Sacrifício e Espiritismo

Sérgio Biagi Gregório

"Se, pois, quando apresentardes vossa oferenda ao altar, vós vos lembrardes que vosso irmão tem alguma coisa contra vós, deixai vossa dádiva aí ao pé do altar, e ide antes reconciliar-vos com vosso irmão, e depois voltai para oferecer vossa dádiva". (Mateus, 5, 23 e 24.)

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. Sacrifício e Jesus: 4.1. A Missão de Jesus; 4.2. A Cruz; 4.3. Ideia Nova. 5. Sacrifício e Filosofia: 5.1. Coragem para o Sacrifício; 5.2. Liberdade; 5.3. Abnegação. 6. Sacrifício e Espiritismo: 6.1. Ressentimento; 6.2. O Melhor Sacrifício; 6.3. Guardemos Confiança. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

Qual o significado de sacrifício? Sacrifício é sofrimento? É dor? Qual é o sacrifício mais agradável a Deus? Que subsídios a Doutrina Espírita nos oferece para a compreensão deste tema?

2. CONCEITO

Sacrifício é o ato principal de todo culto religioso, por meio do qual a criatura racional reconhece o supremo domínio do Criador sobre a sua pessoa, mediante uma oferenda sensível que significa a oferenda interior. (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura)

Ato ou efeito de sacrificar, oferta feita à divindade em certas cerimônias solenes. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

O sacrifício é a prova máxima por que passam os Espíritos que se encaminham para Deus, pois por meio dele se redimem das derradeiras faltas, inundando-se de luminosidades inextinguíveis. Sacrificar-se é crescer; quem cede para os outros adquire para si mesmo. (Equipe da FEB)

3. HISTÓRICO

Na Antiguidade, diversos povos utilizavam os sacrifícios – de animais, crianças, virgens, prisioneiros de guerra – para fazerem as suas oferendas aos deuses. No Antigo Testamento, os livros sagrados designavam os sacrifícios como algo santo, como oferenda, como um dom sagrado. Abraão, por exemplo, por ordem de Deus, quis imolar o seu filho Isaac em holocausto e que depois foi substituído por um carneiro. No Novo Testamento, a instituição antiga dos sacrifícios chega ao fim. Jesus imprime outra cultura sacrifical, que é o sacrifício de si mesmo, com a morte na Cruz, dando início a uma nova forma de fé religiosa. A sua morte na Cruz simboliza a redenção dos pecados da humanidade. Numa acepção mais contemporânea, há o holocausto alemão praticado ao povo judeu, sobre a égide da bandeira nazista, mostrando a força sanguinária da gestapo, amparada pela tirania de Hitler.

4. SACRIFÍCIO E JESUS

4.1. A MISSÃO DE JESUS

De acordo com os cânones religiosos, Jesus é o Espírito mais elevado que já reencarnou neste Planeta de provas e expiações. Pode-se dizer que era médium de Deus. Tinha a missão de dirigir os destinos da Terra. Para isso, era preciso mudar o nível mental dos seus habitantes. Por isso, não perdeu nenhuma oportunidade de nos passar um ensinamento, para que pudéssemos adentrar em uma nova forma de vida, a verdadeira vida, ou seja, a vida espiritual. A Sua morte na Cruz representa o móvel da redenção da Humanidade. Por isso, dizemos que Ele é o "Mestre por excelência: ofereceu-se-nos por amor, ensinou até o último instante de sua vida, fez-se o exemplo permanente em nossos corações e nos paroxismos da dor, pregado no madeiro ignominioso, perdoou-nos as defecções de maus aprendizes". (Equipe da FEB)

4.2. A CRUZ

O símbolo da cruz, em que juntam o céu e a terra, foi enriquecido prodigiosamente pela tradição cristã, condensando nessa imagem a história da salvação e a paixão do Salvador. A cruz simboliza o Crucificado, o Cristo, o Salvador, o Verbo, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Ela é mais do que uma figura de Jesus, ela se identifica com sua história humana, com a sua pessoa. Enquanto no passado havia o "olho por olho e dente por dente", Jesus ensinou-nos a oferecer a outra face, quando numa delas alguém nos batesse. Enquanto no passado ofereciam-se animais, crianças, alimentos, Jesus oferece-nos um único mandamento: cada qual deve carregar a sua cruz.

4.3. IDEIA NOVA

Toda a ideia nova custa a aclimatar no coração humano. A sentença "não vim trazer a paz mas a espada" ainda não foi bem entendida. Jesus não nos convidou a guerrear com os nossos semelhantes; advertiu-nos, sim, que a sua doutrina traria cisões, porque os que não compreendessem o novo mandamento poderiam entrar em contradição com o seu pai, o seu filho, a sua esposa e os demais semelhantes, até que, com o tempo, os novos ensinamentos fossem perenemente sedimentados em sua mente e em seu coração.

