Vícios e Espiritismo

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações iniciais. 4. O ponto de vista da filosofia: 4.1. Platão; 4.2. Aristóteles; 4.3. Spinoza. 5. Vícios sociais: 5.1. O que são os vícios sociais; 5.2. As características do viciado em drogas; 5.3. Prevenção e Tratamento do Alcoolismo. 6. Espiritismo: 6.1. Indiferença moral; 6.2. Egoísmo, o mais radical dos vícios; 6.3. Vicio e liberdade. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O que são vícios? Há diferença entre vício social e moral? O vício é real ou ilusório? Analisemos o tema sob a ótica da filosofia e do Espiritismo.

2. CONCEITO

Vício é o defeituoso, o que se desvia do bom caminho. Na ética, é a disposição habitual a um gênero de conduta, considerada vituperável, como imoral. É o contrário de virtude. É o hábito mau em oposição à virtude, que é o hábito bom. Imperfeição, defeito que torna uma pessoa ou coisa imprópria para o fim a que se destina.

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O tema vício é motivo de discussão desde a Antiguidade. Sócrates, Platão e Aristóteles fizeram suas abordagens sobre este tema. No âmbito do Velho Testamento, Job diz que se torna necessário dirigir o coração para Deus e afastar da vida a iniquidade e a injustiça, a fim de fugir aos vícios, tais como, a mentira, a fraude, o adultério etc. No contexto do Novo Testamento, há a enumeração, feita por Cristo, dos vícios que têm a sua raiz no coração: os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios. Paulo, por exemplo, declara desterrado do reino de Deus os impudicos, idólatras, adúlteros. Recorda a Timóteo na carta que lhe dirige que a lei não foi feita para o justo mas sim para os malvados e rebeldes, os ímpios e pecadores , os imorais e profanos.

A partir de 1930, travou-se uma luta entre a medicina e a psicologia, no sentido de se definir o vício como doença. A medicina contrapõe-se à tese de que o vício é um estado condicionado, que pode ser descondicionado pelas técnicas psicológicas.

Presentemente, ainda nos debatemos com os vícios, principalmente aqueles que dão guarida ao narcotráfico.

4. O PONTO DE VISTA DA FILOSOFIA

4.1. PLATÃO

Para Platão – na sua teoria das formas –, havia um mundo perfeito, o das formas e um mundo ilusório, o terreno. Para ele, somente o bem é real; o mal é ilusório. Nesse caso, o vício, entendido como mal, não tem consistência própria. Ele é simplesmente a ausência da virtude.

4.2. ARISTÓTELES

Para Aristóteles, as virtudes e os vícios são definidos em função da mediedade. A virtude é a média justa e os vícios são excessos, tanto para mais como para menos. A virtude é uma conduta ou sentimento moderado e o vício uma conduta deficiente. A virtude é o hábito racional da conduta; o vício um hábito irracional. Os vícios são os extremos opostos cujo meio termo é a virtude. Por exemplo, a abstinência e a intemperança diante da moderação, a covardia e a temeridade diante da coragem.

4.3. SPINOZA

Para Spinoza, a virtude é a causa principal de nossos pensamentos, sentimentos e ações. O vício, por sua vez, é submissão às paixões. Para ele, o vício é deixar-se governar pelas causas externas, submeter-se, tornar-se submisso. A virtude é tornar-se senhor das paixões, a causa das próprias ações. O vício não é um mal, mas fraqueza. Nesse caso, o ser virtuoso pode transformar as suas tristezas em alegrias, os seus fracassos em êxitos e assim por diante.

5. VÍCIOS SOCIAIS

5.1. O QUE SÃO OS VÍCIOS SOCIAIS

Os vícios sociais são: alcoolismo, gula, tabagismo, toxicomania etc. Neles há uma inclinação exagerada para o consumo da droga, do álcool ou da heroína. Usa-se, também o termo dependência. Dentre os vícios sociais, o mais letal é o tabagismo, por sua condição de ser livre e ocasionar muitos transtornos pessoais, familiares e governamentais, pois causa dependência e afeta os pulmões. lembremo-nos dos inúmeros casos de enfisema pulmonar.

