graus da escala? Percorreram todos os graus (…); LE 130 “Fica sabendo que o mundo onde te achas não existe de toda a eternidade e que, muito tempo antes que existisse, já havia Espíritos que tinham atingido o grau supremo”; LE 172 “As nossas diversas existências corporais se verificam todas na Terra? Não; vivemo-las em deferentes mundos. As que aqui passamos não são as primeiras, nem as últimas; são porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição”; LE 178 “Podem os Espíritos em um mundo relativamente inferior a outro onde já viveram? Sim, em missão (…) ;LE 178 A “(…).Não pode Deus degredar para mundos inferiores espíritos rebeldes? (…). Em caso de estacionamento, a punição deles consiste em não avançarem, em recomeçarem, no meio conveniente à sua natureza, as existências ma empregadas”; LE 182 Nota “À medida que o Espírito se purifica, o corpo que o reveste se aproxima igualmente da natureza espírita. Torna-se-lhe menos densa a matéria, deixa de rastejar penosamente pela superfície do solo, menos grosseiras se lhe fazem as necessidades físicas, não mais sendo preciso que os seres vivos se destruam mutuamente para se nutrirem”. LE 189 NOTA “(…) para o Espírito, como para o homem, também há infância. Em sua origem a vida do Espírito é apenas instintiva. Ele mal tem consciência de si e de seus atos. A inteligência só pouco a pouco se desenvolve”; LE 756 “A Humanidade progride. Esses homens, em quem o instinto do mal predomina e que se acham deslocados entre pessoas de bem, desaparecerão gradualmente (…)”; LE 789 “O progresso fará que todos os povos da Terra se achem um dia reunidos, formando uma só nação? Uma nação única, não; seria impossível, visto que da diversidade de clima se originam costumes e necessidades diferentes, que constituem as nacionalidades (…)”; LE 793 “Até então sereis apenas povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização”.; LE 985 “Constitui recompensa a reencarnação da alma em um mundo menos grosseiro? É a conseqüência de sua depuração, porquanto, à medida que se vão depurando, os Espíritos passam a encarnar em mundos cada vez mais perfeitos (…); EE 1.9. O mundo está abalado em seus fundamentos; reboará o trovão (…). (…) o mundo está abalado (…) dobrai-vos à rajada que anuncia a tempestade (….). A revolução que se apresta é antes moral do que material”. EE 3:3 “Entre eles há-os em que estes últimos [habitantes] são ainda inferiores aos da Terra, ,física e moralmente; outros da mesma categoria que o nosso; e outros que lhe são mais ou monos superiores a todos os respeitos”; EE 3:6“Destinação da Terra (….) Deves-se considerar que na Terra não está a Humanidade toda, mas apenas uma pequena fração da Humanidade. Com efeito, a espécie humana abrange todos os seres dotados de razão que povoam os inúmeros orbes do Universo. (…). A situação material e moral da Humanidade terrena nada tem que espante, desde que se leve em conta a destinação da Terra e a natureza dos que a habitam. EE 3:7 “Pois bem: figure-se a terra como um subúrbio, um hospital, uma penitenciária, um sítio malsão, e ela é simultaneamente tudo isso , e compreender-se-á porque as aflições sobrelevam os gozos (…); EE 3:11”No vosso, precisais do mal para sentirdes o bem; da noite, para admirardes a luz; da doença, para apreciardes a saúde. “Naqueles outros [superiores] não há necessidade desses contrastes”.; EE 3:14 “ Entretanto, nem todos os Espíritos que encarnam na Terra vão para aí em expiação. As raças a que chamais de selvagens são formadas de Espíritos que apenas saíram da infância (…). Vem depois as raças semicivilizadas (…).Os Espíritos em expiação (…)são exóticos, na Terra; já viveram noutros mundos, donde foram excluídos em conseqüência da sua obstinação no mal e por se haverem constituído, em tais mundos, causa de perturbação para os bons; EE 3;19 “(…) este mundo [a Terra] (…). Ele há chegado a um dos seus períodos de transformação, em que, de orbe expiatório, mudar-se-á em planeta de regeneração (…); EE 8:14 “É necessário que o escândalo venha, porque, estando em expiação na Terra,os homens se punem a si mesmos pelo contacto de seus vícios, cujas primeiras vítimas são eles próprios e cujo inconveniente acabam por compreender”; EE 8:15 “Tal a condição dos mundos superiores, donde o mal já foi banido; tal virá a ser a Terra, quando houver progredido bastante”; EE 11:9 “(…) e o vosso planeta, destinado a realizar em breve sensível progresso, verá seus habitantes, em virtude da transformação social que passará, a praticar essa lei sublime, reflexo da Divindade (…) a Terra, orbe de purificação e de exílio, será purificada (…) e vereis a Terra em breve transformada num paraíso onde as almas dos justos vão repousar”; EE 11:11 “O egoísmo, chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra (…). Ao Espiritismo está reservada a tarefa de fazê-la ascender na hierarquia dos mundos. (…). Expulsai da Terra o egoísmo para que ela possa subir na escala dos mundos, porquanto já é tempo de a humanidade envergar sua veste viril, para que cumpre que primeiramente o expilais dos vossos corações”; EE 20:4.”Sim, em todos os pontos do Globo vão produzir-se as subversões morais e filosóficas; aproxima-se a hora em que a luz divina se espargirá sobre os dois mundos” (…).; EE 20:5 “Aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da Humanidade”; CI 1: 3.11 [p.33] “Sendo a Terra um mundo inferior destinado à purificação dos Espíritos imperfeitos, está nisso a razão do mal que aí predomina, até praza a Deus fazer dela morada de Espíritos mais adiantados”; CI 1.5.9 [p.66] “A Terra deixará de ser um mundo expiatório (…) por esta transformação, que neste momento se opera, a Terra se elevará na hierarquia dos mundos”. GE 11:27 “(…) a Terra é um dos menos adiantados. Povoada de espíritos relativamente inferiores (…)”; GE 11:28“Quando, em mundo, os Espíritos hão realizado a soma de progresso que o estado desse mundo comporta, deixam-no para encarnar em outro mais adiantado (…)”; GE 11:31 “Podem comparar-se os Espíritos que vieram povoar a Terra a esses bandos de emigrantes de origens diversas , que vão estabelecer-se numa terra virgem (…)”; Ge 11 35 – 37 Emigrações e imigrações de Espíritos; GE 11:38- 42 Raça adâmica; GE 11:43-49Doutrina dos anjos decaídos e da perda do paraíso.
6.5. Conclusão. As características da cosmologia espírita são: o Universo é uma criatura de Deus; Deus cria sem cessar; tudo é gradativo, havendo um momento apropriado para aparecer; a finalidade de tudo é a perfeição. É uma doutrina finalista, evolucionista e otimista.
CAPÍTULO VII
7. ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA ESPÍRITA.
7.1. Intróito.
7.1.1. O Ser criado para a Doutrina é o princípio inteligente que, em sua forma final de evolução tornar-se espírito [LE 79 “Os Espíritos são individualização do princípio inteligente(...)”; LE 607 “(...) o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida(...).(...) o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito.”; “Desde que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período de humanização, (...)”]. Todo esse estudo está desenvolvido na Parte Segunda do LE com o título geral de Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos e constituído por onze capítulos.
7.2. Conceito de individuação.
7.2.1. O Pentateuco kardequiano não usa a palavra individuação. Quando se refere a esse tema usa a palavra vulgar individualização. Como individuação é um termo técnico em filosofia, exporemos brevemente seu conceito para depois analisarmos seu emprego na Doutrina. Segundo Abbagnano [4] o “[...] problema da individuação é o problema da individualização a partir de uma substância ou natureza comum [...]”. A filosofia Escolástica chamava de individuação à “aquisição das características que diferenciavam e espécie do gênero”.
7.2.2. A criação dos espíritos é permanente [LE 21 “(...) é que Deus (...) nunca esteve inativo.”; LE 41 “Sim, Deus renova os mundos, como renova os seres vivos.”; LE 80 “A criação dos Espíritos é permanente (...)? É permanente. (...) Deus jamais deixou de criar”; GE 6:18 “Deus há criado sempre, cria incessantemente e nunca deixará de criar”]. Os espíritos são criados simples e ignorantes [LE115 “Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes (...)”; LE 121“O livre-arbítrio se desenvolve a medida que os Espírito adquire a consciência de si mesmo.”; LE 133 “Todos são criados simples e ignorantes (...)”; LE 189 “(...) para o espírito (...)há infância. Em sua origem a vida do Espírito é instintiva. Ele mal tem consciência de si e de seus atos. A inteligência só pouco a pouco se desenvolve.”; LE 634 “(...) os Espíritos foram criados simples e ignorantes (...).”; LE 804 “Deus criou igual todos os Espíritos (...)”]. Eles estão destinados ao bem [LE 1006 Mas, Deus não criou esses seres tendo por destino permanecerem sempre votados para o mal”; LE 1009/p. 467 “Gravitar para a unidade divina, eis o fim da humanidade”, Paulo, apóstolo].
7.2.3. Os Espíritos não são criados diretamente nesse estágio. A princípio eles formam uma substância ou umanatureza comum que é chamada de princípio inteligente [LE 23 “Que é Espírito? O princípio inteligente do Universo.”; LE 25 A “Entendemos aqui por espírito o princípio da inteligência, abstração feita das individualidades (...); LE 76 Nota “A palavra Espírito é empregada aqui para designar as individualidades dos seres extra corpóreos e não mais ao elemento inteligente do Universo.”; LE 79, citado em 7.1.1.]. Posteriormente, quando atingem a individuação, transformam-se em Espíritos e passam a reencarnar como ser humano [LE 79, citado em 7.1.1.; LE 607A “(...) o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida (...)”; LE 611 “Desde que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período de humanização (...)”]. As primeiras reencarnações humanas não ocorrem na Terra e sim em mundos de categoria inferior [LE 607 B “A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período de humanização começa, geralmente, em mundos inferiores à Terra”]. Essa asserção deve se referir a Terra no estádio atual de mundo de expiação e não mais primitivo. É provável que, como mundo primitivo, tenha sido campo para a reencarnação de Espíritos que começavam sua humanização [EE 3:8/p.79 “Tomada a Terra por termo de comparação, pode-se fazer idéia do estado de um mundo inferior, supondo os seus habitantes na condição de raças selvagens ou das nações bárbaras que ainda entre nós se encontram, restos do estado primitivo do nosso orbe”]. Esses resquícios de “raças selvagens” sejam uma prova que a Terra já foi esse tipo de orbe. Talvez as referências de “raças selvagens” e “nações bárbaras” se refiram aos hominídeos, cujos fósseis foram encontrados a partir de década de 50 do século XX [Australopithecus], e aos homens do Paleolítico inferior e do médio. Observemos que, nas décadas de 50 e 60 do século XIX, os fósseis humanos não eram bem conhecidos. Em 1868, nove anos após Darwin publicar a “Origem das Espécies”, Kardec afirmava: a] em GE 10:28 “Acompanhando-se passo a passo a série dos seres, dir-se-ia que cada espécie é um aperfeiçoamento, uma transformação da espécie imediatamente inferior [grifo é de Kardec]; b] em GE 11:15 “Da semelhança, que há, de formas exteriores entre o corpo do homem e do macaco, concluíram alguns fisiologistas que o primeiro é apenas uma transição do segundo. Nada aí há de impossível (…). Bem pode dar-se que corpos de macaco tenham servido de vestidura aos primeiros Espíritos humanos, forçosamente pouco adiantados que viessem, a reencarnar na Terra (…)”; c] em GE 11: 16 “Como em a natureza não há transições bruscas, é provável que os primeiros homens aparecidos na Terra pouco diferissem do macaco pela forma exterior e não muito também pela inteligência”, o que confere com as formas simiescas do fósseis humanos [GE 10:29 “Ainda que isso lhe fira o orgulho, tem o homem que se resignar a não ver no seu corpo material mais do que o último anel da animalidade na Terra”.].
7.3. As características humanas. Nossa ciência possui vários parâmetros: o corpo físico apresenta a posição ereta e, conseqüentemente, a bacia, a articulação coxo-femural, articulação do joelho, têm especificidades humanas; o único Ser que possui pés e mãos é o humano; a arcada dentária parabólica é humana. Características neurofisiológicas como a linguagem, a dominância hemisférica e a conseqüente predominância de dimídio, são humanas. O antropólogo Levy-Strauss considerava o uso do fogo como distintivo do humano e, por isso, usava a antinomia “cru/cozido”: cru para animal e cozido para o homem. A Doutrina enuncia apenas as características espirituais. A forma do corpo físico é igual à dos humanos terráqueos em qualquer parte do Universo [vide item 7.7.2.]. LE 585 “O homem,(…) domina todas as outras classes por uma inteligência especial, (…), que lhe dá a consciência do seu futuro, a percepção das coisas extramateriais e o conhecimento de Deus”.
7.3.1. Compreensão de destino. LE 592 “(…), mas ao seu Espírito está assinado um destino que só ele pode compreender, porque só ele é inteiramente livre.”
7.3.2.Consciência de seu futuro [temporalidade]. Temporalidade e espacialidade. A crença no futuro [LE 607 A, citado 7.2.3.] impõe um reconhecimento do presente. O presente é o momento em que vivemos e, por tanto, se escoa a todo momento, tornando-se passado. Para que percebamos a temporalidade é preciso que já tenhamos percebido a espacialidade. O tempo, sendo muito subjetivo, só pode ser percebido com parâmetros concretos – o espaço. As estações do ano, que são uma mudança da fisionomia espacial, marcam o fluir do tempo. Em latim, a palavra tempo significa simultaneamente o que em alemão é Zeit [cronologia - temporalidade] e Wetter [meteorologia - espacialidade]. Grandezas físicas, como a velocidade e a aceleração, são medidas com uma relação de tempo e espaço e, por conseqüência, também a força, o trabalho e apotência. A medida astronômica ano-luz une os conceitos de temporalidade e espacialidade. Tempo e espaço são dois conceitos inter-relacionados. Como conseqüência da aquisição da temporalidade, o Espírito passa a elaborar a relação de causa e efeito, a causalidade. A crença no futuro, enfatizada como característica humana, induz a concepção de finalidade [LE 495 “Pensai no futuro; procurai adiantar-vos na vida presente.”]. O Espírito já não se contenta em saber por quê algo acontece, mas quer saber e entender para que. Só o Espírito é que possui a idéia da relação causalidade/finalidade. Lembremo-nos a admoestação do Apóstolo Paulo: Hebreus 11:12 “E, na verdade, toda a correção, ao presente [grifo nosso], não parece ser gozo, senão de tristeza, mas depois no futuro [observação nossa], produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela”. EE Int. I “(…) roteiro infalível para a felicidade vindoura, o levantamento de uma ponta do véu que nos oculta a vida futura. (…) O Espiritismo (…), ao mesmo tampo que rasga horizontes novos para o futuro, projeta luz não menos viva sobre os mistérios do passado.”. Essa observação mostra que a preocupação com o passado e o futuro é salutar. O filósofo George Santayana (1863 –1952) afirmou que: “Quem esquece seu passado está condenado a repetir os mesmos erros.” Alguns palestrantes e escritores espíritas, talvez influenciados pela ideologia existencialista do Século XX e pelas doutrinas orientais, afirmam que o indivíduo só deve viver se preocupar com o presente. Em OP, Cap. XVII da 1a. Parte, p. 207 a 213, com o título “A Vida Futura”, Kardec mostra a posição doutrinária em relação à temporalidade, concluindo: “(…) quando, em suma, verificar que o passado, o presente e o futuro se encadeiam por inflexível necessidade, como o ontem, o hoje e o amanhã na vida atual, oh! Então suas idéias mudarão completamente (…)”. OP p. 388 “Faz-se mister, enfim, que seja evidente a solidariedade entre o passado, o presente e o futuro,”
7.3.3.Distinção entre o bem e o mal [senso ético]. Esse discernimento, entre o bem e o mal, podemos resumir em duas palavras: RAZÃO e AMOR. Razão fornece a capacidade de discernimento. Portanto, se o Espírito é capaz de fazer essa distinção, é porque já possui razão. A atração afetiva que existe entre os animais é produzida pelos instintos de conservação e de reprodução. Somente quem distingue o bem do mal é que pode apresentar reações afetivas sem origem instintivas. Manifestação afetiva positiva que não é instintiva é amor. Portanto, só Espírito (Ser humano encarnado ou não) possui a capacidade de amar. O ódio que o Seres Humanos apresentam é ausência de amor. É produzido pelo sentimento de individuação que, às vezes, bloqueia a capacidade de amar. O bloqueio do amor apresenta-se como ódio.
7.3.4.Responsabilidade de seus atos [LE 607 A “(...) ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos”, GE 11:23 “(...) o princípio inteligente, distinto do princípio material, se individualiza e elabora, passando pelos diversos graus da animalidade”.(...). “Chegada ao grau de desenvolvimento que esse estado comporta, ela recebe as faculdades especiais que constituem a alma humana. Haveria assim filiação espiritual do animal para o homem, como há filiação corporal (...).“(...) ao entrar na humanidade, no ponto em que é dotado de senso moral e de livre arbítrio, começa a pesar-lhe a responsabilidade dos seus atos” ]. Sendo a responsabilidade uma característica humana, o laxismo [laissez-faire na esfera moral] exaltado pelas doutrinas filosóficas estruturalistas, assim como pela contra-cultura da Nova Era (New Age) é incompatível com o Espiritismo. Vide item 13.6. [responsabilidade civil e criminal].
7.3.5.Pela faculdade de pensar em Deus [LE 585, citado em 7.3.; LE 592 “Reconhecei o homem pela faculdade de pensar em Deus.”; LE 610 “A espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação dos seres que podem conhecê-lo. (grifo nosso)”]. Distinção entre Sagrado e profano. A noção de sagrado e a conseqüente noção de profano, ambas imanentes nas coisas do mundo, permitem ao Espírito perceber sua situação de criatura e buscar sua “re-união” com Deus – a crença em Deus e o desejo de se “re-ligar” a Ele formam uma das principais características humanas – a FÉ, produto da crença no Sagrado. A descrença em Deus constitui a negação de nossa condição humana, que caracteriza o Espírito, pois esse é o Princípio Inteligente individualizado [LE 607 A]. GE 6:19 “Unicamente a datar do dia em que o Senhor lhe imprime na fronte o seu tipo augusto, o Espírito toma o lugar no seio da humanidade”.Essa “capacidade de pensar em Deus” podemos resumir em uma única palavra: FÉ.
7.3.6.A palavra: LE 766 “Deus (…) não lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades à vida de relação.”; LE 772. “(…) a palavra é a faculdade natural e por que Deus a concedeu ao homem.”
7.3.7.Ser a parte. O Ser humano é um ser à parte [LE 592 “O homem é um ser à parte, (...)”; LE 610 “O homem é, com efeito, um ser à parte (...)”; LE 774 “Diverso do dos animais é o destino do homem”]. LE INT VI “(…) Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que chegaram a certo grau de desenvolvimento, dando-lhe superioridade moral e intelectual sobre as outras (p.23)”. (…) “A encarnação dos Espíritos dá sempre na espécie humana; seria erro acreditar-se que a alma ou Espírito possa reencarnar no corpo de um animal (p.25)”. Para a Doutrina, o Ser humano não faz parte do Reino Animal; ele pertence aoReino Humano ou Hominal.
7.3.8. Consciência da necessidade de progredir. Dos seres vivos, o Humano é o único que progride e procura voluntariamente, esse progresso. As espécies vegetais e animais permanecem sempre as mesmas, com os mesmos hábitos, instintos. A Espécie Humana é a única que é capaz de proteger-se voluntariamente contra as intempéries, que tem consciência de sua inferioridade e procura superá-la. LE 774 “(…) há a necessidade de progredir.”; LE 776 Nota “O homem não foi destinado a viver perpetuamente no estado de natureza (…)”; LE 778 “(…) o homem tem que progredir incessantemente (…)”; EE 25:2 “Deus, porém, lhe deu, a mais do que outorgou ao animal, o desejo incessante do melhor, e é esse desejo que o impele à pesquisa dos meios de melhorar a sua posição, que o leva às descobertas, às invenções, ao aperfeiçoamento da Ciência, porquanto é a Ciência que lhe proporciona o que lhe falta”. EE 26:7 “Deus quer que a luz chegue a todos; não quer que o mais pobre fique dela privado (…)”.
7.3.9. Finalidade. A noção de “futuro” examinada no item 7.3.1. resulta na noção de temporalidade. A relação que estabelecemos entre passado e presente nos fornece a noção de causa e efeito – causalidade. A de presente e futuro, a de finalidade [teleologia]. O Espírito, que só reencarna na forma humana, difere do Princípio Inteligente, que anima os outros seres inferiores ao humano, por compreender a finalidade de seus atos, não é encaminhado apenas pelo instinto. Entre os animais, quando um macho procura uma fêmea que o atrai pelo cheiro do cio, ele não sabe qual a finalidade do impulso que sente. O Espírito reencarnado, quando sente atração sexual, sabe qual a finalidade disso. Os mais apegados à matéria confundem o complemento do prazer com a finalidade procriativa, mas os mais evoluídos entendem que a finalidade precípua é a procriação e o prazer, apenas um complemento. OP p.386 “A crença na vida futura (…) somente ela pode dar ao homem coragem nas suas provas, porque lhe fornece a razão (finalidade, observação nossa) de ser dessas provas (…). Entretanto ela é inata (…).”
7.3.10. Razão. EE 3:6. “(…) a espécie humana abrange todos os seres dotados de razão (…)”; GE 3:11.- 19. “O instinto e a inteligência”: Kardec afirma que o instinto é necessário, assim como as paixões, mas a medida que o Espírito evolui, ele age mais guiado pela inteligência [razão] e domina melhor suas paixões – item 11 “No homem, só no começo da vida o instinto domina com exclusividade.” EE 3:6. “Com efeito, a espécie humana abrange todos os seres dotados se razão que povoam os inúmeros orbes do Universo.”
7.3.11. Cultura. O Espírito reencarnado na forma humana é um ser cultural e não natural [LE 776 “(...) o homem não foi destinado a viver perpetuamente no estado de natureza (...)”, LE 778 “(...) o homem tem que progredir incessantemente e não pode volver ao estado de infância.”].
7.3.12. Individualização do princípio inteligente. Vide item 7.1..
7.3.13. Consciência de si mesmo. LE 600 “A consciência de si mesmo é o que constitui o principal atributo do Espírito.”. Sob o título em negrito “Conhece-te a ti mesmo”, estão a LE 919 e LE 919 A. Há uma comunicação se Santo Agostinho e um comentário de Allan Kardec. Ambos indicam com meio de auto-conhecimento a razão, o apelo à reflexão sobre nossos atos, não indicam nenhum modo de ascese (purificações, penitências, mortificações), como pregavam o Gnosticismo. Há autores espíritas que estranhamente exalçam essa seita. A “iluminação interior” prescrita por Santo Agostinho e Kardec não é obtida por maneira mágica ou mística, mas puramente racional.
7.3.14. Percepção das coisas extra-materiais. LE 585, citado em 7.3..
7.3.15. Liberdade de pensar: LE 872 “Mas, quando o homem pratica o bem (…), não renuncia, (…), ao mais belo privilégio de sua espécie: a liberdade de pensar”.
7.3.16. Os arqueólogos encontraram vestígios de um ser que andava erecto, tinha o cérebro do tamanho do de um chimpanzé e devido aposição da laringe não deveria ter linguagem articulada. Foi chamado de “Australopitecus”. Também não apresentava sinais de confecção de ferramentas. Outros com esqueletos semelhantes, mas com desenvolvimento cerebral maior e já fabricando ferramentas foram chamados de “Homo habilis”. No item 7.1. aprendemos que a doutrina afirma que, quando o Princípio inteligente de individualiza, ele se transforma em Espírito. Esses achados arqueológicos demonstram que essa individualização do Princípio Inteligente não é abrupta, mas gradativa. Entre a forma humana definitiva e a animal mais evoluída, existem várias intermediárias que abrigam as diferentes fases dessa individualização.
7.4. Natureza Humana. As filosofias espiritualistas, mormente as que aceitam um Deus criador, afirmam que o ser humano tem características físicas, intelectivas, que os diferenciam dos animais. Essas características comuns a todos os Espíritos constituem o que chamamos de “natureza humana”. Pelo que lemos nos itens 7.2.3. e 7.4., o Princípio Inteligente, individualizado em Espírito, possui uma “natureza”, comum a todos eles, exposta no item 73.3.(Características humanas). Além desses atributos não materiais, natureza humana também possui um correspondente físico, que é a forma do corpo humano que temos e que é igual a de qualquer espírito reencarnado em qualquer orbe físico. Os Espíritos atrasados encarnados ou desencarnados podem apresentar peculiaridades dos grupos étnico-culturais onde está ou esteve encarnado. Mas essas diferenças étnico-culturais já estão programadas para que os Espíritos aprendam tudo a fim de cheguem à perfeição. Independente dos grupos étnico-culturais onde estão, estiveram ou estarão, eles têm capacidades e necessidades comuns que têm que ser desenvolvidas e satisfeitas pela solidariedade social. A mente humana ou Espírito tem uma estrutura que lhe é peculiar, distinguindo-o das demais criaturas. Essa estrutura é modificável pela educação, pelas vivências em várias reencarnações, visando a atingir a perfeição (item 7.11.). EE 3:6. “Com efeito, a espécie humana abrange todos os seres dotados se razão que povoam os inúmeros orbes do Universo.”
7.5. Ubiqüidade, bicorporeidade e transfiguração dos espíritos.
7.5.1. Ubiqüidade (LE 88 – LE 92, GE 2:29). Ubiqüidade é a capacidade de um mesmo espírito estar ago mesmo tempo em dois lugares diferentes. A Doutrina ensina que o espírito é indivisível. Manifestações simultâneas de um mesmo espírito em lugares afastados podem ocorrer por uma irradiação. Podemos comparar à uma estação de rádio que, estando sempre em mesmo local, pode ser ouvida ao mesmo tempo em lugares separados e distantes.
Pode ocorrer outro fato (LM 256, LM 268): os espíritos superiores vivem em falanges, com perfeita identidade entre seus membros; Isso permite que vários espíritos se apresentem simultaneamente em diferentes lugares, representando apenas um deles. Embora os Espíritos não possuam ubiqüidade [LE 92 “Têm os Espíritos odom da ubiqüidade? (...) Não pode haver divisão de um mesmo Espírito; mas cada um é um centro de que irradia para diversos lados.(...) Cada Espírito é uma unidade indivisível(...)”; LE 137 “Um Espírito pode encarnar a um tempo em dois corpos diferentes? Não, o Espírito é indivisível e não pode animar simultaneamente dois corpos distintos.”; LE 247 “Como o Espírito se transporta aonde queira, com a rapidez do pensamento, pode-se dizer que vê em toda parta ao mesmo tempo. Seu pensamento é suscetível de irradiar, dirigindo-se a u tempo para muitos pontos diferentes (...),”; LM 268:5 “(...) quanto mais elevado é um Espírito, tanto mais dilatada é a sua irradiação.”; GE 2.29 “ Se simples Espíritos têm o dom da ubiqüidade (...)”; OP 83 “(...) admitida a ubiqüidade (...)”], os superiores podem comunicar-se com vários outros ao mesmo tempo, irradiando seus pensamentos e sentimentos ou enviando outro Espírito que lhe seja afim. Na realidade não há legítima ubiqüidade entre os Espíritos, mas apenas uma irradiação ou delegação de poderes.
7.5.2. Bicorporeidade. (LM 114 – LM 121). Há crenças populares que julgam que um espírito pode animar dois corpos diferentes. A doutrina afirma que isso é impossível, pois o espírito não se divide. O que ocorre é que o espírito pode desprender-se parcialmente do corpo físico, deixando este jazendo com vida em alguma lugar e manifestar-se com seu perispírito em outro (LM 115).
7.5.3. Transfiguração. “Consiste na mudança do aspecto de um corpo vivo” (LM 122). Pode ocorrer por simples contração da musculatura física ou pode decorrer de alteração que o espírito (encarnado ou desencarnado) provoca em seu perispírito, empanando a visão do corpo físico (LM 123).
7.6. Perispírito.
7.6.1. Definição. O perispírito é uma substância vaporosa e semimaterial que envolve o espírito (LM 3) e que pode elevar-se e transportar-se a onde esse queira (LE 93, LE 135 A). Esse invólucro pode ser comparado a um veículo ou instrumento do espírito, assim como o corpo físico o é (LE 141). “A Alma nunca está desligada do perispírito” (LM 54). O Espírito é um princípio intelectual e moral, amorfo, sempre revestido pelo perispírito (LM 55). Após a morte, o Espírito abandona o corpo físico e permanece no mundo espiritual com o envoltóriosemimaterial – o perispírito (LM 54). O perispírito tem sensações próprias que não devem ser confundidas com as do corpo (LE 257).
7.6.2. Natureza. O perispírito é formado a partir do fluido universal do globo aonde o espírito reencarna evariará conforme a constituição desse (LE 94). O perispírito se depura a medida em que o espírito evolui na hierarquia espiritual (LM 55). Podemos asseverar que a pureza do perispírito depende diretamente da evolução espiritual (LM 55) e da elevação moral do mundo aonde o espírito reencarna (LE 94). “(…) a matéria sutil do perispírito não possui a tenacidade, nem a rigidez da matéria compacta do corpo; é (…) flexível e expansível” (LM 56). “O próprio perispírito passa por transformações sucessivas. Torna-se cada vez mais etéreo, até a depuração completa (…)” (EE 4:24). A natureza do perispírito lhe fornece penetrabilidade na matéria física (LM 106), por isso, o espírito envolto em seu perispírito pode atravessar paredes. “O perispírito (…) é o princípio de todas as manifestações” (LM 109). O espírito não pode atuar sobre seu corpo físico sem o perispírito (LM76). O perispírito nada mais é do que o fluido vital (LM 77). “O envoltório perispirítico, conquanto nos seja invisível e impalpável, é (…) verdadeira matéria , ainda grosseira demais para certas percepções” (GE 2:33).
7.6.3. Função. O perispírito é o laço que prende o espírito ao corpo físico (LE 257). Serve para a identificação dos espíritos desencarnados (LE 284). GE 2:23. “(…) serve de veículo ao pensamento, às sensações e percepções do Espírito.”; (LM 54) “(…) no conhecimento do perispírito está a chave de inúmeros problemas até hoje insolúveis.”; CI 2a. Pt 1:2. p. 167 “O conhecimento do laço fluídico que une a alma ao corpo é a chave desse e de muitos outros fenômenos.”; GE 1:39. “O perispírito representa importantíssimo papel no organismo e numa multidão de afecções, que se ligam à fisiologia, assim como à psicologia.” 40. “O estudo das propriedades do perispírito (…) abre novos horizontes à Ciência e dá a chave de uma multidão de fenômenos incompreendidos até então (…)”; OP p. 45 [n.12] “Sendo um dos elementos constitutivos do homem, o perispírito desempenha importante papel em todos os fenômenos psicológicos e, até certo ponto, nos fenômenos fisiológicos e patológicos. Quando as ciências médicas tiverem na devida conta o elemento espiritual na economia do ser, terão dado grande passo e horizontes inteiramente novos se lhes patentearão.”; OB p. 181 “Sua causa está inteiramente no perispírito – princípio não só de todos os fenômenos espíritas propriamente ditos, mas de uma porção de efeitos morais, fisiológicos e patológicos, incompreendidos antes do conhecimento desse agente, cuja descoberta, se assim se pode dizer, abrirá horizontes novos à ciência (…).(…) o perispírito representa importante papel em todos os fenômenos da vida (….).”.
7.6.4. Forma. O perispírito guarda sempre a forma da última reencarnação (LM 56), porém se dilata ou se contrai, se transforma: presta-se (…) a todos as metamorfoses, de acordo com a vontade sobre a qual ele (o espírito) atua (LM 56). O perispírito não tem forma própria (LM 95). A forma que toma (o perispírito),conquanto que decalcada na corpo, não é absoluta, amolga-se a vontade do espírito, que lhe pode dar a aparência que lhe entenda (…) (LM 56). O perispírito é invisível, podendo tornar-se visível pela condensação (LM 105). “Esses deferentes estados do perispírito resultam da vontade do Espírito (…)” (LM 105). “(…) já temos dito que o Espírito, sob seu envoltório semi-material, pode tomar todas as espécies de formas, para se manifestar (LM 113 A)”. “(…) o Espírito pode dar ao perispírito todas as aparências; (…) pode dar-lhe a visibilidade, a tangibilidade (…) a opacidade; o perispírito de uma pessoa viva (…) é passível das mesmas transformações (…); (LM 123)” “(…) é preciso dizer que é o próprio Espírito que modela seu envoltório e o apropria às suas novas necessidades; aperfeiçoa-o e lhe desenvolve e lhe completa o organismo, à medida que experimenta a necessidade de manifestar novas faculdades; numa palavra, talha-o de acordo com sua inteligência [GE 11:11].
7.6.5. Formação e propriedades. Em GE 14, do item 7 ao 12, esse assunto está exposto. O perispírito é uma condensação do fluido cósmico [GE 14:7]. O corpo carnal e o corpo perispirítico têm origem comum nesse fluido cósmico, mas no segundo a transformação molecular se opera diferentemente; ambos são matéria em estados diferentes [GE 14:7]. O espírito extrai seu perispírito do meio onde se encontra [GE 14:8.9]. Os elementos constitutivos do perispírito variam conforme os mundos [GE 14:8.9]. “Emigrando da terra, o espírito deixa aí o seu invólucro fluídico e toma outro apropriado ao n mundo onde vai habitar” [GE 14:8]. “A natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento moral do Espírito” [GE 14:9]. “Os espíritos atrasados tem o perispírito ainda tão grosseiros que o confundem com o corpo físico, mesmo após desencarnados” [GE 14:9]. Do mesmo fluido que envolve um mundo, os Espíritos tiram o fluido para seu perispírito de camadas mais sutis ou mais grosseiras conforme seu adiantamento [GE 14:10] e disso resulta que “a constituição íntima do perispírito não é idêntica em todos os espíritos encarnados ou desencarnados que povoam a Terra ou o espaço que a circunda”. Também resulta que “o envoltório perispirítico de um Espírito se modifica com o progresso moral que este realiza em cada reencarnação, embora ele reencarne no mesmo meio (…)” [GE 14:10]. O espírito tira do fluido que circunda seu orbe o alimento para seu perispírito, assim como o faz para com seu corpo físico [GE 14:11]. O conhecimento integral de todas as propriedades do perispírito resolverá muitos problemas de saúde: LM 54 “(…) no conhecimento do perispírito está a chave de inúmeros problemas até hoje insolúveis.”; GE 1:39. “O perispírito representa importantíssimo papel no organismo e numa multidão de afecções, que se ligam à fisiologia e também à psicologia.”; CI 2a.Pt 1:2. p. 167“O conhecimento do laço fluídico que une a alma ao corpo é a chave desse e de muitos outros fenômenos.”. GE 1:40.“O estudo das propriedades do perispírito (…) dá a chave de uma multidão de fenômenos incompreendidos até então (…).”; OP p. 45 “Quando as ciências médicas tiverem na devida conta o elemento espiritual na economia do ser, terão dado grande passo e horizonte inteiramente novos se lhes patentearão.”; OB.p. 181 “Sua causa está inteiramente no perispírito – princípio não só de todos os fenômenos espíritas propriamente ditos, mas de uma porção de efeitos morais, fisiológicos e patológicos (…), cuja descoberta, (…), abrirá horizontes novos à ciência (…). (…), o perispírito representa importante papel em todos os fenômenos da vida.”.
7.7. Hierarquia.
7.7.1. Os espíritos têm uma hierarquia de acordo com seu grau de evolução espiritual, que compreende o progresso moral e o intelectual. O texto afirma que a escala apresentada tem valor apenas didático. Para facilitar a compreensão, são apresentadas três ordens que se subdividem em classes. A classe mais elevada é a primeira e é formada por espíritos que não reencarnam mais em plano físico [LE 113]. A segunda por espíritos que só o fazem por exceção em missão [LE 111]. As demais classes estão sujeitas a reencarnação rotineira [LE 96 – LE 113]. Entre os Espíritos há uma hierarquia [LE 96 à LE 113; o texto expõe três ordens de Espíritos, abrangendo dez classes.].
7.8. Forma Humana.
7.8.1. A Doutrina admite vida inteligente nas diferentes espécies de orbes (LE 55, LE 172 – LE 188, LE 234 – L E236, EE3). No item 7.2.3. (LE 607 A, LE 611), afirma-se que o princípio inteligente individua-se em espírito e passa a reencarnar somente como ser humano. Surge a dúvida concernente às formas teriam os corpos físicos usados por pelos espíritos que reencarnam em mundos diferentes da Terra?
7.8.2. A resposta obtida diz que é a da forma que possui o Ser humano reencarnante na Terra. LE 181 “Os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos?” “É fora de dúvida que têm(…)”. LM 56 “(…) a forma humana se nos depara entre os habitantes de todos os globos.” “(…) a forma humana é a foram tipo de todos os seres humanos, seja qual for o grau se evolução em que se achem”. EE 3:8 “Nos mais atrasados, são de certo modo rudimentares os seres que os habitam. Revestem a forma humana, mas sem nenhuma beleza”. EE 3:9 “Como por toda parte, forma corpórea aí é sempre a mesma”.
7.9. Reencarnação. Na Parte Segunda, Capítulo VII, do LE, é tratada “da volta do espírito à vida corporal”. No título “Prelúdio da volta”, LE 339 é afirmado que “No momento de reencarnar, o Espírito sofre muita perturbação (…)”. Na LE 340, é dito ao reencarnar o Espírito “Procede como o viajante que embarca para uma travessia perigosa e não sabe se encontrará ou a morte nas ondas que se decide afrontar”. Na mesma pergunta Kardec comenta na Nota: “(…) dele se apodera uma perturbação, que se prolonga até que a nova existência se ache positivamente encetada. À aproximação do momento de reencarnar, sente uma espécie de agonia.” Na LE 351, no título “União da alma e do corpo”, lemos: “A partir do instante da concepção, começa o espírito a ser tomado de perturbação (…). Essa perturbação cresce de contínuo até ao nascimento. Nesse intervalo, seu estado é quase idêntico ao de um espírito encarnado durante o sono. À medida que a hora do nascimento se aproxima, suas idéias se apagam, assim como a lembrança de seu passado, do qual deixa de ter consciência na condição de homem, logo que entra na vida. Essa lembrança lhe volta pouco a pouco ao retornar ao estado de Espírito”.No original em francês, a palavra é “trouble”. Achamos que essa “trouble” é a conseqüência de bloqueios que o Espírito sofre de seu cabedal afetivo e cognitivo, de modo a torná-lo suscetível a uma boa educação [evangelização], a fim de transformar-lhe as más tendências em virtudes. No título “A infância”, LE 383, é dito:“Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educa-lo”. No mesmo título, na LE 385, é perguntado aos Espíritos o que motiva a mudança no caráter do indivíduo, especialmente ao sair da adolescência, quando então se torna adulto. A resposta afirma que os bloqueios [“troubles”] sofridos vão gradativamente sendo eliminados e, entre os quinze e vinte aparece o “caráter real e individual em toda a sua nudez”. Essas afirmações terão grande valor na Filosofia Espírita da Educação, determinando currículos e métodos educacionais de crianças e adolescentes [item 10.5.], e em Filosofia Espírita do Direito, estipulando critérios para ser instituída a idade para a responsabilidade civil e criminal [itens 10:5. e 13.6.].
