Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito: 2.1. Vida; 2.2.
Morte. 3. Aspectos Históricos da Morte. 4. Caráter da Vida. 5. A Morte: Cultura
e Religião. 6. O Binômino Vida Morte. 7. Expectativa da Vida Além da Morte. 8. O
Temor da Morte. 9. Conclusões. 10. Bibliografia Consultada. 1. INTRODUÇÃO O tema vida e morte comporta algumas questões: de onde
viemos? Para aonde vamos? O que estamos fazendo aqui? Qual a essência da vida?
Por que temos de morrer? Qual a causa dos sofrimentos? Tudo acaba com a morte?
Ser ou não ser? 2. CONCEITO 2.1. VIDA Para Legrand, em seu Dicionário de Filosofia, não
existe atualmente uma definição suficiente para totalizar os fenômenos
(assimilação, crescimento e possibilidade de reprodução) que a experiência
corrente classifique com o nome de vida. O problema da origem da vida ainda hoje continua a ser
um tema ingrato assim como o da própria vida. À teoria religiosa da criação,
o materialismo contradiz no século XX a idéia (não verificável) de uma "célula
primordial", e outras diversas hipóteses (por exemplo, a panspérmia),
segundo a qual "gérmens de vida" flutuariam permanentemente no Universo e
chegariam à terra vindo de outros astros. (Legrand, 1982) Para Lalande, em seu Vocabulário Técnico e Crítico de
Filosofia, a vida é um conjunto de fenômenos de toda a espécie
(particularmente de nutrição e reprodução) que, para os seres que têm um grau
elevado de organização, se estende do nascimento (ou da produção do germe) até a
morte. 2.2. MORTE Do lat. mortem - é a cessação da vida e manifesta-se
pela extinção das atividades vitais: crescimento, assimilação e reprodução no
domínio vegetativo; apetites sensoriais no domínio sensitivo. Sempre foi vista
como mistério, superstição e fascinação pelo homem. No âmbito da Doutrina Espírita, é o desprendimento total do
Espírito do corpo físico em conseqüência da ruptura do laço fluídico, que prende
ou liga um ao outro, quando então há o falecimento. 3. ASPECTOS HISTÓRICOS DA MORTE Na Antigüidade prevalecia o sentimento natural e duradouro de
familiaridade com a morte. Sócrates, por exemplo, ensinava-nos que a filosofia
nada mais era do que uma preparação para a morte. Nas sociedades tribais,
o problema da morte não existia porque o indivíduo tinha um peso muito diminuto
com relação à coletividade. Deixando de viver, a pessoa imediatamente fazia
parte da "sociedade dos mortos", inclusive, com a possibilidade de se comunicar
com os vivos. Durante a Idade Média, marcada pela forte influência da
religião, a população era educada no sentido de aceitar a morte como um destino
inexorável dos deuses. Dentro desse contexto, cada qual esperava passivamente a
sua passagem deste para o outro mundo. Além disso, esse período caracterizava-se
também pelo sentimento de respeito ao morto, inclusive com as cerimônias
religiosas, a observância do tempo de luto, as visitas ao cemitério etc. Como as
pessoas morriam em casa, as crianças podiam passar e brincar junto ao féretro,
que geralmente ocupava o lugar mais destacado da casa. Na Idade Moderna, depois de Revolução Industrial, e com o
desenvolvimento do consumismo, vemos que a morte começa a ser interdita, ou seja
proibida. Como não temos mais tempo de cuidar dos velhos e dos doentes, deixamos
essa incumbência para os hospitais, que estão preparados para salvar vidas e não
cultuar a morte. Em certo sentido, a morte é um fracasso da medicina. Depois de
morto, o defunto é encaminhado ao necrotério, onde se faz o velório. Tudo isso
longe das crianças. Para elas diz-se que teve um sono duradouro e está
descansando nos jardins do Éden. A sofisticação chega ao ponto de se criar o
"Funeral Home", casa de embelezamento de cadáveres. (Aries, 1977) 4. CARÁTER DA VIDA Segundo Garcia Morente em Fundamentos da Filosofia, o
primeiro caráter que encontramos na vida é o da ocupação. Viver é ocupar-se;
viver é fazer; viver é praticar. É um por e tirar das coisa, é um mover-se daqui
para ali. Porém, se olharmos com mais atenção, a ocupação com as coisas não é
propriamente ocupação, mas preocupação. Preocupamo-nos, primeiramente, com o
futuro, que não existe, para depois acabar sendo uma ocupação no presente que
existe. Pelo fato de escolhermos, de termos um propósito, tanto vil
como altruísta, nossa vida é não-indiferença. O animal, a pedra e o
vegetal estão no mundo, mas são indiferentes. O ser humano não, ele tem que
vivenciar a sua vida. A vida se interessa: primeiro, com ser, e segundo, com ser
isto ou aquilo; interessa com existir e consistir. O movimentar-se refere-se ao tempo. Que é o tempo?
