Sérgio Biagi Gregório SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Progresso
Material e Progresso Moral. 4. Do Ato Puro à Potência do Ser: 4.1. Deus como Ato
Puro; 4.2. Fomos Criados Potencialmente Perfeitos; 4.3. Causalidade. 5. O
Imperativo da Perfeição: 5.1. Sede Perfeitos como Vosso Pai Celestial é
Perfeito; 5.2. A Caridade como Amor ao Próximo; 5.3. A Participação na
Sociedade. 6. Anotações de Obras Espíritas. 7. Conclusão. 8. Bibliografia
Consultada. 1. INTRODUÇÃO Jesus disse: "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é
perfeito". Como analisar o imperativo da perfeição, contido nesta frase? Devemos
estar sempre nos aperfeiçoando? Não seria melhor fazer corpo mole, deixando o encargo para outra
encarnação? Trataremos, neste estudo, do progresso material e do progresso
moral, da potência e do ato e da correta ordenação da nossa perfectibilidade.
2. CONCEITO Perfeição
– de perfectio designa o estado de um
ser cujas virtualidades se encontram plenamente atualizadas ou realizadas. Em
teologia, plena realização, sob o ponto de vista moral, consumação no bem
que compete a cada um possuir e atuar. Assim: "Todo o homem é chamado à
perfeição ou santidade". Perfeccionismo – Psicologia. Excessiva exigência
de perfeição para consigo mesmo ou de outrem. O perfeccionismo manifesta-se numa
sintomatologia neurótica de colorido obsessivo. Sede – Imperativo do verbo ser. Implica a idéia de ordem,
de comando. 3. PROGRESSO MATERIAL E PROGRESSO MORAL A humanidade tem sido influenciada, ao longo do tempo, por
pensadores de todos os matizes. Vejamos como isso se deu para nos desviar dos
ensinamentos de Jesus. No início da era cristã, o progresso material era ainda
rudimentar. Com avanço da ciência, novas tecnologias se desenvolveram
rapidamente. Isso não deveria deturpar a boa convivência
entre progresso material e progresso moral evangélico. Contudo, a história
mostra o contrário. O racionalismo de Descartes (1596-1650), em que a razão
sobrepuja todos
os outros tipos de conhecimento, foi a mola propulsora de todo o progresso
material subseqüente. A idéia central era a de que o
progresso técnico, propiciando maior produção e produtividade, traria maior bem-estar para humanidade.
Esta tese coloca o esforço de consciência (característico do Cristianismo) em
segundo plano. Um dos maiores defensores da
influência do econômico sobre a religião e as artes foi Marx. Isso não quer
dizer que outros também não o defenderam. Observe o Contrato Social de
Rousseau. Para Rousseau, o homem é fundamentalmente bom (no que aproxima do
Cristianismo) mas é a sociedade que o faz mau. Portanto, se melhorarmos a
sociedade, melhoraremos o homem. E como a sociedade é passível de ser mudada por
leis e decretos, o progresso seria a conseqüência inevitável dessas mudanças
assim orientadas. Um exemplo típico é a Revolução Francesa, que se fundamentou
em Leis para justificar as "violências necessárias". Hobbes, por seu turno, afirma que "o homem é
lobo do próprio homem". A seleção natural das espécies, de Charles Darwin, em
que as espécies mais fortes resistem ao tempo, é passada para a sociedade como
uma corrida desenfreada e violenta na busca do melhor, de estar sempre
suplantando o outro, numa mostra clara da exclusão dos mais fracos. Tudo isso
nos fez esquecer dos ensinamentos de Cristo. (Enciclopédia Polis) 4. DO ATO PURO À POTÊNCIA DO SER 4.1. DEUS COMO ATO PURO A Filosofia proporciona-nos um raciocínio lógico, que pode
nos auxiliar a entender o processo de evolução do Espírito. Ela nos informa que
todas as coisas estão tanto em ato (que é) como em potência (que poderá vir a
ser). Quando Aristóteles definiu Deus como ato puro, fê-lo porque tinha
certeza que não havia nenhum ato anterior a Deus, o Criador. A palavra Je-ho-vá (Jeová, Deus dos Judeus),
por exemplo, é um ato puro, pois, em hebraico, quer
dizer é, foi, será. Do exposto, depreende-se que o Espírito
não pode ser ato puro, mas um ato criado por um Ser Supremo. O