7.10. Princípio Vital. Vide item 5. 7.
7.11. Perfeição. Todo espírito tende a perfeição. Vide item 6.2.3.[também citado nos itens 9.13., 10.3. e 19.5.].
7.12. Relação corpo e mente. Entendemos a relação corpo e mente como a relação entre o corpo físico e o Espírito. Para o Espiritismo, o Ser [criado] é o Espírito, sendo o corpo físico apenas um instrumento desse, quando encarnado. Portanto, eles não podem ser considerados uma única coisa, como querem as doutrinas monistas. São distintos, porém interagindo mutuamente. Devido a importância desse temos dedicamos o Capítulo XVI ao estudo da relação corpo e mente e o Capítulo 19 sobre o estudo das teorias dualistas e monistas em comparação com o Espiritismo. Vide itens 16.5. e 19.2..
CAPÍTULO VIII
8. TEORIA ESPÍRITA DO CONHECIMENTO
8.1. Intróito.
8.1.1. Teoria do Conhecimento ou “gnoseologia” ou “gnosiologia” é a parte da filosofia que estuda as diferentes teorias a respeito da origem ou fonte do conhecimento, de sua possibilidade, de sua natureza ou essência e de suas formas. O termo “gnosiologia” vem da palavra grega “gnosis” (conhecimento). Como essa palavra já está aportuguesada (“gnose”), muitos autores preferem usar a forma “gnoseologia”. Essa é a que usaremos. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, a teoria do conhecimento é chamada de epistemology. Na França, essa palavra [epistemolgie] significa filosofia da ciência, sentido em que a usamos. Basear-nos-emos em Hesse (5) e Vita (6). Vide item 5.3.
8.1.2. Origem ou fonte do conhecimento.
8.1.2.1. Há duas correntes principais. A racionalista afirma que o conhecimento provém unicamente da razão. A essa pertencem os filósofos racionalistas como Descartes, Leibnitz e Wollf. A empirista afirma que ele origina-se unicamente da experiência sensorial. Seus grandes representantes são os ingleses: Francis Bacon, George Berkeley [nascido na Irlanda], Thomas Hobbes, John Locke, David Hume e os sensualistas franceses (Condiallac, etc.). Kant com suas obras “Crítica da razão pura” e “Crítica da razão prática” colocou uma limitação à razão, admitindo a validade da experiência. Foi o criador do criticismo quanto à origem do conhecimento.
8.1.2.2. A “gnose” – esta palavra em grego (gnosis) significa o “conhecimento” adquirido sem auxílio da razão, proveniente da experiência sensível, da intuição, da revelação, da fé; já o conhecimento que exigisse o uso da razão, do raciocínio era chamado de “epistemé”. Na civilização greco-romana, surgiu uma seita mística que deu um significado particular para o termo “gnose”. Era o conhecimento obtido pela a “iluminação interna”, dispensando a razão, a revelação e o resto. O Ser humano entraria em contato direto com a “Verdade Absoluta”. Isso contrariava o “Platonismo” e o “Neoplatonismo”, pois Platão admitia a “possibilidade do conhecimento” gradativamente, como o exposto no Mito da Caverna, no Diálogo República. Contrariava osaristotélicos, porque não levava em consideração a “razão”. Contrariava os estóicos, pois não valorizava oesforço, o sacrifício. Os “gnósticos” transmitiam seus conhecimentos oralmente, não tendo deixado nada escrito, seguindo uma política de arcanos. Tudo que sabemos deles é através de comentários, opiniões a respeito deles. Hermínio Coréia de Miranda e outros, tentam sincretizar o Gnoticismo com o Espiritismo, mas este admite a “possibilidade do conhecimento” gradativa e acumulativamente (como veremos a seguir), o que seria incompatível com uma “iluminação interna” direta com a “Verdade Absoluta”. Também invalidaria as mensagens mediúnicas que formaram a base dos conhecimentos codificados por Allan Kardec.
8.1.2.3. O Espiritismo admite outras fontes de conhecimento: as idéias inatas, a intuição, a revelação e a fé. Essas, no momento, são admitidas principalmente pelas religiões. As idéias inatas são o conhecimento que já trazemos com o nascimento. As teorias organicistas as aceitam como predisposições genéticas ou distúrbios nas fases embrionárias. As teorias reencarnacionistas, como o cabedal emotivo e cognitvo adquirido em reencarnações passadas. Descartes admitia também as idéias inatas como fonte de conhecimento. A intuição é o conhecimento imediato da realidade, sem passar pela razão e pela experiência sensível. A revelação é o conhecimento dado diretamente por alguém superior à Humanidade [Deus, anjos, Espíritos, Santos, deuses, etc.] ou por missionários humanos diretamente inspirados por algum desses. A fé “(…) é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” [Hebreus 11:1.]. É o conhecimento dado por convicção interior, podendo ou não passar pelo crivo da razão. Essas três últimas fontes dispensam a presença real do objeto a ser conhecido.
8.1.3. Possibilidade do conhecimento. Há a corrente dogmática que assevera que o conhecimento é possível e inquestionável. O precursor dessa foi Parmênides. A outra lhe é oposta. É o ceticismo, que afirma ser o conhecimento impossível. O precursor dessa última foi Heráclito. Descartes tomou uma posição intermediária. Não aceitando o ceticismo, também não admitia o dogmatismo inquestionável. Achava que o conhecimento só era possível através da dúvida metódica. É importante observarmos a diferença entre a duvida cética, que não aceita a possibilidade do conhecimento, e a dúvida metódica de Descartes, que não nega essa possibilidade, sendo ela apenas um meio de se chegar ao conhecimento. É o criticismo quanto à possibilidade do conhecimento [não confundir com o criticismo kantiano que concerne à origem do conhecimento].
8.1.4. Natureza ou essência do conhecimento. A corrente subjetivista ou subjetivismo acha que a natureza ou essência do conhecimento está no sujeito. Essa corrente começou a ser mais adota a partir de Kant. A corrente objetivista ou objetivismo acha que a natureza do conhecimento está no objeto.
8.1.4. Formas ou espécies de conhecimento. Conhecimento intuitivo consiste em conhecer sem mediação do sensório, portanto, intuição é o conhecimento do objeto sem mediação, de maneira direta. Conhecimento discursivo nos fornece o objeto, de modo mediato e indiretamente. Para a Doutrina a primeira dessas formas de conhecimento é fonte [origem] de conhecimento, como veremos.
8.2. Origem ou fonte do conhecimento.
8.2.1. A Doutrina admite como fonte do conhecimento a razão, a experiência sensível, a intuição [aceita como forma de conhecimento para a filosofia oficial], as idéias inatas a revelação e a fé. Essa última forma praticamente forma um binômio com a razão, chamado de fé raciocinada. A intuição, como veremos abaixo, pode ser proveniente de uma revelação ou inspiração dada por um Espírito em sintonia conosco ou fruto de nossas experiências passadas.
8.2.2. Razão. A razão é uma manifestação do Espírito, portanto ele pode tomar conhecimento da realidade através unicamente dela. Contudo, os Espíritos, ainda atrasados na escala espiritual, estão muitos presos à matéria e precisam dela para entrar em contato com a realidade. Somente aqueles que reencarnam excepcionalmente ou não precisam mais reencarnar no mundo físico [Espíritos da primeira e da segunda classe – LE 111 e LE 113] independem da experiência sensível. Citações: LE 19; LE 22 e Nota; LE 25 e 25 A; LE 132; LE 140 A Nota; LE 382;LE 582; LE 405; EE 5:13; e vide nos itens 8.3.2. e 8.4.3.
8.2.3. Experiência sensível. Os Espíritos, que ainda reencarnam no mundo físico para evoluírem, precisam da experiência sensível e concreta para conhecer a realidade. Por isso a experiência sensível é admitida também como fonte ou origem do conhecimento. Nós, que ainda reencarnamos nesse mundo de expiação, precisamos de uma interação entre experiência sensível e razão. Citações:Vide transcrição nos itens 8.3.2.e 8.4.3.: LE 19; LE 22; LE 22 A; LE 22 A NOTA; LE 25; LE 25 A; LE 132; LE 140 A NOTA; LE 142; LE 382; LE 582; LE405; LM 294; EE 5:13.
8.2.4. Intuição. Para a Filosofia e a ciência seculares a intuição é o que foi definido no item 8.1.1.. O Espiritismo admite que esse conhecimento imediato da realidade não ocorre espontaneamente, mas é fruto, ou de um conselho não percebido claramente dado por Espíritos mais evoluídos, ou de recordações vagas de experiências já vividas. LE 393 “Não temos (…) lembrança exata do que fomos e do que fizemos em anteriores existências; mas temos de tudo isso a intuição (…).” No Capítulo IX, da Parte Segunda do LE há um item que aborda o conceito de pressentimento. LE 522 “É [o pressentimento] o conselho íntimo e oculto de um espírito que vos quer bem [isso é uma revelação não ostensiva, mas sim discreta]. Também está na intuição da escolha que se haja feito. [...] antes de reencarnar o espírito tem o conhecimento das fases principais de sua existência [...]”. LE 524 “Os Espíritos protetores nos ajudam com seus conselhos mediante a voz da consciência [...]”. LE 411“Estando o Espírito desprendido da matéria [...] sabe [...] qual a hora da sua morte/ Acontece pressenti-la. [...] tenha intuição do fato. LE 857 “Esse pressentimento lhe vem dos Espíritos seus protetores [...]. Pode vir-lhe também da intuição que tem da existência que escolheu.” EE 14:9 “Nada, com efeito, naquela existência há podido provocar semelhante antipatia; para se lhe apreender a causa, necessário se torna volver o olhar ao passado.” EE 14:9 “Se por culpa vossa ele se conservou atrasado (…).”. EE 14:9 “Imperfeita intuição do passado se revela (…).” EE 14:9 “(…) muitas dentre vós, em vez de eliminar por meio da educação os maus princípios inatos (…).”
8.2.5. Fé raciocinada. Pode parecer estranho a fé como fonte de conhecimento, mas a fé raciocinada não o é. O aluno aceita o conhecimento transmitido pelo professor por um ato de fé raciocinada. A aprendizagem seria inviável se todas as pessoas fossem absolutamente incrédulas. Seria um ceticismo que não possibilitaria o conhecimento. LM 301:3 “(…) é bom não atacar bruscamente os preconceitos”; LM p. 446 “Não basta crer: é preciso, sobretudo, dar exemplos de bondade, de tolerância e desinteresse, sem o que estéril ,será a vossa fé”. EE 5:22 “(…) e crede que Deus é justo em todas as coisas”; EE 10:1”(…) tudo é fácil àquele que crê”; EE 11:13 “[...] somente a fé e caridade pode inspirá-la (a caridade) [...]”; a fé como fonte de inspiração é fonte de conhecimento também. EE 19:2 “As montanhas que a fé desloca são as dificuldades, as resistências, a má-vontade [...]”; esses obstáculos que a fá remove facilitam a aquisição do conhecimento. EE 19:3 “[...] entende-se como fé a confiança que se tem na realização de alguma coisa [...] permite que se veja, em pensamento a meta que se quer alcançar e os meios de se chegar lá [...]”. EE 19:6 “Fé inabalável só é a que pode encarar de frente a razão, em todas as época da Humanidade.” GE 14:12 “A Fé, porém, nas coisas sérias, a fé em Deus e na imortalidade [...] essa está sempre vivaz no coração do homem [...] se erguerá sempre mais forte (…)”. Bíblia: Jo 11:40 “(…) se credes verá a glória de Deus”; Hb 11:1 “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem”. O filósofo George Santayana (1863 – 1952) abordou essa posição em seu livro “Skepticism and Animal Faith” (1923).
8.2.5. Idéias inatas. Tanto em Filosofia como em Ciência, quando falamos em “idéias inatas”, não estamos nos referindo apenas à atividade intelectiva. Incluímos também as emoções, escalas de valores, pendores, etc.. Essa teoria é conhecida por inatismo ou nativismo. As doutrinas opostas, que consideram que a pessoa nasce sem valores prévios e que todos eles se estabelecem a partir do nascimento, são chamadas de tabula rasa. O Espiritismo é inatista [ou nativista]. Os Espíritos ao reencarnarem trazem os valores adquiridos em outras reencarnações. Geralmente, não são nítidos, pois, estão ocultos pelo véu do esquecimento [LE 392] ou podem estar adormecidas, a fim de permiti-lo a desenvolver outras faculdades [LE 220]. A Doutrina afirma que o Espírito ao iniciar sua reencarnação, ligando-se ao ovo embrionário, começa a sofrer muitas perturbações que aumentam gradativamente até o momento do nascimento. A finalidade disso é bloquear o cabedal cármico de modo a tornar a criança mais receptiva à educação que deverá receber. LE 220: “Pode o espírito (…) perder algumas faculdades intelectuais (…)? Sim, desde que conspurcou a sua inteligência ou a utilizou mal. Depois, uma faculdade qualquer pode permanecer adormecida durante uma existência (…). Esta, então, fica em estado latente, para reaparecer mais tarde.”. LE 339: “No momento de reencarnar, o Espírito sofre perturbação semelhante à que experimenta ao desencarnar? Muito maior e sobretudo mais longa.”. LE 340 Nota: !(…) dele se apodera a perturbação que se prolonga até que a nova existência se ache positivamente encetada. À aproximação do momento de reencarnar, sente uma espécie de agonia.”.LE 341: “(…) tem o Espírito uma causa de ansiedade antes da sua encarnação? De ansiedade bem grande (…).”.LE 351: “À medida que a hora do nascimento se aproxima, suas idéias se apagam (…).”.LE 380: “A perturbação que o ato da encarnação produz no Espírito não cessa de súbito por ocasião do nascimento.”. LE 383: “Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito (…) é mais acessível às impressões que recebe (…)” [Vide também LE 385]. LM 284:51.: “Pode evocar-se um Espírito cujo corpo ainda se ache no seio materno? Não. (…) o Espírito está em completa perturbação.” Nota “(…) desde a concepção do corpo, o Espírito (…) é presa de uma perturbação que aumenta à medida que o nascimento se aproxima (…).”.EE 8:4.: “(…) ao aproximar-se-lhe a encarnação, o Espírito entra em perturbação e perde pouco a pouco a consciência de si mesmo, ficando, por certo tempo, numa espécie de sono, durante o qual todas as suas faculdades permanecem em estado latente.”. Esses bloqueios e perturbações nem sempre são completos, podendo ficar algum resquício que vão constituir as idéias inatas: LE 199 Nota “Não se vêem crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a educação?”. Da LE 218 à LE 221, há abordagem específica das idéias inatas. LE 392 vide citação no item 8.2.4.; EE 5:25 ‘São inatas no espírito de todos os homens as aspirações (…).” ; EE 14:9 “É como se explicam esses ódios, essas repulsões instintivas que se notam por parte de certas crianças e que parecem injustificáveis.”; GE 1:38 “(…) o homem traz, ao nascer, o gérmen das suas imperfeições, dos defeitos (…). (…) aquele que progrediu moralmente traz, ao nascer, qualidades naturais, como o que progrediu intelectualmente traz idéias inatas.”. Em LE 370, é falado sobre a diversidade das aptidões. Em 566, há afirmação de que o Espírito cultiva um conhecimento em uma reencarnação e outro em outra. LM 223 nº 4, afirma-se que essas faculdades bloqueadas podem ser despertadas durante o transe mediúnico.
8.2.6. Revelação. Vide definição no item 8.1.1.. LE 20 ‘(…) Deus pode revelar o que à ciência não é dado apreender.”; CI 1ptc5n15p61 “(…) o êxtase é a mais incerta de todas as revelações(…)”. Vide também as citações no item 8.3.2.. Todo o Capítulo I de GE aborda a revelação como fonte de conhecimento: GE 1:7 “(…) das coisas espirituais que o homem não pode descobrir por meio da inteligência, nem com o auxílio dossentidos (…)” [grifos nossos (razão e experiência)]; GE 1:8 “(…) apropriados ao tempo e ao meio em que viviam, ao caráter particular dos povos que a falavam (…)” [a revelação é sempre adequada à época e o local em que surge, não podendo, portanto, sem transportadas literalmente para outros locais e épocas].
8.3. Possibilidade do conhecimento.
8.3.1. Para o Espiritismo o conhecimento é possível, por isso ele não é uma doutrina cética. Por outro lado, o conhecimento é criticável, isto é, só devemos aceitá-lo depois de uma crítica racional. Por isso, ele também não é dogmático. Esta posição pode parecer paradoxal numa análise perfunctória. Na realidade, ela não toma nem posição cética, nem dogmática. O conhecimento só é possível gradativamente e acumulativamente. O Espírito deve começar pelas coisas mais fáceis, mais simples, mais básicas, para chegar às mais difíceis, às mais complexas, às compostas. O ensino deve ser adequado ao nível assimilável pelo Espírito, respeitando às limitações de cada época e de cada lugar. Uma luz forte demais ofusca. A opinião espírita relativa à possibilidade do conhecimento é coincide com a de Cristo: possível, mas só gradativamente [“Porque a vós é dado a conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado (Mt. 13:11; Mc 4:11.;Lc 8:10.); “Com leite vos crie, e não com manjares, porque ainda não podíeis; nem tão pouco agora ainda podeis (1a. Co 3:2.); “Porque, devendo ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento.” 9Hb 5:12., LE 569 “Os Espíritos executam a vontade de Deus e não vos é dado penetrar-lhe todos os desígnios.”]; Todo o Capítulo XXIV do EE discute a possibilidade do conhecimento e obrigação de divulgá-lo. Portanto, opiniões céticas e niilistas são incompatíveis com o Espiritismo. Encontramos referência no EE 1:4..
8.3.2. Nomoteticismo e idiografismo (idiografia) . As doutrinas que admitem a possibilidade do conhecimento podem ser nomotéticas, se admitem leis abrangentes, universais, ou idiográficas, as que não aceitam inteiramente isso ou fazem restrições, só sendo possível a análise individual das coisas, dos fatos. O Espiritismo asseverando que há um Deus criador, providente, que a tudo preside é nomotético. Mas ele reconhece que não podemos conhecer toda a verdade de uma vez, portanto, metodologicamente ele é idiográfico. O fundamento dele de que o conhecimento da verdade é acumulativo e gradativo é um método idiográfico.
8.3.3. CITAÇÕES:
LE 17: ”(…) Deus não permite que ao homem tudo seja revelado neste mundo”.
LE 18: “O véu se levanta a seus olhos, à medida que ele se depura: mas para compreender certas coisas são precisas faculdades que ainda não possui”.
LE 19: “A Ciência foi-lhe dada para seu adiantamento (…), porém não pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu”.
LE 111 “Sua superioridade os torna mais aptos do que os outros a nos darem noções exatas sobre as coisas do mundo incorpóreo, dentro dos limites do que é permitido ao homem saber”.
LE 182: “(…) não devemos revelar todas as coisas (…) nem todos estão em estado de compreendê-las esemelhante revelação os perturbaria“.
LE 392: “Não pode, nem deve, o homem saber tudo”. (…) “Sem o véu que lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transição, saísse do escuro para o claro”.
LE 537 A: “Dia virá em que recebereis a explicação de todos esses fenômenos e os compreendereis melhor”.
LE 560: “(…) há um tempo para tudo”.
LE 581: “Os homens de gênio têm que falar de acordo com a época em que vivem (…)”.
LE 609: “(…) nada se opera na Natureza por brusca transição.”.
LE 610: “Demais há coisas que só a seu tempo podem ser esclarecidas.”
LE 619: “Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem”. “(…) em cada nova existência, sua inteligência se acha mais desenvolvida e ele compreende melhor o que é bem e o que é mal”. LE 628: “Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: o homem precisa habituar-se a ela pouco a pouco; do contrário, fica deslumbrado.”
LE 798 NOTA “As idéias só com o tempo se transformam; nunca de súbito”.
LE 800 “(…) As idéias só pouco a pouco se modificam (…). A transformação, pois, somente com o tempo, gradual e progressivamente, se pode operar”.
LE 801 “Cada coisa tem o seu tempo”.
LE 1014: “É que falam uma linguagem que possa ser compreendida pelas pessoas que interrogam”.
LM 19 “Todo ensino metódico tem que partir do conhecido para o desconhecido.”.
LM 74 XXV “É que o homem está longe de reconhecer todas as leis da Natureza”.
LM 105 “(…) e, provavelmente, ainda se verifiquem ainda outras condições que desconhecemos”.
LM 124 “Importa se não que nos achamos nos primórdios da ciência e que ela está longe de haver dito a última palavra (…)”.
LM 294 “A ciência é obra do gênio; só pelo trabalho deve ser adquirida, pois é só pelo trabalho que o homem se adianta no seu caminho”. “(…) cada coisa tem que vir a seu tempo e quando as idéias estão maduras para receber”. “(…) Tem que progredir em tudo, pelo esforço no trabalho”.
LM 301.3 “Aliás, não é de bom aviso atacar bruscamente os preconceitos. Esse o melhor meio de não ser ouvido. Por essa razão é que os Espíritos muitas vezes falam no sentido da opinião dos que os ouvem”.
LM 301.8 “(…) uma luz muito viva e muito subitânea ofusca, não esclarece”.
LM 302 “(…) da vontade do próprio Espírito, que fala segundo os tempos, os lugares e as pessoas. E que pode julgar conveniente não dizer tudo a toda gente”.
EE INT, II: “Não atacam as grandes questões da Doutrina senão gradualmente, à medida que a inteligência se mostra apta a compreender a verdade de ordem mais elevada e quando as circunstâncias se revelam propícias à emissão de uma idéia nova. Por isso é logo de princípio não disseram tudo, e tudo ainda hoje não disseram(…). Fora, pois, supérfluo pretender adiantar-se ao tempo que a Providência assinou para cada coisa, porque, então, os Espíritos verdadeiramente sérios negariam o seu concurso”.
EE 7:9 “(…) só os cegos não vêem. A esses não quer Deus abrir à força os olhos (…). A vez deles chegará (…)”.
EE 7:10 “(…) não poderia Deus tocá-los pessoalmente, por meio de manifestações retumbantes, diante das quais se inclinassem os mais obstinados incrédulos? É fora de dúvida que o poderia; mas, então, que mérito teriam eles e, aos demais, de que serviria? (…) Esses, se negam assim a reconhecer a verdade, é que ainda não trazem maduro o espírito para compreende-la(…). (…) De que vale apresentar luz a um cego?”
EE 15: 9 “O Espiritismo (…) não pretende ensinar ainda toda a verdade (…)”.
EE 24:4 “Todo ensinamento deve ser proporcionado à inteligência daquele a quem se quer instruir, porquanto há pessoas a quem uma luz por demais viva deslumbraria, sem as esclarecer”. (…)“Cada coisa tem de vir na época própria; a semente lançada à terra, fora da estação, não germina”.
EE 24:5 “(…) a Providência só gradualmente revela a verdade, é claro que as desvenda à proporção que a Humanidade se vai mostrando amadurecida para as saber. (…). Tudo que se acha oculto será descoberto (…)”.
EE 24:7 “Só gradual e sucessivamente consideram as diversas partes já conhecidas da Doutrina, deixando as outras partes para serem reveladas à medida que se for tornando oportuno (…)”.
EE 24:10. “(…) há idéias que são como sementes: não podem germinar fora da estação apropriada, nem em terreno que não tenha sido de antemão preparado, pelo que é se espere o tempo propício e se cultivem primeiro as que germinem (…)”.
EE 26:7 “Deus quer que a luz chegue a todos; não quer que o mais pobre fique dela privado (…)”.
GE INT pf. 5, p. 10 “Era preciso, primeiramente, que as idéias destinadas a lhe servirem de base houvessem atingido a maturidade e, além disso, também se fazia mister levar em conta a oportunidade das circunstâncias. (…) Cada coisa, entretanto, tem que vir a seu tempo, para vir com segurança.”
GE 1:54 “Daí o ser gradativo o ensinam que ministram.”;
GE 1:55 “(…) se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.”
GE 4:2 “À medida que o homem se foi adiantando no conhecimento dessas leis, também foi penetrando os mistérios da criação e retificando as idéias que formara acerca da origem das coisas.”
OP p. 285 “Tu mesmo compreenderás que certas partes só muito mais tarde e gradualmente poderão ser dadas a lume, à medida que as novas idéias se desenvolverem e enraizarem. Dar tudo de uma vez fora imprudente. Importa dar tempo a que a opinião se forme”.
OP p. 293 “Por enquanto, não deves abandonar coisa alguma; há sempre tempo para tudo (grifo nosso); move-te e conseguirás”.
Bíblia, Romanos 12:3. “(…) digo a cada um de vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.”.
8.4. Natureza ou essência do conhecimento.
8.4.1. A posição doutrinária relativa à natureza ou essência do conhecimento é também sui generis. Ela está tanto no sujeito quanto no objeto. O sujeito é que conhece o objeto, mas o objeto também se faz conhecer pelo sujeito. Há uma interação entre Espírito [sujeito que conhece, capaz de usar a razão] e matéria [que é conhecida, capaz de impressionar o sensório]. O espírito atrasado ou ainda na situação de princípio inteligente precisa que a matéria se faça conhecer para ele. O ciclo reencarnatório no mundo físico origina-se disso (LE 132, “Objetivo da encarnação dos Espíritos”). Independentemente do entendimento pelo espírito, o objeto existe por si mesmo.
8.4.2. A conhecida figura usada pela Teoria Gestáltica, em que há uma figura central lembrando um cálice, e uma figura lateral parecendo a imagem especular de um rosto, mostra a subjetividade da percepção que formará o conhecimento. Mas as pessoas, que já conheçam essa figura e que estejam habituadas em interpretá-la, vêem ambas. A oscilação entre figura e fundo deixa de existir e o objeto é conhecido por inteiro. Para o Espiritismo, o mundo é tal como Deus o criou, mas nós percebemos, o sentimos e o interpretamos conforme somos.
8.4.3. CITAÇÕES:
LE 22 “Do vosso ponto de vista, elas o são, porque não falais senão do que conheceis”.
LE 22 A “A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que se serve este e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação”.
LE 22 A NOTA “A deste ponto de vista, pode-se dizer que a matéria é o agente, o intermediário com o auxílio do qual e sobre o qual atua o Espírito”.
LE 25 “O Espírito independe da matéria (…)? São distintos um do outro; mas, a união do Espírito e da matéria é necessária para intelectualizar a matéria”.
LE 25 A “A Essa união é igualmente necessária para a manifestação do Espírito? É necessária a vós outros, porque não tendes organização apta a perceber o Espírito sem a matéria. A isto não são apropriados os vossos sentidos.”
LE 27 “Há então dois elementos gerias no Universo: a matéria e o Espírito? Sim (…).”
LE 132 “(…) para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal (…).”É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.
LE 140 A Nota “A alma atua por intermédio dos órgãos e os órgãos são animados pelo fluido vital”.
LE 142 “Os órgãos, instrumentos das manifestações da alma (…)”.
LE 383 “(…) a utilidade de passar pelo estado de infância?” “Encarnado, com o objetivo de se aperfeiçoar, o Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe (…)”.
LE 582 “Deus colocou o filho (…) dando (…) uma organização débil e delicada, que o torna propício a todas as impressões”.
LE 405 “(…) a alma está mais ou menos sob influência da matéria (…)”.
EE 5:13 “O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por que encare a vida terrena”.
CAPÍTULO IX
9.MORAL E ÉTICA ESPÍRITAS
9.1. Intróito (7):
9. 1.1. As palavras ética e moral são, muitas vezes, empregadas como sinônimas. Elas designariam a parte da filosofia que estuda os valores deontológicos e diceológicos (deveres e direitos) que influenciam a conduta humana.,
9.1.2. Para os estudiosos que fazem distinção entre uma e outra, a ética seria um estudo propedêutico e temático dos valores acima mencionados, enquanto que a moral seria apenas uma atividade normativa.
9.1.3. Na França, não há distinção e a palavra “morale” designa os estudos propedêutico, temático e a atividade normativa.
9.2. Etimologia:
9. 2.1. Ethikos (8), (grego) adjetivo: usual, habitual; através do latim ethicus.
9.2.2. Mos, moris (9), (latim) maneira de se comportar, modo de proceder (física e moralmente), regulado não pela lei, mas pelo uso ou costume.
9.2.3. Pela etimologia, verificamos que as duas palavras têm sentidos semelhantes, o que torna plausível serem usadas como sinônimas. A distinção acima mencionada surgiu com o avanço do estudo sobre o assunto, criando a necessidade de diferenciarmos o estudo propedêutico e temático da atividade normativa.
9.3. Objetivos da ética e da moral:
9. 3.1. A ética, como estudo propedêutico, interessa-se por perquirir os fundamentos dos diversos valores diceológicos e deontológicos das diferentes culturas, das classificações e de seus elementos constitutivos. Por exemplo: fundamento objetivo ou subjetivo dos valores morais; dualismo ou monismo ético [relação entre mal e bem].
9.3.2. A ética, como estudo temático, interessa-se pelas diferentes doutrinas expostas pelos pensadores, filósofos, teólogos, etc. Exemplo: ética em Aristóteles, em Platão, em Santo Agostinho, em Santo Toma de Aquino, em Kant, etc..
9.3.3. A moral, como atividade ou ciência normativa, expõe regras de conduta, de bem viver, define deveres e direitos, responsabilidades, o bem e o mal, distingue o que é certo do errado, de acordo com seus valores culturais. Exemplo: moral cristã, judaica, pagã, oriental. A moral varia espacialmente: a clitoridectomia aceita em civilizações muçulmanas na África é considerada perversidade nas culturas de tradição européia. A moral também varia temporalmente: entre os cristãos já foi lícito castrar meninos para se tornarem eunucos de vozes maviosas para o coral do Vaticano; isso, hodiernamente, seria uma perversidade.
9.3.4. A ética não tem essas preocupações com valores, quer os normatizando, quer os distinguindo. É neutra. Procura apenas dissecar o todo.
9.3.5. Para melhor compreensão prática dessa diferença, damos a seguinte comparação: moral-caráter prático, concreto, específico, imediato e normativo; ética – caráter teórico, abstrato, mediato e reflexivo [especulativo].
9.4. Moral e ética espíritas.
9.4.1. O Espiritismo tem uma moral e uma ética próprias.
9.4.2. Tem uma moral porque sua doutrina apresenta um caráter prático, concreto, específico, imediato e normativo. Sua doutrina considera que o Ser real é o Espírito. O corpo físico é apenas um de seus instrumentos que usa para ascender na escala espiritual. Tudo que retardar essa ascensão é desaconselhável e tudo que acelerar é aconselhável. Isso encerra uma praticidade, uma concretude, uma especificidade, uma normatização.
9.4.3. Tem uma ética porque a Doutrina discute teoricamente os fundamentos dos valores morais e a relação entre o bem e o mal.
9.4.4. Como o objetivo deste trabalho é comentar os elementos filosóficos do Espiritismo, deixaremos a apreciação de sua moral para uma obra futura. No momento, nos ateremos apenas à sua ética, embora sempre haja menção à moral, como veremos..
9.5. A posição ética do Espiritismo. Está exposta nas Terceira e Quarta Partes do LE, no Capítulo XVII do EE e no Capítulo III da GE.
9.5.1. A Parte terceira do LE está intitulada: “Das leis morais”. Aborda os seguintes temas: lei divina ou natural, lei da adoração, lei do trabalho, lei da reprodução, lei da conservação, lei da destruição, lei de sociedade, lei do progresso lei de igualdade, lei da liberdade, lei da justiça, do amor e da caridade, da perfeição moral. O Capítulo XII [Perfeição Moral] da 3ª. Parte do LE [LE 893 - 919] contém mais pormenores da ética e da moral espíritas..
9.5.2. A Parte Quarta do LE trata das esperanças e consolações e tem dois capítulos, o primeiro, “Das penas e gozos terrenos”, e o segundo, “Das penas e gozos futuros”.
9.5.3. O Capítulo XVII do EE [Sedes Perfeitos] apresenta as características do homem de bem e do espírita, conceito de dever, virtude e hierarquia. Portanto, é normativo, expondo a moral espírita. Encontramos outras normas morais em LE Cap. XII da 3ª. Pt, em especial LE 918 (Características do Homem de Bem), EE 5:27 (Devemos ou não tentar abolir ou abrandar as provações do próximo); EE 12. (Amai os vossos inimigos) e LM de 226 a 230 (Influência moral do médium).
9.5.4. O Capítulo III da GE tem por título “O bem e o mal”. Esse capítulo apresenta também prescrições morais.
9.6. Fundamento heterônomo [Vide Justiça e Direito Natural 13.7.].
9.6.1. A LE 614 é clara quando mostra que o fundamento ético do Espiritismo está no objeto e não no sujeito: “A lei natural é a lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve fazer ou deixar de fazer e ele só é infeliz quando dela se afasta” [grifos nossos]. EE 6:“Entretanto, faz depender de uma condição a sua assistência e a felicidade que promete aos aflitos. Essa condição está na lei por ele ensinada. Seu jugo é a observância dessa lei; (…)”; 4. “O Espiritismo (…).(…)chama os homens à observância da lei; (…)”. Para o Espiritismo, a desobediência da Lei é sinal de irracionalidade: EE 9:8. “A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração.”; Em EE 17:9, a Doutrina ensina que o subordinado deve obedecer a seu superior, ao mesmo tempo, que afirma que “A autoridade, tanto quanto a riqueza, (…) é uma delegação de que terá de prestar contas aquele que ache investido.”
9.6.2. Pode surgir dúvida pela resposta à LE 621, quando é afirmado que a lei de Deus está escrita na consciência. Mas, logo a seguir na LE 621 A, é dito que a revelação é necessária, pois o homem esquece e despreza a lei de Deus. Portanto, elimina a hipótese subjetiva. Em GE 1:56 está dito: “A moral natural está positivamente inscrita no coração dos homens; porém, sabem todos lê-la nesse livro? Nunca lhe desprezaram os sábios conceitos? Que fizeram da moral de Cristo? Como a praticam mesmo aqueles que a ensinam? Reprovareis um pai que repita a seus filhos dez vezes, cem vezes as mesmas instruções, desde que eles não a sigam? (…) Por que não enviaria (Deus), de tempos em tempos, mensageiros especiais aos homens, para lhes lembrar os deveres e reconduzi-los ao bom caminho, quando deste se afastam; (…)”. Em LE 630 há a citação: “O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; (…) fazer bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la”. Por essas citações, verificamos que a pura subjetividade é incapaz de seguir a lei de Deus, sendo necessária a presença do objeto para que o sujeito tome conhecimento dela. Portanto, é uma ética heterônima.
9.6.3. Obediência e Resignação. Sendo seu fundamento heterônimo, ser para proceder bem tem que seguir a Lei de Deus (obediência) e a ela se sujeitar (resignação). Em EE 9:8., Há as definições de ambas: “A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração”. A) Obediência. A razão nos ensina que o conviver em sociedade exige a observância de regras, o cumprimento dos deveres e compromissos com o mundo externo a nós. Não somos uma ilha individual, mas sim um arquipélago de seres semelhantes a nós, mas com diferenças. Então, tem que haver uma norma geral para tornar essa convivência possível e não liqüidá-la pelo embate do egoísmo, das individualidades. Erroneamente é interpretada pelo Movimento Espírita Brasileiro. Este, influenciado com as idéias anárquicas da contra-cultura da Década de 60 do Século XX, acha que obedecer com razão: é obedecer só a aquilo com que concordamos. Isso não seria obedecer, mas sim fazer acordo. A obediência é imediata. O Ser reconhece pela cognição a autoridade de quem lhe dá ordens, por isso elas não são discutidas. Em casos excepcionais, em que realmente haja abuso de autoridade, o subalterno deve recorrer a medidas legais, mas nunca a insubordinação. No LE 877 (Lei de Liberdade ), é dito: “A vida social outorga direitos e impões deveres recíprocos” e em LE 878 A “(…) os que se julgam superiores conheçam seus deveres, afim de merecer essas deferências. A subordinação não se achará comprometida, quando a autoridade for deferida à sabedoria”. A obediência com a responsabilidade têm como corolário a liberdade. B) Resignação. Diante de um mal inexorável, de uma situação má irremovível, só resta ao Espírito aceita-la afetivamente, lembrando-se que é oportunidade que Deus lhe deu para resgatar uma dívida passada e sair daquele sofrimento melhor. Entender isso é fácil, difícil é vivenciar essa situação sem desespero. Para isso o Espírito deve estar amadurecido afetivamente ou esse sofrimento o fará ficar assim. O desespero diante do infortúnio só ocorre nos imaturos afetivos. Os amadurecidos vencem estoicamente as atribulações da vida,mesmo sendo pessoas de pouca instrução.
9.7. Monismo ético (relação entre o bem e o mal).
9.7.1. Somente o bem é eterno. O mal é transitório, decorre do não cumprimento da lei de Deus. GE 3: 1 “Sendo Deus o princípio de todas as coisas e sendo tudo sabedoria, (…) o mal (…) não pode ter nele sua origem”. GE 3:6 “Se o homem se conformasse rigorosamente com as leis divinas, não há duvidar de que se pouparia aos mais agudos males e viveria ditoso na Terra” . GE 3:8. “(…) o mal é ausência de bem(…).” “Não praticar o mal já é um princípio de bem. Deus só quer o bem; só do homem procede o mal”. Ge 3:10 “(…) o que era outrora um bem, porque era uma necessidade da sua natureza, transforma-se num mal, não só porque já não constitui uma necessidade, como porque se torna prejudicial à espiritualização do ser”. “(…) a responsabilidade é proporcionada ao grau de adiantamento”. Em GE 3, o autor discorre sobre a relação de bem e mal. No Universo tudo tende à perfeição [vide item 6.2.3.]. O Espiritismo, sob o ponto de vista ético, é monista. Vide item 19.3..
