Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Aspectos
Históricos da Morte. 4. A Morte: Cultura e Religião: 4.1. Cultura Americana
Versus Cultura Micronésia; 4.2. A Influência da Religião nas Atitudes dos
Indivíduos. 5. A Vida após Morte: 5.1. O Existencialismo Sartreano; 5.2. O Temor
da Morte; 5.3. As Concepções de Mundo e a Vida após a Morte; 5.4 Algumas
Sensações Descritas pelos Espíritos Desencarnados. 6. Preparação para a Morte:
6.1. Vida bem Aplicada; 6.2. Treino para a Morte; 6.3. Perseverar até o Fim. 7.
Conclusões. 8. Bibliografia Consultada. 1. INTRODUÇÃO O objetivo deste estudo é refletir sobre a morte, um dos
problemas mais difíceis de ser enfrentado, pois foi sempre vista como mistério,
superstição e fascinação. Anotaremos alguns dados históricos, seus aspectos
culturais e religiosos e a contribuição que o Espiritismo pode oferecer para uma
melhor compreensão do tema. 2. CONCEITO Do lat. mortem - é a cessação da vida e manifesta-se
pela extinção das atividades vitais: crescimento, assimilação e reprodução no
domínio vegetativo; apetites sensoriais no domínio sensitivo. No âmbito da Doutrina Espírita, é o desprendimento total do
Espírito do corpo físico em conseqüência da ruptura do laço fluídico, que prende
ou liga um ao outro, quando então há o falecimento. 3. ASPECTOS HISTÓRICOS DA MORTE Na Antigüidade prevalecia o sentimento natural e duradouro de
familiaridade com a morte. Sócrates, por exemplo, ensinava-nos que a filosofia
nada mais era do que uma preparação para a morte. Nas sociedades tribais,
o problema da morte não existia porque o indivíduo tinha um peso muito diminuto
com relação à coletividade. Deixando de viver, a pessoa imediatamente fazia
parte da "sociedade dos mortos", inclusive, com a possibilidade de se comunicar
com os vivos. Durante a Idade Média, marcada pela forte influência da
religião, a população era educada no sentido de aceitar a morte como um destino
inexorável dos deuses. Dentro desse contexto, cada qual esperava passivamente a
sua passagem deste para o outro mundo. Além disso, esse período caracterizava-se
também pelo sentimento de respeito ao morto, inclusive com as cerimônias
religiosas, a observância do tempo de luto, as visitas ao cemitério etc. Como as
pessoas morriam em casa, as crianças podiam passar e brincar junto ao féretro,
que geralmente ocupava o lugar mais destacado da casa. Na Idade Moderna, depois de Revolução Industrial, e com o
desenvolvimento do consumismo, vemos que a morte começa a ser interdita, ou
seja, proibida. Como não temos mais tempo de cuidar dos velhos e dos doentes,
deixamos essa incumbência para os hospitais, que estão preparados para salvar
vidas e não cultuar a morte. Em certo sentido, a morte é um fracasso da
medicina. Depois de morto, o defunto é encaminhado ao necrotério, onde se faz o
velório. Tudo isso longe das crianças. Para elas diz-se que teve um sono
duradouro e está descansando nos jardins do Éden. A sofisticação chega ao ponto
de se criar o "Funeral Home", casa de embelezamento de cadáveres. (Aries, 1977)
