Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO:
1. Introdução. 2. Conceito. 3. Parábola Evangélica: 3.1. A Missão de Jesus;
3.2. Momento da Pregação de Jesus; 3.3. Imagem e Doutrina. 4. Porque Jesus
Falava por Parábolas: 4.1. O Texto Evangélico; 4.2. Conhecimento Implícito
das Parábolas; 4.3. O Ensino por meio de Parábolas. 5. Alcance Pedagógico das
Parábolas: 5.1. Pedagogia e Parábola; 5.2.
A Boa Nova e a Educação. 6. Parábola
na Atualidade. 7. Conclusões
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é verificar o alcance doutrinal das parábolas de Jesus, entendidas como um método de transmitir os seus ensinos. Analisaremos o seu conceito, a inserção no Evangelho, a pedagogia do Mestre e o alcance que se pode obter nos dias que correm.
2. CONCEITO
Parábola - do gr. parabole significa narrativa curta, não raro identificada com o apólogo e a fábula, em razão da moral, explícita ou implícita, que encerra e da sua estrutura diamétrica. Distingue-se das outras duas formas literárias pelo fato de ser protagonizada por seres humanos. Vizinha da alegoria, a parábola comunica uma lição ética por vias indiretas ou simbólicas: numa prosa altamente metafórica e hermética, veicula um saber apenas acessível aos iniciados. (Moisés, 1979)
Sinteticamente: narração alegórica na qual o conjunto dos elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior.
Pedagogia – Esta palavra é relativamente recente e só apareceu de forma corrente, na segunda metade do séc. XIX, pelo menos nas línguas romanas. Etimologicamente, significa ação sobre as crianças. Define-se como ciência e arte da educação.
3. PARÁBOLA EVANGÉLICA
3.1. A MISSÃO DE
JESUS
Moisés trouxe a 1.ª revelação; Jesus a segunda. A primeira revelação dá relevância ao olho por olho e dente por dente; a segunda fala do amor incondicional, estendendo-o até ao amor ao inimigo.
"Jesus não veio destruir a lei, quer dizer, a lei de Deus; ele veio cumpri-la, quer dizer, desenvolvê-la, dar-lhe seu verdadeiro sentido, e apropriá-la ao grau de adiantamento dos homens; por isso, se encontra nessa lei o princípio dos deveres para com Deus e para com o próximo, que constituem a base de sua doutrina. Quanto às leis de Moisés propriamente ditas, ao contrário, ele as modificou profundamente, seja no fundo, seja na forma; combateu constantemente o abuso das práticas exteriores e as falsas interpretações, e não poderia fazê-las sofrer uma reforma mais radical do que as reduzindo a estas palavras: "Amar a Deus acima de todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo". E dizendo: está aí toda a lei e os profetas. (Kardec, 1984, p. 35)
3.2. MOMENTO DA
PREGAÇÃO DE JESUS
Contava Jesus trinta anos quando começou a pregar a "Boa Nova". Compreende a sua vida pública um pouco mais de três anos (27 a 30 da era cristã). Utilizou-se, na sua pregação, o apelo combinado à razão e ao sentimento, por meio de parábolas ilustrativas das verdades morais.
As duas regiões de sua pregação:
1) Galiléia (Nazaré) - as cercanias do lago de Genesaré e as cidades por ele banhadas, e principalmente Cafarnaum, centro a atividade messiânica de Jesus;
2) Jerusalém - que visitou durante quatro vezes durante o seu apostolado e sempre por ocasião da Páscoa.
Na Galiléia, percorrendo os campos, as aldeias e as cidades, Jesus anunciava às turbas que o seguem o Reino de Deus; é aí, também, que recruta os seus doze apóstolos e os prepara para serem as suas testemunhas. Ao mesmo tempo, vai realizando milagres.
Em Jerusalém, continuamente perseguido pela hostilidade dos fariseus (seita muito considerada e muito influente, que constituía a casta douta e ortodoxa do judaísmo), ataca a hipocrisia deles e esquiva-se às suas ciladas. Como prova de sua missão divina, apresenta-lhes a cura de um cego de nascença e a ressurreição de Lázaro. (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)
3.3. IMAGEM E
DOUTRINA
A imagem e a doutrina são dois elementos materiais da parábola a que o termo de comparação dá a forma específica.