9.8. Critérios para avaliação do Bem.
Sendo bem a única coisa verdadeira no Universo e o mal é apenas uma ausência de bem, um erro transitório, corrigível e reparável, era preciso que a Doutrina deixasse critérios para sua avaliação [moral]. O bem depende unicamente da superação de paixões produzidas pela individuação, tais como inveja, ciúme, egoísmo, orgulho, rancor, vingança, ambição, cupidez, gula, luxúria, etc. Na obra de Kardec há os critérios para se avaliar um homem de bem e uma sociedade [ou doutrina, ou cultura] de bem.
9.8.1. Civilização [entendo-se por sociedades, culturas, doutrinas]: LE 791 “Apurar-se-á algum dia a civilização, de modo a fazer que desapareçam mos males que haja produzido? Sim, quando a moral estiver tão desenvolvida quanto a inteligência” LE 793 “Por que indícios se pode reconhecer uma civilização completa? Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral (…)”. LE 793 Nota: “De duas nações que tenham chegado ao ápice da escala, social pode-se considerar a mais civilizada, (…), aquela onde existe menos egoísmo, menos cobiça, menos orgulho; (…); onde o fraco encontre sempre amparo contra o forte; (…); enfim, onde todo homem de boa vontade esteja certo de lhe não faltar o necessário” [grifos nossos].
9.8.2. Indivíduo [Espírito]: os caracteres do homem de bem estão na LE 918 [prática da lei de Deus em todos seus atos da vida; pratica justiça, amor e caridade; bondade;desapego aos bens materiais e honrarias sociais; indulgente; respeito. Nas LE 919 e LE 919 A há a recomendação de conhecer a si mesmo e como fazê-lo. No EE 17:3, há as características do homem de bem, que são as já citadas, só com um pouco mais de detalhes. No EE 17:4, a dos bons espíritas, “(...) que caracterizam o bom espírita, como o cristão verdadeiro, pois que um o mesmo que é que outro” (...)”Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar duas inclinações más”. EE 20:4 [p.328] “(…)quais os sinais pelos quais reconhecemos os que se acham no bom caminho? (…) pelos princípios da verdade, da caridade que eles ensinarão e praticarão (…)”. EE 18:16 “(…) mas somente aqueles que fazem a vontade de meu Pai, que está nos céus” [Mt 7:21.23].
9.9. Liberdade e livre arbítrio.
9.9.1.Ferrater Mora (10), baseado em Santo Agostinho, distingue liberdade de livre-arbítrio. Liberdade (libertas) designa o estado de bem-aventurança eterna, no qual não se pode pecar. Livre-arbítrio seria a faculdade de se escolher entre o bem e o mal.
9.9.2. Entendemos que para o Espiritismo, livre-arbítrio é também a faculdade de escolher entre o bem e o mal: LE 872 “(…) o espírito procede à escolha de suas futuras existências corporais (…) é nisto (…) que consiste o seu livre-arbítrio. (…). Sem o livre-arbítrio o homem não teria nem culpa por praticar o mal e nem mérito por praticar o bem”. O livre-arbítrio é limitado, pois o espírito que dele abuse, pode reencarnar com ele cerceado: LE 847 “Já não é senhor de seu pensamento aquele cuja inteligência se ache turbada (…) já não tem liberdade”. O livre-arbítrio é limitado, pois pode ser suspenso se o Espírito abusar dele. Instinto e livre-arbítrio têm uma relação inversa; enquanto um cresce o outro decresce: LE 849 “(…) tu, que és mais esclarecido do que um selvagem, também és mais responsável pelo que fazes do que um selvagem é pelos seus atos.”.
9.9.3. Liberdade para o Espiritismo é determinada pela “justa medida”, conforme comentário de Abbagnano (11) sobre Platão: “Foi Platão o primeiro a enunciar o conceito segundo o qual a Liberdade consiste numa justa medida (Leis, 693 e); e ilustrou este conceito no mito de Er. Neste mito é dito que as almas antes da encarnação, são levadas a escolherem o modelo de vida a que posteriormente ficarão presas.” A liberdade de escolha é limitada pela responsabilidade de cumprir [compromisso] as conseqüências dessa escolha. Em LE 825, é perguntado se o homem pode gozar de liberdade absoluta. A resposta é “Não, porque todos precisais uns dos outros, assim os pequenos como os grandes.” LE 826 “Desde que juntos estejam dois homens, há entre eles direitos recíprocos que lhes cumpre respeitar; não mais, portanto, qualquer deles goza de liberdade absoluta..” Para o Espiritismo a liberdade não é independência total. Ela é limitada pela interdependência. LE 840 “Reprimir os atos exteriores de uma crença, quando acarretem qualquer prejuízo a terceiros, não é atentar contra a liberdade de consciência”. Em LE 841, é perguntado se é permitida a intervenção para evitar a propagação de doutrinas perniciosas e a resposta é “Certamente que podeis e até deveis.” Em EE 10:13,é afirmado que é licita a censura desde que seja para profligar o mal. Em EE 10:19.20, é justificada a repreensão aos outros desde que seja feita de maneira amorosa e visando ao bem da pessoa errada e ao exemplo para os demais.
LE 455 “Cabe-nos julgar friamente e pesar-lhes as revelações na balança da razão (p.243).”
LE 840 “Será atentar contra a liberdade de consciência pôr óbices a crença capazes de causar perturbações à sociedade? Podem reprimir-se os atos, mas a crença íntima é inacessível. Reprimir os atos exteriores de uma crença, quando acarretam qualquer prejuízo a terceiros, não é atentar contra a liberdade de consciência, pois essa repreensão em nada tira à crença a liberdade, que ela conserva integral.”
LE 841 “Para se respeitar a liberdade de consciência, dever-se-á deixar que se propaguem doutrinas perniciosas, ou poder-s-á, sem atentar contra a liberdade, procurar trazer ao caminho da verdade os que se transviaram obedecendo a falsos princípios? Certamente que podeis e até deveis (…).”
LE 903 “Incorrerá em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios? Se o fizer,para tirar para tirar daí proveito, para evita-los, tal estudo poderá ser-lhe de alguma utilidade.
LE 904 “Incorrerá em culpa aquele que sonda as chagas da sociedade e as expõe em público? Depende do sentimento que o mova”.
9.10. Intenção. A Doutrina, por ser determinista finalista [Ver Capítulo V], enfatiza muito a intenção. Esta acentua ou atenua os méritos ou os deméritos. Pode parecer que a intenção vale mais que o ato perpetrado, o que seria idealismo absoluto, tipo hegeliano. Achamos que uma análise mais cuidadosa conduz-nos a outra conclusão. O Espiritismo é uma doutrina essencialmente espiritualista. De absolutamente verdadeiro só há a vida espiritual fora da matéria. A vida encarnada é apenas um acidente. A Doutrina é “essencialista”. Isso pode confundir com o idealismo hegeliano, que, não sendo francamente materialista, também não assume uma posição francamente espiritualista. (Vide item 13.4. Responsabilidade). Apresentamos as citações sobre o assunto:
Evangelho segundo São Mateus (12). Capítulo 5. 27. Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. 28. Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. Isso está esplanado no EE 8:5.7.
No Evangelho de São Mateus [Capítulo 20, v. de 1 a 16, Parábola dos Trabalhadores de Última Hora] os trabalhadores são remunerados eqüitativamente pela qualidade subjetiva da tarefa executada e não pela quantidade objetiva [EE 20].
No Evangelho de São Marcos, Cap. 12, v.42, a viúva é julgada pela intenção de doar seu óbulo e não pelo valor intrínseco dele [EE 13:5].
LE 533 A “São os bons ou os maus Espíritos que concedem esses favores? Uns e outros. Tudo depende da intenção”.
LE 584 A “Cada um é recompensado de acordo com suas obras, com o bem que intentou fazer e com a retidão de suas intenções.”
LE 636 “A lei de Deus é a mesma para todos; porém o mal depende principalmente da vontade [intenção] que se tenha de o praticar”.
LE 637 “Eu disse o mal depende da vontade. (…) As circunstâncias dão relativa gravidade ao bem e ao mal. (…) sua responsabilidade é proporcionada aos meios de que dispõe para compreender o bem e o mal”.
LE 641 “Será tão repreensível quanto fazer o mal, o deseja-lo? Conforme. Há virtude em resistir-se voluntariamente ao mal que se deseja praticar, sobretudo quando há possibilidade de satisfazer-se a esse desejo. Se apenas não o pratica por falta de ocasião, é culpado quem o deseja”.
LE 646 “O mérito do bem está na dificuldade em praticá-lo”.
LE 655 “Nisto, como em muitas outras coisas, a intenção constitui a regra”.
LE 670 “Deus, porém, julga pela intenção”.
LE 672 “(…) Deus julga segundo a intenção (…)”.
LE 692 A “Cabe-lhe tornar meritório, pela intenção, o seu trabalho”.
LE 725 “A que propósito (…) inquiri sempre vós mesmos se é útil aquilo de que porventura de trate”.
LE 726 “Os sofrimentos voluntários de nada servem, quando não concorrem para o bem de outrem”.
LE 747 “(…) Deus é justo, julga mais pela intenção do que pelo fato”.
LE 749 “(…) sendo-lhe também levado em conta o sentimento de humanidade com que proceda”.
LE 830 “A responsabilidade, porém, do mal é relativa aos meios de que o homem disponha para compreendê-lo”.
LE 834 “É responsável o homem pelo seu pensamento? Perante Deus, é. Somente a Deus sendo possível conhece-lo, ele o condena e o absolve, segundo sua justiça.”
LE 838 “Será respeitável toda e qualquer crença, ainda quando notoriamente falsa? Toda crença é respeitável , quando sincera e conducente à prática do bem.”
LE 888 A “(…) a ostentação tira o mérito ao benefício”.
LE 893 “A mais meritória [virtude] é a que assenta na mais desinteressada caridade”.
LE 895 “(…) qual o sinal mais característico da imperfeição? O interesse pessoal”.
LE 896 “O desinteresse é uma virtude (…)”.
LE 897 A “(…) faz o bem, sem idéia preconcebida (…)”.
LE 897 B “(…) seja pouco meritório fazermos o bem com a idéia de que nos seja levado em conta na outra vida”;
LE 903 “Incorre em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios? Incorrerá se o fizer para os criticar e divulgar (…). Se o fizer, para tirar proveito, para evita-los, tal estudo poderá ser-lhe de alguma utilidade”.
LE 904 “Incorrerá em culpa aquele que sonda as chagas da sociedade e as expõe em público? Depende do sentimento [intenção] que o mova”.
LE 951 “Não é, às vezes, meritório o sacrifício da vida, quando aquele que o faz visa salvar a de outrem, ou ser útil a seus semelhantes? Isso é sublime, conforme a intenção (…)”.
LE 954 “Não há culpabilidade, em não havendo intenção, ou consciência perfeita da prática do mal”.
EE 5:13 “O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por que encare a vida terrena”.
EE 5:29 “(…) seu propósito é sempre cortar o fio da existência; há, por conseguinte, suicídio intencional (…)”.(…) “Mas, buscar a morte com premeditada intenção (…) anula o mérito da ação”.
EE 5:30 “Desde que no ato não entre a intenção de buscar a morte, não há suicídio e, sim, apenas, devotamento e abnegação (…)”.
EE 9:4 “(…) a intenção agrava ou atenua a falta (…)”,
EE 10:19 “(…) o direito de repreender o próximo? (…) deveis faze-lo com moderação, para um fim útil, e não (…) pelo prazer de denegrir”.
EE 10:20 “Tudo depende da intenção”.
EE 10: 21 “Se as imperfeições de uma pessoa (…) acarretar prejuízo a terceiros deve-se atender de preferência ao interesse do maior número. (…) desmascarar a hipocrisia e a mentira pode-se constituir num dever (…). Em tal caso, deve-se pesar a soma das vantagens e dos inconvenientes”.
CI 2A.Pt. Cap.5 p. OBSERVAÇÕES 300; “A intenção era boa, e isso lhe atenua o mal provocado e merece indulgência (…)”.
CI 2A.Pt. Cap.5 p. OBSERVAÇÕES 309; “A intenção de não faltar aos deveres era, efetivamente, honrosa, e lhes será contada mais tarde (…)”.
9.11.Censura.
9.11.1. O tema censura está envolto em preconceito nessa época em que vivemos, onde predominam o hedonismo e o laxismo [afrouxamento dos valores ético-morais], onde tudo é permitido, a hierarquia é risível, a ordem é opressão e a obediência é submissão. A palavra de ordem é contestar, contestar por contestar, sem o menor fundamento. A única coisa a proibir é proibir. Esse foi o lema das badernas das ruas de Paris em maio de 1968, lideradas pelo filósofo Herbert Marcuse e apoiadas por vários intelectuais como Sartre, Simone de Beauvoir e outros.
9.11.2. A palavra censura em nossa língua é usada em dois sentidos muito próximos: a] repreensão ou b] cerceamento da expressão de idéias.
9.11.3. A censura condenável é aquela que restringe ou anula a expressão das idéias das pessoas responsáveis, com a intenção malévola de impedir a propagação de idéias contrárias ao pensamento do dominador; é fruto do egoísmo, da ambição, da falta de caridade e de respeito.
9.11.4. A censura de idéias ou de hábitos perniciosas, que dificultem a evolução espiritual é desejável. Da mesma forma é a repreensão. A censura moral é um dever de todo aquele que deseje o progresso da Humanidade que reencarna na Terra. A censura, com o sentido de repreensão, só é condenável quando feita de maneira que humilhe o censurado ou quando seu propósito não é construtivo.
9.11.5. Citações:
LE 455/p.243 “Cabe-nos tudo julgar friamente e pesar-lhes as revelações na balança”. Censura no sentido de análise a fim de avaliar se uma revelação pode ou não ser divulgada.
LE 838 “(…) condenáveis são as crenças que conduzam ao mal.” Repreensão e cerceamento de idéias malévolas.
LE 840 “Será atentar contra a liberdade de consciência pôr óbices a crenças capazes de causar perturbações à sociedade?(…) Reprimir os atos exteriores de uma crença, quando acarretam qualquer prejuízo a terceiros, não é atentar contra a liberdade de consciência, pois que essa repressão em nada tira à crença a liberdade, que ela conserva integral.” Cerceamento de crenças perniciosas..
LE 841 “(…) poder-se-á (…) procurar trazer ao caminho da verdade os que se transviaram obedecendo a falsos princípios? Certamente que podeis e até deveis (…). Se alguma se pode impor é o bem e a fraternidade”. Repreensão.
LE 903 “Incorre em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios? Incorrerá em grande culpa, se o fizer para os criticar e divulgar (…). Se o fizer, para tirar daí proveito, para evita-los, tal estudo poderá ser de grande utilidade (…)”. Análise e repreensão de condutas erradas.
EE 10:13 “O reproche lançado à conduta de outrem pode obedecer a dois móveis: reprimir o mal ou desacreditar (…). O primeiro pode ser louvável e constitui mesmo, em certas ocasiões, um dever, porque um bem, poderá daí resultar, e porque, a não ser assim, na sociedade, se reprimiria o mal. (…). Não é possível que Jesus haja proibido se profligue o mal (…). O que quis significar é que a autoridade para censurar está na razão direta da autoridade moral daquele que censura.” Repreensão.
EE 10:19.20.21 Estes três itens têm o título geral [em negritos]: “É permitido repreender os outros, notar as imperfeições de outrem, divulgar o mal de outrem?” Repreensão.
EE 10:19 “Ninguém sendo perfeito, seguir-se-á que ninguém tem o direito de repreender o seu próximo? Certamente que não é essa a conclusão a tirar-se (…). (…) deveis faze-lo com moderação, com um fim útil (…). (…)”. Repreensão.
EE 10:20 “Será repreensível notarem-se as imperfeições dos outros, quando daí nenhum proveito possa resultar para eles, uma vez que não sejam divulgadas? Tudo depende da intenção. Decerto, a ninguém é defeso ver o mal, quando ele existe. Fora mesmo inconveniente ver em toda parte só o bem. Semelhante ilusão prejudicaria o progresso”. Repreensão.
9.11.6. Conclusão:
A Censura [tanto com o sentido de repreensão, como de cerceamento] é permitida e, até mesmo, desejável, quando seu objetivo é profligar o mal. Ela também depende da maneira como é feita. A pessoa censurada não deve ser humilhada com o escarmento público. O censor não deve limitar-se a impedir que uma idéia nociva se propague ou a repreender a pessoa que esteja procedendo erradamente. Deve, ao mesmo tempo que censura, educar aquele que está sendo censurado.
9.12. Exacerbação do mal. A proliferação do mal, em certas épocas históricas, causa a impressão de que a Humanidade está entrando em decadência em vez de progredir. A ética espírita ensina que às vezes é preciso que o mal atinja ao um máximo a fim de provocar o despertar moral. É um remédio amargo que cura. Algumas vezes, é necessário que o mal atinja a um grau máximo, a fim de despertar as consciências, sendo o prenúncio de dias melhores. O desespero causado pelo sofrimento induz o espírito reencarnante a refletir e fazer sua reforma interior. No LE, Cap. 7 da 3ª. Pt, há o título “Flagelos Destruidores”, onde se explica a necessidade ainda deles. Em LE 784 e GE 3:7p.72, Há afirmação de que é preciso que cheguemos ao mal máximo para o despertar da consciência. Precedendo essa afirmação, a LE 532 diz: “Freqüentemente, do que considerais um mal sairá um bem muito maior.”. Citações: LE 737 “ser a (…) destruição uma necessidade para a regeneração moral dos Espíritos (…). Essas subversões (…) são freqüentemente necessárias para que se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos”. LE 738“Necessário (…) que seja castigado no seu orgulho e que se lhe faça sentir sua firmeza”. LE 738 A “(…) nada são os sofrimentos de alguns dias ou de alguns meses (…).” Representam um ensino que se vos dá e vos servirá no futuro”. LE 738 B “Em outra vida, essas vítimas acharão ampla compensação aos seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem sofrimento”. LE “Têm os flagelos destruidores utilidade (…)? Têm. (…). Mas, o bem que deles resulta só as gerações vindouras o experimentam.” LE 739 “Os flagelos são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua inteligência (…).” LE 740 “(…) entre os males que afligem a humanidade, alguns há de caráter geral, que estão no decretos da Providência (…).” LE 744 “Que objetivou a Providência, tornando necessária a guerra? A liberdade e o progresso.” LE 744 A “Escravização temporária, para esmagar os povos, a fim de fazê-los progredir mais depressa”. LE 784 “Faz-se mister que o mal chegue ao excesso, para tornar compreensível a necessidade do bem e das reformas. LE 785 “(…) do próprio mal pode nascer o bem”. LE 916 “Era preciso que o egoísmo produzisse muito mal, para que compreensível se fizesse a necessidade de extirpá-lo”. LE 917 “(…) no dia da justiça, será posto de lado e sofrerá pelo abandono (…) todo aquele que em si somente houver pensado”. LE 926 “Deus algumas vezes permite que o mal prospere (…)”. EE 3:19 A própria destruição, que aos homens parece o termo final de todas as coisas [grifo nosso], é apenas um meio de se chegar pela transformação, a um estado mais perfeito (…)”. EE 20:4 “Sim, em todos os pontos do Globo vão produzir-se as subversões morais e filosóficas; aproxima-se a hora em que a luz divina se espargirá sobre os dois mundos”. GE 3:7/p.72 “Deus (…) pôs o remédio ao lado do mal, isto é, faz que do próprio mal saia o remédio. Um momento chega em que o excesso do mal moral se torna intolerável e impõe ao homem a necessidade de mudar de vida.” (grifos nossos).
9.13. Perfeição. Tudo no Universo tende a perfeição. Vide item 6.2.3. [também citado no item 7.10., 10.3. e 19.5.].
CAPÍTULO X
10. FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO.
10.1. Intróito. A filosofia é o saber humano que tenta explicar a realidade por causas naturais. Essa explicação da realidade mostra como é visto o objeto em estudo, no caso, a educação. E este “como é visto” compreende o conceito que temos do objeto em estudo e à qual finalidade que o destinamos . O conceito e a finalidade de algum saber constituem as políticas ou doutrinas referentes a ele. Filosofia da Educação estuda as diferentes políticas ou doutrinas sobre Educação.
10. 2. Conceito espírita de educação. Para o Espiritismo, educação é um conjunto de hábitos adquiridos [LE 685 A Nota “(...) educação é um conjunto de hábitos adquiridos”]. Dessa definição, decorrerá a orientação para o emprego do método de educar. Esse método deverá sempre observar a aquisição de hábitos. Isso indica que o método não enfatiza nem o sujeito que estuda, nem o objeto estudado. Os hábitos são alheios ao sujeito, são partes do objeto. A cultura onde vive o sujeito é que fornece os hábitos a serem adquiridos. Mas é o sujeito quem os adquire. Qualquer metodologia, baseando-se na Filosofia Espírita da Educação, deverá ser ponderada, considerando a interação entre sujeito e objeto e não, como soe ocorrer com outros métodos, enfatizar um ou o outro (LE 779 “O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente. Mas, nem todos progridem simultaneamente e do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contato social”). O auxílio externo através do contato social mostra que o objeto influencia o sujeito.
10.3. Finalidade espírita da educação. No Livro dos Espíritos, há treze citações que enfatizam que a finalidade da educação visa a elevar o Espírito na escala espiritual, desenvolvendo-lhe a intelectualidade e a moralidade. Vide também itens 6.2.3., 7.10., 9.13. e 19.5..
LE 127 “Eles progridem mais ou menos rapidamente em inteligência como em moralidade”.
LE 192 “(…) ao Espírito cumpre progredir em ciência e moral”. LE 365 “(…) o progresso não se efetua simultaneamente em todos os sentidos. Durante um período de sua existência, ele se adianta em ciência; durante outro, em moralidade”.
LE 366 “O Espírito tem que ter todas as aptidões. [grifo nosso]”.
LE 385 “A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devem faze-los progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos pais [educadores in sensu latu, observação nossa], missão sagrada de que terão dar contas.
LE 560 “Todos temos que habitar em toda parte e adquirir o conhecimento de todas as coisas (…) [grifo nosso]”.
LE 566 “(…) um Espírito (…) cumpre saber tudo para ser perfeito [grifo nosso].”
LE 685 A “Há um elemento (…) sem o qual a ciência econômica não passa de simples teoria. Esse elemento é a educação, não a educação intelectual, mas a educação moral.”
LE 751 “O desenvolvimento intelectual não implica necessidade do bem”.
LE 778 “(…) o homem tem que progredir incessantemente (…) [grifo nosso]”.
LE 780 “O progresso moral acompanha sempre o progresso intelectual? Decorre deste, mas nem sempre o segue imediatamente”.
LE 785 “Há duas espécies de progresso (…) o progresso intelectual e o progresso moral”.
LE 791 “(…) moral estiver tão desenvolvido quanto a inteligência.”
LE 792 A “(…) não progridem simultaneamente todas as faculdades do Espírito”.
LE 796 “Só a educação poderá reformar os homens que, então não precisarão mais de leis tão rigorosas”.
LE 889 “Não há homens que se vêem condenados a mendigarem por culpa sua? Sem dúvida; mas, se uma boa educação moral lhes houvera ensinado a praticar a lei de Deus, não teriam caído nos excessos causadores da sua perdição”.
LE 898 “Nenhum conhecimento é inútil [grifo nosso]; todos mais ou menos contribuem para o progresso, porque o Espírito para ser perfeito , tem de saber tudo [grifo nosso], e porque, cumprindo que o progresso se efetue em todos os sentidos, todas as idéias adquiridas ajudam o desenvolvimento do Espírito.”
LE 967 “Em que consiste a felicidade dos bons Espíritos? Em conhecerem todas as coisas; em não sentirem ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem qualquer das paixões que ocasionam a desgraça dos homens.”
LE 969 [Os Espíritos puros] “(…) conhecem e sabem todas as coisas; dão emprego útil à inteligência que adquiriram, auxiliando os progressos dos outros Espíritos”.
CI 1:3 n. 8 “A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: ao progresso intelectual, pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral, pela necessidade recíproca dos homens entre si e a vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades”.
10.4. Conseqüências da educação. A Doutrina afirma que métodos educacionais evoluem com a marcha do progresso. Tornam-se mais racionais, mais suaves, à medida que a sociedade evolui. Pelas citações abaixo, vemos que um sistema educacional imediatista, orientado pelas e para as leis de mercado, é pernicioso, retardando o progresso, não só do Espírito individualmente, como de toda a sociedade. LE 796 “Uma sociedade depravada certamente precisa de leis severas. Infelizmente, essas leis mais se destinam a punir o mal depois de feito, do que a lhe secar a fonte. Só a educação poderá reformar os homens, que, então, não precisarão mais de leis tão rigorosas.” LE 813 “Há pessoas que, por culpa sua, caem na miséria. Nenhuma responsabilidade caberá disso à sociedade? (…) Já dissemos a sociedade é muitas vezes a principal culpada (…). Demais, não tem ela dever velar pela educação moral dos seus membros? Quase sempre, é a má educação que lhes falseia o critério, ao invés de sufocar-lhes as tendências perniciosas [grifo nosso]”. LE 889 “(…) se uma boa educação moral lhes houvera ensinado a praticar a lei de Deus, não teriam caído nos excessos causadores de sua perdição.” Qualquer política e programa de educação, além da parte moral, devem visar à cultura geral e serem de aplicação universal [atingir todas as camadas sociais]. LE 566. LE 898. EE 26:7 “Deus quer que a luz chegue a todos; não quer que o mais pobre fique dela privado (…)”. LE 495 [p. 258] Homens doutos, instruí os vossos semelhantes; homens de talento, educai os vossos irmãos. (…).Para que vos outorgou Deus a inteligência e o saber, senão para os repartirdes com os vossos irmãos (…).”
Observação.: da LE 813 podemos tirar duas conclusões: 1) compete à sociedade organizada (Estado) providenciar a educação de seus membros; educação é uma obrigação que a sociedade tem para com seus membros e não uma mera mercadoria bursátil; ela não pode, não deve nunca ser objeto de especulação financeira; 2) a má educação age negativamente, não modificando as tendências perniciosas; portanto, a boa educação deve transformá-las em boas qualidades [LE 385 e Nota da LE 685] – o Ser humano não é uma “tabula rasa”, conforme as escolas pedagógicas e psicológicas do século XX admitem..
10.5. Metodologia pedagógica espírita. Achamos que qualquer metodologia pedagógica espírita que venha a ser criada deverá considerar como fonte do conhecimento, além da razão e da experiência, já aceitas pela a Ciência, a intuição [item 8.2.3.], a fé raciocinada [item 8.2.4.] e as idéias inatas [item 8.2.5.]. Terá que ser levada em consideração que o Espírito reencarna com seu cabedal afetivo e cognitivo bloqueado, a fim de torná-lo suscetível a uma boa educação, o que já abordamos no item 7.8..
10.6. Papel do professor. O professor é um transmissor de conhecimentos, de moral, de costumes, de tudo que o aluno precisa para ingressar na vida adulta ou profissional. Não cabe ao professor o mero papel de “facilitador” ou “mediador” como algumas doutrinas pedagógicas da segunda metade do Século XX afirmaram. Ele realmente passa ao aluno saberes que esse desconhece, exercendo uma posição de superioridade hierárquica. LE 779 “O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente. Mas, nem todos progridem simultaneamente e do mesmo modo. Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros(Grifos nossos –“os mais adiantados” são os professores), por meio do contacto social”. LM 224 “Se quiserdes convencer-vos, (…); começai por submeter-vos; não é regular que o discípulo imponha sua vontade ao Mestre”;GE 1:4 “Qual o papel do professor diante dos seus discípulos, senão o de um revelador? O professor lhes ensina o que eles não sabem, o que não teriam tempo, nem possibilidade de descobrir por si mesmos, porque a Ciência é obra coletiva dos séculos e da multidão de homens (…)”.GE 1: 5 “Os homens progridem incontestavelmente por si mesmos e pelos esforços da sua inteligência; mas, entregues às próprias forças, só muito lentamente progrediriam, se não fossem auxiliados por outros mais adiantados, como o estudante é pelo professor”.
10.7. A mentalidade empiricista de nossa Ciência induz os estudiosos a tomarem uma atitude complacente com essa ideologia, mesmo quando encontram provas indicárias de inatismo. Freud com sua teoria da sexualidade não deixa de ser inatista. Jung com seu inconsciente coletivo é inatista. O mesmo ocorreu com os intelectuais que estudaram os processos de aprendizagem. Todos eles constataram que o Ser humano nasce com propensões inatas. Alguns, sem abandonar o empiricismo, julgaram que essas propensões inatas dispensariam a atuação do professor. Por isso, em muita delas o professor foi relegado a um papel secundário de facilitador ou mediador, de instrutor (coach), alguém insignificante que não tinha nada para passar para o aluno. Esse sim, com seu “inatismo”, era o construtor de seu próprio destino. Nisso há um pouco da influência do individualismo calvinista do “american way of life”, conseqüência do “american dream”, como do subjetivismo e do relativismo que dominaram o Século XX. Para o Espiritismo o Espírito recém encarnado é com uma semente. Traz dentro de si (o ADN ou na sigla inglesa DNA), que é o germe de todas suas propensões. Mas como toda semente, se plantada fora de época, não germina. Com água demais ou de menos, não germina. O mesmo ocorre com incidência solar, ventos chuvas, umidade. Fatores externos são tão importantes quantos os “germens inatos”. Parece-nos uma fantasia querer dispensar a ação de um jardineiro para o desenvolvimento eficiente dessa semente. Sem ele, dificilmente chegará a ser planta. O professor é o jardineiro que cuidará desse Espírito reencarnante (semente) até tornar-se uma árvore adulta. Não é um simples mediador ou facilitador – é um preceptor, um tutor , um guia, um MESTRE. Temos que acabar com essa visão romântica, piegas, de colocar o professor em segundo plano. Ele é quem sabe e quem passará para o aluno o saber que deve ser aprendido.
CAPÍTULO XI
11. FILOSOFIA SOCIAL ESPÍRITA.
11.1. Intróito. O Capítulo III, da Parte Terceira do LE, intitulado “Da Lei do trabalho”, expõe a posição doutrinária em relação ao trabalho, ao repouso temporário para refazimento das forças físicas e ao repouso permanente, quer por incapacidade para o trabalho, quer idade.
11.2. Conceito de Trabalho:
11.2.1. É uma necessidade. [LE 674 “O trabalho é lei da Natureza, por isso mesmo que constitui uma necessidade (...)”; EE 25:3 “(...) lhe fez do trabalho uma necessidade(...). (...) os Espíritos não acorrem a poupar o homem ao trabalho das pesquisas (...). (...) os Espíritos não vêm isentar o homem da lei do trabalho: vêm unicamente mostrar-lhe a meta que lhe cumpre atingir e o caminho que a ela conduz (...)”; GE 1:61 “(...) ele se abstêm de nos dar o que podemos adquirir pelo trabalho (...)”.
11.2.2. É toda ocupação útil. [LE 675 “Toda ocupação útil é trabalho.”; LM 295.35º “(...) a verdadeira riqueza está no trabalho.” ];
11.2.3. É meio de aperfeiçoamento espiritual [LE 676 “Sem o trabalho, o homem permaneceria na sua infância(...). (...) seu alimento, sua segurança, e seu bem-estar dependem do seu trabalho e da sua atividade; LM 294.28 “(...) só pelo trabalho o homem se adianta no seu caminho (...). Tem que progredir em tudo, pelo esforço no trabalho.”]. Op p. 37 “Pelo trabalho, que a existência corpórea lhes impõe, eles aperfeiçoam a inteligência e adquirem, cumprindo a lei de Deus, os méritos que os conduzirão à felicidade eterna.”
11.2.4. Comentário: qualquer planejamento sócio-econômico que tenha por conseqüência direta ou indireta o desemprego é anti-doutrinário.
11.3. Finalidade do trabalho [humano]:
11.3.1. Desenvolvimento da faculdade de pensar [intelectualidade] [LE 677 “(...) trabalho (...), ao passo que o do homem visa duplo fim: a conservação do corpo e o desenvolvimento da faculdade de pensar, o que também é uma necessidade e o eleva acima de si mesmo.”; EE 16:13 “(...) o trabalho desenvolve inteligência e exalça a dignidade do homem (...)”. ];
11.3.2. Eleva o trabalhado acima de si mesmo [meio de evolução] [LE 677 idem; EE 16:13 idem]; EE 25:2 “É o princípio da lei do trabalho e, por conseguinte, do progresso, porquanto o progresso é filho do trabalho (…)”; CI 1.3 n° 7 “O progresso é fruto do próprio trabalho (…). (…). A suprema felicidade só é compartilhada pelos Espíritos perfeitos (…) depois de haverem progredido em inteligência e moralidade”; CI 1:3.n.8 “A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: ao progresso intelectual pela atividade obrigatória do trabalho (…)”; CI 8:n.12 “O trabalho é o meio de aquisição, e o fim – que é a perfeição – é para todos o mesmo”.
11.3.3. Comentário: privar o Espírito reencarnado de trabalhar é impedi-lo de progredir intelectualmente e de elevar-se espiritualmente. É o obrigação da sociedade intervir na atividade sócio-econômica toda vez que houver desemprego em massa.
11.4. Natureza do trabalho:
11.4.1. Proporcional à natureza de sua necessidade [LE 678 “A natureza do trabalho está em relação com a natureza das necessidades.”];
11.4.2. Quem dispõe de renda não está isento do trabalho, não pode empregar seu dinheiro só para lazer ou multiplicar sua renda; o que muda é a natureza de seu trabalho; a labuta árdua deve ser substituída pela atividade intelectual [LE 679 “Achar-se-á isento da lei do trabalho o homem que possua bens suficientes para lhe assegurarem a existência? Do trabalho matéria, talvez, não, porém, da obrigação de tornar-se útil, (...) nem de aperfeiçoar a sua inteligência nem a dos outros (...). Aquele a quem? Deus facultou a posse de bens suficientes a lhe garantirem a existência (...) tanto maior lhe é a obrigação de ser útil a seus semelhantes (...)”.
11.4.3. A esmola não é caridade; ela pode ser dada como medida de emergência até que possamos dotar o pedinte de recursos para se sustentar por si próprio – a esmola humilha [LE 888 “Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseie na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa-vontade de alguns.”; LE 889“Deve-se distinguir a esmola, propriamente dita, da beneficência. Nem sempre o mais necessitado é o que pede. O temor de uma humilhação detém o verdadeiro pobre, que muita vez sofre sem se queixar. A esse é que o homem verdadeiramente humano sabe ir procurar, sem ostentação.”; LM 253 (p.310) “Não falo da caridade que consiste em dar e distribuir, mas da caridade da língua; pois, infelizmente, elas não sabem conter as suas e não demonstram, por atos de piedade, o desejo que têm de se livrarem daquele que as atormenta.”; EE 11:14.“A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem, mesmo, nas palavras de consolação que lhe aditeis.”; EE 13:1.“Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita; — a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará.— (S. MATEUS, cap. VI, vv. 1 a 4.)”; EE 13:3. (p. 213) “(...) porquanto aceitar um serviço é coisa bem diversa de receber uma esmola. Ora, converter em esmola o serviço, pela maneira de prestá-lo, é humilhar o que o recebe, e, em humilhar a outrem, há sempre orgulho e maldade.”; EE 13:9. “Direi ainda: não mais pobreza, porquanto, do supérfluo da mesa de cada rico, muitos pobres se alimentariam e não mais veríeis, nos quarteirões sombrios onde habitei durante a minha última encarnação, pobres mulheres arrastando consigo miseráveis crianças a quem tudo faltava.” (contra a concentração de renda); EE 13:14. “Várias maneiras há de fazer-se a caridade, que muitos dentre vós confundem com a esmola. (...). A esmola (...) é quase sempre humilhante(...)”; EE 16:11“(...) a caridade plena de amor, que procura a desgraça e a ergue, sem a humilhar. Rico (...) vai às origens do mal. Alivia primeiro; em seguida, informa-te, e vê se o trabalho, os conselhos, mesmo a afeição não serão mais eficazes do que a tua esmola.”; EE 16:13 “Dever,. Porém, igualmente imperioso e meritório é o de prevenir a miséria. Tal, sobretudo, a missão das grandes fortunas (...) a esmola humilha e degrada.”]. (vide item 12.6.).
11.4.4. O trabalho não é um meio, mas uma finalidade. Ele não é um meio para aumentar a produção e lucro das empresas e enriquecer cada vez mais os grandes empresários e os investidores. Não é também um meio para engrandecer um Estado. Sua finalidade é concorrer para o aperfeiçoamento do Espírito e elevá-lo na escala espiritual. Por isso, o trabalho é uma necessidade espiritual e um dever dos sistemas sócio-econômicos de garanti-lo a todos os espíritos reencarnados. Sistemas sócio-econômicos que exalçam a competição, a concorrência, transformando tudo [incluindo honra e fé] em mercadoria bursátil, excluindo os vencidos, em vez de incentivar a cooperação e a solidariedade dos fortes para com os fracos [LE 820 “Deus a uns deu a força para protegerem o fraco e não para o escravizarem”], é perverso, anti-espírita, obstruindo a marcha de ascensão do Espírito. Exemplo: um Espírito em uma reencarnação é caçador, noutra artesão (ferreiro, marceneiro), noutra sacerdote, noutra guerreiro, noutra comerciante, noutra político [rei, nobre, conselheiro], noutra médico, noutra engenheiro, noutra magistrado; após, essas nove reencarnações, esse Espírito tem um cabedal enorme de conhecimentos e de experiências [“práxis”], além do despertar moral que as vicissitudes o conduzem. LE 560 “Todos temos que habitar em toda parte e adquirir o conhecimento de todo as coisas, presidindo sucessivamente ao que se efetua em todos os pontos do Universo. O espírito precisa saber tudo para ser perfeito [LE 566 “(...) cumpre saber de tudo para ser perfeito.”; LE 898 “(...) porque o Espírito, para ser perfeito, tem que saber tudo (...).”]. No caso de reencarnações, que para nós parecem abjetas, como escravatura, em que o Espírito não goza de cidadania (exercício pleno da diceologia e deontologia cívicas), padece de doenças mentais como autismo, oligofrenias, esquizofrenias, ou vive na mendicância, em que o ele aparentemente nada aprende, devem ser resgates de outras passadas, quando ele se excedeu em orgulho, despotismo ou autoritarismo. Uma ou mais passagem pelas condições mais humílimas sociais ensinam-lhe a humildade, a solidariedade, a cooperação, a noção de que ele não é absoluto no Universo, dependendo dos outros e tendo outros dependendo dele, desenvolvendo sentimento de interdependência.
