Doutrina Espírita e seus Contraditores

Sérgio Biagi Gregório

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4. O Conhecimento e a Contradição: 4.1. A Verdade e o Erro; 4.2. Ciência de Fato e Ciência do Direito; 4.3. Contraditores da Doutrina. 5. Progresso da Doutrina: 5.1. Mesas Girantes ou Danças das Mesas; 5.2. Manifestações Inteligentes; 5.3. Desenvolvimento da Psicografia. 6. Tipos de Contraditores: 6.1. O Crítico; 6. 2. O Cético; 6.3. O Padre. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é mostrar que tanto a precipitação quanto a emoção conduzem-nos aos erros do raciocínio. Por esta razão, Allan Kardec ponderava com os seus contraditores para que tivessem o cuidado de estudar metodicamente um assunto antes de criticá-lo.

2. CONCEITO

Doutrina – O sentido mais antigo é o que deriva da sua etimologia latina doctrina que, por sua vez, vem de doceo, "ensino". O sentido mais antigo, portanto, é de ensino ou aprendizado do saber em geral, ou do ensino de uma disciplina particular. Ao longo do tempo perdeu-se o sentido original e o termo firmou-se como o indicador de um conjunto de teorias, noções e princípios coordenados entre eles organicamente que constituem o fundamento de uma ciência, de uma filosofia, de uma religião etc. (Bobbio, 1986)

Doutrinário – O termo indica, em geral, quem obedece rigidamente aos princípios da própria doutrina, prestando atenção à teoria no seu sentido abstrato, mais do que no prático.

Contradição – Oposição que se faz às idéias, aos sentimentos e às opiniões de alguém; objeção; desacordo.

Princípio da Contradição – "Dois juízos contraditórios não podem ser verdadeiros ambos". Nesta afirmação está implícito: "dois juízos contraditórios não podem ser ambos juízos verdadeiros, porque se contradizem entre si". Pode-se dizer também: "se um dos dois juízos contraditórios é verdadeiro, o outro é necessariamente falso". (Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira)

3. HISTÓRICO

A história da civilização nos mostra uma plêiade de grandes homens, vítimas da perseguição implacável de seus semelhantes. Observe Sócrates (470/399 a.C.), filósofo grego da antiguidade, obrigado a beber cicuta por ser acusado de corromper os jovens e desobedecer aos deuses do Estado. Durante a sua vida fora tantas vezes refutado pelos seus opositores ao dizerem que conhecimento não é virtude.

Lembremo-nos também de Jesus Cristo, condenado à morte (na cruz), porque se dizia o Messias, filho de Deus.

Acrescentemos: Empédocles, Aristóteles, James Joyce (recusado nos Estados Unidos), Giordano Bruno, Galileu, Rousseau e Voltaire.

Disto resulta que a grande, a principal oposição que o ser humano faz é a respeito do conhecimento, pois todas as sociedades em todos os tempos perseguiram os indivíduos que trouxeram um pouco mais de conhecimento.

4. O CONHECIMENTO E A CONTRADIÇÃO

4.1. A VERDADE E O ERRO

Conhecimento é o reflexo e a reprodução do objeto em nossa mente.

Conhecimento verdadeiro é aquele que reflete corretamente a realidade na mente.

Verdade é o reflexo fiel do objeto na mente, adequação do pensamento com a coisa.

É verdadeiro todo o juízo que reflete corretamente a realidade

O erro é o conhecimento que não reflete fielmente a realidade e por isso mesmo não corresponde à realidade.

O erro consiste no desacordo, na não-conformidade, na inadequação do pensamento com a coisa, do juízo com a realidade.

4.2. CIÊNCIA DE FATO E CIÊNCIA DO DIREITO

O que existe na realidade não pode ser verdadeiro ou errado. Simplesmente existe.

Verdadeiros ou errados só podem ser nossos conhecimentos ou juízos a respeito do objeto, ou seja, verdadeiro ou errado pode ser apenas o reflexo subjetivo da realidade objetiva.

Resultado: em todo o acontecer há um juízo de fato (o que é) e um juízo de direito (o que deve ser). Como enxergamos através de nosso juízo de valor, os nossos sentidos nem sempre captam a coisa como ela é na sua essência. Por isso, a recomendação lapidar de estarmos com a mente ocupada num estudo produtivo.

4.3. CONTRADITORES DA DOUTRINA

Toda idéia nova passa por três fases: estupefação, negação e aceitação. O Espiritismo, sendo uma idéia nova, não fugiu à regra. Nesse sentido, Allan Kardec observa que a maior parte das objeções que se fazem à doutrina provêm de uma observação incompleta dos fatos e de um julgamento formado com muita ligeireza e precipitação. Procura, neste tópico, dar-lhes uma explicação racional do que seja a Doutrina e como ela se firmou ao longo do tempo.

5. PROGRESSO DA DOUTRINA

5.1. MESAS GIRANTES OU DANÇAS DAS MESAS

Movimento iniciado na América, ou melhor, que se teria repetido nesse país, porque a História prova que ele remonta a mais alta Antiguidade, produziu-se acompanhado de circunstâncias estranhas, como ruídos insólitos e golpes desferidos sem uma causa ostensiva, conhecida.

Objeção: há freqüentemente fraudes visíveis.

