Bismael B. Moraes
Codificada pelo pedagogo Allan Kardec, com base nos ensinamentos ditados pelas bondosas entidades espirituais, a Doutrina Espírita tem seus alicerces na Filosofia, na Ciência e na Moral Religiosa do Cristo, permitindo-nos exercitar a fé raciocinada, sem a imposição dogmática, mas com a certeza do coração e a consciência enobrecida. E, como Deus é justo, o corpo é passageiro, como instrumento para o progresso do Espírito, através das muitas vidas físicas, como homem ou mulher, rico ou pobre, negro ou branco, em reencarnações diferentes, para o aprendizado e a melhoria. Ao mesmo tempo, as lições de Jesus Cristo, nos Evangelhos, são exemplos de amor, com base na Justiça Divina. Do que fizermos, de bem ou de mal, assim também seremos cobrados, ainda nesta vida ou em outras, ante a lei de ação e reação, para que aprendamos a viver e conviver com os semelhantes, e mesmo com eventuais opositores, em constante descoberta espiritual.
A mediunidade, para os que não a estudam, nem se predispõem a ouvir e aprender a respeito, assim como para os críticos sem base ou os meros agentes do preconceito dogmático, é citada como uma "invenção fantasiosa" de pessoas ingênuas ou ignorantes. Mas, na verdade, pelas lições dos Espíritos de Luz, em regra, somos todos médiuns (intermediários entre encarnados e desencarnados, ou destes recebemos influências, de acordo com o nosso desenvolvimento individual ou com o interesse do próprio Espírito), conscientes ou inconscientes, tenhamos ou não religião. Isso por que a mediunidade não é um privilégio, mas uma responsabilidade, que se torna cada vez maior à medida que o nosso conhecimento cresce.
Depois dessa breve introdução, verificamos que mensageiro, em poucas palavras, é todo aquele que leva e traz mensagem; esta pode ser alegre ou triste, verdadeira ou mentirosa, do bem ou do mal. Por outro lado, amnésia, termo usado pela Medicina e pela Psicologia, significa a perda de memória; é um esquecimento, neste caso, patológico ou doentio. Entretanto, pela hipocrisia, pelo disfarce, pode ocorrer o que poderíamos chamar de "amnésia do engodo", podendo aparecer, por exemplo, a figura dos "mensageiros amnésicos".
Desta forma, em nossa caminhada terrena de aprendizado espiritual, em qualquer ramo religioso ou doutrinário, nós encontramos bons mensageiros, abnegados amigos, pregadores ou divulgadores do que é justo, sempre prontos a ajudar, mas também deparamos com maus mensageiros, Espíritos menos evoluídos moralmente, mistificadores e zombeteiros, que se comprazem na angústia e no sofrimento das almas mais frágeis e humildes. Cabe-nos, ao longo da vida na Terra, desenvolver a busca pelo conhecimento e perseverar na prática do bem, mesmo quando ameaçados em nossa moral ou instigados à realização de atos negativos ou à aceitação de condutas menos dignas.
Das nossas atitudes, talvez o mais grave decorra do nosso afrouxamento ético, como ocorre, por exemplo, quando procuramos ensinar o que não sabemos ou argumentar com mensagens elevadas aos olhos dos circunstantes, e, entretanto, na prática, tenhamos comportamento justamente oposto às nossas palavras. Fazemos, nesses instantes, as vezes dos hipócritas, como se fôssemos "túmulos caiados por fora, guardando restos putrefatos e fétidos por dentro". Mentimos para nós mesmos, como se estivéssemos a dizer: "façam o que eu mando, mas não façam o que eu faço". Pura hipocrisia!
Quando assim agimos, na verdade, além de faltarmos com a sinceridade, não escapamos da observação atenta dos Espíritos que nos cercam – uns, para nos auxiliarem no caminho da luz, e outros (às vezes, a maioria), para nos manietarem na ignorância e na dissimulação, instigando-nos ao orgulho e à vaidade. Com esse procedimento, bancando o sabe-tudo e procurando dar lições daquilo que não pomos em prática, não estaremos invertendo a verdadeira base moral do Espiritismo – de que "o bom exemplo vale mais do que mil palavras" – e, assim, levando aos semelhantes as chamadas "mensagens amnésicas"?
Dezembro de 2003
Copyright © 2010: Centro Espírita Ismael
Av. Henri Janor, 141 São Paulo, Capital