11.4.5. Vocação. Em LE 207 e 207 A, há afirmação de que os pais não transmitem aos filhos suas qualidades morais e habilidades; a semelhança que pode haver entre eles é fruto da educação e da afinidade prévia que havia antes das reencarnações. Em LE 928 “Evidentemente, por meio da especialidade das aptidões naturais, Deus indica a nossa vocação neste Mundo. Muito de nossos males não advirão de não seguirmos essa vocação? Assim é, de fato, e muitas vezes são os pais que, por orgulho ou avareza, desviam seus filhos da senda que a Natureza lhes traçou.” LE 928 A “A inaptidão para a carreira abraçada constitui fonte inesgotável de reveses.”. Em OP, p. 204 (Cap. A Morte Espiritual da 1ª. Pt.) lemos: “Numa ordem social avançada, tudo se regula de acordo com a lógica das leis naturais e aquele que apenas tiver aptidão para fabricar sapatos não será por direito de nascimento, chamado a governar povos.”. Isso eliminada a forma monárquica de governo, onde o indivíduo torna-se monarca porque herda de seus ancestrais esse título e o direito de governar um Estado. Para governar um povo, um estado, terá que ser por aptidão inata e preparo intelectual durante sua reencarnação. Não haverá nepotismo no preenchimento de cargos. Isso impossibilita também a formação de castas, assim como o monopólio de famílias em determinadas atividades: filho de ferreiro, será ferreiro, de marceneiro, idem, de médico, de militar, o mesmo. A vocação e o estudo específico determinarão a profissão de cada pessoa. Ninguém herdará de pai ou mãe as facilidades de um caminho já aberto, como não terá obrigação, contrariando suas aptidões inatas, de seguir às tradições de família.
11.5. Trabalhar pelos incapazes:
11.5.1. Só é condenável o indivíduo que não trabalha por decisão própria; a sociedade deve amparar o incapaz [LE 642 “(...) cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças.”; LE 643 “(...) ser útil, na medida do possível (...)”; LE 680 “(...) que cada um seja útil, de acordo com suas faculdades.”; LE 779 “(...) os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contato social.”; LE 820 “Deus a uns deu a força para protegerem o fraco (...). (...) Deus apropriou a organização de cada ser às funções que lhe cumpre desempenhar”; LE 822 A “Preciso é que cada um esteja no lugar que lhe compete. (...) cada um de acordo com sua aptidão”; LE 888 [item 11.4.3.; LE 918 “(...) o homem de bem (...) é indulgente para com as fraquezas alheias (...); EE 3:10. “(...) ajudando os mais fortes aos mais fracos.” (vide também EE 17:3.4. e EE 20:4 .]. Os inválidos devem ser amparados pela securidade social e não por obras de beneficência.
11.5.2. Os pais devem trabalhar pelos filhos pequenos, os filhos pelos pais idosos [LE 681 “o adulto deve trabalhar pela criança e o jovem pelo idoso” ]. No Capítulo XX do EE, é abordada a parábola evangélica do “trabalhadores de última hora” [Mt 20:1-5]. Essa narração mostra que o que importa não é a quantidade objetiva do trabalho, mas sua qualidade subjetiva . O importante é o Espírito estar preparado para a tarefa, é a sua intenção. O trabalho executado deverá ser feito quando chamado pelo Senhor. É o que a parábola ensina. No 1º Samuel 30:24, é relatado que David fizera uma marcha forçada para derrotar uma cidade inimiga. Ao vadear um rio, alguns soldados, os mais fracos, não conseguiram fazê-lo e permaneceram na margem. Após a batalha, David ordena que o saque seja distribuído igualmente entre os que lutaram e os incapazes que ficaram na retaguarda, pois eles não participaram do combate por razões alheias a sua vontade. Em relação ao óbulo da viúva [Mc 12:42], o Cristo deixa explícito que se deve exigir conforme a capacidade de produção da pessoa, sendo explicado em EE 13:5 [O Óbulo da Viúva, EE 13.6. “(...) submete-se e se limite a fazer o que possa”]. Ge 1:62 “(…) a solidariedade liga todos os seres, aquém e além da tumba. É o reino da caridade, sob a divisa: ‘Um por todos e todos por um’.”. O dízimo consiste em cada um dar ao Senhor um décimo de sua renda, portanto dar conforme sua capacidade [Gn 28:13, Lv 18:26, Lv 27: 30-35, Nm 18:24, Dt 12:11,Am 4:4, 1Sm 8:15, 2Cr 31:5, Ne 12:44, Mi 3:8-10, Mt 23:33].
11.6. Repouso: é o limite do trabalho. A finalidade do repouso é:
11.6.1. O refazimento das forças físicas.
11.6.2. Dar mais liberdade à inteligência [LE 682 “O repouso serve para a reparação das forças do corpo e também é necessário para dar um pouco mais de liberdade à inteligência a fim de que se eleve acima da matéria.”]. Esse limite é determinado pelo esgotamento das forças físicas [LE 683 “Qual o limite do trabalho? O das forças físicas.”]. Submeter alguém a excesso de trabalho por abuso de poder, inclusive impedindo o repouso remunerado, é transgressão da lei de Deus [LE 273 “Um senhor, que tenha sido de grande crueldade para os seus escravos, poderá, por sua vez, tornar-se escravo e sofrer os maus tratos que infligiu a seus semelhantes.”; LE 684 “Que se deve pensar dos que abusam de sua autoridade, impondo a seus inferiores excessivo trabalho? Isso é uma das piores ações.”; LE 807 “Que se deve pensar dos que abusam da superioridade de suas posições sociais, para, em proveito próprio, oprimir os fracos? Merecem anátema! Ai deles!” ].
11.7. Aposentadoria: repouso remunerado do idoso [LE 685 “O homem tem o direito de repousar na velhice? Sim, que a nada é obrigado senão de acordo com suas forças.”; LE 685 A “O forte deve trabalhar pelo fraco (...) a sociedade deve fazer as vezes desta (da família).É a lei da caridade.”]. Acabar com a aposentadoria, forçar o idoso a continuar trabalhando ou fazer seguro privado para repousar é falta de caridade. A sociedade que se recusa a assumir a manutenção do repouso remunerado do idoso carece de caridade, é cruel. LE 707 “É freqüente a certos indivíduos faltarem os meios de subsistência, ainda quando os cerca a abundância. A que se deve isso? Ao egoísmo dos homens, que nem sempre fazem o que lhes cumpre”. LE 741 “Que não fará, portanto, o homem pelo seu bem-estar material [social], quando souber aliar o sentimento de verdadeira caridade para com seus semelhantes? [grifos nossos]. LE 881 “O direito de viver dá ao homem o de acumular bens que lhe permitam repousar quando não mais possa trabalhar? Dá, mas ele deve fazê-lo em família, como a abelha, por meio de um trabalho honesto (…). Há animais que dão exemplo dessa previdência.”
11.8. Estado de Bem-estar Social [Social Wellfare State]. Na obra codificada por Kardec, não encontramos nenhuma referência explícita a “estado de bem-estar social ou securidade social”, mas podemos depreender de várias citações que a Doutrina defende uma política em que a “sociedade organizada” [Estado] promova o bem-estar social. LE 930 “Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo, ninguém deve morrer de fome” [essa sociedade em que vivemos no presente momento ainda está longe de ser organizada]. Com uma organização criteriosa e previdente [grifos nossos], ao homem só por culpa sua pode faltar o necessário [o Estado deve organizar-se criteriosamente e ser previdente]. (…).Quando praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade e também ele próprio será melhor”. Nota a LE 685 A. Ela apresenta em poucas palavras a essência da Filosofia Social Espírita, da Filosofia Espírita da Educação e da Filosofia Econômica Espírita. Nessa nossa exposição, fizemos várias citações dela. EE 5:20. “Dos progressos já realizados, podeis facilmente deduzir os progressos futuros e, dos melhoramentos sócias conseguidos, novos e mais fecundos melhoramentos.”(Grifos nossos). O n° V do penúltimo capítulo da 2ª. Parte de OP, da p 360 à p. 362, trata das “Instituições acessórias e complementares da comissão central”, defendendo uma política desecuridade social, abordando três pontos: dispensário, que seria assistência à saúde; Uma caixa de socorros e de previdência condições práticas, que teria por finalidade prover pensão de viúves, auxílio doença; um asilo, que seria uma aposentadoria decente. Não menciona ensino gratuito e de boa qualidade, política habitacional, política de abastecimento. Mas, essas não mencionadas deduzem-se dos comentários de Kardec a LE 685. A Doutrina esboça pioneiramente no mundo O Direito Trabalhista e Securitário. O Direito Trabalhista em muitos países, mormente os que seguiam a social-democracia se consolidou, apesar de todas as investida do capital rapace internacional para colocar no bancos privados o comércio de seguros, a maior fonte de capitalização das instituições financeiras. Os itens anteriores de 11.5. a 11.8. e os a seguir mostram em que consiste o DIREITO SECURITÁRIO: o Estado, quer seja a representação política de um grupo étnico-cultural(ou a de uma sociedade constituída por mais de um grupo étnico-cultural) com território definido , tem por obrigação garantir:1) a aposentadoria do trabalhador por tempo de serviço, 2) garantir a preservação das conquistas salariais, 3) auxílio-doença, 4) pensão por viúves, 5) aposentadoria plena por invalidez, 6) escola gratuita para todos, de bom padrão, 7) assistência de bom padrão à saúde e gratuita, 8) auxílo-moradia (planos habitacionais, 9) cooperativas de abastecimentos, 10) transporte barato ou gratuito para ir e vir ao e do trabalho (ou escola), 11) férias anuais remuneradas 30 dias), 12) Repouso remunerado semanal de um dia (preferencialmente no domingo), 13) garantia de lazer, 14) ano sabático ou licença prêmio de 10/10 anos, 15) auxílio maternidade (toda mãe teria garantidas uma pensão por cada filho, no máximo três, e aposentadoria, 16) incorporação ao soldo tempo de serviço periculosidade, insalubridade, penosidade, chefia.
11.9. Filosofia Espírita do Trabalho. Devido à importância que a Doutrina dá à organização do trabalho, podemos afirmar que a Filosofia Social Espírita é também a Filosofia Espírita do Trabalho. Ela pode servir de base para a criação da legislação trabalhista.
11.10. Conclusão: Filosofia Social Espírita:
11.10.1. Os textos emitem esses conceitos: trabalho é um direito, pois é um meio de evolução espiritual; a privação do trabalho (desemprego) é falta de caridade; compete à sociedade (Estado) resolver esse problema; o trabalho não pode ser deixado à mercê do laissez-faire das leis de mercado, não é mercadoria bursátil.
11.10.2. Podemos deduzir o seguinte lema: de cada um conforme sua capacidade [LE 642 “(...) cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças (...)”, LE 643: “ser útil na medida do possível”; LE 509 “Deus não exige do Espírito mais do que comportem a sua natureza e o grau de elevação a que já chegou.”, LE 680: “cada um seja útil, de acordo com suas faculdades”; LE 822 “(...) cada um de acordo com a sua aptidão”. EE 1:10. “(...) a cada um a sua missão, a cada um seu trabalho”. EE 5:18. “Ele muitas vezes vos disse que não coloca fardos pesados em ombros fracos. O fardo é proporcionado às nossas forças, como a recompensa o será à resignação e à coragem (Gálatas 6: Porque cada um levará seu próprio fardo)” EE 11:9. (p.195) “(...) fazei-lhe (...) todo bem que vos esteja ao alcance fazer-lhes.”; CI 1.3.n13 “As atribuições dos Espíritos são proporcionadas ao seu progresso, às luzes que possuem, às suas capacidades, experiência e grau de confiança inspirada (...); CI 1.3.n.14 “(...) grandes missões confiadas aos Espíritos superiores, há outras de importância relativa em todos os graus, concedidas a Espíritos de todas as categorias (...); CI 1.3.n.15 “Todas as inteligências concorrem, pois, para a obra geral (...) cada uma na medida de suas forças(...)”]; a cada um conforme suas necessidades ou mérito [LE 683 “(...) limite do trabalho? O das forças.”; LE 793 Nota “(...) onde todo homem (...) esteja certo de não lhe faltar o necessário (...)”; EE 11:8. “(...) a cada um seja dado o que lhe é devido.”]; o adulto deve trabalhar pela criança [LE 681 “A lei da Natureza impõe aos filhos trabalharem pelos pais? Certamente, do mesmo modo que os pais têm que trabalhar para seus filhos”] ; o jovem, pelo idoso [LE 681]; o forte, pelo fraco [LE 685 A “O forte deve trabalhar pelo fraco”. LE 793 Nota “(...) onde o fraco encontre sempre amparo pelo forte (...)”. LE 820 “Deus deu a força a uns para protegeram os fracos e não para o escravizarem”. LE 886 “(...) quanto mais lastimosa seja a sua posição, tanto maior cuidado devemos pôr em lhe não aumentarmos o infortúnio pela humilhação. O homem (...) procura elevar (...) aquele que lhe é inferior, diminuído a distância que os separa. LE 888 “Uma sociedade que se baseie na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa vontade de alguns” (PREVIDÊNCIA SOCIAL). EE 17:9“(...) fiz-te forte e confiei-te os que eram fracos, para que os amparasses e ajudasses a subir ao meu seio”.]; o perfeito, pelo aleijado; o sadio, pelo doente; o capaz pelo incapaz. LE INT. VI “(…) que cada um deve tornar-se útil de acordo com as faculdades e os meios que Deus lhes pôs nas mãos para experimentá-los; que o Forte e o Poderoso devem amparo e proteção ao Fraco, porquanto transgride a Lei de Deus aquele que abusa da força e do poder para oprimir o seu semelhante”. LE 779 “(…) os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros (…)”. LE 805 “ (…) para que os mais adiantados pudessem auxiliar o progresso dos mais atrasados e também para que os homens, necessitando uns dos outros, compreendessem a lei de caridade que os deve unir”. LE 807 ‘Que se deve pensar dos que abusam da superioridade de suas posições sociais (…)? Merecem anátema!”. LE 820 “Deus a uns deu a força, para protegerem o fraco [...]”. LE 930 “Com uma organização social criteriosa e previdente, ao homem só por culpa sua pode faltar o necessário”. “Quando pratica a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade (…)”. EE 3: 10“Nesses mundos venturosos (…) um laço de amor e fraternidade prende uns aos outros todos os homens, ajudando os mais fortes aos mais fracos.”
11.10.3. Quando os mais aptos devem trabalhar pelos menos capazes, é quando surge a verdadeira solidariedade. Pela Doutrina, não há justificativa que sustente o lema de que o que produz mais deve ganhar mais do que aquele que não faz tanto; é uma questão de solidariedade, os mais capazes ajudarem os menos. Em outras reencarnações passadas ou futuras, estiveram ou estarão na situação desses desafortunados. EE 7:6. p.142 “(…) Será maior no reino dos céus aquele que se humilhar [...] que nenhuma pretensão alimentar à superioridade ou à infalibilidade.”(…). E que os primeiros, ao morrerem levaram consigo que faz a verdadeira grandeza no céu e que não se perde nunca: a virtude, ao passo que os outros tiveram de deixar aqui o que lhes constituía a grandeza terrena e que não se leva para a outra vida: a riqueza, os títulos, a gloria, a nobreza do nascimento.” (…) p. 143 “Não procureis, pois, na Terra, os primeiros lugares, nem vos colocar acima dos outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. Buscai, ao contrário, o lugar mais humilde e mais modesto, porquanto Deus saberá dar-vos um mais elevado no céu, se o merecerdes”. A Bíblia de Jerusalém; Nova Edição Revista; São Paulo; Edições Paulinas; 1986: Mateus 20:1-16 na Parábola dos Trabalhadores da Última Hora, todos ganharam a mesma quantia, tanto os que trabalharam durante a jornada inteira, quantos os que só trabalharam durante a última hora; isso mostra que o mérito não está na quantidade do que é feito, mas na qualidade; a remuneração é dada pelo mérito da intenção e não pelo trabalho efetivamente realizado; o lucro é eliminado como critério de remuneração, elegendo-se a intenção; desde que a pessoa faça o máximo dentro de seus limites, merece tanto quanto outro que tenha feito mais, mas que possui um limite operacional maior; 1º Livro de Samuel Cap.30 v24. “A parte do que desceu ao combate é a parte do que ficou com as bagagens. Faça-se a divisão eqüitativamente.”
11.10.4. Civilização Evoluída. Em LE 793, é perguntado quais os sinais de uma civilização completa (“civilisation complete” no original francês). Entendemos que essa palavra “completa” quer dizer a mais evoluída. A resposta é a que fizer mais homens de bens. Repostas semelhantes encontramos em LE 789 e LE 930. Sobre religião, encontraremos comentários semelhantes em EE 8:10. e GE 2:19 (p.60). Vide item 5:10.
CAPÍTULO XII
12.. FILOSOFIA ECONÔMICA ESPÍRITA.
12.1. Intróito. A Filosofia Econômica estuda a cosmovisão econômica, isto é, como entendemos a concepção de economia e de finanças e como as atividades ligadas a essas áreas devam ser planejadas e conduzidas. Isso pode ser confundido com a História das Doutrinas Econômicas. Enquanto que essa é apenas descritiva, a filosofia procura a correlação com outras áreas de atividades humanas, tentando identificar as correlações com a mesma maneira de ver o Mundo – cosmovisão [Weltanschauung]. A Filosofia Econômica tem imbricações com a Filosofia Social e a Política. É difícil estudar esses três ramos separadamente. Geralmente eles são apresentados na unidade Filosofia Sócio-político-econômica. Nesta obra, por motivos didáticos, esforçamo-nos por apresenta-los separadamente.
12.2.Concepção Espírita da Ciência Econômica. A Doutrina concebe a Economia como uma ciência que procura impedir a concentração de renda na mão de poucos em detrimento do mínimo necessário à maioria.Ela tem por objetivo criar os meios para uma distribuição equânime de renda e procurar o equilíbrio entre produção e consumo. “A ciência econômica procura remédio para isso no equilíbrio entre produção e consumo” (LE 685 A). A expressão “procura remédio” significa uma atitude ativa para resolver os problemas econômicos e não deixar ao laissez-faire et laissez-passer das leis de mercado. A expressão “equilíbrio entre produção e consumo” significa um planejamento e controle pela sociedade da atividade econômica e não um incentivo desenfreado para aumentar o lucro dos que detém o monopólio dos meios de produção. LE 930“Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo ninguém deve morrer de fome”. Para o Espiritismo, a Ciência econômica existe não para gerar riquezas como pregam algumas doutrinas, mas para gerar recursos a fim de assegurar uma existência digna ao Espírito que reencarna neste mundo, visando seu aprimoramento espiritual [intelecto e moral].
12.3. Planejamento econômico. O consumo desenfreado não gera riqueza. Ele é o causador do desequilíbrio na distribuição da renda, concentrando-a nas mãos da elite financeira: LE 704 “(…) só o necessário é útil. O supérfluo nunca o é”. O egoísmo do Espírito que reencarna nesse mundo de expiações conduz essa concentração de renda na mão da elite dominante que a gasta em supérfluos, enquanto que a maioria do povo permanece na miséria, morando em barracos, sem escolas, sem assistência à saúde, sem aposentadoria e subnutrida. Há mendigos por causa da concentração de renda na mão da minoria. A solução seria adistribuição equânime da renda. LE 896 “A riqueza, assim como não é dada a uns para ser aferrolhada num cofre, também não o é a outros para ser dispersada ao vento. (…) uns e outros terão de prestar contas, porque terão de responder por todo o bem que podiam fazer e não fizeram, por todas as lágrimas que podiam ter estancado com o dinheiro que deram aos que dele não precisavam.” LE 707 “É freqüente a certos indivíduos faltarem os meios de subsistência, ainda quando os cerca a abundância. A que se deve atribuir isso? Ao egoísmo dos homens que nem sempre fazem o que lhes cumpre. (…) Para todos há lugar ao sol, mas com a condição de que cada um ocupe o seu e não o dos outros. (…)Por toda a parte a Ciência contribui para acrescentar o bem-estar”. EE 16: 8 “Se Deus a concentra em certos pontos, é para que daí s expanda em quantidade suficiente, de acordo com a necessidade”; EE 25:4 “A Terra produzirá o suficiente para alimentar a todos os seus habitantes, quando os homens souberem administrar, segundo a lei de justiça, de caridade e de amor ao próximo, os bens que ela dá. (…) o momentâneo supérfluo de um suprirá a momentânea insuficiência do outro; e cada um terá o necessário”. Constatamos que a Doutrina atribui à Ciência [econômica] a função de planejar e conduzir as operações econômicas e não deixar ao laissez-faire e ao laissez-passer. LE 711 “O uso dos bens da Terra é um direito de todos os homens? Esse direito é conseqüente da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo”. Em nosso mundo de expiações, grande parte da população não usa plenamente todos os bens da Terra. Concluímos que a concentração de renda infringe a Lei de Deus, legando à grande maioria dos espíritos encarnados uma subvida. LE 719 “Merece censura o homem, por procurar o bem-estar? É natural o desejo de bem-estar. Deus só proíbe o abuso (…). Ele não condena a procura do bem-estar, desde que não seja conseguido à custa de outrem (…) [grifo nosso]. A concentração de renda nas mãos da minoria que detém a posse dos meios de produção é um abuso desse bem-estar e é obtido à custa de outrem – os operários que vivem alienados do produto de seu trabalho. LE 793 (item 14.4) “Por que indícios se pode reconhecer uma civilização completa? Reconhecê-la-eis pelo desenvolvimento moral. (…) Todavia não tereis o direito de dizer-vos civilizados, senão quando houverdes banido os vícios que a desonram e quando viverdes como irmãos (…). Até então, sereis povos esclarecidos, que hão percorrido a primeira fase da civilização.” A humanidade na Terra está numa fase que não pode ser chamada de fraternal, isto é, onde os homens se tratam como irmãos. Vemos num mesmo país párias dormindo nas ruas ao lado de palácios de rajás e marajás. Famílias ricas, que detém o poder financeiro mundial, espoliam um continente inteiro como a África rica em recursos naturais e onde seus habitantes morrem de fome crônica: Biafra, Katanga, Etiópia, etc.. Esse desequilíbrio da distribuição da renda é patognômico do acentuado grau de individuação do Espírito que ainda reencarna na Terra. Precisamos nos reformar interiormente, mas ao mesmo tempo também nosso exterior. Não podemos suportar mais a falta de uma distribuição equânime da renda. LE 808 “A desigualdade das riquezas não se originará da das faculdades (…)? Sim e não. Da velhacaria e do roubo, que dizes?” LE 808 A “Mas, a riqueza herdada (…). (…)busca a fonte de tal riqueza e verá que nem sempre é pura”. LE 809 “(…) a riqueza só vem ter às mãos de um homem, para lhe proporcionar ensejo de reparar uma injustiça” [distribuição equânime de renda]. Estranhamente, em EE 16:8.. Kardec demonstra confundir distribuição equânime de renda com igualitarismo. Afirma que está provado matematicamente que se todos ganhassem igualmente não haveria produção de riqueza e a economia entraria em falência. Distribuição equânime de renda não é igualitarismo. Numa sociedade econômica e socialmente organizada há uma hierarquia de renda, o que não é admissível é a concentração.Parece-nos que Kardec infelizmente não soube fazer a distinção entre hierarquização de renda e concentração de renda e, querendo defender a primeira, acaba por fazer apologia da segunda.
12.4. As provas da riqueza e da miséria. Esse tema é tratado no LE da LE 814 à LE 816 e no EE em todo o capítulo XVI. A miséria é uma prova em que o Espírito precisa ter apenas paciência e resignação [EE 16:8, “A desigualdade das é um dos problemas que inutilmente se procurará resolver, desde que se considere apenas a vida atual. (...) Se Deus a concentra em certos pontos, é para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as necessidades (isto é, ninguém deve manter concentrada a riqueza em suas próprias mãos, deve distribuí-las). (...) a riqueza é um meio de o experimentar oralmente. (...). Cada um deve possuí-la, para se exercitar em utilizá-la e demonstrar que uso sabe fazer dela.”]. LE 815 “(…) a riqueza incita a todos os excessos)”. EE 16:8, p. 267 “ A riqueza constitui uma prova muito arriscada, mais perigosa do que a miséria]. EE 16:8 “[a riqueza] Produz tal vertigem que, muitas vezes, aquele passa da miséria para a riqueza esquece de pronto sua primeira condição, os que com ele compartilharam, os que o ajudaram, e faz-se insensível, egoísta e vão”. É o que ocorre com os “nouveaux riches” [novos ricos], que, no momento, chamamos no Rio de Janeiro de “emergentes”.
12.5. Distribuição equânime da renda. Equanimidade não é sinônimo do conceito atual de “igualitarismo”, que significa demagogia e iconoclastia por destruir o que já há de bom para em cima de suas cinzas criar uma sociedade utópica, criando distorções, pois tratar pessoas diferentes do mesmo modo é tão injusto como fazer discriminações infundadas. A Filosofia Econômica Espírita está quase toda exposta no Capítulo XVI do EE (Não se Pode Servir a Deus e a Mamon). No item 8, Kardec defende a impossibilidade de um igualitarismo absoluto, pois tanto a riqueza quanto a pobreza são experiências pelas quais os Espíritos precisão experimentar: a riqueza emula o orgulho, a ambição, a sensualidade – “A riqueza é um meio de o experimentar moralmente”, “Cada um tem de possuí-la (a riqueza, observação nossa), para se exercitar em utilizá-la e demonstrar que uso sabe fazer dela.” ; a miséria exercita a resignação, a humildade,o desapego aos valores transitórios do mundo profano: “Há ricos e pobres, porque sendo Deus justo, como é, a cada um prescreve trabalhar a seu turno. A pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação.” Disso resulta a desigualdade das riquezas. Isso não isenta os ricos de exercerem a solidariedade social, não acumulando a riqueza em suas mãos. “Se Deus a concentra em certos pontos, é para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as necessidades.” (equanimidade na distribuição de renda, observação nossa). Deploram-se, com razão, o péssimo uso que alguns fazem das suas riquezas, as ignóbeis paixões que a cobiça provoca, (…). Se abusam, não será com decretos ou leis suntuárias que se remediará o mal. As leis podem, de momento, mudar o exterior, mas não logram mudar o coração; daí vem serem elas de duração efêmera e quase sempre seguidas de uma reação mais desenfreada. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho: os abusos de toda espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade. No item 11, os Espíritos nos instruem: “(…) Deus, justo e severo, vos dirá: Que fizeste, ecônomo infiel, dos bens que te confiei? Esse poderoso móvel de boas obras exclusivamente o empregaste na tua satisfação pessoal. Qual, então, o melhor emprego que se pode dar à riqueza? Procurai — nestas palavras: “Amai-vos uns aos outros”, a solução do problema. Elas guardam o segredo do bom emprego das riquezas. Aquele que se acha animado do amor do próximo tem aí toda traçada a sua linha de proceder. Na caridade está, para as riquezas, o emprego que mais apraz a Deus. Não nos referimos, é claro, a essa caridade fria e egoísta, que consiste em a criatura espalhar ao seu derredor o supérfluo de uma existência dourada. Referimo-nos à caridade plena de amor, que procura a desgraça e a ergue, sem a humilhar. Rico!... dá do que te sobra; faze mais: dá um pouco do que te é necessário, porquanto o de que necessitas ainda é supérfluo. Mas, dá com sabedoria. Não repilas o que se queixa, com receio de que te engane; vai às origens do mal. Alivia, primeiro; em seguida, informa-te, e vê se o trabalho, os conselhos, mesmo a afeição não serão mais eficazes do que a tua esmola. (grifos nossos). Difunde em torno de ti, como os socorros materiais, o amor de Deus, o amor do trabalho, o amor do próximo. Coloca tuas riquezas sobre uma base que nunca lhes faltará e que te trará grandes lucros: a das boas obras (grifos nossos). A riqueza da inteligência deves utilizá-la como a do ouro. Derrama em tomo de ti os tesouros da instrução; derrama sobre teus irmãos os tesouros do teu amor e eles frutificarão. — Cheverus. (Bordéus, 1861.)” ; EE 11:5. 9p.168) “Por aquelas palavras quis dizer que até agora os bens da Terra são açambarcados pelos violentos, em prejuízo dos que são brandos e pacíficos; que a estes falta muitas vezes o necessário, ao passo que outros têm o supérfluo. Promete que justiça lhes será feita, assim na Terra como no céu, porque serão chamados filhos de Deus. Quando a Humanidade se submeter à lei de amor e de caridade, deixará de haver egoísmo; o fraco e o pacífico já não serão explorados, nem esmagados pelo forte e pelo violento (grifos nossos). Tal a condição da Terra, quando, de acordo com a lei do progresso e a promessa de Jesus, se houver tornado mundo ditoso, por efeito do afastamento dos maus.” Esse último excerto é um libelo contra a concentração de renda (poder e saber) pela elite dominante.
12.6. Conceito espírita de propriedade: Os textos do Pentateuco Kardequiano falam de propriedade em geral, não especificando se pública ou privada. A propriedade só é legítima quando adquirida pelo trabalho honesto e sem cobiça. Quando adquirida com o dinheiro ganho da especulação imobiliária, sem ser pelo trabalho honesto, motivado pelo egoísmo e não pelo desejo de servir ao próximo, não é legítima, é apropriação indébita. Exemplifica que a propriedade deve ser adquirida em família isso é, comunitariamente, citando o exemplo dos animais sociais. LE 808 “[...] acreditas que a cobiça da riqueza, ainda quando bem adquirida, os desejos secretos de possuí-la o mais depressa possível, sejam sentimentos louváveis? LE 815 “[...] a riqueza incita a todos os excessos.” LE 881 “O direito de viver dá ao homem o de acumular bens que lhe permitam repousar quando não mais possa trabalhar? Dá, mas ele deve fazêzas-lo em família, como a abelha, por meio de um trabalho honesto [...]. Há animais que dão exemplo dessa previdência.” LE 882 “O que, por meio de trabalho honesto, o homem junta constitui propriedade sua , que ele tem o direito de defender, porque a propriedade que resulta do trabalho honesto é um direito natural, tão sagrado quanto o de trabalhar e de viver.” LE 884 “A propriedade legítima só é a que foi adquirida sem prejuízo de outrem”. LE “[...] tudo o que legitimamente se adquire constitui propriedade. Mas [...]a legislação dos homens [...]consagra muitos direitos convencionais, que a lei de justiça reprova. Essa razão porque eles reformam suas leis, à medida que o progresso se efetua e que melhor compreendem a justiça.” “EE 16:9 p.271 “O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo”. [...] Que é então o que ele possui? Nada do que é do uso do corpo; tudo do que é do uso da alma[...]”. EE 16:9 “O homem só possui em plena propriedade quilo que lhe é dado a levar desse mundo”. O espírito não pode levar para o mundo espiritual terras, palácios, iates, aviões particulares, ações bursáteis. Esses bens ele deixará obrigatoriamente no mundo encarnado. Portanto, isso não pode constituir propriedade privada. O espírito encarnado pode apenas usufruir esses bens, sem deter-lhes a propriedade. Essa deverá ser regida pelo órgão que cuide do bem-estar público. “Forçado, porém, que é abandonar tudo isso, não tem das suas riquezas a posse real (grifo nosso), mas, simplesmente, o usufruto. Que é então o que ele possui? Nada do que é uso do corpo; tudo o que é de uso da alma (…)” [EE 16:9, p. 271]. “Os bens da terra pertencem a Deus (…), não sendo o homem senão o usufrutuário (…). (…) uma propriedade só é legitimamente adquirida quando, da sua aquisição, não resulta dano a ninguém.” [EE 16:10, p. 272]. EE 16:13“Sendo o homem o depositário, o administrador dos bens que Deus lhe pôs nas mãos, contas severas lhe serão pedidas do em prego que lhes haja dado [...]. “o mau uso consiste em os aplicar exclusivamente na sua satisfação pessoal.[...] Dever, porém, igualmente imperioso é prevenir a miséria.” Propriedade de qualquer natureza adquirida através do trabalho escravo, da especulação financeira, do jogo, da exploração das fraquezas alheias, da alienação do produto do trabalho, do subemprego, das políticas de rapacidade, são ilegais. EE 16:14 p. 276 “O amor aos bens terrenos constitui um dos mais fortes óbices ao vosso adiantamento moral e espiritual.” p.277 “Sois depositários e não proprietários, não vos iludais. [...] quando somente em vosso proveito usais do que vos confiou, que sois, senão depositários infiéis.” EE 16:14 p.280 “Deus concede a quem bem lhe parece, a fim de que administre em proveito de todos [grifo nosso]”. (…) “(…) a riqueza não é necessária à felicidade”. Sobre propriedade há no LE 880 à LE 889 em negrito “Direito de propriedade. Roubo” em EE 16:9.10. “A verdadeira propriedade”.
12.7. Esmola. A esmola não é caridade LE 886 “A caridade [...] não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes [...].”LE 888 “Condenando-se a pedir esmola, o homem de degrada física e moralmente: embrutece-se. O resgate de nossas faltas não é feito “[...[ mediante algumas privações pueris, ou distribuindo em esmolas o que possuirdes [LE 1000].” Ela deve ser dada como uma solução de emergência: EE 9:7. “A caridade que consiste na esmola dada aos pobres é a mais fácil de todas. Outra há, porém, muito mais penosa e, conseguintemente, muito mais meritória: a de perdoarmos aos que Deus colocou em nosso caminho para serem instrumentos do nosso sofrer e para nos porem à prova a paciência.”; EE 11:14 “A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais [...]”. O mais adequado é o Estado tomar medidas que evitem haver mendicante, pois a esmola humilha e degrada. “Rico!…dá do que sobra; faze mais: dá um pouco do que te é necessário [grifo nosso], porquanto o de que necessitas ainda é supérfluo [distribua melhor a renda, não a concentre em suas mãos!]. (…) vai às origens do mal. Alivia, primeiro; em seguida, informa-te e vê se o trabalho, os conselhos, mesmo a afeição não serão mais eficazes do que a tua esmola” [EE 16: 11, p. 274]. “Dever, porém, igualmente imperioso e meritório é o de prevenir a miséria. (…) o trabalho desenvolve a inteligência exalça a dignidade do homem, facultando-lhe dizer, altivo, que ganha o pão que come, enquanto que a esmola humilha e degrada. A riqueza concentrada em uma mão deve ser qual fonte de água viva que espalha a fecundidade e o bem-estar ao seu derredor”[distribuição equânime da renda] (EE 16:13, p.275). “(…) daí esmola quando for preciso; mas, tanto quanto possível, convertei-a em salário, a fim de aquele que a receba não se envergonhe dela [EE 16: 13, p. 276]. (Vide item 11.4.3.)
12.8. Herança. Os bens adquiridos pelo trabalho honesto são mais legítimos que os adquirido por herança. “(…) bens hereditários, porém, não relativamente adquiridos pelo trabalho. Sem dúvida alguma; se há riquezas legítimas, são estas últimas, quando honestamente adquiridas (…) [EE 16:10, p. 272]. O direito de transmissão de herança é o direito que o espírito tem de transmissão do direito que recebeu de ter por empréstimo divino os bens materiais (EE 16: 15).
12.9. Finalidade da Ciência Econômica. Ela tem por finalidade servir ao homem, fornecendo-lhe um programa de bem-estar social: aposentadoria, auxilio doença, pensão por invalidez, pensão por viuvez, assistência integral à saúde, à educação, à moradia, ao transporte , à alimentação, ao lazer. Isso está exposto da LE 674 à LE 685 A e já foi explanado no Capítulo XI.
CAPÍTULO XIII
13. FILOSOFIA ESPÍRITA DO DIREITO .
13.1. Intróito. Como repetimos freqüentemente, a Filosofia tenta explicar a realidade por causas naturais, o que a leva a especular, em última análise, a cosmovisão de um determinado saber. A Filosofia do Direito tem algumas correlações com a ética, pois é, em parte a aplicação prática de princípios éticos. Ela estuda deveres, direitos, natureza das leis, responsabilidade, ilicitude. Neste capítulo comentaremos a posição do Espiritismo em relação a esses temas.
13.2. Lei natural ou lei divina. Para o Espiritismo, a Natureza é uma criação de Deus, portanto a lei natural se identifica com a lei divina, não havendo separação absoluta entre profano e Sagrado: LE 614 “A lei natural é a lei de Deus”. A lei de Deus “é eterna e imutável como o próprio Deus” [LE 618]. Portanto, ela é universal temporal e espacialmente. Seu conhecimento é universal, mas sua compreensão fica adstrita ao grau d evolução do Espírito: LE 619 “Todos podem conhecê-la mas nem todos a compreendem”. Ela está escrita “na consciência” [LE 621], porém, o Espírito, ainda em evolução a esquece e a despreza [LE 621 A], precisando ser lembrado pela revelação; GE 1:56 “(…) moral inscrita nos coração do homem, porém, nem todos sabem lê-la”. Essas asserções mostram o valor da revelação, pelo menos para nós que ainda reencarnamos em um orbe de expiação. Elas indicam também que a Doutrina não se coaduna perfeitamente com conceitos gnósticos. O conhecimento da lei divina é gradativo e acumulativo, Só aos pouco o espírito compreende-a em totalidade: LE 619 “(…) em cada nova existência sua inteligência se acha mais desenvolvida e ele compreende melhor o que é bem e o que mal”; LE 628 “Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: o homem precisa se habituar com ela, pouco a pouco; do contrário fica deslumbrado”. Já a lei criada pelos homens tem por objetivo regular os interesses e por isso variam segundo os costumes e necessidades locais [EE 22:2: “(...) a lei civil tem por fim regular os interesses entre as famílias, interesses que variam segundo os costumes e as necessidades locais”].
13.3. Culpabilidade. Dolo: LE 636 “(…) o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar”; LE 637 “Eu disse que o mal depende de sua vontade”. Vide item “13.6 Omissão” e “13:11 Atenuantes e Agravantes”.
