Porta Estreita

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Simbologia e Texto Evangélico: 2.1. Simbologia da Porta; 2.2. Metáfora da Viagem; 2.3. O Texto Evangélico. 3. Planejamento da Reencarnação: 3.1. Os Pedidos; 3.2. Comentário de Emmanuel; 3.3. O Compromisso Assumido. 4. Porta Larga Versus Porta Estreita: 4.1. Caracterização da Porta Larga; 4.2. Caracterização da Porta Estreita; 4.3. A Sugestão do Irmão X. 5. Conclusão. 6. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

Qual o significado de porta? E sua simbologia nas diversas religiões? A porta estreita refere-se à nossa salvação? O que Jesus realmente quis dizer com o termo "porta estreita"?

2. SIMBOLOGIA E TEXTO EVANGÉLICO

2.1. SIMBOLOGIA DA PORTA

A porta simboliza o local de passagem entre dois estados, entre dois mundos, entre o conhecido e o desconhecido, a luz e as trevas, o tesouro e a pobreza extrema.

A porta não só se abre; convida-nos a transpô-la, passar do domínio do profano para o domínio do sagrado. Há diversos tipos de portas: as portas das catedrais, os torana hindus, as portas dos templos ou das cidades Khmers, os torii japoneses etc.

Nas tradições judaicas e cristãs, a importância da porta é imensa, porquanto é ela que dá acesso à revelação.

Se Cristo em glória é representado no alto dos frontispícios das catedrais, é porque ele próprio é, de acordo com o mistério da Redenção, a porta pela qual se chega ao Reino dos Céus: Eu sou a porta, quem entrar por Mim, será salvo (João, 10,9).

No sentido escatológico, é a possibilidade de acesso a uma realidade superior. (Dicionário de Símbolos)

2.2. METÁFORA DA VIAGEM

Quando nos predispomos a viajar para um país vizinho, levamos conosco somente o necessário: roupas, calçados e um pouco de dinheiro. E mesmo que quiséssemos levar muita coisa em nossa bagagem, poderíamos ser impedidos, no aeroporto, por excesso de peso.

E se estivéssemos empreendendo uma viagem para o outro lado da vida? O que deveríamos levar? Somente aquilo que fosse possível de ser passado pela porta estreita. O resto teria de ficar aqui. Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, ao tratar da propriedade diz que a verdadeira propriedade não é o dinheiro e os bens materiais, que ficam aqui, mas o desenvolvimento da inteligência, os conhecimentos morais e o bem que tivermos praticado em prol do nosso próximo. Estes são os tesouros que nenhum ladrão nos roubará.

2.3. TEXTO EVANGÉLICO

"Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta da perdição e espaçoso o caminho que a ela conduz, e muitos são os que por ela entram. - Quão pequena é a porta da vida! Quão apertado o caminho que a ela conduz! e quão poucos a encontram." (Mateus, 7, 13 e 14.)

"Tendo-lhe alguém feito esta pergunta: Senhor, serão poucos os que se salvam? Respondeu-lhes ele: - Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois vos asseguro que muitos procurarão transpô-la e não o poderão. - E quando o pai de família houver entrado e fechado a porta, e vós, de fora, começardes a bater, dizendo: Senhor, abre-nos; ele vos responderá: não sei donde sois: - Por-vos-eis a dizer: Comemos e bebemos na tua presença e nos instruíste nas nossas praças públicas. - Ele vos responderá: Não sei donde sois; afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniqüidade. Então, haverá prantos e ranger de dentes, quando virdes que Abraão, Isaac, Jacob e todos os profetas estão no reino de Deus e que vós outros sois dele expelidos. -Virão muitos do Oriente e do Ocidente, do Setentrião e do Meio-Dia, que participarão do festim no reino de Deus. - Então, os que forem últimos serão os primeiros e os que forem primeiros serão os últimos". (Lucas, 13, 23 a 30.)

3. PLANEJAMENTO DA REENCARNAÇÃO

3.1. OS PEDIDOS

Antes de virmos a este mundo, pedimos aos bons Espíritos a "porta estreita", a fim de aproveitarmos a oportunidade de evolução espiritual. Queremos vir com defeitos no corpo, impossibilidades mil, a fim de que estejamos aptos ao trabalho de ressarcimento de débitos passados como também a nossa preparação para o que há de vir.