Espiritismo nos ensina que de Deus vertem-se dois princípios: o princípio
espiritual e o princípio material, que individualizados formam,
respectivamente, o Espírito e a
Matéria. Em seu processo evolutivo, o Espírito vai sempre precisar da matéria,
pois dela se serve para a sua manifestação. 4.2. FOMOS CRIADOS POTENCIALMENTE PERFEITOS Deus, quando nos criou, criou-nos simples e ignorantes, ou
seja, potencialmente perfeitos. Os Espíritos superiores, no início de nossa
caminhada espiritual, guiaram os nossos passos como um pai segura as mãos de seu
filho. Com o passar do tempo, eles nos deixaram entregues ao nosso
livre-arbítrio, com a responsabilidade pelas ações realizadas. Assim sendo, em
cada encarnação nós vamos atualizando a potência de perfeição que
existe em cada um de nós. Nota: se Deus é o Criador, e o Criador é todo bondade
e misericórdia, como poderia ter criado um ser defeituoso, monstruoso?. Não faz
sentido assim pensar. 4.3. CAUSALIDADE Há, na natureza, uma lei de causalidade, que nos
mostra uma relação de causa e efeito. A causa é ato anterior que tinha uma
possibilidade de se atualizar. Para que a causa se atualize, ela precisa de
fatores emergentes e de fatores predisponentes. Os fatores
emergentes dizem respeito à ordem interna da causa; os fatores predisponentes, à
ordem externa. Explicando melhor: fatores emergentes – para que tenhamos
uma pereira, precisamos lançar ao solo uma semente de pereira, pois se lançarmos
uma semente de abacate não nascerá nenhuma pereira; fatores predisponentes
– a semente de pereira, apesar de ter potência de tornar-se pereira, precisa de
terra, de ar, de sol, de água. Sem estes, a pereira não surgirá. (Santos, s. d.
p.) Tomemos um indivíduo qualquer. Ao reencarnar ele traz em seu
bojo os fatores emergentes (prova pela qual deverá passar). Para passar
por essa provação precisa também dos fatores predisponentes (parentes,
amigos, pessoa que fabrica o alimento etc.) 5. O IMPERATIVO DA PERFEIÇÃO "Amai os vossos inimigos; fazei o bem àqueles que vos odeiam
e orai por aqueles que vos perseguem e que vos caluniam; porque se não amais
senão aqueles que vos amam, que recompensa com isso tereis? Os publicanos não o
fazem o também? E se vós não saudardes senão vossos irmãos, que fazeis nisso ais
que os outros? Os Pagãos não o fazem também? Sede pois, vós outros, perfeitos,
como vosso pai celestial é perfeito". (Mateus, 5, 44, 46 a 48) 5.1. SEDE PERFEITOS COMO VOSSO PAI CELESTIAL É PERFEITO A frase "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito"
mostra uma ordem, uma ordenação dada por Jesus a todos os habitantes do Planeta
Terra, independente da seita ou da religião que professe. Pergunta-se: não sabia
Jesus que somos fracos e imperfeitos? Como pode Ele dar essa ordem peremptória?
Lógico que Ele sabia e sabe ainda, mas o problema é que fomos criados à imagem e
semelhança de Deus. Diante desta verdade, devemos prestar contas ao Pai dentro
do melhor nível de evolução que pudermos alcançar. O modelo para
chegarmos ao Pai é Jesus, porque, dentre os encarnados, ele foi o Espírito mais
evoluído que desceu neste Planeta. A sua missão foi a de nos mostrar o
caminho da salvação. Qual o exemplo que nos deu? Sofreu perseguições,
sarcasmos, blasfêmias e morreu na cruz. Tudo isso para nos ensinar que o reino de
Deus está dentro de nós e que só o alcançaremos se seguirmos as suas pegadas. 5.2. A CARIDADE COMO AMOR AO PRÓXIMO A perfeição de que Jesus nos ordena está centrada na
caridade que fizermos ao nosso próximo. Esta caridade deve ser exaltada para
que culmine até no amor ao inimigo. Quando ele nos conta a Parábola do Bom
Samaritano, por exemplo, faz-nos uma apologia do amor ao próximo, isento de
preconceitos, de segundas intenções. Evoca, também, a idéia de que a humanidade
é mais importante do que as crenças particulares. 5.3. A PARTICIPAÇÃO NA SOCIEDADE Ninguém é uma ilha. Cada um de nós tem responsabilidade para
com próximo em termos dos pensamentos emitidos, tanto verbais como mentais.
