Sérgio Biagi Gregório
Seguir os ensinamentos de Cristo nunca foi, não é e nunca
será tarefa fácil. Os seus verdadeiros adeptos têm de passar por tolos,
imbecis e loucos. Por que? Porque a maioria das pessoas está mais voltada para
os interesses materiais do que para os espirituais. Geralmente aplicam a
filosofia do "do ut des" ("dou para que dês"), isto
é, acham que tudo se baseia numa troca lucrativa. Aquele que negligencia a
facilidade financeira, o poder e o conforto é tido como inadaptado, fora dos
parâmetros normais da sociedade de consumo. Cristo alertou-nos sobre a bondade. Em sua prática,
porém, surge-nos um mal-estar: somos sempre enganados pelos mais astutos. Este
é um dos grandes espinhos na vida daqueles que querem exemplificar os
ensinamentos de Jesus. Uma comparação auxiliará o nosso entendimento a
respeito. Observe que foi a bondade e não a crueldade do Mestre que propiciou a
traição de Judas. Se Cristo tivesse agido como Moisés, Judas não teria a
oportunidade de cometer tal ato, pois seria morto antes de realizá-lo. Mas, em
se deixando trair, enalteceu esta nobre virtude: tanto um quanto o outro foi
útil no processo. Os ensinamentos de Jesus são universais e estão
espalhados no cosmo. Muitos pensadores utilizam-se da inspiração
(mediunidade) para captá-los. Pietro Ubaldi, por exemplo, enaltece a
mediunidade consciente, aquela em que o inspirado busca a essência do
pensamento dos Espíritos Superiores. Não a coloca como simples passividade, em
que o médium fica simplesmente esperando qualquer Espírito vir e dar a sua
comunicação. Acha ele que deve haver sempre um esforço de evolução, ou
seja, a procura incessante de conhecimentos mais elevados. O Evangelho deixado por Jesus dá margens a diversas
interpretações. Geralmente olhamos o mundo segundo a nossa ótica
interior, fruto dos automatismos do passado. O que isso tem a ver com o seguir
as pegadas do Mestre? É que não mudamos com facilidade. Quem não tiver o
espírito do Cristo, poderá dizer que o segue, mas o segue a seu modo, ou seja,
agindo de acordo com o seu caráter e personalidade, construídos ao longo das
diversas encarnações. Por isso a frase: "Nem todos os que dizem Senhor,
Senhor entrarão no Reino de Deus, mas somente aqueles que fizerem a vontade do
meu Pai que está no Céu". No âmbito do conhecimento adquirido, deve-se enaltecer a obra
e não o autor. Não quem, mas o que, ou seja, o autor passa, mas a
Obra permanece. Num livro psicografado há, sem dúvida, o trabalho do médium,
mas o conhecimento que daí advém não é criação sua, mas pertence à fonte
pura, morada dos Espíritos superiores. Por isso, destacar a obra, ou mesmo o
Espírito que a ditou, vale mais do que se ufanar pelo trabalho realizado. O
médium ou o inspirado deve sempre se colocar como um simples intermediário. Sigamos a Boa Nova do Mestre. Embora as circunstâncias nos
mostrem um caminho sombrio, tenhamos confiança em Deus e enfrentemos os
desafios que nos são colocados como provas, expiações ou missões.
19/03/2003
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