4. A MORTE: CULTURA E RELIGIÃO 4.1. CULTURA AMERICANA VERSUS A CULTURA MICRONÉSIA O Dr. Frank Mahoney, professor de Antropologia da
Universidade do Havaí, mostrou a diferença entre a cultura americana e a da
sociedade Micronésia, a dos Trukeses. Os americanos negam a morte e o
envelhecimento; os habitantes das ilhas Truk (Pacífico) ratificam-na. Relutamos
em revelar nossa idade; gastamos fortunas para esconder nossas rugas; preferimos
enviar nossos velhos aos asilos. Para os Trukeses, a vida termina aos 40 anos de
idade: aí começa a morte. (Kübler-Ross, s.d.p.) 4.2. A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO NAS ATITUDES DOS INDIVÍDUOS As religiões têm exercido poderosa influência nas atitudes
dos indivíduos com relação ao passamento para a outra dimensão de vida. Para os judeus, a lei permite ao moribundo que vai
morrer por sua casa em ordem, abençoar a família, enviar mensagem aos que lhe
parecem importantes, e fazer as pazes com Deus. A confissão in extremis é
considerada importante elemento na transição para o outro mundo. Para o hinduismo, na morte a alma ou essência
espiritual (atman) do indivíduo é eterna. Como tal, não é atingida pelas várias
alterações no estado de existência porque passa o fenomenal eu ou ego (jiva) em
cada período de vida. Para o Budismo, a vida depois da morte é um problema
sobre o qual nada pode ser dito. Não nega nem afirma a vida após a morte. Deixa
essa questão em aberto. Para o Catolicismo, a vida depois da morte está
inserida na crença de um Céu, de um Inferno e de um Purgatório. Dependendo de
seus atos, ele se dirige para cada um desses lugares circunscritos nos espaço. .
(Kübler-Ross, s. d. p.) Para o Espiritismo, a vida depois da morte reveste-se
de substancial significado, pois iremos tanto para lugares iluminados como para
trevosos, dependendo do estado de nossa consciência. 5. A VIDA APÓS A MORTE 5.1. O EXISTENCIALISMO SARTREANO De acordo com Sartre, filósofo francês, na sua teoria sobre o
Existencialismo, o indivíduo tem uma única existência, que corresponde aos seus
5... 10... 20... ou mais anos de idade. Para ele, não há vida nem antes do
nascimento e nem depois da morte. Acha que cada um nasce como uma tabula rasa
e vai impregnando o seu o seu ser com as experiências provenientes das escolhas
efetuadas. Como conseqüência, a angústia passa a ser a sua ferramenta de
análise. 5.2. O TEMOR DA MORTE Allan Kardec, no livro O Céu e o Inferno, trata
exaustivamente do problema da morte. Diz-nos que o temor da morte decorre da
noção insuficiente da vida futura, embora denote também a necessidade de viver e
o receio da destruição total. Segundo o seu ponto de vista, o espírita não teme
a morte, porque a vida deixa de ser uma hipótese para ser realidade. Ou seja,
continuamos individualizados e sujeitos ao progresso, mesmo na ausência da
vestimenta física. 5.3. AS CONCEPÇÕES DE MUNDO E A VIDA APÓS A MORTE Os pensadores da humanidade desenvolveram, ao longo do tempo,
três concepções de mundo: Materialista, Idealista e Religiosa.