Nesse mister, a aura do Planeta Terra nada mais é do que a soma de todas as
vibrações que emanam de seus habitantes. Assim, um único pensamento de melhoria,
lançado ao globo, pode ser fator desencadeante de perfeição do planeta e do
universo. Contudo, para que possamos emitir bons fluidos, é necessário que
saibamos ouvir com clareza a palavra de Deus; para isso, devemos estar
constantemente purificando o nosso vaso interior, pois o conhecimento, que é
sempre lançado puro, precisa de condições propícias para o seu crescimento. 6. ANOTAÇÕES DE OBRAS ESPÍRITAS 1) O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan
Kardec, capítulo XVII "Uma vez que Deus possui a perfeição infinita em todas as
coisas, esta máxima: "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito",
tomada ao pé da letra, pressuporia a possibilidade de se atingir a perfeição
absoluta. Se fosse dado à criatura ser tão perfeita quanto o Criador, ele
tornar-se-lhe-ia igual, o que é inadmissível. Mas os homens aos quais Jesus se
dirigia não teriam compreendido essa nuança; ele se limitou a lhes apresentar um
modelo e lhes disse para se esforçarem por alcançá-lo." 2) O Mestre na Educação, de Pedro Camargo (Vinícius),
páginas 37/47. O Espírito do homem foi criado à imagem e semelhança de Deus:
almeja sempre o melhor. O Espírito não se acomoda com o menos: quer,
invariavelmente, mais. Não se trata de uma modificação parcial ou relativa, porém
contínua e progressiva demandando a perfeição suprema. "Os verdadeiros sacerdotes do Cristianismo de Jesus, não são,
portanto, os que se dedicam às cerimônias e aos ritualismos do culto exterior,
mas sim os educadores, cônscios do seu papel, que procuram pela palavra e
pelo exemplo, despertar os poderes internos, as forças espirituais latentes dos
seus educandos". 3) O Sermão da Montanha, de Rodolfo Calligaris, página
101. "Em seu desvario, cada qual cuida apenas de salvar as
aparências, de evitar escândalo, procurando ocultar ou disfarçar habilmente seus
erros e defeitos, para ser tido por pessoa de bem, para que a sociedade forme
dele um bom conceito, e, satisfeito com isso, assim atravessa toda a existência,
mascarado, aparentando o que não é". 4) Contos Desta e de Outra Vida, de Irmão X, capítulo
40 (Grupo Perfeito). Dona Clara, dama inteligente e distinta, faz diversas
inquirições ao Espírito Júlio Marques, incorporado na médium Maria Paula, a
respeito de se criar um grupo perfeito. Depois de muito diálogo, disse: "— Posso contar com o senhor? — Ah! Filha, não me vejo habilitado... — Ora essa! Porquê? — Sou um Espírito demasiadamente imperfeito... Ainda estou
muito ligado à Terra. — Mas, recebemos tantos ensinamentos de sua boca! — Esses ensinamentos não me pertencem, chegam dos mentores
que se compadecem de minha insuficiência... brotam em minha frase como a flor
que desponta de um vaso rachado. Não confunda a semente, que é divina, com a
terra que, às vezes, não passa de lama... — Então, o irmão Júlio ainda tem lutas por vencer? — Não queira saber, minha filha... Tenho a esposa, que
prossegue viúva em dolorosa velhice, possuo um filho no manicômio, um genro
obsedado, dois netos em casa de correção... Minha nora, ontem, fez duas
tentativas de suicídio, tamanhas as privações e provocações em que se encontra.
Preciso atender aos que o Senhor me concedeu... Minhas dívidas do passado
confundem-se com as deles. Por isso, há momentos em que me sinto fatigado,
triste... Vejo-me diariamente necessitado de orar e trabalhar para restabelecer
o próprio ânimo... Como verifica, embora desencarnado, sofro abatimentos e
desencantos que nem sempre fazem de mim o companheiro desejável." Continuando a sua conversa, pergunta se o irmão Júlio não
sabe de algum grupo sem defeito. Ele responde que algum grupo como esse
solicitado só pode ser o grupo de Nosso Senhor Jesus-Cristo". 7. CONCLUSÃO O progresso material, pelas suas facilidades, tem nos
distanciado de nós mesmos, de nossa interioridade. Convém, para o nosso próprio
bem, que saibamos nos isolar do corre-corre e do diz-que-diz, a fim de acharmos
tempo para o cultivo de nossa alma imortal. 8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA CALLIGARIS, Rodolfo. O Sermão da Montanha. 3. ed., Rio
de Janeiro: FEB, 1974.
CAMARGO, Pedro (Vinícius). O Mestre na Educação. Rio de Janeiro: FEB,
1976.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE,
1984.
POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986.
XAVIER, F. C. Contos Desta e Doutra Vida, pelo Espírito Irmão X. 4. ed.,
Rio de Janeiro: FEB, 1978.
São Paulo, setembro de 2003.
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