Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito de Jugo. 3.
Considerações Iniciais. 4. Analisando a Citação Bíblica: 4.1. O Texto
Evangélico; 4.2. Contexto Histórico dos Evangelhos; 4.3. O jugo no Antigo e no
Novo Testamento. 5. Vida Futura: 5.1. A Morte; 5.2. O Existencialismo Sartreno;
5.3. O Espírita não Deve Temer a Morte. 6. Lei Natural: 6.1. O Que é uma Lei
Natural?; 6.2. Por que o Jugo é Leve?; 6.3. A felicidade de Sofrer por Amor de
Jesus. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada. 1. INTRODUÇÃO O que significa a palavra jugo? Em que sentido Jesus disse
que o seu jugo era leve? Como entender esta afirmação no meio de nossas
decepções e penúrias? Por que algumas pessoas aceitam com paciência os revezes
da vida e outras não? Trataremos aqui da citação evangélica, da vida futura e da
lei natural. 2. CONCEITO DE JUGO 1) Etimologia – Do lat. jugu, pelo hebr. môt,
ôl significa peça de madeira que serve para emparelhar dois animais para o
mesmo trabalho. 2) Histórico – Chamava-se "jugo ignominioso" a uma
lança colocada horizontalmente sobre outras duas cravadas no solo e por baixo da
qual os antigos faziam passar os inimigos derrotados. Iam à frente os oficiais,
seguindo-se os soldados sem armas e muita vez seminus, sendo obrigados a
curvar-se para poderem passar. Esta cerimônia degradante era acompanhada de
insultos – o que provocava o brio dos vencidos e era ocasião de carnificina. 3) No pensamento hindu – A raiz indo-européia yug,
de que deriva, é objeto de uma aplicação muito conhecida do sânscrito yoga,
que tem efetivamente, o sentido de unir, juntar, por
debaixo do jugo. É, por definição, uma disciplina de meditação, cujo
objetivo é a harmonização, a unificação do ser, a tomada de consciência
e, finalmente, a realização da única União verdadeira, a da alma com Deus, da
manifestação com o Princípio. 4) Simbologia – O jugo, por um motivo
perfeitamente evidente, é símbolo de servidão, de opressão, de constrangimento.
A passagem dos vencidos sob o jugo romano é suficientemente explícita. O
jugo simboliza a disciplina de duas maneiras: ou ela é sofrida de modo
humilhante, ou a disciplina é escolhida voluntariamente e conduz ao domínio de
si, à unidade interior à união com Deus. (Chevalier, 1998) 3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Jesus, quando esteve encarnado, deixou-nos muitas máximas
evangélicas, as quais foram anotadas e publicadas pelos Apóstolos,
aproximadamente 70 depois de sua morte física. A sua missão foi a de nos trazer
a Boa-Nova, um novo marco espiritual para a Humanidade, um edifício sólido em
que as ventanias das trevas não iriam conseguir demoli-lo. Ensinou-nos através
de parábolas, pois ainda não estávamos preparados para absorver todo o seu
conteúdo doutrinal. Na época, disse que não podia nos ensinar tudo, mas que a
seu tempo nos enviaria o Consolador Prometido, o Espírito de Verdade, que se
incumbiria de nos lembrar do que tinha dito e nos revelaria novos conhecimentos.
Sendo assim, convém, para o nosso próprio aprimoramento espiritual, buscarmos
não só o seu sentido teórico como também a sua aplicação prática em nossa
vivência. Penetremos, pois, no âmago desses preceitos não como um sábio, mas
como uma criança, sem defesas e isenta de qualquer preconceito. 4. ANALISANDO A CITAÇÃO BÍBLICA 4.1. O TEXTO EVANGÉLICO São Mateus, no cap. XI, vv. 28 a 30 do seu Evangelho, narra o
"jugo leve" da seguinte forma: "Vinde a mim, todos vós que sofreis e que estais
sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e aprendei de mim
que sou brando e humilde de coração, e encontrareis o repouso de vossas almas,
porque meu jugo é suave e meu fardo é leve". (Kardec, 1984, p. 96) 4.2. CONTEXTO HISTÓRICO DOS EVANGELHOS Para que possamos melhor entender o versículo acima,
lembremo-nos de que o ambiente histórico, em que o Evangelho nasceu, é o do
judaísmo, formado e alimentado pelos livros sacros do Antigo Testamento. Embora
o Cristianismo seja uma religião revelada, diferente da judaica, apareceu
historicamente como continuação e aperfeiçoamento da revelação dada por Deus ao
povo de Israel. Além disso, convém ter em mente que o povo judeu, ao qual Jesus
e os apóstolos pertenciam, fazia parte do grande Império romano. Disto resulta
que a Palestina, local da pregação de Jesus, devia obediência às ordens romanas.
