Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Considerações
Iniciais. 4. Sobre a Perseverança: 4.1. Obstáculos à Perseverança; 4.2.
Construção da Perseverança; 4.3. Tenacidade e Obstinação. 5. Doutrina e
Mediunidade: 5.1. O Conhecimento da Doutrina Espírita; 5.2. O Desenvolvimento
Mediúnico; 5.3. A Evocação de Espíritos. 6. Aspectos Evangélicos: 6.1.
Ingratidão; 6.2. Até ao Fim; 6.3. A Vida Futura. 7. Conclusão. 8. Bibliografia
Consultada. 1. INTRODUÇÃO O que se entende por perseverança? É possível distinguir a
tenacidade da obstinação? Quais são os obstáculos à perseverança? O Evangelho de
Jesus Cristo pode nos auxiliar? Como? Com essas questões, damos início ao nosso
estudo. 2. CONCEITO Perseverança
- É a firmeza ou constância num sentimento,
numa resolução, num trabalho, apesar das dificuldades e dos incômodos. É a
virtude que contribui para o êxito na vida humana. Para a Teologia católica, a
perseverança é uma virtude conexa com a da fortaleza; fortifica a vontade contra
o temor de males iminentes e as dificuldades que provêm de um longo exercício da
virtude. 3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS A perseverança compreende a continuidade nos esforços feitos
na mesma linha, sem o qual o empreendimento humano está fadado à esterilidade.
Quando observamos que muitos planos não se concretizam é porque o poder de
realização não correspondeu à faculdade de concepção. Conta-se que Goethe
ruminou durante trinta anos a concepção do Fausto. Nesse período, a obra
foi germinando, criando raízes para, finalmente, vir à luz. Assim, é forçoso que
não percamos o nosso bom humor se aquilo que almejamos não está se tornando
real. Para tanto, há diversas frases de consolo e estímulo: "Deus está com os
que perseveram"; "Aquele que perseverar até o fim, será salvo"; "Não interessa o
que se trata de levar a termo: o que importa é perseverar até o fim"; "Somos
precipitados, quando dizemos que a natureza nos negou isso ou aquilo. Um pouco
mais de constância, e o resultado será oposto"; "Todas as estradas da vida têm
os seus espinhos. Se entrares numa delas, prossegue, porque retroceder é
covardia"; "Poucas são as coisas por si próprias impossíveis; e o que
freqüentemente nos falta não são os meios para obtê-las, é a constância". 4. SOBRE A PERSEVERANÇA 4.1. OBSTÁCULOS À PERSEVERANÇA 1) Rotina
– É o principal obstáculo. Uma ruptura do
automatismo, por insignificante que seja, abre um caminho. Liberta o pensamento
e tonifica o psiquismo superior. Importa detectar os automatismos que alimentam
a nossa inércia. 2) Desânimo – É a grande arma dos Espíritos das trevas,
porque ela quebra a faculdade mestra, que é a chave do homem, ou seja, a
vontade. A preguiça moral, o gosto da comodidade e a instabilidade do humor são
outros tantos fatores do desânimo. 3) Medo da mudança – Todo o esforço desacostumado é
penoso e por isso dá nascimento a uma idéia de incapacidade de avançar. Após
muitos automatismos guardados em nosso subconsciente, ficamos paralisados e não
nos pomos em marcha para o novo, para o que possa nos trazer algum progresso de
nossa alma. (Courberive, 1960) 4.2. CONSTRUÇÃO DA PERSEVERANÇA A verdadeira vontade não é desejo, é autodeterminação
refletida. Preferimos vegetar numa mediocridade aceita, a elevar-nos a
uma situação melhor à custa de trabalhos metódicos e perseverantes. Para muitos
seres humanos, a felicidade consiste na lei do menor esforço, na rotina e no
torpor. Isso equivale a matar a vida interior, porque, para estar vivo, o
espírito deve sempre se renovar por um trabalho contínuo. São Domingos não revogava jamais – sem razão suficiente – uma
decisão tomada diante de Deus, após muito refletir e orar. Para que haja perseverança deve haver também a concentração,
ou seja, focalizar nossa atenção sobre um único ponto e partir ao seu encalço,
pois pluribus intentus, minor fit ad singula sensus: olhando muitas
coisas ao mesmo tempo, prestamos menos atenção a cada uma em particular. Mons. d’Hulst dizia: "Ao lado da perseverança que jamais
tomba há aquela que se levanta sempre". Quer dizer, se mantivermos a nossa
atenção voltada para os nossos próprios objetivos da vida, não faremos conta do
fracasso ou do êxito, pois estaremos apenas compenetrados do dever que nos foi
reservado. 4.3. TENACIDADE E OBSTINAÇÃO A diferença entre tenacidade e obstinação é que esta última
não sabe adaptar-se à realidade. Aos obstinados falta a flexibilidade, elemento
de suma importância para a realização de todos os empreendimentos humanos. Um
exemplo pode esclarecer este ponto. Desejamos ir, em linha reta, de A para B. No
meio do caminho encontramos um muro. Os tenazes param, olham, contornam o muro e
dão continuidade à sua trajetória; os obstinados batem com a cabeça no muro,
pois não tiveram a flexibilidade de mudar o caminho, contornar o problema, a
dificuldade. (Courberive, 1960) 5. DOUTRINA E MEDIUNIDADE 5.1. O CONHECIMENTO DA DOUTRINA ESPÍRITA O que caracteriza o estudo sério é a continuidade. Quem
quiser estudar uma ciência deverá fazê-lo de maneira metódica. Ir do simples
para o complexo, do conhecido para o desconhecido. O estudo da Doutrina Espírita
deve ser feito por homens sérios, perseverantes, isentos de prevenções e
animados de uma firme e sincera vontade de chegar a um resultado. "Se quereis respostas sérias sede sérios vós mesmos, em toda
a extensão do termo e mantende-vos nas condições necessárias: somente então
obtereis grandes coisas. Sede, além disso, laboriosos e perseverantes em vossos
estudos, para que os Espíritos superiores não vos abandonem como faz um
professor com os alunos negligentes". (Kardec, 1995, Introdução, VIII) 5.2. O DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO O desenvolvimento da mediunidade é um trabalho lento e
perseverante, pois no começo podem surgir problemas diversos que nos fazem
desistir do intento almejado. É preciso, pois, perseverar, ser constante e
aplicar. Esta admoestação é feita principalmente para aqueles que começam a
freqüentar uma Casa Espírita. Nessas circunstâncias, os Espíritos menos
evoluídos tentam inibir os nossos primeiros passos rumo ao nosso
aperfeiçoamento espiritual. Eles nos dificultam de várias maneiras: inspiram
algum parente para nos visitar – justamente na hora que estamos nos aprontando
para sair, algum contratempo de trânsito, um mal-estar momentâneo etc.