13.4. Responsabilidade. A responsabilidade do bem ou do mal perpetrado recai sempre no causador primário. ”. LE 636 “(…) porém, o mal depende primeiramente da vontade que se tenha de o praticar.”. LE 637“As circunstâncias dão relativa gravidade ao bem e ao mal. (…). Mas, sua responsabilidade é proporcionada aos meios de que ele dispõe para compreender o bem e o mal.”. LE 639:“(…) cada um será punido, não só pelo mal que haja feito, mas também pelo mal a que tenha dado lugar.”. LE 640: “Há virtude em resistir-se voluntariamente ao mal que se deseja praticar (…)”. LE 642:“(…) cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo o mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”. LE 655: “(…) a intenção constitui a regra.”. LE 830: “A responsabilidade, porém, do mal é relativa aos meios de que o homem disponha para compreendê-lo”.(os grifos são nossos) LE 871 “A prova não tem por finalidade dar de Deus esclarecimento sobre o homem, pois que Deus sabe perfeitamente o que ele vale, mas dar ao homem toda a responsabilidade de usa ação, uma vez que ele tem liberdade de fazer ou não fazer”. LE 872 “(…) e se lhe diz que, praticando o mal, ele cede a uma sugestão estranha e má, em nada lhe diminui a responsabilidade, pois lhe é muito mais fácil do que lutar contra a própria natureza. Assim, de acordo com a Doutrina Espírita, não há arrastamento irresistível (…)”. Bíblia: Deuteronômio: 24:16 “Os pais não morrerão pelos filhos, os filhos pelos pais; cada um morrerá pelo seu pecado.”; 2Reis 14:6 “(…) mas cada um será morto por seu pecado.”;2Crônicas 24:6 “Não morrerão os pais pelos filhos, nem os filhos pelos pais;mas cada um morrerá por seu pecado.”; Jeremias: 31:30 “Mas cada um morrerá pela sua iniqüidade(…).”; Ezequiel: 14:20 “(…) que nem filho nem filha eles livrariam, mas só livrariam as suas próprias almas pela sua justiça.”; Ezequiel 18:20 “(…) o filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho: a justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele.”; Ezequiel: 18:23 [33:11-19] “desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? Dia o Senhor Jeová: não desejo antes que se converta dos seus caminhos e viva?’; Romanos 14:12 “(…) cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus”. Pela doutrina que a responsabilidade está mais na intenção do que na ação. Embora na Codificação não esteja explícita, a culpabilidade pode ser por dolo ou culpa. A culpabilidade é proporcional aos meios que o Espírito teve para se aprimorar, portanto, a responsabilidade será assim cobrada. O mal também pode ser considerado indireto. O agente que se omita por praticar o bem e que resulte em mal a outras pessoas, será considerado culpado. A omissão do bem é considerada culpabilidade pelo mal que resulte disso.
13.5. Co-responsabilidade. As pessoas, que induzem outras a praticarem o mal ou são coniventes ou se aproveitam da situação, são tão culpadas quanto o próprio agente: LE 639 “Não sucede freqüentemente resultar o mal, que o homem pratica, da posição em que os outros homens o colocam? Quais, nesses casos, os culpados?”. (…)“Porque, cada um será punido, pelo mal que haja feito, mas também pelo mal a que tenha dado lugar”; LE 640 “Aquele que não pratica o mal, mas se aproveita do mal praticado por outrem, é tão culpado quanto este? É como se o houvera praticado. Aproveitar do mal é participar dele”.
13.6. Responsabilidade penal e Capacidade civil. Vimos no item 7.8. que a partir da fecundação o Espírito começa a sofrer bloqueios de seu cabedal afetivo e cognitivo e se intensifica à medida que se aproxima o momento do nascimento. Em LE 380 é dito que esse bloqueio não desaparece repentinamente e, na LE 385, que ele se conclui de 15 a 20 anos após o nascimento. Nessa última citação, é afirmado também que a finalidade desse bloqueio é para tornar a criança suscetível a uma educação e a uma evangelização que a ajude a vencer suas propensões más. De acordo com o Espiritismo, somente a partir do 20 anos é temos a segurança de o Espírito reencarnado estar de posse plena de todo seu cabedal afetivo e cognitivo trazido do passado e os adquiridos pela educação e evangelização na atual reencarnação. Somente a partir dessa idade é poderá ser considerado plenamente apto a responder civil e penalmente por seus atos ou omissões e ser capaz civilmente. Vide também item 10.5..
13.7. Omissão. LE 642 “Para agradar a Deus e assegurar sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal? Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo o mal que haja resultado de não praticar o bem” [grifo nosso]. CI [p.369] “(…) o mal é oriundo da negligência do bem[grifo do autor]. Ficai bem certos de que não basta abster-vos de faltas: é preciso praticar as virtudes que lhe são opostas.”
13.8. Progresso da legislação humana. A legislação humana também é necessária, pois o estado de civilização cria necessidades novas: LE 794 “Poderia a sociedade reger-se unicamente pelas leis naturais? (…) A sociedade tem a suas exigências. São-lhe necessárias as leis especiais”. LE 795 “Qual a causa da instabilidade das leis humanas? Nas épocas de barbaria, são os mais fortes que fazem as leis e eles fizeram para si. À proporção que os homens foram compreendendo melhor a justiça, indispensável se tornou a modificação delas. Quanto mais se aproximam da Vera justiça, tanto menos instáveis são as leis humanas (…)”. LE 796 “Uma sociedade depravada certamente precisa de leis severas. Infelizmente, essas leis se destinam mais a punir o mal depois de feito, do que a secar a fonte. Só a educação poderá reformar os homens, que, não precisarão mais de leis tão rigorosas”.
13.9. Justiça e direitos naturais. O fundamento do conceito espírita de justiça é autônomo, isto é, baseia-se no direito pessoal, embora seu fundamento ético seja heterônomo – a lei de Deus (item 9.6.): LE 873 “O sentimento de justiça está em a natureza, ou é resultado de idéias adquiridas? (…) Deus o pôs no coração do homem”. Esse sentimento de justiça é inato, por isso o fundamento da justiça é autônomo, divergindo do fundamento ético que é a lei de Deus. O Espiritismo é uma doutrina inatista. LE 876 “(…) qual a base da justiça , segundo a lei natural?” (…) Queira cada um para os outros o que quereria para si mesmo. (…) o critério da verdadeira justiça está em querer cada um para os outros o que para si mesmo quereria e não em querer para si o que quereria para os outros. (…) prevalece o direito pessoal. A sublimidade da religião cristã está em que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo”. A pergunta é sobre a base da justiça segundo a lei natural. A resposta apresenta o direito pessoal como a base do direito do próximo. Parece-nos que o autor superpôs o conceito de lei natural com direito do próximo. O direito do próximo pode ser baseado no direito pessoal, mas a lei natural não. Ela já existe antes de existir o sujeito. Ela é o objeto. O direito pessoal pode ser a base da justiça humana. A lei natural ou lei divina é feita por Deus, pelo Criador, e, portanto, não pode ser baseada nos conceito humanos, da criatura. Para o Espiritismo, a finalidade da punição é educar o espírito de modo a torna-lo capaz de reparar o mal que causou . Penas que visem “vingar a sociedade ofendida”, “a castigar para que sirva de exemplo”, “a intimidar o possível infrator” são contra Doutrina. A punição não pode impedir o espírito de aprender, de trabalhar, de reparar o mal que fez. O simples encarceramento, a prisão perpétua, a pena capital, os flagelos, as humilhações, o escarmento público, o suplício, são, no mínimo inócuas, mas geralmente perniciosas, pois, não educando o espírito infrator, deixa-o revoltado, sem esperança, alimentando desejos de vingança, retardando-o por mais tempo sua evolução na escala espiritual. Para o Espiritismo, tudo deve visar ao aprimoramento espiritual. O espírito que cumpre uma punição deve trabalhar para se sustentar, concorrer para sua segurança na doença, na velhice. Um sistema penal que liberta um preso após trinta anos de prisão e o deixa sem amparo na velhice é anti-doutrinário.
13.10. Direito de propriedade. Roubo. Esse tema é abordado da LE 880 à LE 885 e no EE 16:9.10. Os textos não fazem uma distinção clara entre propriedade pública e privada. Falam genericamente apenas empropriedade. A propriedade legítima é somente a obtida pelo trabalho honesto [LE 882 “O que, por meio do trabalho honesto (grifo do autor), o homem junta constitui legítima propriedade sua, que ele tem o direito de defender, porque a propriedade que resulta do trabalho honesto é um direito natural”]. A citação pode dar a entender que o autor se refere somente à propriedade privada. Devemos lembrar que a palavra “homem”, tanto na língua portuguesa, quanto no original francês [homme], significa ser humano. Portanto o texto refere-se indiferentemente tanto à propriedade privada quanto à pública. Referência específica à propriedade privada está em : EE 16:9 “O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo. (…) não tem das suas riquezas a posse real, mas, simplesmente, o usufruto. Que é que possui então? Nada do que é de uso do corpo; tudo o que é de uso da alma (…).”. EE 7:6 “(…) a verdadeira grandeza no céu e que não se perde nunca: as virtudes, ao passo que os outros tiveram de deixar aqui o que lhes constituía a grandeza terrena e que não se leva para a outra vida: a riqueza, os títulos, a glória, a nobreza de nascimento”.
13.11. Penalidades, circunstâncias. A pena a ser aplicada a um infrator deve ter por finalidade induzi-lo ao arrependimento e ajuda-lo a reparar, pelo menos parcialmente, os danos que causou. Cumpridas essas duas finalidades, não há razão para manutenção da punição. Para a Doutrina, a penalidade não tem por objetivo “vingar” a sociedade ofendida, nem fazer o preso expiar sua falta. A aplicação da expiação cabe a Deus. Por isso, ela não admite a prisão perpétua. Não devemos cair no extremo oposto de deixar indivíduos de alta periculosidade, muitas vezes motivada pela vesânia, no convívio social. Há que segregá-los, a fim de preservar o bem-estar social. Essa segregação deve ser feita em ambiente que tente reeducar, levando-o ao arrependimento e a reparação. Se o delinqüente não for receptivo a essa reeducação, deverá ser mantido segregado enquanto durar sua periculosidade. A pena de morte não resolve o problema. O Espírito que delinqüiu, quando encarnado, continuará o mesmo após sofrer a pena capital, podendo isso agravar pela revolta sua rebeldia, e passar a formar as legiões de desencarnados que molestam os encarnados. LE 761 “(…) é preciso abrir e não fechar ao criminoso a porta do arrependimento.”. CI 2:6 [p.355]”Falha é, porém a justiça dos homens; uma falta muita vez passageira leva o homem ao cárcere (…).”. Devemos levar em consideração para o estabelecimento da idade para cobrança da responsabilidade civil e penal. Isso já foi explanado no item 7.8..
13.12. Atenuantes e agravantes. Sendo o Espiritismo uma doutrina evolutiva, as circunstâncias têm valor preponderante em qualquer julgamento. Uma determinada ação ou idéia, pode variar seu conteúdo ético conforme a época e o local. Isso não significa que o Espiritismo aceita a relatividade absoluta dos valores éticos, o que redundaria em um ceticismo nessa esfera. Existe uma Verdade Absoluta imutável, mas na incapacidade de conhecê-La plenamente, temos que nos sujeitar às limitações de nosso conhecimento. Por isso, nossa falibilidade tem levar em conta sempre as circunstâncias no momento do julgamento. A “coisa em si” como a Filosofia Estruturalista, do final do Século XX, valoriza, sem considerar o contexto, é incompatível com ele. Para o Espiritismo o “texto” tem que ser examinado dentro do “contexto”. LE 637 “As circunstâncias dão relativa gravidade ao bem e ao mal (…) sua responsabilidade é proporcionada aos meios de que ele dispõe para compreender o bem e o mal”. LE 830 “A responsabilidade, porém do mal é relativa aos meios de que o homem disponha para compreendê-lo. Aquele que tira proveito da lei da escravidão é sempre culpado de violação da lei Natureza . Mas, aí, como em tudo, sua culpabilidade é relativa. [Vide os itens 9.9 e 15.2.4.. Intenção: LE da 629 à 646 e todo o Capítulo III de GE (O bem e o mal)]. CI 2:7 [p.344] “(…) as mesmas faltas ainda que cometidas em circunstâncias idênticas, são diversamente punidas, conforme o grau de adiantamento do Espírito delinqüente”; CI 2:7 [p.365] “A justiça humana não faz a distinção de individualidades (…); medindo o crime pelo próprio crime, fere indistintamente os infratores(…). De modo diverso procede a justiça divina, cujas punições correspondem ao progresso dos seres aos quais elas são infligidas [grifo do autor]. Igualdade de crimes não importa, de fato, igualdade individual (…)”.
13.13. Penitenciarismo.Um sistema penitenciário não pode deixar o preso sem trabalhar, pois o está impedindo de evoluir espiritual e intelectualmente; não pode também deixá-lo de ter um convívio social: sela surda, isolamentos são contra indicados; de alguma maneira o preso deve participar de convívio social, pelo menos dentro dos próprios presídios ou fazendo trabalhos compulsórios extra-cárcere. CI 1:3 n.8 “A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: ao progresso intelectual pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral pela necessidade recíproca dos homens entre si a vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades”.
13.14. Direito Securitário.Vimos no item 11:8, que a Doutrina, apesar de não expor explicitamente, é pioneira no Direito Trabalhista e no Direito Securitário.
CAPÍTULO XIV
14. FILOSOFIA ESPÍRITA DA HISTÓRIA.
14.1. Intróito. A Filosofia da História estuda as várias concepções da História. Há opiniões que consideram a História como uma série de causas e conseqüências. Outras consideram os acontecimentos históricos como fatos isolados, sem intercorrelações entre si. Outras julgam que os fatos da Historia são fruto da Providência Divina, mais do que seqüência de causas e conseqüências; são finalidades determinadas por Deus, que, geralmente, não temos condições de entendê-las. A posição do Espiritismo em relação da História nos parece ser essa terceira: a História cumpre finalidades da Providência Divina. LE 536 “São devidos a causas fortuitas, ou, ao contrário, têm todos um fim providencial, os grandes fenômenos da Natureza, os que se consideram como perturbação dos elementos? Tudo tem sua razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus”. LE 536 A “Objetivam sempre o homem esses fenômenos? Às vezes tem, como imediata razão de ser, o homem. Na maioria dos casos, entretanto, têm por um único motivo o restabelecimento do equilíbrio e da harmonia das forças físicas da Natureza”. 536 B “Concebemos perfeitamente que a vontade de Deus seja a causa primária, nisto como em tudo; (…). Mas, evidentemente, Nem poderia ser de outro modo”. LE 687 “Indo sempre a população na progressão crescente que vemos, chegará tempo em que seja excessiva na Terra? Não, Deus isso provê e matem o equilíbrio. Ele coisa alguma faz inútil”. LE 728 “As criaturas são instrumentos de que Deus de serve para chegar aos fins que objetiva.”; LE.????? “(…) o próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir seus fins”. Como expusemos no item 5.5., a concepção dialética, tanto na versão idealistahegeliana como na materialista marxista, é incompatível com esse conceito de finalidade histórica. Em LE 963 e LE 964, há a afirmação categórica de que Deus intervém nas penas e recompensas. O que é mais compatível com uma idéia de Providência divina do que uma dialética. Vide item 5.5..
14.2. Sucessão e aperfeiçoamento das raças. As raças humanas se sucedem e se aperfeiçoam através da mestiçagem. LE 688 “Há, neste momento, raças humanas que evidentemente decrescem. Virá momento em que terão desaparecido da Terra? Assim acontecerá de fato. É que outras lhes terão tomado lugar, como outras um dia tomarão da vossa”. LE 689 “Os homens atuais formam uma criação nova, ou são descendentes aperfeiçoados dos seres primitivos? São os mesmos Espíritos que voltaram, para se aperfeiçoar em novos corpos, mas que ainda estão longe da perfeição”. LE 690 “Do ponto de vista físico, são de criação especial os corpos da raça atual, ou procedem dos corpos primitivos, mediante reprodução? A origem das raças se perde na noite dos tempos. Mas, como pertencem todas à grande família humana, qualquer que tenha sido o tronco de cada uma, elas puderam aliar-se entre si e produzir novos tipos [grifos nossos]. O LE foi escrito em 1857, dois anos antes das teorias evolucionistas de Darwin. No ano anterior, em 1856, foram descobertos na gruta Feldhofer (Nordrhein-Westfallen, Alemanha), no vale do Neander, bacia do Düssel, os fósseis de um homem primitivo que ficou conhecido como homem de Neandertahl (19). Era uma descoberta recente que ainda não atingira ao conhecimento das pessoas comuns. O homem de Cro-Magnon só foi descoberto em 1868 em Eyzies-de-Tayac (Dordogne, França) (20). As informações do LE são, portanto, pioneiras, pois à época conhecíamos ainda muito pouco sobre a origem da espécie humana.
14.3. Povos degenerados. Com esse título o LE [da pergunta 786 à 789] explica, na realidade, a ascensão, ápice e decadência de civilizações ou culturas. É afirmado que os espíritos com uma evolução um pouco acima do nível terráqueo são conduzidos para reencarnarem no seio de uma determinada cultura. Com seus conhecimentos e com sua elevação moral, começam a construir uma civilização mais evoluída material e moralmente. Para essa nova civilização são orientados para reencarnarem espíritos mais atrasados para aprenderem e, conseqüentemente, progredirem. Devido a seu atraso moral, passam a abusar e a fazer mau uso dos conhecimentos materiais que adquiriram. Essa civilização que atingiu o ápice começa a declinar e é suplantada por outra que vem despontando e que está passando pelo mesmo sistema evolucionário. Isso aconteceu com as civilizações da Mesopotâmia, do Egito, da Pérsia, da Índia, da China, da Grécia, da Tirrínia, de Roma, de Carlos Magno. LE 788 “Os povos são individualidades coletivas que, como indivíduos passam pela infância, pela idade da madureza e pela decrepitude. (…)? Os povos, (…) nascem, crescem e morrem, porque a força de um povo se exaure, como a de um homem”; EE 24:4 “As gerações têm sua infância, sua juventude e sua maturidade.”; LE 789 “O progresso fará que todos os povos da Terra se achem um dia reunidos, formando uma só nação? Uma nação única não. (…) viverão felizes e em paz, porque nenhum cuidará de causar dano ao seu vizinho, nem de viver a expensas dele. A Humanidade progride, por meio dos indivíduos que pouco a pouco se melhoram e instruem. Quando estes preponderam pelo número, tomam a dianteira e arrastam os outros.”; EE 24:4 “As gerações têm sua infância, sua juventude e sua maturidade.” [vide item 14.7.].
14. 4. Civilização completa. LE 793 (item 12.13) “Por que indícios se pode reconhecer uma civilização completa? (…) pelo desenvolvimento moral”. “De duas nações (…), somente pode considerar-se mais civilizada (…), aquela onde existe menos egoísmo,menos cobiça e menos orgulho; onde os hábitos sejam mais intelectuais e morais do que materiais (…)”.
14.5. O progresso. A visão romântica, que exalta o estado de natureza – le bon sauvage, é incompatível com a Doutrina: LE 776 “A civilização é incompatível com o estado de natureza (…) o homem não foi destinado a viver perpetuamente no estado de natureza (…)”; LE 777 “(…) que se deve pensar da opinião dos que consideram aquele estado como o da mais perfeita felicidade da Terra? Que queres! A felicidade do bruto. (…)É ser feliz a maneira do animais . As crianças são mais felizes do que os homens feitos; LE 778 “o homem tem que progredir incessantemente e não [pode volver ao estado de infância. ”. O Espiritismo reconhece que o Ser humano (princípio inteligente individuado – espírito ) é uma ser cultural e não natural. A RAZÃO e a FÉ formam as bases da cultura humana.
14.6. Evolução dos mundos de reencarnação. No Universo tudo é evolução. Assim como os Espíritos evoluem, os mundos, onde eles reencarnam, também o fazem. No item 6. 3., apresentamos as cinco categorias em que esses mundos estão classificados.
14.7. Tempo histórico. Para as culturas da Antiguidade, o tempo era circular. Tudo era repetição, a volta ao passado. A cultura judaica, foi a primeira a apresentar a idéia de tempo linear. Pelo que descrevemos no item 14.3., julgamos que a concepção de tempo da Doutrina é uma figura de Lissajoux, conjugando um movimento circular com um linear para formar um movimento helicoidal.
14.8. Necessidade do contato social. O mundo espiritual é um mundo em sociedade, onde não há anacoretismo. O espírito encarnado também deve fazer sua evolução em sociedade [LE”Certamente deus fez o homem para viver em sociedade.”; LE 768 “No insulamento, ele se embrutece e estiola. Homem nenhum possui faculdades completas. Mediante a união social é que elas umas à outras se completam, para lhe assegurarem o bem-estar e o progresso.”; LE 779 “Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contato social.”; LE 786 “(...) espíritos que, encarnados, constituem o povo degenerado não são os que o constituíam ao tempo do seu esplendor.”; LE “O progresso fará que todos os povos da Terá se achem um dia reunidos, formando uma só nação? Uma nação única, não; seria impossível, visto que a diversidade dos climas se originam costumes e necessidades de diferentes, que constituem as nacionalidades, tornando indispensável sempre leis apropriadas a esses costumes e necessidades.”]. As sociedades, cidades nações têm seus guias protetores [ LE 518 “Os Espíritos preferem estar nomeio dos que se lhes assemelham. (...). É pelas suas tendências que o homem atrai os Espíritos (...). Portanto, as sociedades, as cidades e os povos são, de acordo com as paixões e o caráter neles predominantes, assistidos por Espíritos mais ou menos elevados.”].
14.9. Espírito do Tempo ou Zeitgeist. Destutt de Tracy e Cabanis denominaram com o nome de ideologia o conjunto de idéias e valores que predominam numa determinada época histórica, influenciando todas as atividades e expressões humanas como, arquitetura, música, pintura, literatura, escultura, vestuário, hábitos alimentares, regras de comportamento social, religião, ciência, moral, Direito, etc.. Essa opinião não é compartilhada por muitos filósofos. Ela é vista mais como uma expressão do historicismo romântico. Goethe chamou esse fenômeno de Geist der Zeit [espírito do tempo]. Herder explorou mais essa concepção e cunhou o neologismo “Zeitgeist” [espírito do tempo ou da época] pelo qual ficou conhecido em Filosofia. Pelo exposto nos itens 14.2 e 14.3 parece que o Espiritismo endossa essa idéia. EE 9:11 “Cada época é marcada, assim, com o cunho da virtude ou do vício que a tem de salvar ou perder”.
CAPÍTULO XV
15. DETERMINISMO & INDETERMINISMO.
15.1. Intróito. Segundo Abbagnano (15), um dos primeiros autores a empregar a palavra determinismo foi Kant. Esse termo significa duas coisas:
15.1.1.. Ação condicionante ou necessitante de uma causa ou de um grupo de causas.
15.1.1.1. São: o determinismo dos remédios, o determinismo das leis, o determinismo social, o econômico etc.. Eles indicam conexões de natureza causal ou condicionante. Possui relação com os conceitos de causalidade, condição, necessidade.
15.1.2. É a doutrina que reconhece a universalidade do princípio causal e, conseqüentemente, que as ações humanas são necessariamente determinadas por seus motivos.
15.1.2.1. Admite uma necessidade causal nos fenômenos do Universo e, em particular, da conduta humana. Contrasta com a posição do indeterminismo. É a universalidade da necessidade causal, não necessariamente finalista e, por isso, não havendo identidade com o conceito de destino.
15.1.2.2. Esse determinismo não finalista é expressão do mecanicismo. Ele faz uma extensão universal do mecanicismo, atingindo até mesmo o Ser humano. Na realidade, é um predeterminsimo (predestinação). A ação humana possui um determinante no tempo que a precede. O Ser humano não teria controle pleno de sua conduta.
15.1.3. O determinismo é adotado pelos filósofos da ciência. Kant faz a defesa do alcance universal do princípio de causalidade. Priestley defende com veemência a aplicação do determinismo à conduta humana. Claude Bernard estende o princípio de causalidade aos fenômenos biológicos.
15.1.4. O indeterminismo é esposado pelos filósofos da consciência. A teoria da relatividade [Einstein] e a teoria do indeterminismo de Heisenberg [a física quântica] demonstraram que o princípio de causalidade não era universal, pois não se aplicava à propagação da luz por distâncias astronômicas e nem à intimidade do mundo atômico. Embora esse princípio não possa ser mais considerado como universal, ele não foi excluído, pois ainda permanece aplicável nos fenômenos infra-astronômicos e “super-atômicos”. Em 1927, o físico alemão Werner Karl Heisenberg criou o “princípio do indeterminismo”, baseado em conceitos de mecânica matricial para explicar os fenômenos atômicos. Isso, lamentavelmente, forneceu “cientificidade” ao indeterminismo. Lembremos que na mesma época suas conclusões eram contestadas por seu colega Erwin Schrödinger que usava a mecânica ondulatória para esses fenômenos. Em 1926, Schrödinger demonstrou que a mecânica ondulatória e a matricial chegavam às mesmas conclusões. Matematicamente, elas eram a mesma teoria. O próprio Einstein, criador da teoria da relatividade, que muitos tentam identificar com o princípio do indeterminismo, dizia a respeito desse, que não acreditava que Deus jogasse dados com o Universo. O que não é mais possível falar atualmente é em determinismo absoluto. O abandono do determinismo absoluto não significa uma aceitação tácita do indeterminismo, que seria o reconhecimento do acaso e do arbítrio dos fenômenos naturais. A idéia de causa [causalidade] foi substituída pelo de condição [condicionalidade], conduzindo a noção de determinismo restrito, onde [segundo De Broglie, apud Abbagnano (16)] “nem todas as possibilidades são igualmente prováveis”. O indeterminismo não admite a existência de causa, nem de finalidade. Tudo no Universo aconteceria por acaso e sem finalidade.
15.1.5. O mecanicismo apresenta um determinismo causalista, fatalista, universal e reducionista, como base da explicação de seus objetos de estudos. Causalista, porque afirma que tudo tem uma causa mecânica. Fatalista, porque seu sistema é fechado, não admitindo nenhum outro fator que possa alterar a fatalidade da causa mecânica; a conseqüência dessa causa é inexorável. Universal, porque quer estender essas causas mecânicas a todos fenômenos do Universo. Reducionista, porque só admite causa mecânica, afastando o livre-arbítrio e a intervenção de Deus. Há uma forma de determinismo, que não sendo rigorosamente causalista, afirma que tudo no Universo tem uma finalidade determinada. Esse é o determinismo finalista. O estudo do determinismo finalista em Filosofia constitui a “teleologia” [“teleós” (grego) finalidade, fim, objetivo]
15.2. Posição espírita concernente ao binômio determinismo/indeterminismo.
15.2.1. O Espiritismo admite a criação e a providência divinas [LE 1 “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.” (...) LE 4 “Não há efeito sem causa. (...) O Universo existe, logo tem uma causa . Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pode fazer alguma coisa.”]. O fato de “Deus ser a causa primária de todas as coisas” indica uma posição causalista e, conseqüentemente, determinista. Outro exemplo de uma posição favorável ao determinismo é a admissão da influência do corpo físico sobre o Espírito [LE 22 A“A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.”; LE 132 “Deus lhes impõe a encarnação (...)”. LE 372 A “Não há, pois, fundamento para dizer-se que os órgãos nada influem sobre as faculdades? Nunca dissemos que os órgãos não têm influência. Tem-na muito grande sobre a manifestação das faculdades (...).”]. O corpo físico, através de suas deficiências, determina limitações ao Espírito nele encarnado. Além das determinações causalista e do corpo físico, há uma finalista. Tudo no Universo cumpre uma finalidade LE 536“Tudo tem uma razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus.”, LE 664 “A prece não pode ter por efeito mudar os desígnios de Deus [determinação finalista]”; LE 687 “Não, Deus a isso provê e mantém sempre o equilíbrio. Ele coisa alguma inútil faz.”; LE 692 “Sendo perfeita a meta para que tende a Natureza (…)”; LE 728 A “As criaturas são instrumentos de que Deus se serve para chegar aos fins que objetiva”; LE 730 “(…) deve prolongar sua vida para cumprir a sua tarefa”; LE 741 “(…) entre os males que afligem a Humanidade, alguns há de caráter geral, que estão nos decretos da Providência (…)”; LE 744 “Que objetivou a Providência, tornando necessário a guerra?”; LE 774 “Diverso do dos animais é o destino dos homens.”; LE 776 “(…) o homem não foi destinado a viver perpetuamente no estado de natureza (…)”; LE 778 “Não, o homem tem de progredir incessantemente (…). Deus assim o quer.”; LE 96e e LE 964 fala da intervenção de deus nas penas e recompensas. O Espiritismo aceita, embora de maneira restrita, o conceito de fatalidade [LE 872/p.400 (...) fatalidade não é uma palavra vã. Existe na posição que o homem ocupa na Terra, e nas funções que aí desempenha, em conseqüência do gênero de vida que o Espírito escolheu como prova, expiação ou missão”.(...) “Nunca há fatalidade nos atos da vida moral.”]. Não existe fatalidade nos atos da vida moral, mas existe uma espécie dela nos outros fenômenos da vida. Essas três determinações [causalista, do corpo físico e a finalista] incompatibilizam o conceito de acaso com a Doutrina. Kardec usou a palavra “fatalidade”, porque em sua época ainda não estava desenvolvido em Filosofia o conceito de “teleologia”.
15.2.2. A Doutrina também admite o livre-arbítrio [LE 843 “Sem o livre arbítrio, o homem seria uma máquina”;LE 844 “Há liberdade de agir, desde que haja vontade de fazê-lo.”; LE 845 “Não há, porém, arrastamento irresistível, uma vez que haja vontade de resistir . Lembrai-vos de que querer é poder.”; LE 872 p. 399“Sem o livre-arbítrio, o homem não terá nenhuma culpa por praticar o mal, nem mérito por praticar o bem.”(...) p.401“(...) não há arrastamento irresistível”; LE 893 “(...) resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores.” ]. Isso é o aspecto voluntarista da Doutrina, o que a incompatibiliza com um determinismo absoluto, pois a vontade pode nos libertar dele. Ao mesmo tempo o livre-arbítrio é incompatível com o indeterminismo. Conceito espírita de fatalidade [teleologia] opõe-se à idéia de indeterminismo [ LE 872, citação acima].
15.2.3. Intenção. No item 9.9 do Capítulo XV, sobre a ética espírita, estudamos o valor da intenção no julgamento final. A intenção é a finalidade do ato praticado ou da omissão. A importância de ser o Espiritismo uma doutrina finalista tem aplicações éticas e na Filosofia Espírita do Direito. Em qualquer julgamento é obrigatório levarmos em consideração a intenção, que poderá atenuar ou acentuar o mérito ou o demérito de qualquer ação ou omissão. Como a “intenção” resulta da capacidade maior ou menor de compreensão da realidade, as circunstâncias devem ser levadas em consideração [item 13.11].
15.2.2. Futuro. Em LE 607, há afirmação que o conhecimento do futuro é uma característica humana. Em EE 12:8, afirma-se que “somente a fé na vida futura e na justiça de Deus (…)pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio ”. Em EE 23:6, há a assertiva de que “os interesses da vida futura prevalecem sobre todos os interesses e todas as considerações humanas (…) é para o dever de ocupar-se com a vida futura ”. CI 1Pt.Cap 2.n1 “O homem (…) tem conhecimento inato do futuro”; n.3 “à proporção que o homem compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui; (…). A certeza da vida futura dá-lhe outro curso às idéias, outro fito ao trabalho (…) tudo pelo futuro sem desprezo do presente (…)”; ge 1:37 “Com a certeza do futuro (…)”.. A doutrina enfatiza sobremaneira o futuro e a noção de finalidade é uma conseqüência da concepção dele. O conceito de futuro forçosamente cria o conceito de finalidade.
15.3. Determinismo finalista.
15.3.1. Parece-nos que não podemos classificar o Espiritismo em nenhum termo dessa relação. A Doutrina tem uma posição singular concernente ao binômio determinismo/indeterminismo. Ela demonstra um determinismo limitado pelo voluntarismo, sendo totalmente incompatível com o indeterminismo. O Espiritismo apresenta ou um determinismo restrito ou um condicionalismo ou um determinismo finalista. Em nossa opinião aceitamos essa última classificação. A Doutrina apresenta uma finalidade para tudo que ocorre no Universo [LE 171 “(...) todos os Espíritos tendem à perfeição.”; LE 222/p.150 “(...) ninguém escapa à lei do progresso”; 236 Nota“Nada é inútil na Natureza; tudo tem um fim, uma destinação.” LE 536 “Tudo tem sua razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus”; LE 619 “(...) forçoso é que o progresso se efetue”]. Tudo no Universo deve evoluir para a perfeição [item 6..2.3.] e, conseqüentemente, há finalidade em tudo que ocorre [EE 5:21“Nada se faz sem um fim inteligente e, seja o que for que aconteça, tudo tem sua razão (finalidade) de ser.”(grifos nossos); EE 5:24. “(...) a verdadeira desgraça, porém, está nas conseqüências de um fato, mais do que no próprio fato. (...) Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as conseqüências (...).” (grifos nossos)]. O Espiritismo é uma doutrina finalista ou teleológica; apresenta um determinismo finalista.
15.3.2. Voluntarismo. Chamamos em Filosofia de voluntarismo o ponto de vista das doutrinas que admitem que o Ser humano (Espírito) pode interferir em seu destino pela ação de sua vontade. Ele não seria mero joguete de forças ocultas do inconsciente e nem fatalismos causais. Ele com sua vontade pode mudar o curso dos acontecimentos julgados inexoráveis determinados por causas como família, escola, estrutura social, clima, disposições genéticas, etc. EE 9:10. “Segundo a idéia falsíssima de que lhe não é possível reformar a sua própria natureza, o homem se julga dispensado de empregar esforços para se corrigir dos defeitos em que de boa-vontade se compraz, ou que exigiriam muita perseverança para serem extirpados. (…). O corpo não dá cólera àquele que não na tem, do mesmo modo que não dá os outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. A não ser assim, onde estariam o mérito e a responsabilidade? (observação nossa). O homem (…) pode modificar o que é do Espírito, quando o quer com vontade firme. Não vos mostra a experiência, a vós espíritas, até onde é capaz de ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam sob as vossas vistas? (…) pode modificar o que é do Espírito, quando o quer com vontade firme. Não vos mostra a experiência, a vós espíritas, até onde é capaz de ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam sob as vossas vistas?”
CAPÍTULO XVI
16. RELAÇÃO CORPO E MENTE.
16.1. Tanto em Ciência como em Filosofia, as opiniões se dividem entre duas orientações concernentes à relação corpo e mente [entendamos por alma ou Espírito]: monismo e dualismo.
16.2. O monismo acha que corpo e alma constituem um todo único. É a posição adotada pela Ciência materialista e, por isso, dizemos ser um monismo materialista. Algumas concepções espiritualistas pensam da mesma forma. Por isso, essa opinião é chamada de monismo espiritualista.
16.3. Outras doutrinas afirmam que corpo e mente são entidades separadas. Dividimo-las em duas correntes. Odualismo paralelista [ou paralelismo psicofísico], onde corpo e alma coexistem, porém não se interagem. Odualismo interacionista, onde corpo e alma são separados, mas interagem entre si.
16.4. O exemplo de concepção dualista é a posição de Descartes concernente à relação corpo e mente. Normalmente, ele é tomado como materialista mecanicista e profitente da posição do “paralelismo psicofísico”. Mas em seu livro “Meditações”, ele fornece uma idéia diferente, segundo nossa interpretação. Ele é claro quando diz que corpo e mente são entidades diferentes, mas que interagem entre si. Só não é explícito se isso ocorreria obrigatoriamente com um Espírito encarnado no corpo físico. Classificamo-lo como dualista interacionista.
16.5. Afirmamos que o Espiritismo tem a posição dualista interacionista, pois o Espírito [alma] vive independentemente do corpo físico. A relação entre os dois é apenas transitória, durante o período de cada reencarnação. O corpo pode existir com vida, mesmo após o Espírito já estar desencarnado [LE 70 NOTA]. O organismo influencia o Espírito, mas não se funde com ele em um único bloco [“Influência do organismo” da LE 367 à LE 370]. Em MT 22:21, Jesus prega: “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” e em Jo 18:36. “Meu reino não é deste mundo” ; de acordo com os ensinamentos cristãos, há nítida separação entre o que é de Deus [espiritual] e o que é de César [profano, material, corporal]. Vide item 7:11..