Santo Agostinho já nos dizia que se não lhe perguntassem saberia o que era, mas
quando lhe perguntam já não o sabia mais. Por isso, há que se considerar o tempo
cronológico e tempo psicológico. Em se tratando da vida, temos de
considerar o tempo psicológico, ou seja, considerar o presente como um "futuro
sido". No tempo astronômico, o presente é o resultado do passado. O passado é
germe do presente, mas o tempo vital, o tempo existencial em que consiste a
vida, é um tempo no qual aquilo que vai ser está antes daquilo que é, aquilo que
vai ser traz aquilo que é. O presente é um "sido" do futuro; é um "futuro sido".
(1970, p. 308 a 311). 5. A MORTE: CULTURA E RELIGIÃO O Dr. Frank Mahoney, professor de Antropologia da
Universidade do Havaí, mostrou a diferença entre a cultura americana e a da
sociedade Micronésia, a dos Trukeses. Os americanos negam a morte e o
envelhecimento; os habitantes das ilhas Truk (Pacífico) ratificam-na. Para estes
a vida termina aos 40 anos de idade e a partir daí começa a morte. As religiões têm exercido poderosa influência nas "atitudes"
dos indivíduos com relação ao passamento. No Catolicismo, há a imagem do fogo
eterno queimando nossas entranhas; nas Doutrinas Orientais, a volta do Espírito
em um corpo animal. Além da questão religiosa, há os erros de abordagem: tudo
termina com a morte; imersão no desconhecido; excesso de preparação para o
desenlace; dúvidas com relação à imortalidade e ilusão de sermos indispensáveis
à família. 6. O BINÔMINO VIDA MORTE Sentido físico: ter um corpo e desaparecer com o corpo Sentido psicológico: a cada nova idade morre uma fase e
nasce outra. O próprio nascimento já é uma morte, porque o bebê separou-se do
ventre materno. Sentido filosófico: pensar criticamente está vivo; pensar
dogmaticamente morto. Sentido religioso: a noção da vida eterna. Morrer para
nascer de novo. Para que haja vida, temos de vivenciá-la integralmente. Será
que estamos inteiros naquilo que estamos fazendo? 7. EXPECTATIVA DA VIDA ALÉM DA MORTE Os pensadores da humanidade desenvolveram, ao longo do tempo,
três concepções de mundo: Materialista, Idealista e Religiosa.
De acordo com essas concepções, construíram as diversas doutrinas. As mais
importantes para o propósito de nossos estudos dizem respeito ao Niilismo,
ao Panteísmo, ao Dogmatismo Religioso e ao Espiritismo. Para o Niilismo, a matéria sendo a única fonte do ser,
a morte é considerada o fim de tudo. Para o Panteísmo, o Espírito, ao
encarnar, é extraído do todo universal; individualiza-se em cada ser durante a
vida e volta, por efeito da morte, à massa comum. Para o Dogmatismo
Religioso, a alma, independente da matéria, é criada por ocasião do
nascimento do ser; sobrevive e conserva a individualidade após a morte. A sua
sorte já está determinada: os que morreram em "pecado" irão para o fogo eterno;
os justos, para o céu, gozar as delícias do paraíso. Para o Espiritismo,
o Espírito, independente da matéria, foi criado simples e ignorante. Todos
partiram do mesmo ponto, sujeitos à lei do progresso. Aqueles que praticam o
bem, evoluem mais rapidamente e fazem parte da legião dos "anjos", dos
"arcanjos" e dos "querubins". Os que praticam o mal, recebem novas oportunidades
de melhoria, através das inúmeras encarnações. (Kardec, 1975 p. 193 a 200) 8. O TEMOR DA MORTE Allan Kardec, no livro O Céu e o Inferno, trata
exaustivamente do problema da morte. Diz-nos que o temor da morte decorre da
noção insuficiente da vida futura, embora denote também a necessidade de viver e
o receio da destruição total. Segundo o seu ponto de vista, o espírita não teme
a morte, porque a vida deixa de ser uma hipótese para ser realidade. Ou seja,
continuamos individualizados e sujeitos ao progresso, mesmo na ausência da
vestimenta física. 9. CONCLUSÕES Não sejamos como espectadores de vitrine. Observemos,
pensemos e tiremos as nossas conclusões: quem sabe não estamos agindo como se
estivéssemos mortos diante da abertura espiritual que a vida nos concede a cada
instante? 10. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ARIES, P. História da Morte no Ocidente: da Idade Média
aos nossos Dias. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1977.
GARCIA MORENTE, M. Fundamentos de Filosofia - Lições Preliminares. 4.
ed., São Paulo, Mestre Jou, 1970.
KARDEC, A. O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo.
22 ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.
KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.
LALANDE, A. Vocabulário Técnico e Crítico de Filosofia. [tradução de
Fátima Sá Correia ... et al.]. São Paulo, Martins Fontes, 1993.
LEGRAND, G. Dicionário de Filosofia. [Trad. de Armindo José Rodrigues e
João Gama]. Lisboa, Edições 70, 1986.
São Paulo, julho de 2000.