De acordo com essas concepções, construíram as diversas doutrinas. As mais
importantes para o propósito de nossos estudos dizem respeito ao Niilismo,
ao Panteísmo, ao Dogmatismo Religioso e ao Espiritismo. Para o Niilismo, a matéria sendo a única fonte do ser,
a morte é considerada o fim de tudo. Para o Panteísmo, o Espírito, ao
encarnar, é extraído do todo universal; individualiza-se em cada ser durante a
vida e volta, por efeito da morte, à massa comum. Para o Dogmatismo
Religioso, a alma, independente da matéria, é criada por ocasião do
nascimento do ser; sobrevive e conserva a individualidade após a morte. A sua
sorte já está determinada: os que morreram em "pecado" irão para o fogo eterno;
os justos, para o céu, gozar as delícias do paraíso. Para o Espiritismo,
o Espírito, independente da matéria, foi criado simples e ignorante. Todos
partiram do mesmo ponto, sujeitos à lei do progresso. Aqueles que praticam o
bem, evoluem mais rapidamente e fazem parte da legião dos "anjos", dos
"arcanjos" e dos "querubins". Os que praticam o mal, recebem novas oportunidades
de melhoria, através das inúmeras encarnações. (Kardec, 1975 p. 193 a 200) 5.4 ALGUMAS SENSAÇÕES DESCRITAS PELOS ESPÍRITOS DESENCARNADOS 1) Todos afirmam se terem encontrado novamente com a forma
humana, nessa existência. 2) Terem ignorado, durante algum tempo, que estavam mortos. 3) Haverem passado, no curso da crise pré-agônica, ou pouco
depois, pela prova da reminiscência sintética de todos os acontecimentos da
existência que se lhes acabava. 4) Acolhidos pelos familiares e amigos. 5) Haverem passado por "sono reparador". 6) Meio espiritual radioso e maravilhoso ou tenebroso. 7) Terem passado por um túnel. (Bozzano, 1930) 6. PREPARAÇÃO PARA A MORTE 6.1. VIDA BEM APLICADA O excesso de preparação para a morte é um erro. A única
preparação verdadeiramente útil para uma boa morte é uma vida bem aplicada.
Assim, o perdão aos inimigos, o sentimento de dever cumprido e a clareza de
consciência têm um peso bem maior do que toda a preparação formal. Observe a
morte de Sócrates: obrigado a beber cicuta, partiu com a consciência tranqüila,
enquanto os seus juízes deveriam sofrer as conseqüências daquela injustiça. 6.2. TREINO PARA A MORTE O Espírito Irmão X, no capítulo 4 do livro Cartas e
Crônicas, lembra-nos de alguns detalhes sumamente valiosos para
enfrentarmos a morte com tranqüilidade. Diz-nos ele: Comece a renovação de seus costumes pelo prato de cada dia.
Diminua gradativamente a volúpia de comer carne dos animais; Os excitantes largamente ingeridos constituem outra perigosa
obsessão. Não se renda à tentação dos narcóticos; Deixe os testamentos em dia; Não se apegue demasiado aos laços consangüíneos. Convença-se de que se você não experimenta simpatia por
determinadas pessoas, há muita gente que suporta você com muito esforço.
(Xavier, 1974) 6.3. PERSEVERAR ATÉ O FIM Para contratarmos casamento, obtermos um cargo e aspirarmos a
uma posição social vantajosa recorremos aos conselhos, precauções e dietas. E
para alcançar o Reino de Deus, o que fazemos? Que procedimento seguimos? Pouco
ou quase nada. Persuadamo-nos, pois, que a felicidade eterna é para nós o
negócio mais importante, o negócio único, o negócio irreparável se não o
pudermos realizar. Francisco Hazzera, assim se expressou: "Tu, meu filho, terás
carreira brilhante: serás bom advogado, depois prelado, a seguir cardeal, quem
sabe? Talvez papa... mas e depois? E depois?" É sobre "o depois" que devemos
posicionar o nosso pensamento. Quais são as conseqüências de nossas escolhas?
Elas servem para a nossa evolução ou para a nossa ruína? 7. CONCLUSÃO Enfrentemos a morte com a mesma determinação com a qual
enfrentamos a vida. Se, todas as noites, pudermos "morrer" tranqüilos, o
passamento definitivo não nos acarretará problema algum, pois o desprendimento
fará parte de nossa natureza. 8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ARIES, P. História da Morte no Ocidente: da Idade Média
aos nossos Dias. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1977. São Paulo, 18/05/1996
BOZZANO, Ernesto. Crise da Morte. Rio de Janeiro: FEB, 1930.
KARDEC, A. Obras Póstumas. 15. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1975.
KUBLER-ROSS, E. Morte - Estágio Final da Evolução. Rio de Janeiro:
Record, [s.d. p.]
XAVIER, F. C. Cartas e Crônicas, pelo Espírito Irmão X. 3. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 1974.
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