Citações: LE 27 “Mas, ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel intermediário entre o espírito e a Matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela”. LE 28 NOTA “Um fato patente domina todas as hipóteses: vemos matéria destituída de inteligência e vemos um princípio inteligente que independe da matéria”. LE 63 “O princípio vital (…) é efeito ou causa? (…). A vida é um efeito devido à ação de um agente sobre a matéria. Esse agente, sem a matéria, não é vida, do mesmo modo que a matéria não pode viver sem esse agente. Ele dá vida a todos os seres que o absorvem e assimilam”. LE 70 NOTA “Os corpos orgânicos são, assim, uma espécie de pilhas ou aparelhos elétricos, nos quais a atividade do fluido determina o fenômenos da vida. A cessação dessa atividade causa a morte”. LE 136 “A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de vida orgânica”. LE 140 A NOTA “A alma atua por intermédio dos órgãos e os órgão são animados pelo fluido vital”. LE 146 A “Os que a [alma, observação nossa] situam no que consideram o centro de vitalidade, esses a confundem com o fluido ou princípio vital”. LE 154 “É dolorosa a separação da alma e do corpo? Não. (…) a alma nenhuma parte toma nisso”. LE 155 NOTA “(…) o desprendimento é muito menos rápido, durante algumas vezes dias, semanas e até meses, o que não implica existir, no corpo, a menor vitalidade, nem a possibilidade de volver à vida (…)”. LE 156 “O corpo é a máquina que o coração põe em movimento. Existe, enquanto o coração faz circular nas veias o sangue, para o que não necessita da alma”. LE 367 “A matéria é apenas o envoltório do espírito, como o vestuário o é do corpo. Unindo-se a este, o Espírito conserva os atributos da natureza espiritual”. LE 368 “O exercício das faculdades de pende dos órgãos (…)”.LE 368 A “Assim, o invólucro material é obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, como um vidro opaco é à livre manifestação da luz? É, como vidro muito opaco”. LE 369 “Os órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma”.LE 370 “Não confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias”.LE 370 A “Cumpre, porém, se leve em conta a influência da matéria, que mais ou menos lhe cerceia o exercício de suas faculdades”. LE 372 A “Não há, pois, fundamento para dizer-se que os órgãos nada influem sobre as faculdades? Nunca dissemos que os órgãos não têm influência. Têm-na muito grande sobre a manifestação das faculdades, mas não são a origem destas”.LE 375 A “(…) o Espírito atua sobre a matéria, também esta reage sobre ele (…)”. LE 634 “É preciso que o Espírito ganhe experiência; é preciso, portanto, que conheça o bem e o mal. Eis porque se une ao corpo. LM 1 “Seja qual for a idéia que dos Espíritos se faça, a crença neles necessariamente se funda na existência de um princípio inteligente fora da matéria” [grifos nossos]. LM 2 “Desde que se admite a existência da alma e sua individualidade após a morte, forçoso é também se admita: 1º que sua natureza difere da do corpo (…); 2º que goza de consciência de si mesma(…). Admitido isso, tem-se que admitir que essa alma vai para alguma parte”. LM 3 “Figuremos, primeiramente, o Espírito em união com o corpo. Ele é o ser principal, pois que é o ser que pensa e sobrevive[grifo do autor]. O corpo não passa de acessório seu, de um invólucro, uma veste, que ele deixa, quando usada. Além desse invólucro material, tem o Espírito um segundo, semimaterial, que o liga ao primeiro. Por ocasião da morte despoja-se deste, porém não do outro, a que damos o nome de perispírito [grifo do autor]”. LM 58 “O Espírito precisa, pois, de matéria, para atuar sobre a matéria.”. LM 129 “(…) o Espírito atua sobre a matéria(…). Pode igualmente, pela ação de sua vontade, operar na matéria elementar uma transformação íntima, que lhe confira determinadas propriedades. Esta faculdade é inerente à natureza do Espírito (…).” EE 17:11 “(…) demonstrando-lhes as relações que existem entre corpo e a alma e dizendo-lhe que, por se acharem em dependência mútua, importa cuidar de ambos.”. EE 4:25. “A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. (…) a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência. (…). Mas a encarnação para todos os Espíritos é apenas um estado transitório (…)”. EE 11:13. “(…) a vida terrestre tem que servir exclusivamente ao aperfeiçoamento moral, que mais facilmente se adquire com o auxílio dos órgãos físicos e do mundo material”; Céu e Inferno, 1a. Pt, Cap. VIII, nº 5 [CI 1:8.5]: “Entretanto, a alma é imortal e o corpo não(…).(…) poder-se-á afirmar que o seu destino é estar essencialmente integrada [grifo do autor]? Não, essa união mais não é na realidade do que um incidente, um estádio da alma, nunca o seu estado essencial. CI 1:8.10 “A respeito da união da alma e com o corpo, o Espiritismo professa doutrina infinitamente mais espiritualista [grifo do autor] (…) ele ensina-nos que a alma é independente do corpo, não passando este de temporário invólucro: a espiritualidade é-lhe a essência, e a sua vida normal é a espiritual [grifo do autor]. O corpo é apenas instrumento da alma para exercício das suas faculdades nas relações com o mundo material; separada desse corpo, goza dessas faculdades mais livre e altamente”. CI 1:8.11 “A união da alma com o corpo, em ser necessária aos seus primeiros progressos, só se opera no período que podemos classificar como da sua infância e adolescência; atingindo, porém, que seja, um certo grau de perfeição e desmaterialização, essa união é prescindível, o progresso se faz na sua vida de Espírito. Demais, por numerosas que sejam as existências corpóreas, elas são limitadas à existência do corpo, e a sua soma total não compreende, em todos os casos, senão uma parte imperceptível da vida espiritual, que é ilimitada”. GE INTRODUÇÃO p.9 “Dois elementos, ou, se quiserem, duas forças regem o Universo: o elemento espiritual e o elemento material. Da ação simultânea desses dois princípios nascem fenômenos especiais (…)”. “Demonstrando a existência do mundo espiritual e suas relações com o mundo material (…)”. p.10 “Essa solução se encontra na ação recíproca do Espírito e da matéria(…)”. GE 13:5 “Durante a sua encarnação, o Espírito atua sobre a matéria por intermédio do seu corpo fluídico ou perispírito, dando-se o mesmo quando ele não está encarnado.’
CAPÍTULO XVII.
17. CONCEITO ESPÍRITA DE FAMÍLIA E SEXO.
17.1. Conceito Espírita de Família.
17.1.1. Para o Espiritismo a família carnal é apenas um acidente da família espiritual. Como os Espíritos não se reproduzem, mas sim criados por Deus, o conceito de “família espiritual” reside na afinidade vibratória que eles têm entre si.
17.1.2. A palavra “afim”, tanto em português como no original do LE em francês e em Latim, significa parentesco por casamento, afeição, ou identidade de propósitos [bons ou maus]. É preciso que não confundamos “afinidade” com amor, amizade. Dois Espíritos, com baixas vibrações, ainda afeitos às paixões carnais, são afins. Seres que se odeiam, que se prendem pelo o ódio, possuem afinidade de vibratória de ódio.
17.1.3. CITAÇÕES: LE 203-206: Parentesco, filiação; LE 207 –217: Parecenças físicas e morais; LE 291 – 307: Relações de antipatia e simpatia. Metades eternas; LE 379 – 385 Infância [385 adolescência]; LE 386- 391: Simpatia e antipatia terrenas; LE 484 – 488 Afeição que os Espíritos votam a certas pessoas; LE 489 – 521 Anjos da guarda. Espíritos protetores, familiares ou simpáticos [514 Espíritos familiares e Espíritos simpáticos]; LE 582 – 583 Missão da paternidade – filhos transviados; LE 686 – 701 Lei da reprodução – casamentos e celibato; divórcio [697 e 860]; LE 773 – 775 Laços de família; LE 890 – 892 amor materno e amor filial; LE 939 – 940 Uniões Antipáticas; LE 980: “(…) laço de simpatia(…). (…) famílias pela afinidade de sentimentos (…)”; EE 4:18.-23.A reencarnação fortalece os laços de família; EE todo o Capítulo XIV: Honrar a vosso pai e a vossa mãe; EE 14:3 Piedade filial; EE 14:5 Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? EE 14:8 A parentela corporal e a parentela espiritual. EE 14:9 Ingratidão dos filhos e os laços de família; EE 22. Não separeis o que Deus juntou [Indissolubilidade do casamento – Divórcio]; EE 23. Moral estranha [quem não odeia pai e mãe – deixai pai, mãe e filhos]; EE 28:53. deveres parentais –amor paterno e amor filial. Bíblia: Mt 10:37 “Quem ama mais ao pai do que a mim (…)”. Jesus ensina que o amor à causa divina deve ser maior que os laços da família carnal. Bíblia: Mt 12:46 e Lc 8:11., Jesus fala sobre sua família. Mt 19:27 Jesus fala a Pedro sobre abandonar a família para segui-Lo.
17.2. Conceito de Sexo para o Espiritismo.
17.2.1. Sexo para o Espiritismo é apenas uma contingência do corpo físico, que há para possibilitar a reprodução deste, a fim de servir de veículo para outros Espíritos necessitando de reencarnar [LE 200, 201 e 203].
17.2.2. O Espírito não tem e não precisa de sexo uma vez que eles são criados por Deus. Sexo é apenas um acidente material que só serve para a reprodução do corpo físico. Evidente que a atração sexual entre espíritos encarnados e ainda presos às sensações físicas, serve com um “bruxuleio” de futuras atitudes amoráveis. [LE 34, 115, 127, 133 e 804]. CI pt 2 cap. II n.11 [p.183] “Os Espíritos não têm sexo (…). Não temos motivo para sermos de natureza masculina ou feminina (…). Os Espíritos não podem ter sexo. Sempre disseram que os Espíritos não têm sexo, sendo apenas necessário para a reprodução de seus corpos.”
17.2.3. O Espírito precisa reencarnar no sexo masculino e no sexo feminino para adquirir as experiências de ambos os sexos [LE 202, principalmente comentário de Kardec e LE da 817 à 822, principalmente comentário de Kardec nessa última].
17.2.4. O Espiritismo reconhece a igualdade entre os sexos, porém reconhece também que eles têm atribuições diferentes [LE da 817 à 822]. É preciso que atentemos que essas asserções foram emitidas em 1857, adequadas à época e ao local, não tendo caráter absoluto e permanente. Com a evolução dos costumes e com a tecnologia, muitas funções masculinas tornaram-se adequadas às mulheres e vice–versa. A Primeira e a Segunda Guerras Mundiais colocaram mulheres para desempenhar funções masculinas na retaguarda, enquanto os homens estavam nas linhas de frente. Isso mostrou que essa discrepância de papéis sociais não era absoluta e estava chegando o momento de revê-las. Hoje, é admissível que muitas atividades, que antes eram prerrogativas masculinas, possam ser desempenhadas por mulheres e vice-versa. Quando a doutrina fala em experiência feminina e masculina, não se refere a experiência física dos sexos, mas a funções sociais que macho e fêmea desempenham em diferentes sociedades, principalmente nas mais primitivas. Observemos a cultura do povos nômades. Numa sociedade mais espiritualizada esses papéis específicos a um sexo e a outro vão se mesclando, ficando o Espírito encarnado capacitado para desempenhar os dois papéis sem maiores problemas sociais.
17.2.5. A Literatura apócrifa que surgiu dentro do Movimento Espírita Brasileiro faz afirmações que não encontram fundamento doutrinário. Há um autor que alega que o homossexual foi em reencarnação passada uma mulher muito libidinosa que reencarnou no sexo oposto para aplacar sua luxúria. Imperfeito, esse Espírito guardaria as tendências sexuais da última reencarnação. Essa afirmação demonstra uma confusão de conceitos.
17.2.6. O autor entende como homossexual os homens com atração sexual por outros homens, contrariando a etimologia da palavra. “Homo”, do grego “mesmo” – essa palavra significa pessoas que tem preferências sexuais por outras do mesmo sexo – homem por homem e mulher por mulher. A afirmação desse autor também é uma imprecisão científica.
17.2.7. Isso também está em desacordo com a afirmação de que o Espírito precisa reencarnar nos dois sexos. Não é aceitável que um fenômeno natural possa produzir uma perversão sexual. Se um Espírito libidinoso que reencarnou como mulher, reencarna como homem, necessariamente ele não terá que ser um homossexual. Se ele falhar na lição, poderá ser um homem muito libidinoso sem recorrer a práticas homossexuais. Em Los Angeles, há um grupo de homossexuais masculinos com tanta ojeriza às mulheres a ponto de seus membros desprezarem os outros que são afeminados e são obrigados a usarem bigode e cavanhaque para mostrarem que são homens. Em San Francisco, há “The Bears” [Os Ursos], com a mesma ideologia e usam barba cerrada e são violentos. Esses não podem ser reencarnações de Espíritos que na última o fizeram em corpo feminino.
17.2.8. Para quem conhece Medicina, sabe que existem várias doenças físicas que diminuem a libido ou dificultam qualquer tipo de relação sexual. Herps genital intenso: impossibilita a cópula e deixa o paciente com dor e ardor nas áreas pudendas. Psoríase: normalmente não é doença grave; localiza-se nas dobras do corpo e nas entradas do couro cabeludo; em quadro grave, que pode aparecer nas virilhas, exala mau cheiro, arde devido a infecções secundárias. Más formações da genitália interna ou externa que podem impedir ou dificultar a atividade sexual: epispádia ou hipospádia no homem e atresia de vagina na mulher. Alterações hormonais, principalmente nas mulheres, acarretando menorragias, cólicas menstruais intensas, tensão pré-menstrual e pruridos nas áreas pudendas. Alterações da atividade córtico-frontal, como oligofrenias, demências ou psicoses, que diminuem ou extingue a libido.
17.2.8. Não é razoável admitir-se que médicos não tenham notado a impropriedade dessas afirmações que há no Movimento Espírita Brasileiro.
CAPÍTULO XVIII
DIALÉTICA E ESPIRITISMO
18.1. Constantemente, no meio espírita, assistimos a palestras ou lemos trabalhos, onde o palestrante ou o escritor cita a Dialética como se fosse uma doutrina que avalizasse a verdade. Já tivemos oportunidade de consultar um artigo, cujo autor pretensamente trata da “dialética espírita”.
18.2. A palavra dialética vem do grego: prefixo “dia”, que significa “através”, e do termo “logos”, que significa “palavra”. Dialética, etimologicamente, seria “arte da discussão”, “arte de esclarecer”, “arte de enganar”, “arte de esclarecer através das idéias”. No curso da história da Filosofia, o conceito de dialética já passou por altos e baixo. Platão, os escolásticos e Hegel a exaltaram. Aristóteles, os renascentistas e Kant a desdenharam. De meados do Século XIX ao XX, seu sentido foi um pouco deturpado com o fito de atender os interesses de correntes ideológicas. Marx usou a dialética materialista para criar seu Materialismo Histórico, a fim de explicar a marcha da humanidade sem necessitar de uma Providência Divina. O conceito de dialética usado hoje pelos intelectuais é um misto da forma idealista de Hegel e da materialista de Marx. O constante “vir-a-ser” dialético satisfaz à ideologia indeterminista tanto do anarquismo, como a do neoliberalismo. Esse pensamento é incompatível com uma doutrina que crê em um Deus criador e providente [vide itens 5.2., 5.4., e 5.5.].
18.3. Hegel [1770-1831] graduou-se em pastor luterano. Discordando de pontos doutrinários, abandonou o pastorado e tornou-se Professor de filosofia. Foi fortemente influenciado pelo Romantismo alemão que fazia apologia da revalorização do panteísmo pagão germânico. Essa é a razão porque Hegel apresenta sempre vaga idéia de Deus, identificado-O com a natureza, diferindo de um Deus criador e providente.
18.4. Marx [1818-1883] era francamente materialista. Portanto, sua doutrina não podia explicar os fenômenos naturais determinados por uma Causa externa [Deus]. A teoria dialética ajudava explicar tudo sem recorrer a determinações externas aos fatos ou às coisas.
18.5. O Romantismo surgiu no final do século XVIII, influenciando arte, ciência, filosofia. Suas manifestações diferiam conforme o setor, o local e o momento de aparecimento. Por isso, falamos de Romantismo alemão, italiano. Mencionamos também Romantismo na Música, nas artes plásticas, na Arquitetura, etc.. Esse movimento prolongou-se por todo o Século XIX, ingressando no Século XX sob a forma do Niilismo de Nietzsche e da fenomenologia de Husserl. O niilismo de Nietzsche nega a existência do Absoluto, tanto na esfera gnoseológica, como na ética; é uma descrença no futuro ou destino glorioso da humanidade, contrariando a idéia do destino à perfeição do Espiritismo [ver item 6.2.3.]; nega também o Absoluto, quando decreta “a morte de Deus”, contrariando a teodicéia espírita [ver Capítulo V]. A fenomenologia no conceito de Lambert é o estudo descritivo do fenômeno tal como se apresenta à experiência do observador, excluindo a admissão de qualquer elocubração de cunho metafísico. Esse conceito permanece sem grandes alterações em Husserl. O Niilismo e a Fenomenologia influenciaram o Existencialismo Fenomenológico de Heidegger e o Existencialismo Materialista de Sartre e, mais recentemente o Estruturalismo. Por isso, a Dialética ficou preservada para explicar todos os fenômenos da vida humana. Ela passou a fazer parte do “espírito da época” [Zeitgeist] e, assim, perece lógica a fundamentação nela para qualquer demonstração. Por essa razão, no Movimento Espírita Brasileiro, aparecem pessoas que são influenciadas por esse “espírito da época” e facilmente introduzem no Espiritismo idéias contraditórias a seus princípios.
18.6. Essa confusão tem várias causas. A primeira é pelo fato dessa palavra ter vários significados e, por isso, as pessoas podem estar defendendo idéias dialéticas diferentes, achando que estão em comunhão de pensamento. A segunda é política; na segunda metade do Século XX, houve uma expansão do pensamento marxista, o que ajudou a divulgar a doutrina dialética. A terceira causa é o pensamento estruturalista que dominou também nessa época [com apogeu na Década de 60, identificando-se com a ideologia de protesto] e foi muito influenciado pelo anarquismo francês. A doutrina dialética, embora seja uma forma de determinismo causal, induz ao indeterminismo, o que satisfaz aos interesses anarquistas, pois, o constante “vir-a-ser” inevitavelmente induz a uma indeterminação. A segunda e a terceira causas são conseqüências do Romantismo.
18.7. Das várias acepções da palavra “dialética’, vamos examinar apenas a “Dialética Idealista de Hegel” e a “materialista de Marx”, por serem essas as formas que provocam esse mistifório no Movimento Espírita Brasileiro.
18.8. Hegel alegava que toda afirmação traz dentro de si sua negação, o que evidentemente resulta na negação da primeira afirmação, o que já se torna uma segunda afirmação, contendo dentro de si sua própria negação. Essa cosmovisão conduz necessariamente a um indeterminismo, pois nada pode ser definitivo, eliminando a possibilidade de uma determinação finalista dada por um Deus providente. Didaticamente essa teoria é apresentada como consistindo de tese [posição] que produz sua antítese [oposição]. A união dessas duas produz a síntese [composição] que é uma nova tese que produzirá sua antítese.
18.9. Marx não aceitou a forma idealista dessa teoria e forneceu-lhe uma explicação materialista. Não é justificável neste trabalho, explicarmos a distinção precisa entre essas duas formas de pensamento dialético. Basta que o leitor entenda que dialética resume-se didaticamente na seqüência infindável de tese, antítese e síntese.
18.10. Para exemplificar, faremos essa comparação. Os que aceitam o pensamento dialético, usam como prova a ascensão, apogeu e declínio de várias civilizações do passado. Essas civilizações ao se estabelecerem traziam dentro de si a sua “negação” ou “antítese”, que a aniquilaria futuramente. Marx afirmava que o Capitalismo trazia dentro de si suas contradições, o que o destruiria. A LE 786 mostra o inverso. O nascimento, crescimento e declínio de uma civilização são providências de Deus – há um fator externo determinado-os – não há contradições internas. A LE 788 e EE 24.4 afirmam que os povos são individualidades coletivas, tendo uma infância, uma idade da madureza e uma decrepitude – nascem,crescem e morrem. Especificamente, em EE 24.4 é afirmado que cada coisa tem que vir em sua época própria, demonstrando que o aparente “vir-a-ser”, que seria um indeterminismo, é, na verdade, um determinismo finalista [providencial]. Todo o Capítulo III do EE demonstra como a evolução dos mundos, onde reencarnam Espíritos, é determinada e não ocorrendo ao sabor do indeterminismo dialético. Portanto, a “contradição”, a “antítese”, vem do exterior, não está embutida na “tese”, há uma determinação finalista [providencial] de um Deus providente.
18.11. Outro exemplo. A morte é a única coisa certa em nossas vidas. Até a velhice é duvidosa, pois podemos morrer antes de atingi-la. Depois que nascemos, não fazemos outra coisa se não caminharmos para morte. Essa realidade fatalista induziu alguns pensadores a tentar explicar essa inexorabilidade da morte pela dialética. A vida traria dentro de si sua oposição que é a morte. Para a Doutrina, a essência é a vida espiritual. A passagem pela matéria é apenas um acidente. Aquilo que entendemos por “vida” [o período em que o Espírito está reencarnado na matéria] é o que é transitório, fugaz. Pelo contrário, a morte não é a negação da vida, mas sua continuação, ou, inversamente, a vida [encarnada] que é uma continuação temporária da erraticidade. A morte não existe para a Doutrina. O que entendemos por morte física é apenas o cumprimento de uma etapa da longa vida de um Espírito. Quando o Espírito reencarna sua morte [desencarnação] já está determinada, cumprindo uma finalidade e não um “vir-a-ser” indeterminado. Kardec chama esse determinismo de finalista defatalidade, porque naquela época o binômio determinismo/indeterminismo ainda não estava desenvolvido pela Filosofia. Há uma explanação sobre o conceito de “fatalidade” da LE 851 à LE 867 e na LE 872 [p.400]. A doutrina dialética não admite autoridade externa aos fatos ou coisas, determinando-os.
18.12. Julgamos que não cabe qualquer visão dialética dentro do Espiritismo. Achamos que as opiniões citadas acima, podem decorrer da falta de conhecimento ou pela indução feita pelo pensamento moderno. Seria uma manifestação do “espírito da época” [Zeitgeist].
CAPÍTULO XIX
19. BINÔMIO MONISMO/DUALISMO
19.1. Intróito. Dentro dos pensamentos filosófico e religioso, várias correntes se dividem em monismo ou dualismo, conforme aceitem a existência de um único ou de dois princípios em relação a determinado assunto. No dualismo os dois princípios podem ser fundamentalmente oponentes e independentes, ou complementares. Por exemplo; no Zoroastrismo há sempre dois princípios oponentes – o do bem e o do mal; no Maniqueísmo, no Gnosticismo e no Judaísmo apocalíptico há eterna luta entre a Luz e as Trevas; já no Taoísmo, o princípio “yang” e o “yin” são complementares. Assim, conforme a doutrina, há o monismo ou dualismo no campo da antropologia filosófica, da ética, da cosmologia, etc..
19.2.Em Cosmologia, as teorias monistas têm uma concepção de Deus panteísta, deísta ou emanantista. A concepção que crê em um Ser Criador, que é Deus, e um Ser [ou Seres] criado [ou criados] – a Criatura – é dualista. Para o Espiritismo Deus é criador. Tudo o mais que há no Universo é Criatura. Sob o ponto de vista cosmológico, essa Doutrina é dualista. Vide item 6.2.2.. Vide também toda a primeira parte do LE. Em OP, p. 258 ( Cap. Ligeira Resposta aos Detratores do Espiritismo, 1ª. Parte): “1º O elemento espiritual e o elemento material são os dois princípios, as duas forças vivas da Natureza, as quais se completam uma a outra e reagem incessantemente uma sobre a outra, indispensáveis ambas ao funcionamento do mecanismo do Universo. Da ação recíproca desses dois princípios se originam fenômenos que cada um deles, isoladamente, não tem possibilidade de explicar. À Ciência, propriamente dita, cabe a missão especial de estudar as leis da matéria. O Espiritismo tem por objeto o estudo do elemento espiritual em suas relações com o elemento material e aponta na união desses dois princípios a razão de uma imensidade de fatos até então inexplicados.” Em relação ao binômio determinista/indeterminista, vimos no Capítulo XV, item 15.2., que o Espiritismo é determinista finalista. Portanto, em relação a esse binômio, é monista.
19.3.Na Antropologia Filosófica o dualismo e o monismo se manifestam em concernência à relação corpo e mente. Já estudamos esse assunto nos itens 7:11. e 16:5.. O Espiritismo é dualista interacionista concernentemente à relação corpo e mente. Vide também toda a segunda parte do LE. Em EE 4:8., Kardec repete as palavras do Cristo que afirma o dualismo antropológico: “O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é do Espírito.” (João 3:6.).
19.4.Em ética, as teorias dualistas acham que o mal e o bem coexistem; se não houver o mal, não pode existir o bem. As monistas acham que só existe o bem, sendo o mal temporário, apenas uma ausência do bem. O Espiritismo, sob o ponto de vista ético, é monista Vide item 9.7.. Vide também a terceira parte do LE.
19.5.Sob o ponto de vista teológico, as religiões se dividem em monistas e dualistas. As dualistas são aquelas religiões em que há eternamente um “céu”, região beatífica para onde vão os Espíritos que foram bons na sua vida terrena, e um “inferno”, região de sofrimento para onde vão os Espíritos que infringiram a Lei de Deus. A Igreja Cristã antiga admitiu uma terceira região de sofrimento, mas transitória, o “purgatório” para onde vão os Espíritos que cometeram algum pecado, mas que são suscetíveis de regeneração e serem , depois, transferidos para o Céu. As monistas admitem como eterna, somente a região beatífica. As outras de sofrimento (inferno e purgatório) são transitórias, só existindo para os Espíritos que ainda não evoluíram na escala espiritual. O Espiritismo é monista sob o ponto de vista teológico. Para ele somente essa região beatífica é eterna. As zonas de sofrimento, pelas quais passam os Espíritos pouco evoluídos, são transitórias. À medida que eles vão perdendo o apego à vida material, passam a freqüentar somente as zonas de felicidade. Vide a quarta parte do LE e itens 6.2.3., 7.10, 9.13., 10.3. (perfeição).
19.6.O fundamento do conceito espírita de justiça é autônomo, isto é, baseia-se no direito pessoal, embora seu fundamento ético seja heterônomo – a lei de Deus (item 9.6.). Isto foi discutido no item 13.9.. Para o Espiritismo o fundamento de justiça é monista.
19.7.Alguns palestrantes e escritores espíritas não sabem fazer essas diferenças e fazem afirmações que distorcem a Doutrina. Já assistimos um proclamar que o Espiritismo era contra o dualismo, mas não especificou que dualismo. O Espiritismo é monista concernentemente à Ética, ao fundamento de Justiça e a Teologia, mas é dualista em relação à Antropologia Filosófica e à Cosmologia.
CAPÍTULO XX
ESPIRITISMO E VEGETARIANISMO.
20.1. Intróito.
20.1.1. Atualmente, no meio espírita brasileiro, existe uma ideologia “vegetarianista”, induzindo muitos prosélitos a julgar que isso faça parte da Doutrina. O Espiritismo não tem prescrições ou restrições alimentares ou de vestuário. A alimentação deve ser sadia, evitando as extravagâncias, porém pode ser acompanhada de prazer gustativo. O vestuário deve atender espacial e temporalmente aos bons costumes e visar à proteção do corpo físico, podendo ter uma finalidade colateral de estética, mas evitando as roupas ou modos de vestir-se que prejudiquem à saúde. Portanto, não encontramos fundamento doutrinário no Pentateuco Kardequiano de ordenanças alimentares que justifiquem o vegetarianismo. Atribuímos essa restrição a fruto de obras pos-kardequianas que fazem sincretismos de Espiritismo com ideologias orientais, criando heresias e apostasias. Como o vegetarianismo é uma filosofia de vida de caráter confessional ou mesmo místico, achamos adequada sua discussão como Filosofia da Religião.
20.2. Fundamento doutrinário.
20.2.1. LE 182 [Da Pluralidade das existências] “À medida que o Espírito se purifica, o corpo que o reveste se aproxima igualmente da natureza espírita. Tornando-se-lhe menos densa a matéria (…) menos grosseira são as necessidades físicas, não mais sendo preciso que os seres vivos se destruam mutuamente para se nutrirem[grifo nosso]”. Comentário. O texto fala claramente dos seres vivos e de destruição mútua e não se refere exclusivamente da alimentação humana com carne animal. É necessário que sempre lembremos que há destruição total do ser vegetal, quando ele é devorado. A destruição deve concernir tanto a animais quanto a vegetais. A alimentação vegetariana destrói também as plantas. Não adianta o indivíduo abster-se de carne e comer “bife” de soja. Ele usa o grão que é o germe de uma planta, portanto, aborta-a antes de nascer. Para plantar soja, foi necessário o extermínio de vários outros vegetais para que houvesse um campo para a lavoura concernente. Com a alteração da flora, ele provoca uma alteração da fauna, produzindo o extermínio de espécies animais. Portanto, ao comer um “bife” de soja, o indivíduo precisou destruir três vezes, incluindo a fauna. Portanto, vegetariano que se jacta de se alimentar sem destruir é um hipócrita.
20.2.2. LE 722 [Lei da Conservação] “Será racional a abstenção de certos alimentos, prescrita a diversos povos? Permitido é ao homem alimentar-se de tudo o que não prejudique a saúde (…) [grifo nosso]”.Comentário. A restrição é apenas para coisas que prejudiquem à saúde [grifo nosso]. Resta discutir se a carne é ou não prejudicial à saúde, que será feito após as citações.
20.2.3. LE 723 [Lei da Conservação] “A alimentação animal é, com relação ao homem, contrária à lei da Natureza? Dada a vossa constituição física, a carne alimenta a carne, do contrário o homem perece [grifo nosso]”. Comentário. Está acaciano que a Doutrina Espírita não faz restrição à alimentação carnívora e nem recomenda o vegetarianismo.
20.2.4. LE 724 [Lei da Conservação] “Será meritório abster-se o homem a alimentação animal, ou de outra qualquer [grifo nosso]? Sim se praticar essa privação em benefício de outros. (…) Por isso é que qualificamos de hipócritas os que apenas aparentemente se privam de alguma coisa”. Comentário. A pergunta é genérica, pois trata da privação da alimentação animal ou de outra qualquer. A resposta afirma que só há mérito se for para benefício de outrem. Abstenção de carne beneficia apenas o animal vivo, mas sacrifica aquele que está ou estaria no ovo, sacrifica também o peixe e os frutos do mar em geral, sacrifica os vegetais. Então é um benefício faccioso.
20.2.5. LE 728 [Lei da Destruição] “É lei da Natureza a destruição? Preciso é que tudo se destrua para renascer e se regenerar”. Comentário. Essa asserção não recomenda a destruição, apenas indica que ela é necessária. Comparando-se com o asseverado em LE 182, podemos deduzir a necessidade de destruição diminui com a elevação das categorias do mundo. É falado de destruição de uma maneira genérica [mamíferos, frutos do mar, vegetais] e não especificamente de animais.
20.2.6. LE 728 A [Lei da Destruição] “O instinto de destruição teria sido dado aos seres vivos por desígnios providenciais? As criaturas são instrumentos de que Deus se serve para chegar aos fins que objetiva. (…) destruição esta que obedece a um duplo fim: manutenção do equilíbrio na reprodução, que poderia tornar-se excessiva, e utilização dos despojos do invólucro exterior (…)”. Comentário. A resposta não faz apologia da destruição, mas deixa entrever não devemos anatematizar as necessidades transitórias de destruição. Elas ocorrem quando necessárias.
20.2.7. LE 734 [Lei da Destruição] “Em seu estado atual, tem o homem direito ilimitado de destruição sobre os animais? Tal direito se acha regulado pela necessidade, que ele tem de prover seu sustento [grifo nosso] e à sua segurança. O abuso [grifo nosso] jamais constitui direito”. Comentário. A resposta afirma que há esse direito, desde que não a destruição não seja abusiva. O limite da destruição é quando passa tornar-se abuso, antes não.
20.2.8. LE 735 [Lei da Destruição]. Resposta: “(…). Toda destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus”. Comentário. Essa resposta reforça a asserção anterior.
20.2.9. LE 736 [Lei da Destruição] “Especial merecimento terão os povos que levam ao excesso o escrúpulo, quanto à destruição de animais? (…) há mais temor supersticioso do que verdadeiramente bondade”.
20.3. Citações pós-kardequiana que condenam a alimentação carnívora e recomendam a vegetariana.
20.3.1. O Consolador [17]. Questão 129: “É um erro alimentar-se o homem com a carne dos irracionais? A ingestão das vísceras dos animais é um erro de enormes conseqüências (…) os homens terrestres poderão dispensar da alimentação os despojos sangrentos de seus irmãos inferiores”. Comentário. A resposta está incoerente com a pergunta. Pergunta-se sobre a ingestão de carne animal [que é o músculo] e a resposta é sobre vísceras, afirmando que sua ingestão é um erro. Essa parte final da asserção está incompatível com dados fisiológicos que serão discutidos adiante. O copyright desse livro é de 1940, portanto podemos considerar que essa afirmação data também dessa época. Foi admitida como verdadeira uma asseveração, feita por um único médium, ditada por um único espírito e que contradiz os fundamentos doutrinários. O critério de verdade [o da coincidência] estipulado por Kardec não foi respeitado: as afirmações para serem consideradas como coincidentes devem ser dadas por Espíritos diferentes, em diferentes lugares, mas na mesma época e sem que haja comunicação entre os manifestantes.
20.3.2. Antes desse comunicado, houve outro que o precedeu, dado pelo mesmo Espírito, através do mesmomédium e no mesmo local. Citação: A Caminho da Luz [18], p. 34, “(…) examinadas as condições morais da Terra, onde o homem se reconforta com as vísceras de seus irmãos inferiores (…)”. Essas afirmações só consideram destruição a que é feita pela alimentação carnívora. A destruição dos vegetais feita pela vegetariana não é considerada. Pela afirmação desses dois livros a condenação é a da ingestão de “vísceras dos irmãos inferiores”. Parece-nos que peixe também é animal e, contudo, muitos espíritas, que pretendem ser vegetarianos, comem peixe. Essa ideologia também é excludente, pois exclui os vegetais da condição de irmãos. Para nós, essa condenação da alimentação carnívora e apologia à vegetariana é interferência ideológica do médium. Devemos lembrar que Francisco Cândido Xavier conheceu o místico Edgard Armond em 1939, numa comemoração a Kardec, na Associação das Classes Laboriosas, Rua do Carmo, São Paulo –SP. Na década de 30, a Federação Espírita Brasileira [FEB] publica alguns artigos do místico italiano Pietro Ubaldi em sua revista “Reformador”. Em 1939, publica o livro “A Grande Síntese” [19] desse místico, onde há a pregação vegetariana. Foi justamente nessa década que o médium referido começou a publicar seus livros “mediúnicos” pela FEB. Supomos que essas mensagens anti-carnívoras foram influências de Armond e Ubaldi sobre o médium.
20.3.3. Depois dessas duas obras, “choveu” na literatura espírita uma quantidade imensa de obras tidas como mediúnicas, condenando a alimentação carnívora e recomendando a vegetariana, umas fazendo até afirmações anti-científicas [Fisiologia da Alma (20), atribuída ao espírito Ramatis]. Conhecemos muitos desses “médiuns” anti-carnívoros e constatamos que, muitos deles, tinham influências de ideologias orientais, principalmente da Yoga, vulgarizadas nas décadas de 50 e 60 pelo Coronel Caio Miranda e pelo Coronel José Hermógenes de Andrada, respectivamente. Além disso, o Movimento Espírita no Brasil segue mais as idéias de Leon Denis e Roustaing do que de Kardec. Ele sofre influência também de ideologias estranhas ao Espiritismo como as de Pietro Ubaldi [vegetariano], Humberto Rhoden [vegetariano], Freud [de família hassídica] e Jung [influenciado pelo panteísmo do paganismo germânico (as mesmas idéias que influenciaram o Movimento Nacional-Socialista: ADOLF HITLER E MUITOS NAZISTAS ERAM VEGETARIANOS E MEMBROS DAS ORGANIZAÇÕES MÍSITCAS VRIL, TEOSOFIA E THULE)], através das obras de Jorge Andréa dos Santos e de Divaldo Pereira Franco. Em São Paulo, a influência de Edgard Armond com seu misticismo oriental foi enorme. Na Década de 50, quando estavam na moda as idéias do existencialismo-fenomenológico do ideólogo nazista Martin Heidegger e as do existencialismo-materialista do anarquista Sartre, houve tentativa de identificar o Espiritismo com essas ideologias esdrúxulas. Na realidade, esse movimento vem se afastando gradativamente da doutrina codificada por Allan Kardec, tornando-se mais uma religião dogmática do que uma filosofia especulativa, como deveria ser. Constatamos que muitas organizações espíritas prestam cultos sincréticos com tradições orientais ou afro-brasileiras ou com ambas. Algumas sociedades que se autodenominam de “espíritas” realizam verdadeiros ritos de iniciação disfarçados com o nome de “tratamentos espirituais”.
20.4. Fisiologia da digestão das proteínas [viandas, frutos do mar, vísceras, etc.].
20.4.1. Qualquer tipo de carne [proteína] tem sua digestão iniciada logo que atinge o estômago. O ácido clorídrico do suco gástrico destrói as pontes de enxofre e de hidrogênio das moléculas protéicas, deixando-as frágeis e suscetíveis à ação da pepsina [suco gástrico] que as parte em moléculas de pepitonas. O pâncreas produz o tripsinogênio que, na luz do duodeno, se transforma em tripsina, pela ação das enterocínases, que desmembras as pepitonas em de aminoácidos para serem absorvidos pela mucosa entérica e servirem de nutrientes ao organismo humano. Em um indivíduo hígido, que coma sem excessos, a digestão das proteínas se completa em menos de seis horas a partir da deglutição.
20.5. Características humanas em relação à alimentação.
20.5.1. O Ser humano é por excelência um ser onívoro. Querer restringir essa capacidade onívora é contrariar a natureza humana.
20.5.2. Dentes Caninos. O Ser humano é um o único ser cultural. Por isso ele não tem meios de defesa ou ataques naturais. Isso, ele tem que criar com sua mente. Ele não tem patas, mas sim mãos e pés. Portanto não tem cascos ou garras. Até o macaco, que é chamado de quadrúmano, não tem mão, apenas quatro garras. O Ser humano não tem canino para estraçalhar a carne. Os dentes caninos humanos têm mais a função incisiva. Para estraçalhar a carne o homem tem a mente que o induz a usar a pedra bruta, depois a lascada, depois a polida, a seguir uma lâmina metálica, a máquina de moer manualmente e depois a movida por eletricidade. Para amolecer a carne ou conservá-la por mais tempo, evitando a deterioração, sua inteligência o possibilitou usar o fogo (cozimento ou defumação) ou o frio da neve ou ação desidratante do sol, às vezes, associada à ação do sal [cloreto de sódio]. A atrofia dos caninos é argumento inconsistente. O primeiro erro é os dentes mastigatórios são os molares e os pré-molorares e os Seres humanos os tem em número de vinte. O segundo erro é que os caninos dos animais são instrumentos perfuro-contundentes que são armas que, transpassando, prende a caça e essa, quanto mais tenta escapar, agrava o ferimento e a hemorragia. O terceiro erro é que a maioria dos animais carnívoros não mastiga a carne – a engole por inteiro. Os répteis e peixes engolem suas vítimas por inteiro, incluindo couro, esqueleto, cascos ou garras. Essa afirmação errônea nos obriga a duvidar da competência dos “mentores” espirituais que recomendam essa sandice.
20.6. Deterioração da carne.
20.6.1. Muitos vegetarianos afirmam que a carne começa a se putrefazer logo após o abate do animal. Isso também ocorre com os vegetais. Assim, não deveríamos comer nem os vegetais. O organismo humano, como é onívoro, é feito para usar como alimento carnes e vegetais com certo grau de deterioração. Somente a putrefação acentuada de carnes e também de vegetais não é compatível com a alimentação humana.Lembremos que comer vegetal deteriorado também leva a morte.