3.2. COMENTÁRIO DE EMMANUEL

O Espírito Emmanuel assim se expressa: "Reconhece a necessidade do sofrimento purificador. Anseia pelo sacrifício que redime. Exalta o obstáculo que ensina. Compreende a dificuldade que enriquece a mente e não pede outra coisa que não seja a lição, nem espera senão a luz do entendimento que a elevará nos caminhos infinitos". (Xavier, 1972, cap. 20)

Estando encarnado, porém, volta a procurar as "portas largas" por onde transitam as multidões, esquecendo-se de todos os compromissos assumidos.

3.3. O COMPROMISSO ASSUMIDO

O Espírito irmão X, no capítulo 15 de Estante da Vida, narra-nos as provações pedidas por Alberto Nogueira, no sentido de reparar a sua posição de Espírito delinqüente.

Em resumo, ele diz: rogo a vossa permissão para tornar ao campo terrestre a fim de resgatar as minhas faltas. Conceda-me a lepra, o abandono dos entes queridos, a extrema penúria, a loucura ou cegueira, os calvários morais e os tormentos físicos de qualquer natureza...

Eis o despacho da autoridade superior:

"O Senhor pede misericórdia, não sacrifício. O interessado resgatará os próprios débitos, em vida normal, com as tarefas naturais de um lar humano e de uma família, em cujo seio encontrará os contratempos justos e educativos para qualquer criatura com necessidades de reequilíbrio e aprimoramento, mas, por mercê do Senhor, será médium espírita, com a obrigação de dar, pelo menos, oito horas de serviço gratuito por semana, em favor de necessitados na Terra, consolando-os e instruindo-os, na condição de instrumento dos Bons Espíritos que operam a transformação do mundo, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo..."

Certo dia houve necessidade dos mentores espirituais procurarem Alberto para resolver um problema espiritual de uma mãe e sua filha. Estas foram ao Centro no qual ele deveria estar trabalhando, e não o encontraram; depois, foram à sua casa. Alberto Nogueira simplesmente esquiva-se do assunto, como se nada tivesse a ver com a dificuldade.

"Aquele espírito valoroso que pedira lepra, cegueira, loucura, idiotia, fogo, lágrimas, penúria e abandono, a fim de desagravar a própria consciência, no plano físico, depois de acomodar-se nas concessões do Senhor, esquecera todas as necessidades que lhe caracterizavam a obra de reajuste e preferia a ociosidade, enquadrado em pijama, com medo de trabalhar". (Xavier, 1974)

4. PORTA LARGA VERSUS PORTA ESTREITA

4.1. CARACTERIZAÇÃO DA PORTA LARGA

Em geral, tudo aquilo que desvia as nossas ações dos fins mais elevados da vida e dos compromissos assumidos.

  • Vícios materiais e morais.

  • Festas mundanas, os prazeres e o sexo desenfreado.

  • Enganar os outros para auferir lucro financeiro.

4.2. CARACTERIZAÇÃO DA PORTA ESTREITA

  • Estar bem com a própria consciência. O que adianta agradar aos outros e desagradar a nós mesmos?

  • Sacrifício da personalidade em busca do bem comum.

  • Renúncia aos prazeres passageiros.

4.3. A SUGESTÃO DO IRMÃO X

O Espírito Irmão X, no capítulo 4 de Cartas e Crônicas, dá-nos algumas idéias para um desencarne tranqüilo. Ele diz:

  • Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a volúpia de comer a carne dos animais.

  • Os excitantes largamente ingeridos constituem perigosa obsessão.

  • Não se renda à tentação dos narcóticos.

  • Se tiver dinheiro, não adie as doações, caso esteja realmente inclinado a fazê-las.

  • Em família, observe cautela com testamentos.

  • Não se apegue demasiadamente aos laços consangüíneos.

  • Convença-se de que se você não experimenta simpatia por determinadas criaturas, há muita gente que suporta você com muito esforço. (Xavier, 1974)

5. CONCLUSÃO

Esforcemo-nos por vencer as más tendências. Não há outra saída. Somente assim poderemos passar pela porta estreita e criar condições para a salvação de nossa alma imortal.

6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CHEVALIER, J., GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998.

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

XAVIER, F. C. Cartas e Crônicas, pelo Espírito Irmão X. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1974.

XAVIER, F. C. Estante da Vida, pelo Espírito Irmão X. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1974.

São Paulo, maio de 2004.

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