Aprendamos a nos desvencilhar desses empecilhos. 5.3. A EVOCAÇÃO DE ESPÍRITOS Os Espíritos não estão sempre ao nosso dispor. Embora eles
nos influenciem os pensamentos, não é a toda hora que estão dispostos a se
comunicarem conosco. Eles, muitas vezes, estabelecem dia e hora para que não
haja perda de tempo, nem para eles que têm muito que fazer e nem para nós que
também temos os nossos compromissos com o exercício da profissão e com os
deveres de cada dia. Assim, mesmo que não estejamos conseguindo uma comunicação
mediúnica, devemos prosseguir, porque é a continuidade do trabalho que mostra o
nosso progresso, mesmo que ainda não estejamos colhendo o que estamos buscando.
6. ASPECTOS EVANGÉLICOS 6.1. INGRATIDÃO O evangelho adverte: "Quem comete o mal nele se torna
escravo, só a verdade torna livre". Muitas vezes fazemos o bem ao nosso próximo
e somos pagos com ingratidão. Quantos não são os casos de ingratidão dos filhos
para com os pais. No momento que estes, já exaustos pelos labores da vida,
quando mais precisavam dos cuidados especiais de seus filhos, são muitas vezes
postos em cômodos frios e imundos ou em casas de repouso. Lembremo-nos de que a
ingratidão é uma prova para a nossa persistência em fazer o bem. A gentileza é
uma atitude que tem em si mesma a sua recompensa. Não é conveniente esperar o
reconhecimento dos outros. Por isso, embora o ingrato seja egoísta, não percamos
tempo em reprimi-lo, mas continuemos a nossa tarefa. Observe a vida de Jesus:
trouxe-nos a doutrina do amor, salvou a muitos e a si mesmo não pode se salvar.
6.2. ATÉ AO FIM "Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo Jesus".
(Mateus, 24,13) Esta mensagem do Espírito Emmanuel mostra que Jesus não se
refere a um fim que simbolize término e, sim, à finalidade, ao alvo, ao
objetivo. O evangelho será pregado aos povos para que as criaturas compreendam e
alcancem os fins superiores da vida. Nesse sentido, para quebrar o casulo da
condição de animalidade, os espíritos precisam perseverar. É uma árdua tarefa. É
necessário apagar as falsas noções de favores gratuitos da divindade. Emmanuel
lembra-nos, também, de que as portas do céu permanecem abertas. Para que nos
elevemos até lá precisamos das asas do amor e da sabedoria. Muita gente se
desanima e prefere estacionar, século a fio, nos labirintos da inferioridade.
Contudo, os bons trabalhadores sabem perseverar. (Xavier, 1977, cap. 36) 6.3. A VIDA FUTURA "A conseqüência da vida futura decorre da responsabilidade
dos nossos atos. A razão e a justiça nos dizem que, na distribuição da
felicidade a que todos os homens aspiram, os bons e os maus não poderiam ser
confundidos. Deus não pode querer que uns gozem dos bens sem trabalho e outros
só o alcancem com esforço e perseverança". (Kardec, 1995, pergunta 962). Este
comentário de Allan Kardec mostra que o nosso empenho em fazer o bem, apesar de
todas as dificuldades terá a sua conseqüência. Por isso mesmo não é conveniente
ficarmos nos comparando com outros e com aqueles que sobem e se locupletam à
custa da ignorância alheia. Mais dias ou menos dias seremos cobrados pelo que
fizemos. 7. CONCLUSÃO A perseverança em nossos propósitos mais lídimos é um
apanágio para a nossa alma enfermiça. Ela nos traz o sentimento do dever
cumprido. Assim, em qualquer dificuldade, lembremo-nos da frase de Jesus: "Não
tema, crê". 8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA COUBERIVE, J. de. O Domínio de Si
Mesmo. Tradução de M. Cecília de M. Duprat. 2.ed., São Paulo: Paulinas, 1960 KARDEC, A. O Livro dos Espíritos.
8. ed. São Paulo: Feesp, 1995. XAVIER, F. C. Pão Nosso, pelo
Espírito Emmanuel. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1977
São Paulo, dezembro de 1996.
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