5. SACRIFÍCIO E FILOSOFIA

5.1. CORAGEM PARA O SACRIFÍCIO

A filosofia ensina-nos que o ser humano deve se preparar, ter coragem para suportar o sofrimento. A coragem fundamenta-se no deixar o conhecido, o lugar conquistado, a comodidade do pensamento vulgar para se aventurar na busca de novos ensinamentos, novas experiências, novos rumos em sua curta existência na terra. "A coragem para o sacrifício está em acreditar poder de novo outra vez. Poder sempre inaugurar um novo sentido, ou mesmo repetir o feito e de novo realizar. É dispor-se à vida que se vive e se realiza vivendo, e compreender que nesse jogo de viver e realizar jogar o incerto e o inesperado, e que assim devem ser acolhidos". (Pizzolante, 2008, p. 188)

5.2. LIBERDADE

Abrindo mão do lugar conquistado, o ser humano insere-se no campo da incerteza, no acaso. Assemelha-se à noção de esperança, pois o que espera não tem certeza do que espera, mas assim mesmo espera. Tem uma convicção íntima que alcançará o esperado. Em se tratando do sacrifício pela liberdade, o indivíduo deve largar a suposta segurança e a tentativa de controlar a sua vida, para que possa viver mais intensamente. É somente através do sacrifício que o homem acha a sua liberdade. O sacrifício é o fundamento de toda e qualquer evolução da espécie humana.

5.3. ABNEGAÇÃO

Não se deve pensar o sacrifício como auto-imposição, mas uma disposição para a abnegação, que é o afastar-se da arrogância do ficar no já conquistado. O sacrifício assemelha-se à dor do parto, pois a mãe sofre, mas em seguida vê o rebento vir á luz e tudo fica esquecido. Em nosso caso, o parto refere-se à ideia nova, tal qual Sócrates fazia na Antiguidade, quando ensinava no ágora, ou seja, na praça pública. Sadi, por outro lado, já nos dizia que "A paciência é uma planta de raízes assaz amargas, mas de frutos dulcíssimos".

6. SACRIFÍCIO E ESPIRITISMO

6.1. RESSENTIMENTO

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec ensina-nos que o sacrifício mais agradável a Deus é o do Ressentimento. Ele expressa o pensamento da seguinte forma: "Antes de se apresentar a ele para ser perdoado, é preciso ter perdoado, e que, se cometeu injustiça contra um dos seus irmãos, é preciso tê-la reparado; só então a oferenda será agradável, porque virá de um coração puro de todo o mau pensamento" (1984, cap. X, p.134.) Em outras palavras, antes de entrarmos no templo do Senhor devemos purificar o nosso coração, porque assim teremos mais condições de entrar em perfeita conexão com os Espíritos superiores e deles receber inspirações para as nossas boas ações.

6.2. O MELHOR SACRIFÍCIO

O melhor sacrifício ainda não é a morte pelo martírio, ou pelo infamante opróbrio dos homens, mas aquele que se realiza com a vida inteira, pelo trabalho e pela abnegação sincera, suportando todas as lutas na renúncia de nós mesmos, para ganhar a vida eterna de que nos falava o Senhor em suas lições divinas. (Equipe da Feb)

6.3. GUARDEMOS CONFIANÇA

Decerto ouviremos muitas interrogações acerca de nossa conduta espírita, porque os obstáculos e as dificuldades serão sem monta. O trabalhador da seara mediúnica não raro registrará as seguintes questões: por que o meu caminho é de sofrimento? Por que a minha vida está repleta de dor? Onde estão os benfeitores espirituais? Por que eles não vêm aliviar as minhas amarguras? Lembremo-nos de que Jesus ensinou que a cruz é o símbolo da redenção do cristão. Os mensageiros de luz vêm apenas estimular as nossas ações dizendo que deveríamos pegar a nossa cruz e caminhar com ela, tanto quanto forem os passos que a divindade nos impuser. E por maior sejam os sacrifícios que teremos de suportar, não cortemos uma pedaço dela, porque poderá fazer falta quando tivermos que usá-la como ponte para atravessar o rio.

7. CONCLUSÃO

O sacrifício mais agradável a Deus é aquele em que o individuo se coloca abertamente para aceitar, sem desânimo e sem reclamações, a determinação dos Espíritos de luz acerca de sua missão na terra.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Lisboa: Verbo, [s. d. p.]

EQUIPE DA FEB. O Espiritismo de A a Z. Rio de Janeiro: FEB, 1995.

GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].

PIZZOLANTE, Romulo. A Filosofia e a Coragem para o Sacrifício. In: MEES, L. e PIZZOLANTE, R. (org.). O Presente do Filósofo: Homenagem a Gilvan Fogel. Rio de Janeiro: Mauad X, 2008.

São Paulo, agosto de 2009

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