Explicação: há fraudes ou tomaram as fraudes por efeitos que não conseguiram apreender, mais ou mesmo como o camponês que tomava um sábio professor de Física, fazendo experiências, por um destro escamoteador. E mesmo supondo que as fraudes tenham ocorrido algumas vezes, seria isso razão para se negar o fato?

Recomendação: para conhecer essas leis é necessário estudar as circunstâncias em que os fatos se produzem e esse estudo não pode ser feito sem uma observação perseverante, atenta, e por vezes bastante prolongada. (Kardec, 1995, p.21)

5.2. MANIFESTAÇÕES INTELIGENTES

As primeiras manifestações inteligentes verificaram-se por meio de mesas que se moviam e davam determinados golpes, batendo um pé, e assim respondiam, segundo o que se havia convencionado, por "sim" ou por "não" à questão proposta. Depois se obtiveram respostas por meio das letras do alfabeto. A justeza das respostas e sua correspondência com a pergunta provocaram a admiração. O ser misterioso que assim respondia, interpelado sobre sua natureza, declarou que era um Espírito. Ninguém havia então pensado nos Espíritos como um meio de explicar o fenômeno; foi o próprio fenômeno que revelou a palavra. Este meio de comunicação era demorado e incômodo. O Espírito, e esta é também uma circunstância digna de nota, indicou outro: adaptar um lápis a uma cestinha. (Kardec, 1995, p.21 e 22)

5.3. DESENVOLVIMENTO DA PSICOGRAFIA

"Mais tarde reconheceu-se que a cesta e a prancheta nada mais eram do que apêndices da mão, e o médium, tomando diretamente o lápis, pôs-se a escrever por um impulso involuntário e quase febril. Por esse meio, as comunicações se tornaram mais rápidas, mais fáceis e mais completas: é esse, hoje, o meio mais comum, tanto que o número de pessoas dotadas dessa aptidão é bastante considerável e se multiplica dia a dia. A experiência, por fim, tornou conhecidas muitas outras variedades da faculdade mediúnica, descobrindo-se que as comunicações podiam ser igualmente verificar-se através da escrita direta dos Espíritos, ou seja, sem o concurso da mão do médium nem do lápis". (Kardec, 1995, p.23)

6. TIPOS DE CONTRADITORES

É somente por extensão que a palavra criticar se tornou sinônimo de censurar; em sua acepção própria e segundo a etimologia, ela significa julgar, apreciar. A crítica pode, pois, ser probativa ou desaprobativa.

6.1. O CRÍTICO

Um homem, que se diz ex professo, deseja publicar um livro demonstrando que o Espiritismo é um erro. Pede a Allan Kardec para assistir a algumas de suas reuniões com o intuito de ser contrariado e, assim, deixar de escrever o livro.

Allan Kardec diz: se o Espiritismo é uma falsidade, ele cairá por si mesmo; se, porém, é uma verdade, não há diatribe que possa fazer dele uma mentira.

Tratar questão ex professo "equivale a dizer que a estudastes sob todas as suas faces; que vistes tudo o que se pode ver, lestes tudo o que sobre a matéria se tem escrito, analisastes e comparastes as diversas opiniões; que vos achastes nas melhores condições de observação pessoal; que durante anos lhe consagrastes vigílias; em suma: que nada desprezastes para chegar à verdade". (Kardec, 1981, p.55 )

6. 2. O CÉTICO

O Cético diz: entre as pessoas de meu conhecimento, há partidários e adversários do Espiritismo; a seu respeito tenho ouvido argumentos muito contraditórios, e propunha-me submeter-vos algumas das objeções que foram feitas em minha presença.

Suas perguntas envolvem a relação entre Espiritualismo e Espiritismo, fenômenos espíritas simulados, a impotência dos detratores, o maravilhoso e o sobrenatural, a oposição da ciência, as falsas explicações dos fenômenos etc. (Kardec, 1981, p.65 a 121)

6.3. O PADRE

Pergunta n.º 2: Se a Igreja, vendo levantar-se uma nova doutrina, cujos princípios, em consciência, julga dever condenar, podeis contestar-lhe o direito de discuti-los e combatê-los, premunindo os fiéis contra o que ela considera um erro.

Resposta: de modo algum podemos contestar esse direito, que também reclamamos para nós outros.

‘Se ela se houvesse encerrado nos limites da discussão, nada haveria de melhor; lede, porém, a maioria dos discursos proferidos por seus membros e publicados em nome da religião, os sermões que têm sido pregados, e vereis neles a injúria e a calúnia transbordando por toda parte e os princípios da doutrina sempre indigna e perversamente desfigurados.

Do alto do púlpito, não temos sido – os espíritas – qualificados de inimigos da sociedade e da ordem pública, não temos sido anatematizados e rejeitados pela Igreja, sob o pretexto de que é melhor ser incrédulo do que crer-se em Deus e na alma pelos ensinos do Espiritismo"? (Kardec, 1981. p.124)

Observação: o diálogo compõe-se de 20 perguntas e respostas (que vão da página 122 a 149).

7. CONCLUSÃO

Allan Kardec procurava edificar a doutrina dentro de uma lógica científica, onde os argumentos, a observação criteriosa e o tempo de maturação tinham mais importância do que opiniões dos incrédulos, que agem mais por precipitação do que por conhecimento de causa.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BOBBIO, N. et al. Dicionário de Política. 2. ed. Brasília: UNB, 1986.

GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.]

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.

KARDEC, A. O Que é o Espiritismo. 23. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1981.

São Paulo, dezembro de 2000.

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