20.6.2. Há afirmações de que o intestino dos animais carnívoros é menor do que o dos herbívoros, a fim de facilitar o organismo descartar-se da carne que se putrefez em seu interior. Uma vez que a carne é deglutida, ela passa a sofrer processo de digestão e não de putrefação. Esses profitentes do vegetarianismo confundem digestão com putrefação. Os herbívoros têm o intestino mais longo, justamente pelo contrário – a digestão das ervas é mais lenta, entrando em fermentação que farmacologicamente é equivalente a putrefação.
20.6.3. Reconhecemos que o ato de fazer abstinências, mortificações ou de cumprir ritual é mais fácil do que perdoar, vencer o orgulho, o ódio. Por isso, os hipócritas se apegam a essas idéias de ordenanças sagradas, pois lhes dão uma ilusória sensação de pureza.
20.7. Outras considerações.
20.7.1. Em LE 79 e LE 607 A, há as afirmações de que, quando o Princípio Inteligente se individualiza, se torna Espírito e passa a reencarnar somente na forma humana. Podemos deduzir que o Princípio Inteligente precisa reencarnar em formas inferiores à humana, como animais e vegetais, para se individualizar aos poucos. Não podemos deixar de reconhecer que o consumo industrial de alimentos, que cria animais confinados e os abate em tenra idade, deve dificultar individualização do Princípio Inteligente. O mesmo acontece com a plantação em escala industrial. Os vegetais consumidos pela alimentação humana tornam-se “cultivares”, perdendo as oportunidades naturais de se individualizar.
20.7.2. Em EE 3:19 há a citação: “Marcham assim, paralelamente, o progresso do homem., o dos animais, seus auxiliares, o dos vegetais e o da habitação, porquanto nada em a Natureza permanece estacionário”. Mais adiante, falando do planeta Terra, cita: “Ele há chegado a um dos seus períodos de transformação, em que, de orbe expiatório, mudar-se-á em planeta de regeneração, onde os homens serão ditosos, porque nele imperará a lei de Deus”. Essa duas citações mostram que estamos no limiar de uma nova era para Terra e que todos juntos evoluímos espiritualmente. Nesse “novo” planeta de regeneração, a Humanidade terá que tornar menos violentos os meios pelos quais consegue alimentação, vestuário e seus demais bens. O Ser humano, sendo um ser cultural e não natural, terá condições e obrigação de abrandar os métodos empregados para obter seus bens, o que discutiremos a seguir.
20.7.3. Pensar que pelo fato de estarmos próximos de reencarnarmos em mundo de regeneração, não precisaremos mais destruir outros seres para nos alimentar [LE 182 Nota] e nos vestirmos é quimera. Somos de opinião que os Espíritos que já estejam selecionados para esse novo mundo comecem a esforçar-se para apurar sua espiritualidade. Não é necessário o abando de pronto da alimentação animal. Laticínios, ovos e frutos do mar, julgamos que são inquestionáveis fazerem parte da nossa futura dieta. Achamos plausível que diminuamos o uso da carne de animais mais próximos da espécie humana, como os mamíferos, ou pelo menos da quantidade. Por exemplo: se abolirmos o abuso de carne, diminuiremos o número de bois abatidos e favorecemos que o Princípio Inteligente tenha mais oportunidade de se individualizar. O abate de mamíferos é aparentemente mais cruel do que o de animais marinhos, embora matemos esses últimos com a crueldade da sufocação. A matança de aves também é aparentemente menos violenta do que a de mamíferos. O material sintético pode substituir muitos artefatos de couro. Podemos elaborar programas para a abolição completa de objetos de couro. Devemos lembrar também que “espiritualização” da dieta e do vestuário não consiste somente do abandono do abate de animais, mais abrandamento da gula e da vaidade no vestir. Com isso não vamos comer só “ração” e limitar-nos a um vestuário “trapista”. Ainda precisamos desfrutar de prazer na alimentação e um pouco de vaidade, ou pelo menos zelo, no vestir.
20.7.4. Somos carnívoros e não pretendemos deixar de sê-lo nesta reencarnação. Fazemos um esforço para diminuir a alimentação carnívora, principalmente de mamíferos. Laticínios, ovos e frutos do mar, nem cogitamos de abandoná-los. Não somos fumantes. Achamos que o espírita não deva deixar obrigatoriamente o uso de tabaco se já tiver essa dependência antes de ingressar na Doutrina. Não aceitamos que os jovens criados no Espiritismo experimentem esse tóxico e se enverede pela dependência. O alcoolismo é incompatível com a espiritualização. Mas, isso não justifica o horror que certos espíritas têm às bebidas alcoólicas. O uso social da cerveja e do vinho são coisas que não podem ser abandonadas compulsoriamente. As famílias espiritualizadas já não sentirão necessidade de seu uso em suas comemorações. O bom espírita se caracteriza por sua transformação moral e pelo esforço por domar as más inclinações [EE 17:4]. Isso não significa que nos tornaremos Espíritos puros repentinamente só porque nos tornamos espíritas. O trabalho é lento, mas incessante. O risco dessas abstinências dietéticas, sexuais, de ordenanças nos vestuários, é de que elas são mais fáceis de serem praticadas do que o perdão, a diminuição do orgulho, da vaidade, da inveja, do ciúme. Muito cuidado, pois os hipócritas e fariseus são ávidos por ordenanças e interdições.
20.7.5. Do mesmo modo, não apoiamos que espíritas adotem o uso de tatuagens e “piercings”, brinquinhos para orelhas masculinas (mesmo femininas). É preciso que não nos deixemos levar por “modismo”. Não fazemos apologia do puritanismo, mas não devemos ser fúteis e deixarmos nos escravizar pela moda.
20.7.6. A vaidade feminina pela maquiagem, penteados, tingimento de cabelos, esmaltamento da unhas, deverá ser abandonada gradativamente. Não podemos admitir que abruptamente elas deixem isso. Esse desprendimento deverá será adquirido ao longo de reencarnações. Mas as hipócritas acharão mais fácil desprenderem-se disso do que perdoar, superar a inveja, o ciúme, o orgulho. O que não é admissível é que os homens ocidentais que não tinham esses costumes se tornem “metrossexuais” janotas, casquilhos, peraltas, dandis).
20.7.7. A mesma orientação temos que tomar em relação ao sexo. Sua finalidade precípua é a reprodução do corpo físico. O prazer, apenas, complemento, a fim de tornar o ato sexual mais atrativo e facilitar a reprodução. Os animais, embora também sintam prazer, são atraídos pelo instinto na época do cio. Eles ainda não têm a capacidade abstrata de relacionar o prazer com o ato em si. O Espírito, que só reencarna como ser humano, tem essa capacidade e sentem vontade de praticar o ato sexual só pelo prazer. Sabemos que o espírito puro não precisa de sexo, pois não se reproduz. Então, nossa espiritualização também consiste em nos desapegarmos do prazer sexual. Desejar que nós, que ainda reencarnamos num mundo de expiações ou, mesmo, os já selecionados para reencarnarem em um de regeneração, possamos nos abster do hedonismo sexual é uma quimera. A masturbação e o coito com meios anticoncepcionais são comportamentos necessários e, por isso, ainda tolerados. A prática sexual só para fins procriativos, com a abstinência para fins hedonísticos, mesmo já iniciado a fase de regeneração, é uma perda do contato com a realidade. Esse desprendimento tem que ser gradativo, passando por várias reencarnações. Para hipócritas e fariseus isso será mais fácil do que perdoar, não ter inveja ou ciúme, da mesma forma que são vegetarianos.
CAPÍTULO XXI
21. FILOSOFIA ESPÍRITA DA CIÊNCIA.
21.1 Introito.
21.1.1. Na passagem do Século XVII para o XIX, a Ciência tomou grande impulso, explicando por causas naturais muitos fenômenos tidos como sobrenaturais. O Século XIX foi uma época de esplendor. Surgiu a eletricidade, a lâmpada elétrica, motores a vapor, a óleo, à gasolina, a locomotiva, o navio a vapor, os balões e planadores. Após um século de deslumbramento pela Ciência, a Humanidade constatou que algumas assertivas científicas estavam erradas. Alguns intelectuais ficaram tão decepcionados que passaram a adotar uma posição anti-científica. O estudo dos acertos e erros da ciência, assim como as diferentes maneiras de “ver cientificamente o mundo”, foi chamado de “Filosofia da Ciência”. Os franceses o denominaram de “Epistemologia”, de “epistemê” [grego - saber elevado]. Queremos lembrar que em inglês a palavra “epistemology” significa “Teoria do Conhecimento” ou “Gnoseologia”.
21.2. O próprio Século XX, foi uma época de menoscabo pela razão. Começou com as teorias de Nietzsche, Husserl, Marx e Freud. Nietzsche era cético. Considerava a possibilidade do conhecimento impossível. Sendo o conhecimento impossível, também o seriam os valores éticos e estéticos. Por isso, sua filosofia é chamada de Niilismo, pois afirma a impossibilidade conhecimento cognitivo, ético e estético. Isso concorreu para o “laxismo” (ks) que caracterizou essa centúria. Husserl com sua fenomenologia, baseado em Kant, afirma que só o “fenômeno” é possível ser conhecido, o “númeno” não. Portanto, não deixa de ser cético, pois o conhecimento possível é o relativo, podendo variar com o tempo e local, sujeito à instabilidade do subjetivismo. Husserl também afirmou que o sujeito vivia em interação com objeto. Embora não negasse a realidade do objeto, o sujeito acaba por prevalecer, cirando o “subjetivismo” que tanto caracterizou o Século XX. Influenciou o princípio do indeterminismo de Heisenberg que é uma forma de ceticismo. Marx com dialética materialista, com a qual tenta reparar a inoperância da idealista de Hegel, tenta explicar a História e a própria Natureza por ela, criando o materialismo histórico ou materialismo dialético. Embora ele siga o determinismo causal econômico, sua dialética acaba por levar a um indeterminismo, pois tudo que ocorre na natureza traz dentro de si sua própria negação. Completando esse ceticismo, esse relativismo e esse subjetivismo, Freud desenvolveu o conceito de “inconsciente dinâmico” que seria uma instância irracional a comandar a mente humana. Disso, resultou a aberração estética do “Manifeste Surrrealiste”, que André Breton fez em 1924, e que teve seu auge na decadente década de 60 com suas extravagâncias estéticas e morais, que caracterizavam os movimentos hippies, psicodélicos, o manifesto da antipsiquiatria em 1966 [Londres], as badernas das ruas de Paris em maio de 1968, onde era proibido “proibir”, a manifestação de homossexuais em 28 de junho de 1969 [Nova Iorque], o Festival de Woodstock [agosto de 1969], o uso desenfreado e apologético das drogas alucinógenas, a promiscuidade sexual, etc.
21.3. Alguns espíritas não se conformam com o fato de a Ciência ainda não ter comprovado a reencarnação e a comunicabilidade entre o mundo encarnado e o desencarnado. Numa atitude infantil de retaliação adotam essas teorias estapafúrdias de contestação científicas e querem introduzi-las na Doutrina. Citam muito a passagem da Introdução ao LE, item VII, p 28 e 29 da 70ª. Ed do LE, FEB, 1989 “A ciência propriamente dita, é, pois, como ciência, incompetente para se pronunciar na questão do Espiritismo (…) (grifo nosso)”. Kardec nunca se mostrou anti-científico. Pelo contrário, baseou-se na Ciência e a venerava como veremos nas citações abaixo. No EE 1:4. afirma: A Ciência tinha de contribuir poderosamente para a eclosão e o desenvolvimento de tais idéias. Importava, pois dar à Ciência tempo para progredir”; EE 1:8. tem por título “Aliança da Ciência e da Religião”, onde afirma que somente essa união tornará possível uma progresso sem conflito ideológico: “(…) a fé dirigiu-se `s razão; esta nada encontrou de ilógico na fé (…)”. Seu livro GE é uma apologia à Ciência da época. Ele reproduz muitas afirmações científicas de então, embora muitas delas hoje estejam anacrônicas. No item 10.3. transcrevemos as afirmações de que o espírito para evoluir tem que fazê-lo moral e intelectualmente e que o para ser perfeito tem que saber tudo. Portanto, esses espíritas que desprezam a razão, o conhecimento científico, que tentam introduzir as superstições orientais, estão contra os fundamentos doutrinários. Veja na citação abaixo GE 1:55.
21.4. Há um grupo que se diz ser sociedade espírita que tem por objetivo unificar a Ciência do Ocidente com a do Oriente. Ciência só houve no Ocidente. As teorias orientais sempre se caracterizaram por um misticismo fanático, irracional, que mantém rajás e marajás ao lado de párias. A China com o Budismo, Confucionismo e Taoísmo foi sempre uma cultura onde a renda ficava na mão de poucos, enquanto a fome e as verminoses consumiam os menos favorecidos. O Japão, apesar de seu Zen-budismo, foi um país que até a metade do Século XIX mantinha o impiedoso “Shogunato” e após sua ocidentalização tornou-se um Estado imperialista provocando a guerra com a Rússia, invadindo a Mandchuria e a China e atacando Pearl Harbor em 7 d de dezembro de 1941. Não conseguimos identificar o que as teorias orientais têm de melhor do que a Ciência e Filosofia Ocidentais, a ponto de um “espírito” ter que ditar obras a médiuns ocidentais, visando a uma fusão. Em EE 1:2., Kardec refere-se apenas as revelações de Moisés, Cristo e a dos Espíritos. Se as filosofias orientais tivessem algum valor diferente a ser adotado, ele tria mencionado. Se não o fez, é porque elas não têm mais nada de importante do que já há nas três citadas. Esses indivíduos que querem conspurcar os Espiritismo com o misticismo fanático oriental estão sob a influência dessas teorias do Século XX, que tentam denegrir o Ocidente, Oswald Sprangler, Claude Levi-Strauss, e outros derrotistas.
21.5. A maneira de Kardec ver a ciência é a de que ela é uma fonte segura de saber e de evolução espiritual, devendo todo espírita respeitá-la, cooperar com ela. Os enganos dela são fruto da ignorância do Espírito que ainda reencarna num mundo de expiações. Nunca deve ser alvo de zombarias como soe fazer alguns “pontífices” do Espiritismo.
LE INT III “(…) para fatos novos pode e deve haver novas? Ora para se conhecerem essas leis, preciso é que se estudem as circunstâncias em que esses fatos se produzem (…)”.
LE INT. VII “Desde que a Ciência sai da observação material dos fatos, em se tratando se os apreciar e os explicar, o campo está aberto às conjecturas (p. 28)”. “As ciências ordinárias assentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar e manipular livremente; os fenômenos espíritas repousam na ação de inteligências dotadas de vontade própria e que nos provam a cada instante não se acharem subordinadas aos nossos caprichos (28)”. (…) “A ciência propriamente dita, é pois, como ciência, incompetente para se pronunciar na questão do Espiritismo (…) qualquer que seja seu julgamento, favorável ou não, nenhum peso terá.(grifos nossos)” “(…) o Espiritismo não é da alçada da ciência (…) oEspiritismo não é da alçada da Ciência(p.29) (grifo nosso)”. “Quando surge um fato novo, que não guarda relação com alguma ciência conhecida, o sábio, para estuda-lo, tem de abstrair da sua ciência e dizer a si mesmo que o que se lhe oferece constitui um estudo novo, impossível de ser feito com idéias preconcebidas (p.30). Devido a essas citações, alguns elementos do Movimento Espírita Brasileiro que são apedeutas e estultos, não as compreenderam bem dentro do contexto e tomaram uma atitude anti-científica, procurando sincretismos com toda modalidade de misticismo, às vezes até com a feitiçaria. Negando isso, Kardec, escreveu o livro “A Gênese” que compara com o que de mais moderno havia de científico em sua época. É uma prova ele prestigiava a Ciência. A posição anti-científica de alguns espíritas é reprovável. Veja abaixo o que Kardec fala a respeito das relações entre Ciência e Espiritismo (EE 1:8 e GE 1:55).
LE 19. « A Ciência lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas ; ele, porém, pode ultrapassar os limites que Deus estabeleceu”.
LE 59. Apoiada na Ciência, a razão reconheceu a inverossimilhança de algumas dessas teorias.”.[p.70]
LE 1009. “Gravitar para a unidade divina, eis o fim da Humanidade. Para atingi-lo, três coisas são necessárias: a Justiça, o Amor e a Ciência.” Paulo, apóstolo [p.467].
LE CONCLUSÃO “(…) se a vossa ciência, que vos instruiu em tantas coisas, não vos ensinou que o domínio da Natureza é infinito, sois apenas meio sábios (p.479)”.
LM 294.28. “Podem os Espíritos guiar os homens nas pesquisas científicas e nas descobertas?” A ciência é obra de gênio; só pelo trabalho deve ser adquirida, pois só pelo trabalho é que o homem se adianta no seu caminho.’.
EE 1:4. (p. 58) “A Ciência tinha de contribuir poderosamente para a eclosão e o desenvolvimento de tais idéias. Importava, pois, dar à ciência tempo para progredir.”;
EE 1:5. “O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar (…) a existência e a natureza do mundo espiritual (…).
EE 1:8. [p. 60] “Aliança da Ciência e da Religião”; “São chegados os tempos em que os ensinamentos do Cristo têm de ser completados; (…); em que a Ciência, deixando de ser exclusivamente materialista, tem de levar em conta o elemento espiritual e em que a Religião, deixando de ignorar as leis orgânicas e imutáveis da matéria, como as duas forças que são, apoiando-se uma na outra e marchando combinadas, se prestarão mútuo concurso. Então, não mais desmentida pela Ciência, a Religião adquirirá inabalável poder, porque estará de acordo dom a razão, já se lhe podendo mais opor a irresistível lógica dos fatos.”. 9. [p. 62] “(…) os espíritos, que então abraçarão uma ciência que lhes dá a chaves da vida futura e descerra as portas da felicidade eterna.”. 10. [p.63] “O vosso mundo se perdia; a Ciência, desenvolvida à custa do que é de ordem moral (…). (….) cristãos, o coração e o amor têm de caminhar unidos à Ciência”.
EE 24:5. “Mas, ao passo que essas religiões iam ficando para trás, a Ciência e a inteligência avançaram e romperam o véu misterioso.”
GE 1:14. “As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental; (…).”
GE 1:55. “As descobertas que a Ciência realiza, longe de o rebaixarem, glorificam a Deus, unicamente destroem o que os homens edificaram sobre as falsas idéias que formaram de Deus. (…) O Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificará nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.”.
GE 4:17. “Somente agora, conquanto nem a Ciência material, nem a Ciência espiritual hajam dito a última palavra, possui o homem os dois elementos próprios a lanças luz sobre esse imenso problema.”.
GE 12:5. Kardec compara os períodos geológicos com os “seis dias bíblicos” em que Deus teria criado o mundo.
OP p.36 “Toda teoria filosófica em contradição com os fatos que a Ciência comprova é necessariamente falsa, a menos que prove estar em erro a Ciência.”
OP p. 44. “Nenhuma crença religiosa, por lhes ser contrária, pode infirmar os fatos que a Ciência comprova de modo peremptório. Não pode a religião deixar de ganhar em autoridade acompanhando o progresso dos conhecimentos científicos, como não pode deixar de perder, se conservar retardatária, ou a protestar contra esses mesmos conhecimentos em nome dos seus dogmas, visto que nenhum dogma poderá prevalecer contra as leis da Natureza, ou anula-las. Um dogma que se funde na negação de uma lei da Natureza não pode exprimir a verdade.”
OP p. 45. “Quando as ciências médicas tiverem na devida conta o elemento espiritual na economia do ser, terão dado grande passo e horizontes inteiramente novos se lhes patentearão.”. [mais correlações entre perispírito e ciência vide: LM 54, CI 2a. Pt 1:2. p.167 e GE 1:39.40.OB p. 181].
OP p.88. “É possível (…) que a Ciência e a lei façam aliança (…)”, citando Charpignon. “Controvérsias sobre a idéia da existência de seres intermediários entre o homem e Deus”.
OP p. 220 “Para ele, absolutamente não há mistérios, mas uma fé racional (…). Não repudia nenhuma descoberta da Ciência, dado que a Ciência é a coletânea das leis da natureza e que, sendo de Deus essas leis, repudiar a Ciência fora repudiar a obra de Deus”. “Questões e problemas : as expiações coletivas”.
OP p. 259 “O Espiritismo caminha ao lado da Ciência, no campo da matéria: admite todas as verdades que a Ciência comprova; (…).”. “Ligeira resposta aos detratores do Espiritismo”.
OP p. 321 “Essa chaves está nas descobertas da Ciência e nas leis do mundo invisível, que o Espiritismo vem revelar.” “Regeneração da Humanidade”.
CAPÍTULO XXII
FILOSOFIA ESPÍRITA DA ESTÉTICA
22.1.Intróito. Em toda obra codificada por Allan Kardec, só encontramos referências a uma doutrina estética em O Livro dos Espíritos [LE 251 e LE 252 sobre música; LE 565,LE 566 e LE 567 sobre arte] e em “Obras Póstumas” [27], nos capítulos 10 [Influência Perniciosa das Idéias materialistas –Sobre as artes em geral; regeneração delas por meio do Espiritismo, p. 155], 11 [Teoria da Beleza, p. 161], 12 [A Música Celeste, p. 173] e 13 [A Música Espírita, p. 177]. Esse último livro apresenta uma dificuldade para citações, pois não possui uma numeração de referência adequada. Por isso, toda citação a ser feita será pela página da 22A. Ed., 1987, da FEB.
22.2. Em LE 251, há apenas a referência de que os espíritos, quando desencarnados, apreciam melhor a música, pois não possuem o amortecimento sensorial produzido pelo corpo físico. Em LE 252, há afirmação de que os Espíritos desencarnados são mais sensíveis às belezas da Natureza, pelo mesmo motivo anterior. Em LE 565, há a afirmação de que os Espíritos desencarnados se interessam por nossas obras de arte. Em 566, é dito que um Espírito que, em uma reencarnação cultivou certo tipo de arte, no Mundo espiritual poderá ter outros interesses, pois o Espírito para evoluir tem que conhecer tudo. Em LE 220, é dito que o Espírito pode reencarnar com seus talentos bloqueados, a fim de desenvolver outros. Em 566 A, é informado que os Espíritos menos evoluídos ficam mais presos aos valores do mundo encarnado e, portanto, podem admirar certas obras artísticas de encarnados como se ainda estivessem nessa condição. Em LE 567, os Espíritos desencarnados, quanto mais atrasados estiverem, mais se imiscuem nas atividades dos reencarnados; nisto consiste o perigo do Manifesto Surrealista [André Breton, 1924] que propõe que o artista libere todas as idéias que lhe vierem à mente, dando plena liberdade a seu “inconsciente”. O perigo reside que essa pretensa inspiração do “inconsciente”, muitas vezes, pode ser a influência de um Espírito ainda pouco evoluído.
22.3. A Filosofia da Arte preocupa-se em definir o fundamento estético de uma doutrina, corrente de pensamento, cultura, etc. Se o fundamento estiver no sujeito, dizemos que o “fundamento é subjetivo ou autônomo”. Se estiver no objeto, afirmamos que ele é “objetivo ou heterônimo”.
22.4. Em OP, capítulo intitulado “Influência Perniciosas das Idéias Materialistas”, da p.155 à p.159, que corresponderia ao X, afirma: “O que há de sublime na arte é a poesia do ideal, que nos transporta para fora da esfera acanhada de nossas atividades. Mas, o ideal paira exatamente nessa região extramaterial onde só se penetra pelo pensamento” (p.156). O fundamento estético do Espiritismo não está no sujeito, está na vida extramaterial. A arte válida é somente aquela que ajude ao Espírito reencarnado a se aproximar do mundo desencarnado, a libertar-se das paixões do corpo físico. Artes que exacerbam o ódio, o ciúme, a sensualidade não são válidas. Elas podem tratar desses assuntos para mostrar as conseqüências funestas que acarreta para o Espírito, mas o com objetivo afastá-lo delas. Na mesma página afirma: “O Espírito somente pode identificar-se com que sabe ou crê ser verdade e essa verdade, embora de ordem moral, se lhe torna realidade que tanto melhor se exprime, quanto melhor a sente. Kardec reconhece a influência subjetiva na arte, mas não abona essa posição, pelo contrário, recomenda que o Espírito se aperfeiçoe, a fim de eliminar o fator subjetivo e compreender melhor a realidade. No resto desse capítulo, ele mostra a flutuação do fundamento estético conforme as épocas e locais. O capítulo intitulado “Teoria da Beleza”, da p.161 à 173, que corresponderia ao nº XI, começa com a pergunta: “(…) haverá uma beleza absoluta?”. Antes de responder, Kardec tece comentários e cita o livro “As Revoluções Inevitáveis no Globo e na Humanidade”, de Carlos Richard.
22.5. O livro, apesar de conter vários preconceitos da época, inclusive alguns racistas, mostra que o fundamento de “belo” acompanha a evolução intelectual e moral da Humanidade. Portanto, há um fundamento estético heterônomo, mas só alcançável gradativamente com a evolução. Kardec aceita essas conclusões. Embora, o Espiritismo afirme que o fundamento estético é heterônimo, isto é está no objeto (a vida extra-material), reconhece que a inferioridade espiritual de nós, que ainda reencarnamos na Terra, colocamos muito ainda de nossa subjetividade na apreciação da obra de arte. Mas essa subjetividade não é absoluta, é transitória. O Espírito, ainda reencarnante na terra, vê, sente e compreende o Mundo conforme ele (espírito) é. O Universo não depende de como o Espírito, ainda enceguecido por seu egoísmo e individualismo, o compreende, o sente,
22.6. Citações de Kardec: [OP p. 167] “(…) à medida que o ser moral se desenvolveu; que a forma exterior está em relação constante com o instinto e os apetites do ser moral; (…) quanto mais seus instintos se aproximam da animalidade, tanto mais a forma igualmente dela se aproxima; enfim, que, à medida que os instintos materiais se depuram e dão lugar a sentimentos morais, o envoltório material, que já não se destina à satisfação de necessidades grosseiras, toma forma cada vez menos pesadas, mais delicadas, de harmonia com a elevação e a delicadeza das idéias. A perfeição da forma é, assim, conseqüência da perfeição do Espírito: (…) o ideal de forma há de ser a que revestem os Espíritos em estado de pureza (…)” [grifo nosso]. [OP p. 168]“(…) beleza real consiste na forma que mais afastada se apresenta da animalidade e que melhor reflete a superioridade intelectual e moral do Espírito (…)”. Há um fundamento estético fora do sujeito, a ser alcançado. A relatividade e subjetividade dos fundamentos estéticos, que assistimos reencarnados nesse Mundo, são fruto da involução espiritual que nos incapacita de conhecer a beleza em sua plenitude.
22.7. À pergunta “(…) haverá uma beleza absoluta? [OP p. 161]”, Kardec responde que sim, sendo o fundamento estético heterônomo, mas só alcançável gradativamente, à medida que o Espírito evolua moral e intelectualmente.
22.7. Em OP p.173/p.176, há o Capítulo XII com o título “Música Celeste”. É um desenvolvimento dos conceitos apresentados em LE 251 e LE 252. O Capítulo XIII, OP p.177/p.185, com o título “Musica Espírita” mostra a correlação entre Espiritismo e Música [podemos estender o conceito para Arte de um modo geral]. Afirma que à medida que o Espiritismo ajudar a elevarmos moralmente a música [Arte], ela torna-se-á mais suave, mais espiritualizada. O mesmo ocorre inversamente: uma música [Arte] mais suave, mais espiritualizada, os espíritos encarnados e desencarnados terão mais facilidade de elevarem-se mais espiritualmente.
22.8. Conclusões:
22.8.1. O fundamento estético espírita é incompatível com o autônomo, como ocorreu no Século XX e se adentra pelo XXI.
22.8.2. As extravagâncias hippies e psicoldélicas da passada Década de 60, com seus protestos infundados, com um retrocesso às práticas de tatuagem e mutilações corpóreas com “piercings”, típicas de culturas ainda em fases atrasadas, são incompatíveis com a estética e moral espíritas.
22.8.3. O “Manifeste du Surrealisme”, ocorrido em 1924, fere frontalmente a estética e a moral espíritas. Nele, André Breton, defende a legitimidade da suspensão moral na confecção de qualquer obra de arte. Isso deixa de considerar a moral e a intelectualidade, o que é incompatível com afirmado acima.
22.9. Observação final. Lamentavelmente Kardec deixa-se se trair pelo “espírito da época” e apresenta opiniões racistas: “O negro pode ser belo para o negro, como o gato é belo para o gato; mas, não é belo em sentido absoluto [grifo nosso], porque seus traços grosseiros, seus lábios espessos acusam a materialidade dos instintos; podem exprimir as paixões violentas, mas não podem prestar-se a evidenciar os delicados matizes do sentimento, nem as modulações de um espírito fino.”.
22.10. Nas p. 169 e p. 170, há uma comunicação assinada por Pamphile que vincula o “belo” [senso estético] com a moral. Quanto mais evoluída a moral, mais a pessoa capacita-se a identificar a verdadeira beleza. O que presenciamos no momento nesse planeta é uma desvinculação do “belo” com a moral. Todas as manifestações estéticas fundamentam-se na subjetividade, admitindo como estética a criação extravagante, inusitada, esdrúxula, de mau gosto, erótica, quando não, obscena. Nas p. 170 e p. 171, há uma comunicação de Lavater que Belo, realmente belo só é o que o é sempre e para todos; e esta beleza eterna, infinita, é a manifestação divina em seus aspectos incessantemente variados; é Deus em suas obras em nas suas leis! Eis ai a única beleza absoluta.”.
22.11. No Capítulo XII [Música Celeste] e no XIII [Música Espírita], Kardec não fornece nenhum outro dado doutrinário. No primeiro desses, reafirma que a arte deverá está associada à moral. No segundo, informa que o Espiritismo influenciará a arte, depurando-a.
CAPÍTULO XIII
FILOSOFIA ESPÍRITA DA NATUREZA
23.1. Intróito. Em Filosofia da Natureza são analisados os diferentes pontos de vista sobre ela. Parte da visão espírita sobre o assunto já foi exposto no Capítulo VI COSMOLOGIA ESPÍRITA. A Natureza, incluindo tudo, seres orgânicos e inorgânicos são criações de Deus, portanto, a natureza é para o espiritismo uma Criatura divina. O respeito, que devemos ao Criador, devemos também à sua Obra. A Terceira Parte do LE trata das Leis Morais e, mais especificamente, encontraremos sobre o assunto em Cap.I Da lei divina ou natural, Cap.IV Da lei da reprodução, Cap.V Da lei da conservação, Cap.VI Da lei da destruição.
23.2. O Espírito encarnado não deve adorar a natureza como o faziam os povos primitivos. Deve ver nela a grandeza de Deus, desse Poder Superior que a tudo precedeu, a tudo preside e a tudo subsistirá. O uso dos recursos naturais é lícito. Ilícito é o abuso. Por isso, o Espírito encarnado não precisa fazer abstinências de coisa alguma, deve apenas ser morigerado de modo a não ultrapassar os limites entre o uso e o abuso.
23.3. O Espiritismo não interpõe tabus à lei de reprodução, como também não o faz para limita-la. Tudo deve ser feito com critério e atendendo às necessidades do veículo carnal, porém sem abuso. Há uma lei que regulamenta a conservação, assim como há outra regulando a destruição.
23.4. Por isso, no Cap.X FILOSOFIA ESPÍRITA DA EDUCAÇÃO há tanta ênfase para que o Espírito tem que saber tudo para ser perfeito [Citações em 10.3.], pois assim ele cada vez mais apurará o critério para usar os recursos da Natureza.
23.5. Estado de natureza. Esse conceito é estudado da LE 776 à LE 778. O Espírito encarnado é um ser cultural e não está destinado a viver em estado de natureza. Ele tem que progredir sempre. As idéias românticas de “volta à Natureza” ou as de alguns povos primitivas que a identificam com a idéia de “mãe” [mãe natureza] são incompatíveis com a Doutrina. Ela é criatura como nós o somos também. O Cristianismo identifica a idéia de Deus com a de Pai. Em português essas palavras pertencem ao gênero masculino, facilitando essa identificação. Na realidade, a idéia espírita de Deus não tem aspectos antropmórficos e nem antropopáticos. Os espíritas têm que ter cuidado com essa ideologia vulgar, surgida na década de 60 do Século XX, esposada pela contra-cultura da New Age. EE 1.9. “O Espiritismo é de ordem divina, pois que se assenta nas próprias leis da Natureza.”
23.6. O Espírito quanto mais evoluído tem seu corpo físico e seu perispírito mais delicados e, portanto, de mais proteção contra os elementos naturais. Por isso ele é dotado de inteligência e desejo de progredir [item 7.3.6. Ser a parte e 7.3.7. Consciência da necessidade de progredir].
CAPÍTULO XXIV
ESPIRITISMO E ESPERANTO
24.1. Intróito.
24.1.1. No presente, há dentro do Movimento Espírita Brasileiro uma despropositada apologia ao Esperanto, havendo intensa propaganda e incentivo a seu uso. Em algumas sociedades espíritas, ele já está sendo empregado para palestras, estudos doutrinários e há quem defenda seu uso até para prece [22]. Aos poucos, está tomando o aspecto de língua sacra, assim como o grego clássico e o latim são para grupos cristãos, o hebraico para judeus e alguns calvinistas, o sânscrito entre os hinduístas, etc. Kardec afirma que a prece tem que ser inteligível [EE 27: 16.17. (Preces Inteligíveis) (25)]. No Sermão da Montanha [Mt 6.], Cristo não faz nenhuma prescrição de oração em línguas exóticas. Parece-nos que essa tendência do Movimento Espírita Brasileiro de elevar o Esperanto à categoria de língua sacra, contraria os ensinamentos de Cristo e de Kardec.
24.1.2. Pode parecer estranho tratarmos da relação entre Espiritismo e Esperanto dentro de um livro sobre Filosofia. Mas, quando uma língua é elevada à categoria de língua sacra, o assunto passa a ser do objetivo da Filosofia da Religião. Isso constitui uma “visão de mundo” [Weltanschauung]. Portanto, é plausível discutirmos nesse livro, se colide ou não com os fundamentos do Espiritismo a adoção de língua sacra, se uma língua artificial com pretensões de ser neutra irá harmonizar a Humanidade ou o inverso, se uma Humanidade harmonizada adotará uma língua qualquer como internacional. Kardec afirma algo semelhante para o Espiritismo: GE 18:25 “O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da Humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade.” [Grifo nosso]. Quando a humanidade estiver madura, ela mesma sentirá a necessidade de adoção de uma língua internacional, conservando as nacionais, para um melhor intercâmbio internacional. Nesse caso, qualquer língua servirá, mesmo as naturais vinculadas a culturas. Se a Humanidade não estiver harmonizada [amadurecida], qualquer língua pretensamente “neutra” será mais perigosa que as nacionais, pois servirá para sorletemente arrebanhar “massa de manobra política”, o que não ocorrerá com uma língua natural, pois as pessoas estarão alertadas para a possível influência político-cultural e para seu uso como instrumento de dominação pela estrutura de poder. Vide item 24.4.2. Massa de manobra.
24.2. Breves dados Históricos sobre o Esperanto.
24.2.1. A cidade de Bialistok fica na Polônia, próxima a fronteira com a Lituânia. Durante a dinastia jagelônica, esses dois países ficaram unificados. Portanto, nessa cidade as duas línguas passaram a ser faladas. Essa dinastia aceitou muitos judeus a seu serviço e uma colônia deles estabeleceu-se em Bialistok. Esses judeus eram asquenazim e, portanto, falavam iídiche. Mais tarde, essa cidade passou para a Prússia que tentou germaniza-la com colonos saxões. Em 1812, a Prússia cede essa cidade à Rússia, a fim de obter o apoio desta contra Napoleão I. O médico judeu Lázaro Luís Zamenhof nasceu nessa cidade e testemunhou o conflito entre línguas e culturas. Ingenuamente, deduziu que uma língua “neutra”, criada artificialmente, ajudaria o entendimento das pessoas. Construiu uma língua fonética, regular, de estrutura aglutinante, com afixações e palavras tiradas dos principais idiomas indo-europeus. Infelizmente, suas tendências internacionalistas comprometeram a “neutralidade”, pois paralelamente criou a ideologia que denominou de “homaranismo”, que podemos traduzir por “humanitarismo”. Todas as pessoas sentir-se-iam irmãs, colocando os interesses internacionais acima dos nacionais. Muitos esperantistas se autodenominam “mondcivitano” [“Pessoa que não reconhece a divisão da humanidade em regiões (tradução nossa) (23)] – cidadão do mundo. Há uma editora com o nome “Senacieca Asocio Tutmonda”: “tutmonda” significa mundial, internacional, adjetivo que denota abrangência mundial ou entre as nações, mas nunca supra-nacional ou anti-pátria; “senacieca” significa “sem nacionalidade”, portanto é anti-nacional, apátrida. Está claro que o “homaranismo” de Zamenhof é uma ideologia internacionalista, o que tira do Esperanto sua pretensa neutralidade. Para ser bem aceito no meio esperantista, a pessoa deve ter tendências internacionalistas, sincretistas, ecumenistas, iconoclastas, anarquistas. O patriota, o ordeiro, o defensor da hierarquia e da obediência é mal recebido pala comunidade esperantista. O Esperanto não é tão simples como apregoam e nem tão neutro, pois está atrelado a uma ideologia internacionalista, o que os torna facilmente massa de manobra política. Em uma associação esperantista na cidade do Rio de Janeiro, assistimos muitos indivíduos nascidos e criados no Brasil e portadores de cidadania brasileira a se apresentarem como “esperantistas nascidos no Brasil”, renegando a Pátria e “cuspindo no prato em que comeram [ou pastaram]”. Em 1887, é publicada a primeira gramática de Esperanto. Por isso, esse ano é considerado o início do uso dessa língua.