A imagem inspira-se nas tarefas cotidianas, nas ocupações mais humilde que valoriza, e nos costumes dos homens, que aponta como exemplos bons ou maus. Por vezes paradoxal como no caso dos operários da vinha, iguais no prêmio e desiguais no trabalho. Mas sempre dinâmica: a semente nasce, a rede lança-se ao mar, o rico banqueteia-se, a dracma procura-se, o inimigo vinga-se, as crianças brincam, os imprudentes dormem etc.
A par deste quadro tão animado, a página doutrinal, cujo tema é quase sempre o reino de Deus, em que enfatiza as contrariedades, o progresso, as atividades do rei, os direitos e deveres dos súditos em retalhos de poesia e doutrina, ligados entre si pela ponte que é o termo de comparação umas vezes rico de pormenores, como na Parábola do Semeador e do Trigo e do Joio, outras reduzidas a uma sentença ou rubrica a jeito de introdução ou de cláusula. (Enciclopédia luso Brasileira de Cultura)
4. PORQUE JESUS
FALAVA POR PARÁBOLAS
4.1. O TEXTO EVANGÉLICO
“Seus discípulos, se aproximando, disseram-lhe: por que lhes falais por parábolas? E, lhes respondendo, disse: porque, para vós outros, vos foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus; mas, para eles, não foi dado. Eu lhes falo por parábolas, porque vendo não vêem, e escutando não ouvem nem compreendem. E a profecia de Isaías se cumprirá neles quando disse: vós escutareis com vossos ouvidos e não ouvireis; olhareis com vossos olhos e não vereis. Porque o coração deste povo está entorpecido e seus ouvidos tornaram-se surdos, e eles fecharam seus olhos de medo que seus olhos não vejam, que seus ouvidos não ouçam, que seu coração não compreenda, e que, estando convertidos, eu não os curasse”. (São Mateus, cap. XIII, v. de 10 a 15) (Kardec, 1984, p.283)
4.2. CONHECIMENTO IMPLÍCITO
DAS PARÁBOLAS
As parábolas revestem-se de conhecimento exotérico e de conhecimento esotérico. O conhecimento exotérico refere-se à exposição que Jesus fazia publicamente, enquanto o conhecimento esotérico, refere-se às explicações que Jesus dava aos apóstolos, em particular. Observe que, mesmo entres esses, não disse tudo.
4.3. O ENSINO POR MEIO DE PARÁBOLAS
Foi para evitar as ciladas dos adversários e prevenir as interpretações errôneas do auditório que Jesus recorreu ao ensino por meio da Parábola, que se destinava a despertar a curiosidade dos ouvintes e o desejo de ulterior explicação que os discípulos e os bem intencionados pediam.
5. O ALCANCE PEDAGÓGICO
DAS PARÁBOLAS
A pedagogia, como vimos, está ligada à educação. Jesus foi um educador por excelência que soube se valer dos métodos de ensino utilizados em sua época, ou seja, das parábolas. A parábola, na realidade, é uma história contada por Jesus para ilustrar o seu ensinamento. No fundo da palavra grega parabole há a idéia de comparação, enigma, curiosidade. Mas não está nisso o essencial para explicar o gênero parabólico: é preciso entender a parábola como sendo a apresentação de símbolos, isto é, imagens tomadas das realidades terrestres para serem sinal das realidades reveladas por Deus. Elas precisam de uma explicação mais profunda. Foi essa explicação inicial que Jesus começou e deixou para os seus seguidores darem continuidade mais tarde. (LEON-DUFOUR, 1972)
5.1. A BOA NOVA E A EDUCAÇÃO
Comparemos, para efeito de explicitação do alcance pedagógico das parábolas de Jesus, o processo de educação existente antes e depois da vinda de Jesus.
a) Antes da
vinda de Jesus
O cativeiro consagrado por lei era o flagelo comum;
A mulher, aviltada em quase todas as regiões, recebia tratamento inferior ao
que se dispensava aos cavalos;
Os vencidos eram cegados e aproveitados em serviços domésticos;
As crianças fracas eram punidas com morte;
Os enfermos eram sentenciados ao abandono.