5.2. AS CARACTERÍSTICAS DO VICIADO EM DROGAS

A Organização Mundial da Saúde (1981) propôs as seguintes:

— compulsão subjetiva a ingerir droga;

— desejo de suspender o consumo embora a ingestão continue;

— padrão estereotipado, inflexível, de ingestão;

— adaptação dos sistemas nervosos afetados pela droga, levando à tolerância dos seus efeitos e sintomas de supressão quando a droga é suspensa;

— prioridade do comportamento de busca da droga sobre todas as outras atividades;

— rápido restabelecimento da síndrome quando se quebra um período de abstinência. (Outhwaite, 1996)

5.3. PREVENÇÃO E TRATAMENTO DO ALCOOLISMO

1) Caso tomemos bebidas alcoólicas, útil se torna fazer o teste Cage, iniciais das palavras cut-down (diminuir), annoyed (aborrecido), guilty (culpado) e eye-opener (olho aberto). O resultado não é conclusivo, mas serve para indicar grau de dependência com relação à bebida. Assim, quando acharmos que deveríamos parar de beber, porque bebemos demais, quando ficarmos chateados porque alguém achou que bebemos muito, quando nos sentimos culpados pela maneira de beber, ou quando bebemos logo que levantamos, devemos considerar-nos dependentes do álcool, que precisa de tratamento.

2) A medicina terrestre tem feito esforços para resolver o problema. Nos Estados Unidos, em 1984, descobriu-se a ReVia, nome comercial da Naltrexone, remédio que deveria ser usado por pessoas viciadas em heroína e que se mostrou eficaz no combate ao alcoolismo. Os pesquisadores acreditam que o medicamento deve se ligar a receptores específicos (chamados de receptores opióides) no cérebro. Essa ligação atuaria no mecanismo "craving" (compulsão, desejo incontrolável) de beber. Remédio ainda pouco eficaz, porque só atua nos momentos de crise aguda.

6. ESPIRITISMO

6.1. INDIFERENÇA MORAL

Toda a resistência orgulhosa deverá ceder, cedo ou tarde. Cada época é marcada pelos vícios e pelas virtudes. Nossa virtude é o desenvolvimento intelectual; nosso vício é a indiferença moral. Assim, é conveniente que cada um de nós vá paulatinamente submetendo-se à Lei do Progresso. Não esperemos que os Espíritos venham imolar-nos para que avancemos mais rapidamente na prática do bem e do amor ao próximo. (Kardec, cap. 9, item 8)

6.2. EGOÍSMO, O MAIS RADICAL DOS VÍCIOS

De acordo com a Doutrina Espírita, o egoísmo é o mais radical dos vícios. Dele deriva o mal. É sobre ele que o ser humano deve envidar todos os esforços. O egoísmo é a verdadeira chaga da sociedade. "Quem nesta vida quiser se aproximar da perfeição moral deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo, porque é incompatível com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades". (Kardec, 1995, pergunta 913)

6.3. VÍCIO E LIBERDADE

A Psicologia informa-nos sobre a facilidade de adquirir o vício e a dificuldade de largá-lo. Basta darmos o primeiro passo, que outros passos o seguirão. Se nos faltarem orientações morais e religiosas, podemos sucumbir aos diversos vícios que corroem a humanidade e impõem à sociedade pesados custos, quer seja de ordem médica, quer seja de ordem jurídica, em que o Estado, que usa o nosso dinheiro, é obrigado a gastar mais recursos com a construção de novos hospitais e prisões.

O vício, seja de que espécie for, é uma ação contrária à do bem. De acordo com a lei natural, toda ação que é contrária à do bem deve ser refeita para atingir o seu fim, que é o progresso do Espírito. Nesse caso, a prática do bem amplia a liberdade e o vício a restringe. O tempo gasto na reparação de uma má ação é o que se perde no progresso moral e espiritual.

7. CONCLUSÃO

Em se tratando dos vícios, combatamos a causa pela causa e não pelos efeitos. Somente quando tomamos consciência do móvel que produz a ação é que podemos ter segurança na eliminação do efeito. Na realidade, não somos nós que deixamos os vícios; são eles que, desprovidos da nossa atração, deixam-nos.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

OUTHWAITE. W. e BOTTOMORE, T. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro, Zahar, 1996.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

São Paulo, maio de 2010.

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