24.2.2. O Esperanto penetrou no Brasil na passagem do Século XIX para o XX. A princípio, o número de esperantistas era pequeno, geralmente constituídos por idealistas, internacionalistas, pacifistas, místicos e anarquistas. O grande avanço que ele teve no Brasil foi devido a seu “casamento” com o Espiritismo. Primeiramente, examinemos a razão desse “casamento” entre Esperanto e Espiritismo. Na primeira metade do Século XX, havia alguns espíritas que se tornaram esperantistas e alguns esperantistas que se tornaram espíritas. Isso não prova ou é indício de alguma ligação mística entre as duas doutrinas. O Espiritismo surgiu em 1857 e o Esperanto em 1887. Portanto, nessa época, o que havia de comum entre essas duas doutrinas era serem novidades e apresentarem idéias inusitadas. O perfil do adepto de uma coincidia com o do adepto da outra. Ismael Gomes Braga era um esperantista que se tornou espírita. Em 1940, quando visitou Francisco Cândido Xavier, ocupava cargo na presidência, tanto da Federação Espírita Brasileira, como na Liga Brasileira de Esperanto. É plausível que desejasse encontrar um elo místico, ligando essas duas doutrinas. O médium acima recebe uma mensagem mediúnica, atribuída ao Espírito Emmanuel, que confirma esse desiderato. Uma única mensagem, recebida por um único médium e em circunstâncias que favoreciam seu conteúdo, é tomada como verdade inquestionável. O critério de pluralidade, simultaneidade e coincidência ideológica, ensinado por Kardec para a aceitação de uma comunicação mediúnica [EE INTRODUÇÃO II (25)], não foi observado. A partir desse momento, o Esperanto vem gradativamente se tornando uma língua sacra para o Espiritismo. Em nossa opinião, Ismael Gomes Braga aproveitou a ingenuidade do Médium Francisco Cândido Xavier parar usar o Espiritismo a favor da expansão do Esperanto no Brasil.
24.3. Esperanto como língua sacra.
24.3.1. Embora não consideremos o Espiritismo como religião, mas apenas como uma filosofia cristã subseqüente à Patrística e à Escolástica, o Movimento Espírita Brasileiro o pratica como religião. Por isso, é pertinente examinar esse problema de sacralidade lingüística como Filosofia da Religião.
24.3..2. O livreto de Paulo Kiehl [22] apresenta na “Introdução” a afirmação “(…) não sabem que o Esperanto é um importante instrumento para o aperfeiçoamento do espírito encarnado e desencarnado.”. No Capítulo “Por que o médium deve saber o Esperanto?”, aparecem outras afirmações: “(…) é através da prece, se feita em Esperanto então…”, “(…) o conhecimento do Esperanto vai permitir a uma expansão extraordinária dos contatos entre encarnados e espíritos.”, “A freqüência do uso da língua facilita os contatos entre encarnados e desencarnados.”
24.3.3. (SIMPLICIDADE E LÓGICA) No Capítulo “Por que os estudos sistematizados devem ser em parte em esperanto?”, há uma afirmação não muito correta: “A precisão da língua internacional neutra tem evitado muitas dúvidas do leitor causadas pelas ‘armadilhas’ do idioma nacional.” Isso é uma dupla falácia. Até agora, nenhum esperantista luminar soube nos explicar a diferença de uso dos verbos “klopodi, strebi, peni e streĉi” [esforçar-se]. Nesse mesmo Capítulo, o autor produz outra falácia ao afirmar que o Esperanto exige pouco tempo de aprendizagem. O Esperanto encerra uma sofisma por petição de princípio: “cortar” é “tranĉi” ou “tondi”; só que o primeiro é cortar com faca o Lãmina; o segundo com tesoura; deduzimos que eles deveriam ser verbos derivados das raízes de faca (ou lâmina) e tesoura; mas é o inverso, faca e tesoura são palavras derivadas deles: tranĉilo e tondilo; justamente o inverso; isso é uma petição de princípio defina-se uma coisa pelo o que queríamos definir. A solução seria recorrer a uma analogia com a medicina Legal: tomar os verbos por primitivos e defini-los independentemente dos objetos vulnerantes. “tranĉi” vulnerar, tendo por contado uma superfície e o modo de ação por deslizamento (faca ou qualquer tipo de lâmina, navalha); “tondi” vulnerar, tendo por contato duas superfícies e a ação exercida por pressão de aumento gradativo; “haki” vulnerar tendo por contato uma superfície e o modo de ação um choque (machado, cisalha, guilhotina).Ele é realmente “menos difícil” que as línguas naturais, nos primeiro passos. Mas, para um aprendizado profundo, o tempo necessário é tão grande como os gastos com as línguas naturais. O que acontece é que muitos esperantistas são apedeutas e se satisfazem quando conseguem apenas escreverem e falarem mal o idioma. Outra razão é que o Esperanto faz, apesar de ter características marcantes de língua aglutinante, uma síntese gramatical e léxica de vários idiomas europeus, mormente latim, inglês, francês, alemão, italiano e russo. Uma pessoa, que saiba duas ou mais dessas línguas, terá uma facilidade bem maior que um simples tabaréu. Fechando o capítulo, profere uma sandice tamanha a ponto de nós não encontrarmos argumentos para rebatê-la: “Pode parecer um sonho irrealizável, mas quem de nós não poderia ter a oportunidade de aprofundar o conhecimento da física quântica menos do que o espírito de Einstein?”. A doutrina ensina que nós temos que nos esforçar para evoluirmos, que não podemos invocar um Espírito para “nos dar de mamar”. Além do mais, parece-nos que Einstein revolucionou a astrofísica. Heisenberg foi o físico quântico que criou o princípio do indeterminismo, revolucionando essa especialidade da Física.
24.3.4. No Capítulo “Por que o evangelizador deve aprender o Esperanto?”, faz apologia dessa internacionalista “idéia interna”. Nos três últimos capítulos seguintes, prega que o uso do Esperanto afasta os espíritos obsessores, higieniza o ambiente espiritual e aproxima o espírita mais de Deus. Promove o Esperanto à categoria de língua sacra. O Movimento Espírita Brasileiro sempre criticou o Catolicismo por adotar o latim como língua litúrgica. Agora, o autor quer fazer o mesmo com o Esperanto e o Espiritismo.
24. 4. Ecletismo, ecumenismo, internacionalismo e sincretismo.
24.4.1. As doutrinas internacionalistas tendem a induzir seus prosélitos a renunciar o ardor patriótico por uma veneração a um ecumenismo, a um ecletismo, a um sincretismo, que politicamente são perigosíssimos, pois, podem ser explorados por Estados imperialistas como meio de dominação. Quem não tem ardor patriótico, facilmente se deixa seduzir por qualquer “canto de sereia”. É uma quimera conceber que a presente Humanidade [desde 1887, quando o Esperanto foi oficialmente apresentado] é capaz de desenvolver um amor sem interesses materiais – o “ágape” dos gregos antigos. Devemos ser tolerantes, porém, mantermo-nos em alerta. Estamos muito longe do ideal de Isaias [Isaias 11:5-9], “(…) quando o lobo morará com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará (…)”. Não é o Esperanto que promoverá a união e a paz no Mundo, mas, justamente ao contrário, quando elas reinarem nele, é que uma língua poderá ser adotada como língua internacional sem risco de preponderância política [item 24.1.2.].
24.4.2. Massa de manobra. Não nos iludamos de que as potências hegemônicas não hesitarão em usar qualquer “ingênuo distraído” [os “bons-moços” e as “boas-moças”] como massa de manobra de sua política imperialista. É a esse papel que a Universala Esperanto-Asocio [UEA] vem se prestando, depois que a UNESCO reconheceu o Esperanto como língua internacional [Montevideo, 1954] e a UEA como uma Organização Não-Governamental [ONG]. A UNESCO é um órgão da Organização das Nações Unidas [ONU] que fracassou em assegurar a paz no Mundo. Veja a impotência dela diante das recentes e covardes invasões contra o Afeganistão e o Iraque. O fracasso da ONU foi pior que o da Sociedade das Nações [League of Nations]. Enquanto essa última tornou-se impotente, a ponto de permitir a invasão da Etiópia pela Itália em 1935/36 e não conseguir evitar a Segunda Guerra Mundial, a primeira tornou-se um instrumento de dominação política e econômica. A China comunista de Mau Tsé Tsung e de seus sucessores tentou usar o Esperanto como meio de propaganda de seu regime sócio-político-econômico. Editava uma excelente revista em papel “couché”, El la Ĉinia Popolo, e tinha um programa em ondas curtas em Esperanto. Com a adesão gradativa aos vícios do capitalismo na Década de 90, suspendeu a edição dessa revista, publicando-a apenas pela Internet e com qualidade inferior e não fazendo mais propaganda política. O programa radiofônico vem caindo de qualidade. Essa tentativa, embora não concluída, prova o uso do Esperanto como língua internacional não está livre de manipulação política.
24.4.3. ONG’s. As chamadas organizações não-governamentais, na verdade, são “para-governamentais” e foram criadas pela oligarquia financeira internacional para obstruir o desenvolvimento dos países com capacidade de se tornarem futuramente potências econômicas que viessem a lhe fazer concorrência, da mesma forma como os Impérios Centrais da Europa o fizeram no final do Século XIX e início do XX. Durante a Idade Média, a oligarquia financeira internacional [Sacro Império, o Papado e os mercadores de Veneza e Gênova] acusava qualquer um de heresia ou feitiçaria, que quisesse libertar-se de seu controle político ou ameaçasse seu poderio econômico. Atualmente, como a Humanidade não tem mais um sentimento religioso forte, a solução foi justificar-se, acusando o rebelde ou o ameaçador de ferir os “direitos humanos” ou dos povos indígenas ou ameaçar a ecologia do Planeta e, recentemente, após o desmoronamento da União Soviética e o fim “guerra fria”, não havendo mais “comunistas” para servirem de “bodes expiatórios”, a oligarquia financeira internacional criou a figura do “terrorista muçulmano”. Com os “direitos humanos”, ela arranja pretexto para invadir qualquer país “desobediente” que tenha aplicado as medidas disciplinares normais nos agentes subversivos a soldo forâneo. Com as organizações indigenistas, ela cria problemas de integração nacional nos países soberanos que foram colônias européias. Há um contingente de descendentes europeus vivendo harmonicamente com as populações nativas, ambos caminhando para a mútua assimilação étnica e cultural. A finalidade das ONG’s indigenistas é dificultar ou mesmo impedir essa assimilação, açulando as populações nativas contra os descendentes de europeus. É o caso da América Latina, onde o espanhol com o português e a Igreja Católica deram uma unidade cultural. Essas ONG’s vêm estimulando a reabilitação dos cultos pagãos e o envio de missionários calvinistas para quebrar a unidade religiosa. Incentivam o uso das línguas nativas em detrimento do espanhol ou do português, a fim de também quebrar a unidade lingüística. Lutam pela demarcação de “territórios indígenas”, geralmente em províncias em localização estratégicas ou ricas em minerais. Basta que esses índios se declarem um estado independente, que a ONU imediatamente o reconhecerá como tal. Dividir para dominar. O movimento esperantista adotou, durante o congresso de Zagreb [Croácia, julho de 2001], a doutrina de diversidade lingüística imposta pela ONU que, por sua vez, atendia aos interesses imperialistas de dividir para dominar. Isso só pode ter ocorrido por estultice ou oportunismo. A UEA apóia a Fundação Diálogos Indígenas que é uma organização internacional que açula as populações indígenas contra os descendentes dos europeus. As organizações ecológicas impedem a construção de estradas, usinas de eletricidade, fábricas, indústrias. Recentemente, a WWF (World Widelife Fund for Nature) fez uma campanha através da Rede Globo, em nome da ecologia, para impedir uma ligação entre as bacias dos rios Paraná e Paraguai, e, agora, tenta impedir a integração do Cerrado com a Amazônia. O país perde sua soberania nas áreas decretadas como patrimônio ecológico ou histórico da humanidade. Ao lado dessas, há aquelas que fazem clientelismo político e econômico: UNICEF, Médicien sans Frontiers, Care, etc., para “solucionar” os problemas criados pela política econômica de esbulho mundial dessa oligarquia financeira internacional.
24.4.5. Há alguns anos, numa palestra em sociedade esperantista da cidade do Rio de Janeiro, um elemento apresentou-se como não sendo brasileiro, mas um esperantista que nascera no Brasil. Esse senhor goza de cidadania brasileira e fez sua palestra em português, alegando que estudava Esperanto há mais de trinta anos, mas não conseguira aprender a falar. Ouvimos depois alguns comentários sobre como ele poderia apresentar-se como esperantista se não falava o Esperanto. Apareceram respostas que afirmavam que, para ser esperantista não é necessário nem saber Esperanto, basta aceitar a “idéia interna’, que é o “homaranismo”, uma mixórdia de internacionalismo, pacifismo, “apatridismo”, anarquismo, misticismo, iconoclastia, etc. Isso é uma prova que o Esperanto não é neutro, pois não é um simples instrumento de comunicação, mas um movimento ideológico que, exercido por indivíduos ingênuos, torna-se facilmente massa de manobra política e econômica. Parece que esse despautério de se julgar “esperantista nascido no Brasil” agradou, pois outro elemento dessa sociedade, passou a adotar essa sandice, toda vez que apresenta um palestrante, permanecendo silentes os demais membros diante de tal repúdio à Pátria. Em 2002, esse elemento, antes de uma palestra, apresentou uma reportagem do jornal “O Globo” [suplemento “Globinho”, domingo, 17 de março de 2002, p.1 e 2, reproduzindo artigo de Marcelo Ferroni, Revista Galileu], que exalçava a atuação de ONG’s indigenistas que promoviam a alfabetização de índios brasileiros em suas línguas primitivas e reabilitando outras que estavam quase extintas. Quando afirmamos que isso era perigoso para a Unidade Nacional e que era dirigido pela oligarquia financeira internacional, a fim de quebrar a unidade lingüística dos países que queria dominar, ele usou os “ideais de Zamenhof” para justificar sua ação insensata. Novamente a platéia manteve-se silente – QUEM SE OMITE, CONSENTE POR OMISSÃO.
24.5. Conclusão. É insustentável essa aliança entre Espiritismo e Esperanto. O melhor idioma, neste momento, para a divulgação do Espiritismo é o inglês.
CAPÍTULO XXV
25. FILOSOFIA ESPÍRITA POLÍTICA.
25.1. Introito.
25.1.1. Não encontramos na obra de Kardec um capítulo tratando especificamente de filosofia política. Ela encontra-se distribuída na terceira parte do LE e no EE, principalmente, nos Capítulo XVI (Não Podei servir a Deus e a Mamom) e Capítulo XX (Os trabalhadores da última hora).
25.1.2. As doutrinas políticas são muito complexas e não podemos tratar delas neste trabalho. Abordaremos as principais correntes discutidas em Teoria Política a partir de Revolução Francesa (1789).
25.1.2.1. Liberalismo. A atividade econômica não pode ser planejada e controlada pelo Ser humano. Seus adeptos julgam que as “leis de mercado (comércio)” a regem. Essa corrente está fortemente vinculada àorientação individualista que caracterizou a Reforma Calvinista, como não deixa de ser uma visão mecanicista. Adam Smith chegou a ter a audácia de afirmar que uma “mão invisível” agia para regular o comercio. É um mistifório de mecanicismo, individualismo e magia. Defende a concentração de renda em benefício dos especuladores financeiros.
25.1.2.2. Socialismo. Há um planejamento e um controle central da atividade econômica. Isso pode ser feito pelo Estado, por sindicados, por cooperativas, corporações de ofício, dependendo da orientação de seus adeptos. Defende uma distribuição de renda mais equânime.
25.1.2.3. Conservadorismo. Caracterizado por admitir um Estado forte e centralizador, geralmente por direito divino. Defendido, de modo geral, por adeptos do monarquismo. A renda estaria concentrada na mão das elites dominantes.
25.1.2.4. Anarquismo. Defende a ausência de Estado ou qualquer atividade centralizadora e coordenadora. Defende liberdade sem responsabilidade e direitos sem o cumprimento dos deveres – o que ficou conhecido por “libertarismo”. Confunde igualdade com quebra de hierarquia e desprezo pela tradição – o que é chamado de “igualitarismo”. Fraternidade é confundida com desordem e ócio. Seus defensores acham que ímpeto destrutivo é ímpeto criativo. Essa posição acaba por ter conseqüências estéticas. O exemplo mais eloqüente foi a Contra-cultura que floresceu na Década de 60 do Século XX, quando o mau gosto, a extravagância, o escândalo, a promiscuidade sexual, o ócio, as drogas, a apologia à perversão dos costumes serviram de balizamento da conduta de jovens desajustados. Essa corrente também é uma exacerbação do individualismo. Representa o que chamamos em Estica de “laxismo” (ks) – ausência completa de parâmetros morais para a orientação da conduta humana.
25.2. Teoria Política Espírita.
25.2.1. O Espiritismo não aceita o individualismo. Nós, Espíritos reencarnados, temos que viver em sociedade. É necessário a existência de um órgão central, planejador e coordenador de qualquer atividade humana. Essa Doutrina atribui-nos uma responsabilidade social. Temos que nos importar com o destino do próximo (vide itens 11.5., 11.6.,11.7.,11.8., e, particularmente 11.10.2. – “de cada um conforme sua capacidade e a cada um conforme sua necessidade”); LE 779 “Dá-se então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contacto social (grifo nosso)”. Isso demonstra que o individualismo é totalmente contrário às bases do Espiritismo. Portanto, qualquer doutrina que se fundamente no individualismo deve ser descartada pelos espíritas.
25.2.2. Anti-individualismo. Essa característica do Espiritismo o aproxima das teorias que advogam um comportamento societário para o Ser humano (Espírito reencarnado). Isso deve nortear a escolha ou elaboração de uma Filosofia Política. OP p. 319 “às vezes, necessário se torna sacrificar as satisfações individuais ao interesse geral (grifo nosso)”.
25.2.3. Interdependência. Esse mundo físico é apenas uma passagem, uma escola que deve ser freqüentada temporariamente e por diversas vezes pelos Espíritos atrasados até que, elevando-se, não precisem mais da experiência física. Todos Espíritos que nele reencarnam têm responsabilidades mútuas – eles são “interdependentes”. Todos nós somos responsáveis pela boa ou má sorte de nossos irmãos (EE 5.13., EE 5.26., EE 17:10.). O individualismo é incompatível com esta posição doutrinária. Portanto, qualquer teoria política fundamentada nele é incompatível com o Espiritismo.
25.2.4. Planejamento, controle e distribuição equânime da renda. O Espiritismo defende um planejamento e controle da atividade econômica (vide item 12.3.), uma renda distribuída mais eqüitativamente e não concentrada nas mãos de poucos. Uma teoria política que defenda uma desregulamentação econômica e a concentração de renda é incompatível com Espiritismo.
25.2.5. Hierarquia.O Espiritismo defende uma hierarquia, portanto é incompatível com o “igualitarismo” anárquico e demagógico (LE 274, LE 878, vide itens 12.3, 12.4. e 12.5.). Em Obras Póstumas, p. 351, lê-se: “A necessidade de uma direção central superior (…). (…). Os que nenhuma autoridade admitem não compreendem os verdadeiros interesses da Doutrina”. O Capítulo IX da 3ª. Parte do LE afirma haver “Igualdade natural”, “Igualdade dos direitos do homem e da mulher” e “Igualdade perante o túmulo”; “Desigualdade das aptidões”, “Desigualdades sociais”, “Desigualdade das riquezas” e “As provas de riqueza e de miséria”. Por esses subtítulos deduzimos que o “igualitarismo” dos anarquistas é incompatível com a Doutrina. Nesse mundo de expiações, ainda há necessidade de desigualdades para aprimoramento do espírito reencarnante. Aquele que abusar dessas desigualdades responderá por tal abuso. O Espírito reencarnado tem de minorar essas diferenças, porém sem o exagero romântico e anárquico do igualitarismo absoluto. As autoridades existem para serem respeitadas e acatadas, as leis para serem cumpridas.
25.2.6. Igualitarismo. Quando afirmamos que o Espiritismo defende uma distribuição equânime da renda, da cultura e do poder, queremos afirmar que ele é apenas contra a concentração desses recursos na mão de uma elite dominadora, não eliminando uma hierarquia social e econômica na Sociedade. É apenas contra as grandes disparidades. A Doutrina compreende que “tratar todos igualmente”, sem respeitar as reais diferenças, é tão injusto quanto manter a concentração da renda, da cultura e do poder por uma elite dominadora, despótica, espoliadora. Tratar do mesmo modo pessoas com características diferentes é tão injusto, quanto fazer acepção de pessoas ou grupos. Por exemplo, uma especialidade médico-cirúrgica exige no mínimo dez anos de formação. É justo que um cirurgião ganhe mais que um outro profissional, cuja formação exija apenas um ano ou menos. Outros fatores, que devemos levar em consideração para uma justa remuneração do trabalho, além do tempo de formação, são o tempo de experiência na atividade, a periculosidade, a insalubridade, a necessidade de afastamento da família (viajantes, navegadores), trabalhos noturnos, atividades exercidas em domingos, sábados e feriados, aquelas que exijam chamados fora do horário de expediente (sujeitas a emergências e urgências ou horas extras), cargos de chefia, cursos de aprimoramento e outros fatores qualquer que surjam com a evolução da ciência.
25.2.7. Divisão do Trabalho. O que citamos acima sobre as três desigualdades (aptidões, sociais e de riqueza) demonstra que a Doutrina advoga uma divisão do trabalho baseado nessa três diferenças. No mesmo capítulo citado, quando é falado sobre os direitos dos varões e das varoas é dito que são iguais, mas o comentário de Kardec à LE 820 diz: “Deus apropriou a organização de cada um às funções que lhe cumpre desempenhar” e em LE 822 A “Dos direitos, sim; das funções, não.”
25.3.7. Anti-relativismo. Pela Cosmologia e Teodicéia Espíritas, vimos que a Doutrina aceita um Deus criador, onipotente, onisciente, onipresente, bom, infinito, provedor. Esses atributos demonstram que existe uma verdade absoluta. Nós, que somos Espíritos que ainda reencarnamos num mundo de expiações, onde o mal predomina sobre o bem, não podemos conhecer a totalidade do Universo, mas isso não implica que ela não exista. Pela Teoria Espírita do Conhecimento, nossa capacidade de conhecer a verdade é gradativa e acumulativa. Só com o tempo, poderemos conhecer a totalidade do Universo. O que é relativo temporal e espacialmente é a nossa imperfeição, mas não Deus. O mundo objetivo (o objeto) existe por si, independente do sujeito. O subjetivismo do Idealismo é incompatível com a Doutrina e o relativismo, decorrente dele e tão em moda no dias presentes, é anti-doutrinário.
25.3.8. A obra de Kardec não aponta formas de governo e regimes políticos específicos. Nas Filosofias social, do Trabalho, da História e Econômica, ela aponta esses princípios que descrevemos acima e nos quais se deve basear uma Teoria Política Espírita: 1) anti-individualismo; 2) interdependência dos membros de uma sociedade, acarretando responsabilidade social e solidariedade; 3) planejamento e controle da atividade sócio-econômica; 4) hierarquia, abominando o igualitarismo anarquista e demagógico; 5) equânime distribuição de renda; comparando os princípios 2 e 3, essa equanimidade não é igualitarismo, apenas a renda como a cultura e o poder não podem ficar concentrada nas mãos de classes, castas, estados ou grupo ético-culturais; embora deva haver diferenças de renda atendendo à necessidades e qualificações específicas, não pode haver grandes discrepâncias; 6) divisão do trabalho: as pessoas devem ter tarefas específicas (vide exemplo LE 819 em relação ao sexo e item 25.2.7.); isso não implica que não tenham acesso a cultura geral e fiquem alienadas do produto de seu trabalho; 7) anti-relativismo: embora devamos respeitar diferenças regionais e temporais, toda atividade laborativa e instrutiva deve almejar a Perfeição Absoluta; portando esse laxismo que tentam justificar no relativismo da realidade é pernicioso para a Doutrina. Não devemos esquecer da solidariedade social que a Doutrina nos impõe: (item 11.10.2.) “de cada um conforme sua capacidade, a cada um conforme sua necessidade”. Os inválidos e os deficientes têm uma capacidade de produção inferior a das pessoas sãs, mas no entanto, têm uma maior necessidade de consumo. Resolver essas diferenças é promover uma distribuição equânime da renda, segundo a lei de solidariedade social.
25.4. A Teoria Espírita Política resume-se no seguinte: 1) considerar o Ser humano um Espírito reencarnado que deve evoluir sempre; 2) a Terra é uma escola de aperfeiçoamento espiritual; 3) todas as estruturas sociais, econômicas e políticas devem ter por objetivo o aprimoramento espiritual do Homem; o bem terreno é apenas temporário, par tornar mais fácil a reencarnação pedagógica, ele é apenas um meio, mas não a finalidade. As teorias políticas que não satisfizerem esses quesitos são pervertidas, perversas e incompatíveis com o Espiritismo.
CAPÍTULO XXVI
26. Tecnocentrismo, tecnocracia e desumanização.
26.1. Introito. Os antropólogos são unânimes em considerar como características humanas a crença no Sagrado e na vida além da morte. Disso resulta considerar como prova de humanidade, restos mortais de humanos quando esses são encontrados junto com oferendas, o que configuraria a crença de uma sobrevivência após a morte, assim como símbolos, que mostra um pensamento mágico que estabelece já comparações analógicas.
26.2. Todos os períodos humanos foram caracterizados por essa crença no Sagrado: o Paleolítico, o Neolítico, a Antiguidade e a Idade Média. O ser humano era regido pelo “teocentrismo”, isto é, isto é, Deus era o centro de tudo e todas as formas de governo eram “teocráticas”. Os exércitos partiam para as batalhas levando as imagens de seus deuses guerreiros e uma pretensa bênção deles. O guerreiros germânicos, abatidos em combate, eram levados ao Vahala pelas Valquírias que eram semi-deusas.
26.3. No Século XV, surgiu na Europa a ideologia que ficou conhecida como Renascimento, em que o homem passou a ser o centro do Universo. Surgiu então o “antropocentrismo” e os governos se esforçaram por serem “antropocráticos”. As monarquias e os conservadores mantinham o conceito de “direito divino”, que não deixava de ser um resquício do “teocentrismo”. Mas os movimentos, ditos democráticos, de feição republicana procuravam implantar a “antropocracia” – a separação completa entre a política, a ciência, o ensino e a teologia.
26.4. A partir da segunda metade do Século XVIII, as máquinas começaram a serem descobertas e o trabalho humano, como o do animal, passaram a ser substituídos por uma máquina. A vida, criação até então divina, passou a ser criada em laboratório ou em fábricas e controladas pela vontade humana. Foi o abandono do antropocentrismo pelo tecnocentrismo. O antropocentrismo começara a desumanizar a Humanidade, pois sem a veneração de um Poder Superior, o homem sentia-se onipotente,onisciente, perdendo a humildade. Coma máquina ele podia controlar os fenômenos naturais. O navio a vapor podia navegar contra as correntes marítimas e o vento. A locomotiva substituía o trabalho de vários cavalos. O tempo e o espaço se encurtaram. O telégrafo levava notícias em segundos, o que antes era feito em dias ou meses, em lombo de animal ou por navio, para chegar a seu destino. O Século XIX foi tomado por uma conquista tecnológica atrás da outra. A uréia foi sintetizada, Pasteur descobriu a propagação de germes, o que possibilitou a assepsia que com a anestesia tornaram possíveis cirurgias que salvavam vidas. A Medicina começou a perder seu aspecto sagrado e sacerdotal, para se tornar uma “tecnologia”.
26.5. O Século XX foi o deslumbramento da vaidade humana. O telégrafo sem fio, a aviação, a energia nuclear, a informática, a comunicação por satélites, a navegação espacial, a robótica. A robótica substituiu pela máquina o trabalho de vários homens. A informática substituiu o cálculo feito pelo homem. A geometria esférica, tão valiosa para a navegação marítima, hoje é substituída pelo computador. A ressonância magnética, a ultrassonografia e tomografia computadorizada diminuíram em muito o valor do médico. Os modernos aparelhos de monitoração também diminuíram em muito o valor da enfermagem. O raio Laser diminuiu a atuação do oficial de artilharia na precisão de um tiro. O GPS substituiu a habilidade humana em se localizar. As caixas eletrônicas desumanizaram o atendimento bancário. Os supermercados substituíram as vendas, quitandas, aviários, onde além da simples compra e venda de mercadoria, havia um diálogo entre vendedor e freguês e entre os próprios fregueses. Havia aposentados que iam para as portas das vendas “prosear” com as pessoas.
26.7. A máquina substituindo o Ser humano, o desumanizou também. Esse, ainda muito vaidoso, egoísta, prepotente, arrogante, não estava preparado para máquina usar a máquina como complemento, como mero auxílio, dispensando-o do trabalho braçal, para melhor se dedicar às coisas da Vida Espiritual. Pelo contrário, caiu em um hedonismo desenfreado, em um individualismo absurdo, enceguecendo-se em relação às necessidades ou dor do semelhante. O professor vem sendo substituídos pelos meios de ajuda como retroprojetores, videocassetes, discos compactos, Internet. Não há um setor da vida humana que o Ser humano não se transformou em um mero operador de máquinas. Desde o servente que opera uma máquina de limpeza ao médico que opera uma de diagnóstico. O engenheiro de cálculo estrutural, aos poucos, está sendo substituído pelo computador. Já ouvimos afirmações de que um dia os aviões não precisarão de pilotos, serão controlados por computadores.
26.8. O afastamento do Ser humano de Deus o despreparou para receber a tecnologia. Ele é incapaz de verificar que isso é uma concessão de Deus para que ele aqui na Terra não precise mais ganhar o alimento com o suor de seu rosto, a mulher parir com dor e a cobra andar se arrastando, ter a cabeça esmagada pelo homem e picar-lhe o calcanhar. O Espiritismo em nenhum momento é contra a tecnologia. No livro “A Gênese”, ele compara a Doutrina com que havia de mais científico em 1868 e em nenhum momento, doesta a Ciência. Afirma, mesmo, se alguma afirmação doutrinária vier contrariar as futuras descobertas científicas, elas deverão ser abandonadas e a afirmação científica deverá ser aceita (GE 1:55.”(..) se a Ciência provar alguma coisa errada no Espiritismo. Ele se modificará (…)”. Outras referências elogiosas à ciência LE19, LE59, LM 294; EE 1:4. e GE 1:14..
26.9. O Espiritismo não defende um governo teocrático aqui na Terra. A verdadeira vida ocorre no mundo dos Espíritos. Quando encarnados, estamos nos burilando para um dia sermos um Espírito puro sem precisar do ciclo de reencarnações no mundo físico. Esse avanço tecnológico já é um preparo para a “espirtualização” de nosso planeta. O tempo que sobra por não fazermos mais os trabalhos rudes é para dedicarmos ás coisas do Espírito. Aqueles que esbanjam esse tempo em desídia, hedonismo, lascívia, não poderá mais reencarnar na terra. Deverão fazê-lo em uma mundo onde esteja ainda na fase da Pedra Lascada, para descobrir seu polimento, a roda, a vela de navegação, os metais, a escrita, a fim de dar valor a oportunidade perdida. Irá vivenciar lá “lenda do paraíso perdido”.
Referências Bibliográficas:
1- Wantuil, Z. e Thiesen, F.; Allan Kardec: Meticulosa Pesquisa Biobibliográfica; 1ª Ed.; 1979; Federação Espírita Brasileira; Rio de Janeiro. [p.3]
2- Damazio, S. F.; Da Elite ao Povo: Advento e Expansão do Espiritismo no Rio de Janeiro; 1994; Editora Bertrand do Brasil; Rio de Janeiro; [p.3]
3- Wantuil, Z. e Thiesen, F.; idem [p.5]
4- Dicionário de Filosofia; Abbagnano, N.; 2A. ed.; São Paulo; Mestre Jou; 1982. [p.14]
5- Hessen, j.; Teoria do Conhecimento; 8ª. Ed.; Coimbra; Armênio Amado;1987. [p.19]
6- Vitta, L. W.; Introdução à Filosofia; 3A. Ed.; São Paulo; Melhoramentos; 1964. [p.19]
7- Vitta, L. W.; idem.[p.23]
8- Dicionário Grego-Português e Português-Grego; Pereira, I.; 5º Ed.; Porto; Livraria Apostolado da Imprensa; 1976. [p.23]
9- Dicionário Latino Português; Torrinha, F.; 2º Ed.; Porto.; Porto Editora; 1942. [p.23]
10- Ferrater Mora, J.: Diccionario de Filosofia; 1988; Alianza Editorial S.A.; Madrid; V.3. [p.24]
11- Dicionário de Filosofia; Abbagnano, N.; idem. [p.25]
12 – Bíblia Sagrada; João Ferreira de Almeida (Trad.); Rio de Janeiro; Sociedade Bíblica do Brasil e Editora Vida; 1984. [p.25]
13- Grande Enciclopédia Delta Larousse; Rio de Janeiro; Editora Delta S. A.; 1970; vol 10. [p.38]
14- Grande Enciclopédia Delta Larousse; idem; vol. 5. [p.38]
15- Dicionário de Filosofia; Abbagnano; idem. [p.41]
16- Dicionário de Filosofia; Abbagnano; idem. [p.41]
17- Francisco Cândido Xavier; O Consolador [obra atribuída à ação mediúnica de um espírito identificado como Emmanuel]; 17ª. Ed.; Brasília; Federação Espírita Brasileira; 1995.
18 – Francisco Cândido Xavier; A Caminho da Luz [obra atribuída à ação mediúnica de um espírito identificado como Emmanuel]; 14ª. Ed. Brasília; Federação Espírita Brasileira; 1986.
19 – Ubaldi, P.; A Grande Síntese [Síntese e solução dos problemas da Ciência e do Espírito]; Rio de Janeiro; Federação Espírita Brasileira; 1939.
20 – Mães, H.; Fisiologia da Alma [obra atribuída à ação mediúnica de um espírito que se apresenta como Ramatis]; 4ª. Ed.; Rio de Janeiro; Freitas Bastos S.A.; 1983.
21- Kardec, A.; O Livro dos Espíritos; 76 Ed.; Brasília; Federação Espírita Brasileira;1995.
22 - Riehl, P.; Esperanto pra quê?; Rio de Janeiro; F.V. Lorenz; 2001.
23 – La Nova Plena Ilustrita Vortaro; Paris; Sennacieca Asocio Tutmonda; 2002.
24 – Kardec, A.; O Livro dos Médiuns; 55 Ed.; Brasília; Federação Espírita Brasileira;1987.
25- Kardec, A.; O Evangelho Segundo o Espiritismo; 100 ed.; Brasília; Federação Espírita Brasileira; 1989.
26- Kardec, A.; O Céu e o Inferno; 34 Ed.; Brasília; Federação Espírita Brasileira; 1987.
27- Kardec, A.; A Gênese ; 31 Ed.; Brasília; Federação Espírita Brasileira; 1988.
28- Kardec, A.; O que é o Espiritismo; 41 ª Ed.; Brasília; Federação Espírita Brasileira; 1999.
29- Kardec, A.; A Obsessão; 5ª Ed.; Matão; O Clarim; 1993.
30- Kardec. A.; Obras Póstumas; 22 ª Ed. Brasília; Federação Espírita Brasileira; 1987.
DADOS SOBRE O AUTOR
1. VICTOR LEONARDO DA SILVA CHAVES nasceu às 8 h do dia dois de setembro de 1940, segunda-feira, no então Hospital Gaffrée-Guinle, à Rua Mariz e Barros nº 775, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.
2. Religião: Livre Pensador
3. “Ex-aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro”.
Turma 1953/1959 (Marechal Rondon); n° 1994; Infantaria (CFR -1957);
Ex-aluno do Colégio Externato São José do Rio de Janeiro – 3º Série do Curso Científico (Reforma Capanema). 1960. (Irmãos Maristas)
4.MÉDICO: inscrito no Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro nº 52-12.223-0.
5. Graduado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1967.
6. Título de Psiquiatra concedido por:
6.1. Associação Brasileira de Psiquiatria e Associação Médica Brasileira, 1970.
6.2. Conselho Federal de Medicina e Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro, 1986.
7. Título de Especialista em Homeopatia, concedido pelo Instituto Hahnemanniano do Brasil, 1992.
8. Associado Jubilado da Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) desde outubro de 1968
9. Ex-associado de:
9.1. Associação Brasileira de Psiquiatria, 1970/1994.
9.2. Instituto Hahnemanniano do Brasil, 1993/1994.
10. Coronel Médico da Reforma Remunerada da Aeronáutica. Nome-de-Guerra: Coronel Leonardo.
11. Ex-psiquiatra do Sistema de Saúde da Aeronáutica
12. Curso de Comando e Estado Maior da Aeronáutica; ECEMAR, 1985.
13. Curso Superior de Comando; ECEMAR, 1985.
14. Licenciado em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1999.
ÍNDICE
PREFÁCIO
AGRADECIMENTOS
CAPÍTULO I – BREVE HISTÓRIA DO ESPIRITISMO NO MUNDO E NO BRASIL.
CAPÍTULO II – VIDA E OBRA DE ALLAN KARDEC.
CAPÍTULO III – RESUMO DA DOUTRINA ESPÍRITA.
CAPÍTULO IV – ESPIRITISMO COMO FILOSOFIA CRISTÃ
CAPÍTULO V – TEODICÉIA ESPÍRITA
CAPÍTULO VI – COSMOLOGIA ESPÍRITA
CAPÍTULO VII – ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA ESPÍRITA.
CAPÍTULO VIII -. TEORIA ESPÍRITA DO CONHECIMENTO
CAPÍTULO IX – MORAL E ÉTICA ESPÍRITAS
CAPÍTULO XI – FILOSOFIA SOCIAL ESPÍRITA.
CAPÍTULO XII – FILOSOFIA ECONÔMICA ESPÍRITA.
CAPÍTULO XIII – FILOSOFIA ESPÍRITA DO DIREITO .
CAPÍTULO XIV – FILOSOFIA ESPÍRITA DA HISTÓRIA.
CAPÍTULO XV – DETERMINISMO & INDETERMINISMO.
CAPÍTULO XVI – RELAÇÃO CORPO E MENTE.
CAPÍTULO XVII. – CONCEITO ESPÍRITA DE FAMÍLIA E SEXO.
CAPÍTULO XVIII – DIALÉTICA E ESPIRITISMO
CAPÍTULO XIX – BINÔMIO MONISMO/DUALISMO
CAPÍTULO XX – ESPIRITISMO E VEGETARIANISMO.
CAPÍTULO XXI – FILOSOFIA ESPÍRITA DA CIÊNCIA.
CAPÍTULO XXII – FILOSOFIA ESPÍRITA DA ESTÉTICA
CAPÍTULO XXIII – FILOSOFIA ESPÍRITA DA NATUREZA
CAPÍTULO XXIV – ESPIRITISMO E ESPERANTO
CAPÍTULO XXV – FILOSOFIA ESPÍRITA POLÍTICA.
CAPÍTULO XXVI – TECNOCENTRISMO, TECNOCRACIA E DESUMANIZAÇÃO.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
DADOS SOBRE O AUTOR
ÍNDICE
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