Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4.
Doutrina Comunista e Igualdade de Renda. 5. Estatística sobre a Distribuição de
Renda. 6. Desigualdade e Reencarnação. 7. Desigualdade e Diversidade de
Aptidões. 8. Prova da Riqueza e da Pobreza. 9. Riqueza para o Céu. 10.
Conclusão. 11. Bibliografia Consultada. 1. INTRODUÇÃO Por que uns são ricos e outros são pobres? Por que uns ganham
5.000 dólares ao ano enquanto outros 500? Por que a sorte sorri para uns e fecha
a cara para os outros? Por que uns nascem em berço de ouro e outros numa
choupana? Estas são algumas, das muitas questões, que ainda não encontramos uma
resposta satisfatória. Nosso propósito é, pois, refletir sobre estas questões,
analisando-as sob a ótica espírita. 2. CONCEITO Riqueza
- de rico, que vem da raiz gótica riks.
É o conjunto de bens, materiais ou imateriais, exteriores ao homem, que
contribuem para o seu bem-estar, individual ou coletivo, direta ou
indiretamente, para que é indispensável que sejam possuídos, ou, pelo menos,
usados pelo homem. (Polis Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado) Em sentido lato é tudo quanto pode satisfazer uma
necessidade ou um desejo. Em sentido restrito, são os bens ou riquezas,
que têm um valor econômico, que são, por isso, chamados de bens
econômicos. Diz-se mais restritamente a abundância de riquezas.
(Santos, 1965) 3. HISTÓRICO Ao longo do tempo histórico e até o limiar da época moderna,
só era tida como riqueza a posse de bens materiais (como casas, terras e certos
objetos mais úteis); com o incremento da atividade comercial dos princípios da
Idade Média, o dinheiro adquiriu, também e definitivamente, o estatuto de
riqueza a ponto de se tornar o seu sinônimo para a generalidade das pessoas,
passando a sua acumulação a ser um dos principais objetivos das
atividades econômicas e que mais caracterizou o fenômeno capitalista. É que o
dinheiro ganhou uma autonomia de movimento, produtora de toda a espécie de
mais-valia, conducentes ao enriquecimento. Em economia, no entanto, nem só o
dinheiro e os outros bens materiais são englobados no conceito de riqueza; nela
são incluídos, ainda, todos os fatores de produção e o produto acabado, as
reservas acumuladas, os recursos naturais, as infra-estruturas etc. (Polis
Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado) Os primeiros economistas davam ao termo riqueza um
sentido muito geral. Turgot intitulou o seu tratado Reflexões sobre a
Formação e a Distribuição de Riquezas; Adam Smith deu à sua célebre obra
(1776) a designação de Pesquisa sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das
Nações. No tempo de Turgot e Adam Smith tinha-se em mente enriquecer o povo
e formar estados opulentos; modernamente, foi-se substituindo o termo riqueza
pelo de "bens". Assim, o tema a que os antigos economistas chamavam
"distribuição de riquezas" é aquilo de que mais tarde se ocuparam os cultores da
ciência sob a designação de "distribuição de rendimentos". (Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira) 4. DOUTRINA COMUNISTA E IGUALDADE DE RENDA Marx, em seu materialismo histórico, prevê o surgimento do
comunismo como a síntese perfeita da evolução materialista da sociedade, onde
não haverá barreiras de classe, onde não haverá exploração do homem pelo homem,
nem mesmo poder estatal sobre o indivíduo; em que os recursos produtivos serão
de posse comum; onde a escassez será superada e haverá uma abundância de riqueza
material. Em termos do nosso estudo, pressupõe a igualdade da renda. Mas, será possível essa igualdade absoluta? Ela já existiu?
Auxiliemo-nos, porém, da utilidade marginal da renda para
aclarar nossas idéias. De acordo com essa teoria, a igualdade de utilidade
marginal não implica rendas iguais. Importa apenas a maximização da utilidade
social. Isso significa que cada um de nós, por sermos diferentes, precisamos de
diferentes níveis de renda. Para que quer renda o eremita no deserto? As rendas deveriam ser iguais somente se todos os homens
fossem semelhantes. Mas como isso é impossível, precisamos encontrar um grau
ótimo de desigualdade, pois à medida que nos afastamos deste ideal imaginário em
outra direção, no sentido de maior desigualdade, perdemos a democracia, a
fraternidade, o interesse e responsabilidade de todos por todos, que é o que faz
a organização tolerável. Em termos monetários, o princípio evangélico "àquele que tem
dar-se-lhe-á" deveria ser substituído por "aquele que mais desfruta o que tem,
mais se lhe dará". Numa sociedade em que os indivíduos são dessemelhantes em
face das inclinações das curvas de sua utilidade marginal, presumindo que as
utilidades marginais de indivíduos diferentes sejam mais ou menos as mesmas para
níveis de subsistência de renda, então um aumento na renda total da sociedade
resultaria em distribuição mais desigual, visto como o aumento de rendia iria
principalmente para aqueles que mais desfrutarão. (Bouding, 1967, p. 107 a 111) 5. ESTATÍSTICA SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA Os dados abaixo relacionados (referentes ao período de
outubro de 1990 a outubro de 1991) revelam a disparidade de renda existente no
Brasil e no mundo: - o salário no Brasil varia de 1/100; no Japão, de 1/10; - a renda per capita no Brasil é US$ 2.550; na Suíça é