4.3. O JUGO NO ANTIGO E NO NOVO TESTAMENTO No Velho Testamento, a libertação do jugo – submissão forçada
ou disciplina – é um elemento constante nas profecias de salvação. A submissão
pode ser exercida também por vícios ao passo que o jugo da sabedoria é para o
homem um benefício. "Carregar o jugo de Deus" quer dizer submeter-se a seus
preceitos; por isso todos os pecadores tentam quebrar esse jugo. No Novo Testamento, o jugo foi tomado somente no sentido
figurado, seja com relação aos imperativos do poderio romano, da lei do Velho
Testamento ou dos vícios. O jugo de Jesus é leve, porque somente ele é capaz de
oferecer o lenitivo para as nossas dores e sofrimentos. 5. VIDA FUTURA 5.1. A MORTE Para os grandes filósofos da antiguidade a vida nada mais é
do que uma preparação para a morte. Basta voltarmos no tempo e verificarmos as
reflexões de Sócrates, quando fora obrigado a beber cicuta. Dependendo de como a
vemos, podemos nos pautar em vida. A isso chamamos visão de mundo. Quer dizer, o
que se espera depende de como vemos o desenlace. Haverá um céu? Um inferno? Ou
iremos para o todo universal? Sob esse ponto de vista, convém estarmos sempre
nos questionando para o que vem depois. Podemos nos formar em uma faculdade,
conseguir um posto de comando na sociedade, ser condecorado, e receber honras
dos homens. Contudo, há uma pergunta crucial no centro de todas essas
atividades: "E depois?" 5.2. O EXISTENCIALISMO SARTREANO De acordo com Sartre, filósofo francês, na sua teoria sobre o
Existencialismo, o indivíduo tem uma única existência, que corresponde aos seus
5... 10... 20... Ou mais anos de idade. Para ele, não há vida nem antes do
nascimento e nem depois da morte. Acha que cada um nasce como uma tabula rasa
e vai impregnando o seu ser com as experiências provenientes das escolhas
efetuadas. Como conseqüência, a angústia passa a ser a sua ferramenta de
análise. 5.3. O ESPÍRITA NÃO DEVE TEMER A MORTE Allan Kardec, no livro O Céu e o Inferno, trata
exaustivamente do problema da morte. Diz-nos que o temor da morte decorre da
noção insuficiente da vida futura, embora denote também a necessidade de viver e
o receio da destruição total. Segundo o seu ponto de vista, o espírita não teme
a morte, porque a vida deixa de ser uma hipótese para ser realidade. Ou seja,
continuamos individualizados e sujeitos ao progresso, mesmo na ausência da
vestimenta física. 6. LEI NATURAL 6.1. O QUE É UMA LEI NATURAL? Refere-se tanto à lei física quanto à lei moral. Ela regula
todos os acontecimentos no universo. São leis eternas, imutáveis, não estão
sujeitas ao tempo, nem à circunstância, embora tenham em si o elemento do
progresso. Dentre tais leis, as leis morais são essenciais para o nosso
progresso espiritual, pois elas nos descortinam as noções de bem e de mal e como
nos devemos conduzir na vida para alcançarmos as bem-aventuranças. 6.2. POR QUE O JUGO É LEVE? É que atendendo aos desígnios do alto a nosso respeito, nós
não iremos dificultar ainda mais a nossa situação presente. Nós não agravaremos
a lei, pois teremos cuidado de não fazermos mal aos outros, porque sabemos que
iremos sofrer as suas conseqüências. Uma pessoa que recebeu um pequeno
conhecimento da vida futura já enfrenta a morte com certa naturalidade. Ele vai
se conscientizar que a verdadeira vida não é a vida material, e por isso trata
as dificuldades com outros olhos. É justamente esses outros olhos, a dimensão de
uma vida futura, que torna o fardo leve. Essa visão de futuro faz-nos caminhar
na terra, sofrer todas as agruras que os outros sofrem, mas o peso dessas
agruras é diminuído, diminuído pela posse do conteúdo espiritual, fornecido
pelos Espíritos superiores que desejam a redenção não só de uma pessoa, mas de
toda a humanidade. Aquele que olha do ponto de vista espiritual tem uma visão
mais ampla. Assemelha-se ao homem que subiu numa montanha, comparado ao que
ficou ao seu pé. Ele pode vislumbrar outros horizontes, o que não é permitido ao
que ficou em baixo. 6.3. A FELICIDADE DE SOFRER POR AMOR DE JESUS O conhecimento da lei pertence a todos, mas cada um capta
somente de acordo com o seu grau de percepção. Por isso, há que se ter muita
paciência e repetir a frase de Jesus, quando formos vilipendiados: "Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem". Não é uma grande felicidade saber que sofremos e porque
sofremos. Imagina alguém que sofra e não tem perspectiva alguma com relação ao
futuro. O seu sofrimento será de rebeldia, de blasfêmia contra Deus. 7. CONCLUSÃO Estejamos sempre com os nossos pensamentos voltados para o
bem supremo. Peçamos força para cumprirmos os nossos deveres, sejam eles
rudimentares ou eminentes. Por fim, saibamos sofrer e se soubermos, sofreremos
menos. 8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA CHEVALIER, J.,
GHEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos (mitos, sonhos, costumes, gestos,
formas, figuras, cores, números). 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio,
1998. KARDEC, A. O
Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
São Paulo, abril de 2005
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