6. PARÁBOLA NA
ATUALIDADE
Parábola assemelha-se a uma noz que se deve quebrar o casco para ver o que tem dentro. Isto quer dizer que há sempre uma nova abordagem a cada vez que olhamos a mesma parábola. Seria ampliar o conhecimento, ver com outros olhos a mesma realidade.
Vejamos, a título de exemplo, como o Espírito irmão X interpreta a Parábola dos Talentos.
A Parábola dos Talentos (Mateus, cap. 25, vv. 14 a 30) retrata a situação de um homem que, ao ausentar-se para longe, chamou seus servos, e entregou-lhes os seus bens. Ao primeiro deu cinco talentos, ao segundo, dois e ao terceiro, um. Os dois primeiros negociaram os talentos recebidos e devolveram, respectivamente, dez e quatro talentos. O terceiro devolveu apenas o que havia recebido. Os que multiplicaram seus talentos ganharam novas intendências. Mas o que o guardou, até este o amo lhe tirou, dizendo: "Porque a todo o que já tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; e ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que parece que tem".
O Espírito Irmão X, no livro Estante da Vida, psicografado por F. C. Xavier, interpreta a parábola nos seguintes termos: ao primeiro o senhor dera Dinheiro, Poder, Conforto, Habilidade e Prestígio; ao segundo, Inteligência e Autoridade; ao terceiro, o Conhecimento Espírita. O primeiro acrescenta Trabalho, Progresso, Amizade, Esperança e Gratidão; o segundo, Cultura e Experiência; o terceiro, devolve intacto. Em vista do ocorrido, o senhor ordena que se tire o Conhecimento Espírita desse último e o dê aos dois primeiros.
Metaforicamente considerada, essa parábola refere-se à responsabilidade na multiplicação dos bens recebidos. Se o Criador houve por bem ofertar-nos a luz do Conhecimento Espírita, não podemos ocultá-lo com receio de represálias e dissabores. Espargindo a luz da verdade vamos iluminar os detentores do Poder, do Dinheiro, da Inteligência etc. Com isso, ajudaremos a construir um mundo mais justo e mais fraterno.
7. CONCLUSÕES
Pelo exposto, devemos estar constantemente estudando e aprendendo. Além disso, não podemos guardar somente para nós; precisamos passá-lo aos outros. Todos somos irmãos na jornada rumo à salvação do Espírito imortal.
8. APÊNDICE: OUTRAS FIGURAS DE LINGUAGEM
Alegoria (do gr. allegorie, outro discurso) consiste num discurso que faz entender outro, numa linguagem que oculta outra. Pode-se considerar alegoria toda concretização por meio de imagens, figuras e pessoas, de idéias, qualidades ou entidades abstratas. Ex. Divina Comédia, o Mito da Caverna.
Fábula é uma narrativa curta não raro identificada com o apólogo e a parábola. Protagonizada por animais irracionais, cujo comportamento, preservando as características próprias, deixa transparecer uma alusão, via de regra satírica ou pedagógica, aos seres humanos.
Apólogo é uma narrativa curta não rara identificada com a fábula e a parábola. Contudo, há quem as distinga pelas personagens: o apólogo seria protagonizado por objetos inanimados (plantas, pedras, rios, relógios etc.), ao passo que a fábula conteria de preferência animais irracionais, e a parábola, seres humanos.
Metáfora é a mudança do sentido comum de uma palavra por um outro sentido possível que, a partir de uma comparação subentendida, tal palavra possa sugerir. Exemplo: qualificar de dilúvio a eloqüência de um orador.
9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Enciclopédia
Luso-Brasileira de Cultura. Lisboa, Verbo, s. d. p.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio de Janeiro,
Editorial Enciclopédia, s.d. p.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o
Espiritismo. 39. ed., São
Paulo, IDE, 1984.
LEON-DUFOUR, X. e OUTROS. Vocabulário de Teologia Bíblica. Rio de Janeiro, Vozes, 1972.
MOISÉS, M. Dicionário
de Termos Literários. 5.ed., São
Paulo, Cultrix, 1979.
XAVIER, F. C. Estante da Vida, pelo
Espírito Irmão X. 3. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1974.
XAVIER, F. C. Roteiro, pelo Espírito
Emmanuel. 5. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1980.
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