US$ 30.270; - 20% dos mais ricos, no Brasil, ganham 26 vezes mais do que
os 20% mais pobres; - o Brasil é a 8ª economia em termos de Produto Interno Bruto
(PIB) e 70ª quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano; - os 10% mais ricos, no Leste Europeu, recebem 7 vezes mais
do que os 10% mais pobres. (Estado de São Paulo, 1992, p.12) 6. DESIGUALDADE E REENCARNAÇÃO De que maneira a Doutrina Espírita pode auxiliar-nos na
compreensão da desigualdade de renda apontada acima? O princípio da
reencarnação, adotado pelo Espiritismo, é um forte argumento, que pode
oferecer-nos alguma pista. É possível que os Espíritos que ora estão encarnados
neste país já tenham vivido nos outros países mais desenvolvidos. Como não
souberam utilizar a riqueza em favor do próximo, foram enviados para esta região
para se reequilibrarem na lei do amor, passando pela prova da pobreza. A reencarnação mostra a justiça divina. No que tange à
riqueza, todos passaremos por ela, quer seja nesta vida ou em outras. 7. DESIGUALDADE E DIVERSIDADE DE APTIDÕES "A desigualdade das riquezas é um desses problemas que se
procura em vão resolver, se não se considera senão a vida atual. A primeira
questão que se apresenta é esta: Por que todos os homens não são igualmente
ricos? Não o são por uma razão muito simples: é que eles não são igualmente
inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem moderados e previdentes
para conservar. Aliás, é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna,
igualmente repartida, daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente; que,
supondo-se essa repartição feita, o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo,
pela diversidade de caracteres e das aptidões.'' (Kardec, 1984, p. 210) 8. PROVA DA RIQUEZA E DA POBREZA Pergunta 815. Qual dessas duas é a mais perigosa para o
homem, a da desgraça ou a da riqueza? — Tanto uma quanto a outra. A miséria provoca a lamentação
contra a Providência, a riqueza leva a todos os excessos. Pergunta 816. Se o rico sofre mais tentações, não dispõe
também de mais meios para fazer o bem? — É justamente o que nem sempre faz; torna-se egoísta,
orgulhoso e insaciável; suas necessidades aumentam com a fortuna e julga não ter
o bastante para si mesmo. Comentário de Kardec: "A posição elevada no mundo e a
autoridade sobre os semelhantes são provas tão grandes e arriscadas quanto a
miséria; porque quanto mais o homem for rico e poderoso mais obrigações tem a
cumprir, maiores são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus
experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo uso que faz de seus bens e do
seu poder. A riqueza e o poder despertam todas as paixões que nos prendem à
matéria e nos distanciam da perfeição espiritual. Foi por isso que Jesus disse:
"Em verdade vos digo, é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do
um rico entrar no reino dos céus"". (1995, p. 306) 9. RIQUEZA PARA O CÉU "Quem se aflige indebitamente, ao ver o triunfo e a
prosperidade de muitos homens impiedosos e egoístas, no fundo dá mostras de
inveja, revolta, ambição e desesperança. É preciso que assim não seja! Afinal, quem pode dizer que retém as vantagens da Terra, com
o devido merecimento? Se observarmos homens e mulheres, despojados de qualquer
escrúpulo moral, detendo valores transitórios do mundo, tenhamos, ao revés, pena
deles. A palavra do Cristo é clara e insofismável. — "Amontoa
tesouros no Céu" — disse-nos o Senhor. Isso quer dizer "acumulemos valores íntimos para comungar a
glória eterna!" Efêmera será sempre a galeria de evidência carnal. Beleza física, poder temporário, propriedade passageira e
fortuna amoedada podem ser simples atributo da máscara humana, que o tempo
transforma, infatigável. Amealhemos bondade e cultura, compreensão e simpatia. Sem o tesouro da educação pessoal é inútil a nossa penetração
nos céus, porquanto estaríamos órfãos de sintonia para corresponder aos apelos
da Vida Superior. Cresçamos na virtude e incorporemos a verdadeira sabedoria,
porque amanhã serás visitado pela mão niveladora da morte e possuirás tão
somente as qualidades nobres ou aviltantes que houveres instalado em ti mesmo"
(Xavier, cap. 177, s.d.p.) 10. CONCLUSÃO Tenhamos cuidado com o excessivo desejo de posse; reflitamos,
primeiro, sobre os pressupostos espíritas. Eles foram codificados para auxiliar
o pensamento do homem, a fim de que este se liberte das paixões materiais,
conduzindo-o à conquista dos bens espirituais, os únicos que poderá levar ao
partir para a vida dos Espíritos. 11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Polis - Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado.
Lisboa/São Paulo, Verbo, 1986. São Paulo, 08/09/1985
SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências
Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa/Rio
de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d. p.
BOULDING, K. E. Princípios de Política Econômica. São
Paulo, Meste Jou, 1967.
Jornal o Estado de São Paulo, 18/05/92.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed.,
São Paulo, IDE, 1984.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo,
FEESP, 1995.
XAVIER, F. C. Fonte Viva, pelo Espírito
Emmanuel. Rio de Janeiro, FEB, s.d.p.
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